O fermento intelectual e a
agitação cultural dos séculos V e VI aC na Grécia escondeu mais do que revelou
na história interna da humanidade. Os Mistérios, a despeito de devotos sinceros
e da ampla piedade pública, estavam em declínio acelerado. A aplicação prática
das relações matemáticas - originalmente formuladas a partir da ontologia
espiritual e da matemática ética dos Pitagóricos - encorajou a concretização no
pensamento e a materialização da ciência. Um mórbido ceticismo ridicularizava o
sentimento circunspecto e a intuição sensitiva antes do que suscitava questões
fundamentais. Uma confiança indiscriminada nos poetas tradicionais, que eram de
qualidade desigual, sem as chaves ocultas necessárias para compreender seus
melhores trabalhos, era a marca do indivíduo culto. A ênfase havia
definitivamente passado para a atividade social, longe da regeneração
espiritual. Nesta atmosfera de decadência espiritual, mesmo que a civilização helenística
estivesse à beira da 'Idade Dourada', alguns poucos filósofos tentaram entender
e articular a natureza última das coisas, o lugar do homem na ordem do universo
e os imperativos cruciais da conduta ética. Alguns eram Iniciados que sabiam
muito mais do que seus juramentos permitiriam que dissessem; outros, menos
sábios, estavam apenas por demais propensos para sucumbir ao crú empirismo da
época. Todos procuravam os recursos explicativos mais simples que fizessem
justiça ao Homem e à Natureza.
O pensamento de Heráclito
sobrevive somente em fascinantes fragmentos, seminais, perturbadores e
sugestivos. Mesmo em seu próprio tempo ele era chamado de 'O Escuro', 'O
Obscuro', alguém que fala em enigmas. Sabe-se tão pouco dele que os escritores
antigos sentiram-se compelidos a preencher com detalhes onde não havia dados
disponíveis; o desacordo sobre o que ele queria significar - ou mesmo sobre o
que disse - persiste até o presente. Como outros que usaram as imagens,
estimulantes para a mente, dos poetas, ou a linguagem-código dos Sábios,
Heráclito freqüentemente era citado fora de contexto para provar os pontos
conflitantes dos outros. De acordo com Orígenes Laércio, Heráclito nasceu em
Éfeso, uma cidade jônia a vinte e cinco milhas ao norte de Mileto, e floresceu
lá na 69ª Olimpíada (em torno de 504-500 aC). Filho mais velho de uma família
antiga e nobre de Éfeso, sucedeu-lhe assumir a função de 'rei' - um título
aplicado a alguém que tinha deveres sociais e religiosos especiais na
comunidade. Estes incluíam presidir certos sacrifícios religiosos. Heráclito se
opunha rigorosamente a toda externalização ou profanação dos Mistérios, e
abdicou de sua presigiosa posição em favor de seu irmão mais novo. Quando os
efésios exilaram seu amigo Hermodoro, baseados em que ele houvera se
sobressaído aos seus pares de modo tão notável que isso se tornara inaceitável
para a estrutura social democrática da cidade, Heráclito retirou-se da vida
pública e participava apenas como um crítico independente. Os efésios revidaram
espalhando falsas histórias sobre ele, algumas das quais acabaram sendo
registradas nas biografias.
Heráclito estava familiarizado
com as filosofias das escolas Milesianas, e ele também conhecia a filosofia do
fogo de Zoroastro. Ele foi um contemporâneo de Dario, o persa, cujo império
cobria a região de Éfeso até a Índia. Os indianos vieram para a Grécia no
reinado do seu sucessor Xerxes, de modo que Heráclito deve ter tido algum
contato com o pensamento indiano. Relatos apócrifos sugerem que ele estava tentando
uma cura Zoroastriana de hidropsia quando morreu. Seus pensamentos revelam uma
enérgica originalidade que dedicou-se à prosa aforística, assemelhando-se ao
estilo e substância do 'Tao te ching'. Ele escreveu um livro, conhecido mas mal
compreendido na antigüidade, do qual só sobrevivem citações dentro e fora de
contexto. Era dividido em três partes, tratando do universo, política e ética.
Para Heráclito, a Natureza é um
mistério que vela seus segredos até mesmo quando parece desvelá-los. Clemente
de Alexandria disse que Heráclito "amava esconder sua metafísica na
linguagem dos mIstérios", e fazendo isso ele elaborou a linguagem conforme
o assunto. "O senhor cujo oráculo está em Delfos", escreveu ele,
"nem fala nem esconde, mas dá sinais". Heráclito recusou-se a
desenvolver uma cosmogonia sistemática ou uma ciência esquemática. Antes, ele
ofereceu sugestões e referências sobre a ordem interna das coisas. "A
Natureza ama esconder", e assim "os olhos e ouvidos são testemunhas
precárias para as almas bárbaras" Reunir observações não garante o
entendimento, a menos que a pessoa tenha cultivado o potencial da alma para o
conhecimento. Tampouco contam os eventos, mas seu significado. Não obstante,
"os olhos são testemunhas mais precisas do que os ouvidos", e a
pessoa deveria pesquisar por si mesma em todos os assuntos. "Os homens que
amam a sabedoria deveriam conhecer muitas coisas". Se os dados sem
discriminação são vazios de significado, altas teorias sem aplicação
reconhecível são inúteis. "Não façamos conjeturas arbitrárias sobre os
assuntos mais relevantes", pois até mesmo "a grande erudição não
ensina a compreensão". Se tanto o empirismo cru como o racionalismo puro
devem ser evitados, existirá um caminho para o conhecimento?
Heráclito sustentava que embora o
mundo externo apresentasse uma harmonia oculta, sua chave não poderia ser
encontrada na mera concatenação das coisas e na cacofonia dos eventos. Para
sabermos, devemos nos voltar para dentro. "Eu cheguei a mim mesmo" e
"vi que cabe a todos os homens conhecerem a si mesmos e serem
temperados". Na descoberta interior a pessoa encontra a verdade, na
conduta temperada a pessoa a exibe de modo que todos a possam ver. A pessoa
vive a harmonia oculta. "Ser temperado é a maior virtude. A sabedoria
consiste em falar e aplicar a verdade, dando atenção à natureza das
coisas". Se alguém praticar este método, mesmo que só um pouco, começará a
sentir a real natureza do cosmo - um universo de fluxo incessante, imerso no e
governado pelo Logos.
"Embora este Logos seja
eternamente válido, ainda assim os homens são incapazes de entendê-lo, não só
antes de ouvi-lo, mas mesmo depois de tê-lo ouvido pela primeira vez. Isto é,
embora todas as coisas venham a desaparecer em concordância com este Logos, os
homens parecem não ter experiência nenhuma disso, pelo menos se forem julgados
à luz das palavras e atos que estou apresentando. Meu método é distinguir cada
coisa de acordo com sua natureza, e especificar como se comporta; outros
homens, ao contrário, em sua vida desperta são tão esquecidos e desatentos
sobre o que está acontecendo em seu redor como quando dormem".
"Deveríamos nos deixar ser
guiados pelo que é comum a todos. Porém, embora o Logos seja comum a todos, a
maioria dos homens vive como se tivesse uma inteligência própria exclusiva
sua".
Logos pode significar 'palavra',
'fala', 'narrativa' ou 'relato', 'definição', 'a faculdade racional' e
'proporção'. Heráclito deixa o termo sugestivamente vago, como a atividade
enigmática da natureza, uma vez que todo o espectro de possíveis significados
se torna relevante para esta idéia básica. O que quer que seja o que os
Milesianos tenham querido dizer, Heráclito sabia que suas especulações
filosóficas estavam engajadas em explicações reducionistas sobre a origem do
universo. Antes do que ver a natureza reduzida a água ou ar ou terra,
Heráclito rejeitava todas as descrições genéticas do cosmo e declarava que ele
era incriado. O universo está eternamente sendo reformado de acordo com o Logos
que o guia e penetra cada porção e partícula sua. O Logos concebido como um
princípio ontológico não tem atributos sujeitos à caracterização
antropomórfica. Ele é inteligente em suas operações e inteligível para quem
tenha se voltado para dentro. Uma vez que ele está em toda parte, é
surpreendente que os homens não o percebam mesmo quando já ouviram sobre ele.
Uma vez que está dentro, o Logos é o cerne pulsante da alma. Assim ele é
acessível a todos os que se baseiam no que é comum a todos os seres humanos. Os
homens não reconhecem o Logos fora ou dentro porque desejam deificá-lo e
quantificá-lo. Embora seja o ser dos homens, ele é mais como o fogo do que como
uma substância tangível, e em sua atividade é mais como uma fórmula inteligente
do que uma força visível. Ele é acessível à consciência capaz de discernir a
harmonia oculta no fluir universal, e também à intuição, antes do que ao
pensamento discursivo.
"O universo é Fogo oculto.
Quando não está obstruído pela forma temporária, brilha por si mesmo, luminoso
como o céu diurno, preenchendo os orbes do sol e da lua, incompreensível porque
é pura transformação. O Logos aparece como cosmo em seu aspecto de matéria
arquetípica que é o Fogo. Embora a terra seja o pólo oposto do Fogo,
aparentemente sólida e imóvel, é só um aspecto do próprio Fogo, real em sua
própria natureza, mas ilusória onde parece ser estável. A água media entre a
terra e o Fogo, e ela também é apenas Fogo em sua natureza interna, pois ela
pode 'morrer' ao tornar-se ou terra ou Fogo.
"Há uma mudança de todas as coisas em Fogo, e do Fogo
nas coisas todas, como o ferro vira ouro e o ouro, ferro. Este universo, que é
o mesmo para todos, não foi criado por algum deus ou homem, mas sempre existiu,
e existirá, um Fogo sempre vivo, acendendo-se em medidas regulares e
apagando-se em medidas regulares. Ele separa e novamente junta; avança e se
retira. As transformações do
Fogo são: primeiro, o mar; e do mar, metade se torna terra e metade meteoros.
O Fogo vive na morte da terra, o
ar na morte do Fogo, a água na morte do ar, e a terra na morte da água. O
relâmpago guia todas as coisas".
O fogo é o valor real de cada
coisa, não simplesmente seu substrato matérico. O fogo é auto-sustentado e
portanto anterior a qualquer forma que possa assumir. Como o profundo mito de
Prometeu sugere, o Fogo é a raiz da mente e portanto de toda a consciência e
inteligência. Quando o Fogo se move do estado gasoso ou etérico para o aquoso,
então transformando-se no terrestre, ele também libera meteoros, uma força
tremendamente transformadora que é como Fogo e água, combinando movimento
ascendente e descendente. Assim como o relâmpago, ele guia todas as coisas.
Heráclito sugere que os elementos reais são estados do Fogo etérico antes do
que tipos diferentes de substância. Os filósofos Pré-Socráticos ignoraram a
análise dinâmica de Heráclito e falaram, em vez, em fogo, ar, água e terra, compelindo
assim os pensadores gregos a postular um quinto elemento, o éter, que era
imaginado existir em todos os outros quatro elementos e ainda além. Sustentando
que havia apenas um elemento sob três formas, Heráclito chamou a atenção para
os pontos de transição entre eles, aqueles estados críticos onde cada um
'morre' formando os outros.
Em acréscimo a seu ser puro e
imanifesto e seu aparecimento material como Fogo, o Logos exibe atividade como
seu terceiro aspecto. O Logos em ação se manifesta através de pares de opostos
- começo e fim, dia e noite, calor e frio, vida e morte - unificados por um só
princípio, 'eris' ou luta. "Tudo flui e nada pára; tudo dá lugar (a outras
coisas) e nada permanece fixo". Tudo o que existe está mudando em seu oposto
- o que é jovem está se tornando velho, o que está morto está prestes a
renascer, o que é frio está esquentando, o que se move está se retardando. A
natureza visível é representada em uma única impressionante imagem: 'rhoe', uma
correnteza ou fluxo. "Não se pode mergulhar duas vezes no mesmo rio, pois
outras águas estão continuamente correndo". O termo sugere, mas não
garante, um tornar-se ('genesis'), um mudar ('metabole') e um movimento
('kinesis'). 'Eris', a incessante tensão entre os opostos, governa o universo
manifesto, e se cessasse por um só momento, o universo pereceria. Cada par de
opostos é uma unidade, uma vez que cada metade do par só pode ser entendida
conhecendo-se a outra metade. "`Pela doença é que a saúde se torna
agradável; é pelo mal que o bem se torna agradável; é pela fome que a saciedade
se torna agradável; é pelo cansaço que o repouso se torna agradável".
Assim há uma harmonia entre todos os opostos, de modo que o fluxo universal é
também um equilíbrio dinâmico. A ordem não é uma estase, um arranjo imutável
das coisas, mas um equilíbrio entre todas as transformações em cada momento
mutante. Há um equilíbrio entre o que jamais se manifesta e o que sempre muda,
e esta é a verdadeira harmonia oculta. "É na mudança que todas a coisas
encontram repouso".
Portanto, 'eris' é 'dike'
(justiça), a harmonia de todas as coisas, e a luta é a essência da harmonia.
"A oposição traz a concórdia. Da discórdia provém a melhor harmonia".
Há uma lei de harmonia divina na natureza; o jogo dos opostos de um lado, o
eterno movimento do Fogo de outro. 'Dike' no universo não é apenas justiça, mas
também compensação, uma vez que a 'lei única' redistribui o desequilíbrio. Em
um mundo de mudança, não pode haver igualdade entre as coisas, mas somente uma
contínua reciprocidade entre as transformações. O Estado, portanto, não deveria
procurar a igualdade entre os indivíduos que variam em suas capacidades,
percepção e sabedoria, mas deveria garantir igual acesso á lei para que a
justiça possa ser feita. Se há de existir justiça na sociedade humana, deve
seguir a 'lei única' como ela opera na alma humana.
"Não se poderia descobrir os
limites da alma, mesmo se viajássemos por todas as estradas para fazê-lo. A
alma é a ígnea vaporização da qual tudo o mais deriva, ela está em fluxo
incessante, pois o mundo móvel só pode ser conhecido pelo que é
movimento".
"Para as almas é morte
tornarem-se água, e é morte para a água se tornar terra. Inversamente, a água
vem à existência a partir da terra, e as almas a partir da água. Uma alma seca
é a mais sábia e a melhor. As almas se comprazem em se tornar úmidas. É difícil
lutar contra o desejo impulsivo; quem quer que procure isso, o conseguirá à
custa da alma".
A alma do mundo é uma freqüência
de movimento de onde tudo se origina. As almas individuais são unas com a ígnea
alma-mundial, mas aparecem distintas através de seus desejos separados. O
desejo é sempre pela forma, por uma freqüência de movimento mais baixa. Almas
secas mantêm uma freqüência mais próxima da alma-mundial; almas úmidas vão se
retardando. Se uma alma se retarda até a freqüência da água, ela 'morre' - se
torna incapaz de qualquer entendimento ou percepção além da esfera aquosa -
pois só o movimento mais rápido pode englobar o mais lento. Assim o desejo dá
origem ao prazer, mas à custa da alma, que pode ser retardada até a
insensibilidade. "Os imortais se tornam mortais; os mortais se tornam
imortais; eles vivem cada um na morte do outro e morrem com a vida do
outro". Uma vez que o que é geralmente chamado de 'humano' é esta condição
infestada de desejo, com lento movimento anímico, "a natureza humana não
possui entendimento real; só a natureza divina o possui". A vida e o
entendimento dependem da aceleração da alma, uma tentativa consciente em
direção ao equilíbrio, mas "embora intimamente conectados ao Logos, os
homens continuam se opondo a ele". O desejo os cega para sua natureza
verdadeira, e assim eles buscam as sombras em vez da realidade. "O que é
divino escapa à percepção humana por causa de sua incredulidade". Assim,
enquanto que "o mais belo macaco é feio comparado com a humanidade, o
homem mais sábio parece com um macaco quando comparado a um deus, em sabedoria,
em beleza e de outras formas". Inconsciente de que a fonte da redenção
está dentro, "eles rezam para imagens; eles poderiam da mesma forma falar
com as paredes". Em vez de procurarem o caminho da autotransformação que
conduz aos Mistérios, "o que são considerados mistérios entre os homens
não passam de rituais profanos". Gestos exteriores substituem a reforma
interior. "Quando em pecado eles se purificam com sangue, como se alguém
que tivesse entrado na imundície pudesse se limpar com imundície".
A alma humana pode ser restaurada
à sua íntima relação com a alma-mundial e o Logos, pois "o caminho para cima
é o mesmo que o caminho para baixo".
"Pensar é comum a todos. Os
homens deveriam falar de modo racional e daí basear-se no que é comum a todos,
como uma cidade se baseia na lei, e mesmo com mais firmeza. Pois todas as leis
humanas se nutrem da lei divina única, que prevalece até onde quiser,
basta a todas as coisas, e ainda é mais que elas. Os melhores homens escolhem
uma coisa de preferência a tudo mais, glória imortal de preferência aos bens
mortais; ao passo que as massas simplesmente se saciam como gado. Extinguir a
'hubris' é mais necessário que extinguir um incêndio. O caráter de um homem é o
seu 'daimon' ".
Uma vez que a inteligência é uma
capacidade compartilhada por todos os seres humanos, e em um grau mais difuso
por toda a vida, os homens deveriam se apegar ao que é universal e abandonar
tudo o que é pessoal. Os princípios éticos e normas sociais são derivadas da
lei única. Os homens sábios se tornam unidirecionados focando sua consciência
na lei, conseqüentemente refinando seus entendimentos e purgando a alma de
tendências dispersivas - desejos de todas as formas - que retardam a velocidade
da alma. 'Hubris' é a inércia, a resistência á mudança em um universo que é
todo mudança. "O sol não ultrapassará sua medida; se o fizesse, as
Erínias, agentes da justiça, o perseguirão". Por que então o ser humano
deveria presumir fazê-lo? A 'hubris' termina com a morte. A vida é buscada
estreitando-se progressivamente o âmbito dos desejos impulsivos, ao mesmo tempo
que se focaliza na lei universal. Este é o caminho do meio da temperança - um
equilíbrio móvel na ação mesclado à intuição da harmonia oculta que o
equilíbrio manifesta. A pessoa é guiada na tentativa pelo seu 'daimon', que não
é uma entidade semi-espiritual fora de si mesmo, mas é seu próprio caráter, a
direção de movimento e a claridade de visão que a pessoa engendrou dentro de si
mesma.
O caminho para cima e o caminho para baixo são um só. Precisamente porque todas as coisas são uma, a alma pode naufragar na vida
espiritual e também pode ser novamente elevada. "As pessoas não entendem
como aquilo que varia em relação a si mesmo pode concordar consigo mesmo.
Existe uma harmonia no andar para trás, como no caso do arco e da lira. Ouvindo
não ao ser mas ao Logos, é sábio reconhecer que todas as coisas são uma
só". O fogo interno pode ser excitado para imergir no fogo superior. A
pessoa não deve, contudo, se fixar nas próprias idéias, nem mesmo no estado
glorioso da alma seca. Toda fixidez no pensamento ou ação é uma resistência ao
poder mobilizador do Logos, uma sutil forma de 'hubris', uma tendência à
autodestruição. É melhor permanecer flexível em mente e ação, conhecendo a lei
única e aderindo a ela sem desvio, ao mesmo tempo que se move livremente junto
com as circunstâncias externas guiado pelo relâmpago da consciência intuitiva.
"A menos que esperes o inesperado jamais conhecerás a verdade, pois ela é
difícil de atingir". Com o esforço a pessoa começará a sentir o ar mais livre
da atmosfera superior, confiante que "todas as coisas sucedem em seu tempo
devido", não desejando nada e não precisando de nada que não seja provido
pela Natureza e cuja produção seja consubstancial à necessidade pessoal. Com o
tempo a alma aprenderá a fluir com o fluxo incessante das correntes vitais, e
também a pairar no movimento perpétuo do empíreo, próximo ao mais alto grau do
Fogo deífico. Então a pessoa saberá com seus próprios sentidos apurados, e não
só a partir do 'ouvir dizer', que "a harmonia oculta é melhor que a
óbvia", que a pessoa é o Fogo e a luz, a fonte da Sabedoria encontrada no
interior.