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JULIANO, O IMPERADOR

"O mundo inteligível é completamente uno, existente antes de todo o tempo, e ele combina todas as coisas no Um. Também não é todo nosso mundo um organismo completamente vivo, através de toda a pletora da alma e da inteligência, 'perfeito, e perfeito em todas as suas partes'? No meio do caminho entre estas duas perfeições uniformes... existe a perfeição uniforme do Sol Soberano, Hélio, estabelecido entre os deuses intelectuais... Pois ele aperfeiçoa algumas formas, outras ele cria, ou adorna, ou desperta para a vida, e não existe nem mesmo uma só coisa que, fora do poder criativo derivado do Sol Soberano, possa vir à luz e nascer".

Hino ao Sol Soberano

JULIANO

A decisão de Constantino de reconhecer o Cristianismo como uma religião oficial do Império Romano foi um completo desastre para a civilização clássica. Enquanto parecia conceder estabilidade interna, o Edito de Milão, de 313 dC, destruiu definitivamente as bases da coesão e estrutura social romanas. Os historiadores têm visto de tudo neste Edito, desde uma profunda convicção religiosa até uma crua artimanha política. Depois de conseguir poder durante um período de convulsão dentro do Império, Constantino permaneceu à parte, enquanto que os rivais se digladiavam pelo trono imperial. Quando ele se sentiu forte o bastante, aliou-se a Licínio, o imperador do Ocidente, contra Maximiano e Maxêncio. Enquanto Licínio vencia Maximiano, Constantino rumava para Roma, a praça-forte de Maxêncio. De acordo com Eusébio de Cesaréia, quando Constantino encontrou Maxêncio na Ponte Milviana sobre o Tibre, perto de Roma, ele viu uma cruz flamejante no céu, inscrita com as palavras 'In hoc signo vinces' - 'com este sinal vencerás'. Constantino adotou a cruz como seu estandarte, derrotou Maxêncio e se tornou imperador do Ocidente em 312. Constantino e Licínio se encontraram em Milão e publicaram o Edito. Em 315 e 324 Licínio desafiou Constantino, sendo derrotado ambas as vezes e morrendo na segunda tentativa.

Embora politicamente astuto, Constantino falhou em compreender as implicações mais profundas de adotar o Cristianismo. Durante toda a história imperial, Roma demonstrou grande tolerância em relação a todas as religiões, seitas e cultos. Quando seus exércitos anexavam um novo território, eram seguidos por administradores cuja tarefa principal era descobrir tudo o que poderia ser sabido sobre o panteão local, seus costumes, mandamentos, dias festivos e rituais. Os romanos evitavam cometer qualquer ofensa mesmo não intencional aos deuses, e eles  acreditavam que todas as religiões mereciam respeito porque apontavam para a 'divinitas', a coisa divina percebida no mais alto céu e no coração humano. Uma vez entendida a religião local, era-lhe dada uma 'interpretatio' romana formal, onde cada deidade era relacionada a um deus sagrado para Roma. Assim os deuses de todos os povos poderiam ser honrados e mesmo acolhidos na Cidade Eterna. Quando os romanos primeiramente entraram em contato com os Judeus, cuja religião era completamente exclusiva e resistente a toda 'interpretatio' romana, eles ficaram chocados. Uma religião que rejeitava agressivamente qualquer validade de outras perspectivas negava os deuses que movem e animam as pessoas em toda a Terra. Para a mente romana, tais religiões - a dos Judeus, Cristãos e alguns Maniqueus - eram anti-religiões e uma forma de ateísmo. A intolerância e presunção espiritual implícita em tais crenças eram ofensivas ao senso romano do 'afflatus' divino que embebe cada faceta da ordem natural e todos os aspectos das instituições humanas.

O imperador Constantino não parece ter tido nenhuma inclinação de impingir uma exclusividade religiosa sobre os diversos povos do império, mas ele não percebeu uma característica fundamental da religião que ele elevou à honra imperial: desde o início o Cristianismo pretendeu destruir completamente os antigos deuses e seus cultos. Para a igreja primitiva, as deidades gregas e romanas, célticas e egípcias, trácias e fenícias não eram reais o bastante, e na verdade eram demônios e anjos caídos que levavam os homens às portas de fogo da perdição. Esta teologia acarretava a implicação social de que a solidariedade do Império Romano fora construída sobre demônios e era adequada apenas para a danação, uma conclusão inevitável que Constantino falhou em compreender ou decidiu ignorar: o deicídio leva ao fratricídio. Enquanto Constantino negligenciava as graves conseqüências do Edito de Milão para a sociedade, arte e ciência clássica romanas, e para a 'paideia' e para a 'humanitas', as implicações não foram perdidas pelos seus sucessores fanáticos e menos perspicazes. Roma não foi destruída pelos bárbaros que a saquearam com notável reverência; foi demolida pelos imperadores Cristãos bizantinos que tomaram sua arte e ornamentação e retiraram seus suportes arquitetônicos de ferro para construções em Constantinopla, "deixando os grandes templos e palácios de mármore cair rapidamente em ruínas".

Constâncio Cloro havia sido escolhido pelo imperador Diocleciano como seu co-regente mais jovem. O preço de sua elevação ao poder imperial foi o repúdio de sua esposa Helena, uma taberneira da Ásia Menor, e seu casamento com Flávia Máxima Teodora, filha do co-regente de Diocleciano, Maximiano. Enquanto Helena criava seu filho Constantino e acalentava seu rancor contra Constâncio, Teodora dava à luz a Dalmácio e Júlio Constâncio, o pai de Juliano. Constâncio se tornou imperador e foi sucedido depois de consideráveis lutas políticas e militares por Constantino, que fez de sua mãe a primeira dama do Império. Ela baniu os filhos de Teodora para prisão domiciliar nas províncias distantes da influência política. Constantino não confiava em ninguém de seu clã e ordenou que seu filho mais velho, Crispo, fosse morto, e sua segunda esposa, Fausta, fosse sufocada durante o banho. E assim, depois de ter trabalhado para unificar o Império, não indicou nenhum sucessor. Depois de meses de negociação, durante cujo tempo Constantino ficara em Constantinopla, seus três filhos sobreviventes, Constantino II, Constâncio II e Constante, dividiram o Império entre si. Constâncio II, sempre temeroso de ameaças, alegou que Eusébio, Bispo de Nicomédia, havia-lhe dado um testamento encontrado por soldados nas mãos de Constantino, no qual o imperador falecido incumbia os filhos de Teodora de envenená-lo. Foram enviados soldados para matar Dalmácio e seus filhos; Júlio Constâncio e seu filho mais velho também foram mortos, talvez na presença de Juliano. Eles pouparam Juliano, que havia nascido em 331 e tinha só cinco anos, e também seu irmão mais velho Galo, que estava muito doente e presumivelmente moribundo. Juliano foi exilado para Nicomédia, onde foi colocado sob a custódia do Bispo Eusébio, que havia dado o infame 'testamento' para Constâncio II. A apresentação de Flávio Cláudio Juliano aos perigos do poder imperial e à sordidez da política Cristã não foi esquecida à medida que ele crescia.

Em Nicomédia ele desfrutou do conforto de uma avó amorosa e devotada, e de Mardônio, um professor rigoroso mas justo. Enquanto estes dias foram relativamente pacíficos para Juliano, Constâncio ficava cada vez mais temeroso em Constantinopla. Constantino II, sentindo-se prejudicado na divisão do Império, marchou sobre Constante e foi morto. Subitamente, Constâncio odernou o afastamento de Juliano de seus amigos e professores e mandou-o sob custódia para Marcelum, uma propriedade imperial perto do Monte Argaios, na Capadócia. Lá ele teve bons professores e muito luxo, mas não lhe era permitida nenhuma companhia de sua idade e foram-lhe proibidas todas as viagens. Durante seus seis anos de isolamento em Marcelum, Constante morreu, Constâncio se tornou o único imperador e desposou a meia-irmã de Juliano, e Juliano ficou sabendo das causas do assassinato de seu pai. Ele secretamente rejeitava o Cristianismo e suas instituições e abraçara o ensinamento mais filosófico dos Neoplatônicos, uma afirmação do Um, cuja teofania é um panteão diversificado.

Em 351 Galo foi convocado a Sirmium e proclamado César. Como chefe das operações contra a Pérsia, ele dispôs para encontrar-se com Juliano e conceder-lhe liberdade de viajar. Depois de ouvir as palestras de Libânio em Nicomédia, Juliano procurou por Aidésio, o discípulo direto de Jâmblico, em Pérgamo. Aidésio indicou-lhe seu próprio discípulo Eusébio, que ensinou-lhe que a alma chega à sua fonte imortal através de um despertar gradual do intelecto espiritual. Tendo advertido Juliano contra o lado sinistro da teurgia, ele descreveu como Máximo, "um dos estudantes mais antigos e avançados" de Aidésio, podia animar estátuas e produzir fogo por invocações, e logo Juliano partiu para Éfeso para estudar com Máximo. Embora tal atividade fosse completamente ilegal no Império, Máximo corajosamente ensinou a Juliano os Oráculos Caldeus e o comentário secreto de Jâmblico. Enquanto professava o Cristianismo e estudava em grande sigilo, ele buscou e obteve de Máximo a iniciação. Os eventos na cripta de Hécate-Cibele, a deusa em cujas mãos está a tocha do Fogo Divino, permanecem um mistério, mas esta experiência foi o ponto culminante na vida de Juliano. Por três anos Juliano estudou filosofia antiga e teurgia, enquanto se movia em público com uma circunspecção Cristã.

Em 354, Constâncio, suspeitando do sucesso de Galo no Oriente e envolvido por intrigantes de diferentes facções, convocou Galo para Milão. Antes que alcancasse o quartel-general do imperador, foi preso e decapitado. Antigos amigos e associados acorreram para tornar-se informantes, a fim de salvar-se, e logo Juliano, profundamente abalado pela execução de seu irmão, foi chamado a Milão. Quando o navio que o levava aportou em Alexandre Troas, Juliano aproveitou a oportunidade para visitar o sítio de Tróia. Quando ele pediu a Pagásio, Bispo de Troas, que lhe mostrasse as redondezas, ficou surpreso de ver que o bispo havia preservado intactos os santuários antigos. Um fogo ardia no altar de Heitor, e quando Juliano perguntou o significado disto, o bispo respondeu: "É estranho que o povo de Ílion mostre seu respeito por seus cidadãos ilustres do mesmo modo que nós demonstramos o nosso pelos mártires?" Dizia-se que Pagásio havia destruído a tumba de Aquiles, mas Juliano a encontrou em perfeita ordem. Quando eles entraram no templo de Atena e o bispo não fez o sinal da cruz nem deu o assovio que protegia os Cristãos dos espíritos malignos que rondavam os antigos lugares sagrados, Juliano soube que ele havia encontrado um companheiro Iniciado nos Mistérios. Ele deixou Tróia com a percepção de que a antiga religião dos filósofos não havia morrido para todos, mas fora apenas velada. Quando chegou a Milão, Juliano facilmente desvencilhou-se das acusações formais levantadas contra ele, mas mesmo assim foi posto em prisão domiciliar. Inesperadamente, Eusébia, calorosa, cosmopolita e recentemente casada com Constâncio, usou sua influência para libertar Juliano e baní-lo para Atenas. Assim, sem sabê-lo, Constâncio atendeu aos mais fundos desejos de Juliano.

Em Atenas Juliano visitou a Academia fundada por Platão e o Perípato, onde Aristóteles havia palestrado. Secretamente, ele entrou nos Mistérios Eleusinos e emergiu com a promessa de renascimento espiritual e o potencial para a imortalidade autoconsciente. Estes dias, os mais felizes para Juliano, terminaram dentro de poucos meses, por uma ordem de voltar a Milão. Mais uma vez, Eusébia interveio, desta vez para persuadir o imperador de que a educação apolítica de Juliano e seus interesses eruditos privavam-no de apoio político e não o inclinavam a aspirações imperiais. Constâncio estava desesperado, não tinha filhos, e agora estava ameaçado por uma guerra nas duas extremidades do Império. A sinistra impulsividade que o levava a matar inimigos reais ou imaginários agora o levava a tornar Juliano César, com responsabilidade de proteger a Gália, a Bretanha e a Espanha.

Não agradou a Juliano um posto onde seus últimos cinco ocupantes tiveram o destino de seu irmão Galo. O historiador Amiano Marcelino escreveu que as próprias palavras de Juliano em sua coroação, em 355, foram as de Homero: "Morte purpurada e poderoso destino o abateram". Mas  Juliano estivera próximo à morte por toda sua vida, e era destemido. Talvez nem mesmo Eusébia soubesse que o imperador-modelo de Juliano fosse Marco Aurélio, o ascético e nobre Estóico. Assim que, depois de sua coroação, o tempo permitiu, Juliano partiu para a Gália, com oficiais e auxliares escolhidos por Constâncio. Sendo-lhe permitido levar apenas quatro de seus antigos servos, ele escolheu Eufêmero, um africano que acompanhara Juliano nas iniciações aos Mistérios e guardava seu segredo, e Oribásio de Pérgamo, um médico que seguia a antiga religião e cuidadosamente escondia os papéis pessoais de Juliano entre suas copiosas notas médicas, a fim de mantê-los longe dos olhares perscrutadores dos espiões. Para a surpresa de todos, Juliano provou ser um hábil estrategista e um tático brilhante. Quatro grandes campanhas contra os francos e os germanos asseguraram as fronteiras, e diversas incursões bem planejadas induziram-nos a honrar os tratados de paz que haviam assinado.

Constâncio ordenou que os principais generais de Juliano enviassem os quatro melhores regimentos e trezentas tropas de cada uma das unidades remanescentes para o Oriente, e ordenou que Juliano não interferisse. Para evitar qualquer sugestão ou fomento de rebelião, Juliano permitiu aos oficiais indicados por Constâncio que reunissem e arrolassem as tropas. Eles escolheram reuní-las tendo Paris como centro, contra o conselho de Juliano, em 360. Assim que estes regimentos foram informados de seu destino, amotinaram-se e proclamaram Juliano imperador. A sorte estava lançada: em 361 ele começou a marchar para o leste com suas legiões fiéis e entusiasmadas. Constâncio voltou-se para o oeste e apressou-se através da Cilícia para encontrar Juliano. Mal ele havia partido quando viu um cadáver sem cabeça à beira da estrada, e tomou isso como um mau presságio. Quando alcançou Tarso, acometeu-lhe uma febre. Embora prosseguisse, dentro de poucas milhas ele colapsou e morreu em agonia em 3 de novembro, nomeando, dizem, Juliano como seu sucessor. Mensageiros correram para Juliano e informaram-lhe de que as legiões do Oriente haviam jurado lealdade a ele, e Juliano, Imperador, entrou em triunfo em Constantinopla, em 11 de dezembro de 361.

Constâncio havia eliminado todos os rivais concebíveis, e Juliano subiu ao trono sem disputa. Tendo meditado longa e claramente sobre a iminência da morte, ele também havia meditado sobre a possibilidade de vir a ser imperador. Para ele, três metas imperiais eram principais: a restauração da antiga filosofia espiritual para seu merecido lugar, a reforma econômica e administrativa do Império, e a devolução das propriedades pilhadas dos templos. Estabelecendo um tribunal de generais dos exércitos do Oriente e do Ocidente para investigar a subversão e injustiça, os exércitos foram unificados sob Juliano, o odiado sistema de espiões foi desmantelado e o imperador mostrou ter uma mente aberta e ser benevolente. A maior parte do vasto corpo de eunucos e cortesãos ostentava uma opulência que chocara profundamente o novo governante, e ele simplesmente demitiu-os. Os postos principais foram dados a indivíduos de competência testada, sem preconceito por causa de lealdades anteriores ou convicção religiosa. Embora desagradando aqueles que perderam de suas sinecuras, as reformas de Juliano foram imediata e imensamente populares entre todas as classes sociais. Filósofos e homens versados profissionalmente na arte e na ciência foram trazidos para uma administração imperial antigamente conduzida por burocratas pobremente educados. Em cada ponto, Juliano procurou não destruir, mas racionalizar. Em março de 362 Juliano promulgou uma série de leis devolvendo terras imperiais às cidades de onde elas haviam sido tiradas, cancelou o tributo anual de ouro das cidades para o tesouro imperial, perdoou impostos atrasados e reduziu os índices de taxação de terras, agilizou o sistema judicial, e em geral tentou eliminar as iniqüidades e abusos. Durante o mesmo período, Juliano publicou um notável edito de tolerância religiosa. Todas as atividades religiosas foram salvaguardadas pelo imperador; uma vez que não havia distinção entre a crença Cristã e as outras, todos os Cristãos previamente considerados hereges foram acolhidos de volta às suas igrejas e funções; os subsídios estatais foram retirados do clero Cristão para que todos os grupos pudessem estar em pé de igualdade; e a lei requeria que as propriedades dos templos tomadas pelos grupos Cristãos deveriam ser devolvidas ou indenizadas. Reformas de grande  amplitude não podem evitar completamente a violência e o abuso, mas Juliano combateu vigorosamente os casos assim que ocorriam. Os templos foram reabertos, os hierofantes devolvidos a lugares de honra, os sacrifícios eram conduzidos publicamente e a igreja foi autorizada a atuar livremente, mas proibida de forçar conversões. Dado o escopo das reformas administrativa, econômica e religiosa, ele foi notavelmente bem-sucedido; o Império movia suas engrenagens com suavidade e ficava mais forte e saudável a  cada dia. Mas Juliano sabia que o abalo das raízes do mundo greco-romano causado por Constantino não poderia ser curado somente pela reforma social. As mentes e corações dos cidadãos deviam ser regenerados através da educação cívica e espiritual.

Para Juliano, a educação envolvia o cultivo dos antigos valores através de uma restauração da 'paideia' e da 'humanitas'. O Cristianismo não havia produzido nenhuma literatura além das escrituras e dos tratados polêmicos, e ele se baseava principalmente nos textos clássicos para a educação de seus conversos. Os assuntos do Império eram conduzidos em grego, e quem quer que desejasse conseguir um cargo público ou serviço civil teria de conhecer esta língua. A gramática e a retórica eram ensinadas através de um estudo dos autores antigos. Os Cristãos viram-se na posição insustentável de ter de educar os estudantes com uma literatura demoníaca. Em 17 de junho de 362, Juliano publicou um abrangente edito sobre a educação. A cultura espiritual, declarou ele, é a prole da mente racional, e não a mera eloqüência, e uma mente racional procura discernir o bem do mal, a beleza da feiúra. Um indivíduo que ensina uma coisa e acredita em outra é ao mesmo tempo inculto e desonesto. Quase todo mundo encontrará falhas lamentáveis em si mesmo, mas práticas ambivalentes como uma política é algo intolerável. Assim, declarava o edito, a pessoa devia acreditar no que ensinava, ou devia deixar de ensinar. Considerando os professores, Juliano concluía:

"Tampouco neste relato eu os obrigo a mudar de crença. Eu lhes dou a opção de ou não ensinar o que não acreditam, ou se ensinam, que o façam honestamente, e não louvem os antigos enquanto condenam suas crenças. Uma vez que os professores vivem através dos escritos dos antigos, fazer de outra forma seria uma admissão de que fariam qualquer coisa por algumas dracmas".

O clero ficou ultrajado. Ao requerer uma ética elementar e consistência intelectual, Juliano havia exposto as contradições fundamentais no Império Romano Cristão.

Apolônio de Tíana havia introduzido reformas sacerdotais com base nos princípios universais e Amônio Sacas havia demonstrado filosoficamente a unidade essencial de toda aspiração espiritual, mas nenhuma destas iniciativas havia chegado às grandes massas de seres humanos. Juliano escreveu alguns tratados que tentavam traduzir o simbolismo mítico em uma doutrina coerente, que pudesse ser a base para um impulso espiritual regenerado. Em seu Hino ao Sol Soberano e em seu Hino à Mãe dos Deuses, ele usou o conceito Plotiniano do Um e o ensinamento de Jâmblico sobre magia para demonstrar que o Sol Invictus romano, o Apolo grego, o Osíris egípcio e o Mitra persa eram uma só realidade espiritual, assim como a Magna Mater, Deméter, Cibele e Ísis também eram uma só. Este aspecto da reforma educacional, sabia Juliano, levaria décadas para se estabelecer com segurança. O tempo não estava ao seu lado.

O front persa era instável, e cedo Juliano percebeu que acabaria tendo que lutar ali. Mal havia publicado seu edito sobre a educação, partiu para Antióquia para reunir e abastecer um exército. Naquela grande cidade agrária ele descobriu que aqueles que trabalhavam na terra não eram aqueles que a possuíam. Uma seca havia produzido uma quebra na safra, e os senhores de terra urbanos estavam vendendo grãos estocados para os fazendeiros sob preços aviltantes. Juliano ficou horrorizado com esta ostensiva demonstração de cobiça humana. Ele instituiu controle de preços debaixo de regras estritas e portanto evitou a fome, mas também conseguiu a inimizade das classes superiores. Elas se rebelaram rejeitando e obstruindo suas reformas religiosas. Antes do que usar seu poder autocrático para silenciar os dissidentes, ele escreveu uma sátira, Misopogon (O que Odeia Barbas), denominada assim por causa dos graçejos feitos por causa da sua própria barba. Nela ele ridicularizava as frivolidades e a vida trivial das tíbias classes abastadas que esperavam viver no luxo através da exploração cruel dos camponeses e escravos. Tendo deliberadamente escandalizado os naturais de Antióquia e embraraçado todo o Império, o imperador que recusara tomar as sério o título imperial partiu para o front persa. Juliano enviou Procópio para o leste a fim de juntar-se à armada de Arsace, Rei da Armênia e aliado seu. A força resultante seria grande o bastante para simular ser o ataque principal. Juliano encaminhou o exército principal para o sul em direção ao rio Eufrates. O gênio militar de Juliano brilhou uma vez mais, e ele conduziu seu exército através de uma série de vitórias até os muros de Ctesifon, só para ser bloqueado pela armada persa.

Juliano queria prosseguir até para dentro da própria Pérsia, mas seus generais recusaram, argumentando que as forças de Procópio não haviam se juntado a eles. Ninguém sabia direito onde o Rei Shapur estava com suas forças, ou de que lado ele poderia atacar. O exército começou a lentamente se retirar para o norte em direção à Armênia para encontrar Procópio, mas o caminho era escaldante e árido. Unidades persas destruíram toda a comida e abrigo em seu caminho, e logo as tropas romanas sentiram-se encurraladas. Só então Shapur apareceu e lutou. A armada romana manteve sua posição por diversos dias, mas não pôde assegurar uma vitória decisiva. Em 26 de junho o exército foi atacado em sua retaguarda quando marchava, e Juiliano voltou atrás para reanimar seus homens. Eles logo afugentaram os persas, mas Juliano perseguiu-os à frente de seu corpo de guarda e foi ferido no flanco por uma espada. Carregado para sua tenda, seu leal médico Oribásio logo percebeu que a ferida era mortal. De início Juliano rejeitou esta conclusão, porque uma vez um oráculo lhe dissera que ele encontraria seu fim na Frígia, uma província da Ásia Menor. Mas quando ele perguntou o nome do local onde seu exército estava acampado, disseram-lhe: Frígia. Juliano caiu em silêncio por um longo tempo. Então ele reuniu seus principais generais e proferiu um discurso em seu leito de morte, no qual ele recusou indicar um sucessor. Ele chamou Máximo e Prisco para o seu lado para discutir a nobreza inerente da alma. Subitamente, a ferida abriu e começou a sangrar severamente. Juliano pediu um gole de água fria, bebeu, recostou-se calmamente, e abandonou seu corpo mortal.

Assim, em 27 de junho de 363, Juliano morreu, com a mesma idade de Alexandre o Grande. A espada que matou Juliano muito provavelmente era romana. O manto imperial foi oferecido para Salúcio Segundo, amigo íntimo de Juliano e adepto dos Mistérios, mas que não obstante havia objetado contra as reformas religiosas de Juliano. Sabendo que era um candidato comprometido, ele declinou por causa da idade e má saúde. Ninguém queria Procópio, que, embora próximo de Juliano, em geral não era apreciado. Finalmente, Joviano, o comandante Cristão da guarda imperial, foi escolhido. Para retirar as tropas desmoralizadas de uma posição enfraquecida, Joviano aceitou a paz em termos que garantissem uma retirada a salvo para o exército, passou ao Rei Arsace o controle dos persas e abandonou as cinco províncias conquistadas por Diocleciano. Procópio encontrou a armada em retirada em Nisibis e acompanhou o corpo de Juliano para Tarso, onde foi enterrado. Procópio fez inscrever no mármore defronte à tumba de Juliano:

"Aqui jaz Juliano, tendo passado o caudaloso Tigre; um bom rei e um bravo soldado".

Os propagandistas Cristãos imediatamente começaram a denegrir o nome de Juliano. Mas aqui e ali, nas vilas rurais e nas antigas cidades, ainda podem ser encontradas inscrições que expressam uma visão diferente. O imperador que não usou violência contra seus oponentes, que entendeu o Império e amou seu povo, havia conquistado um lugar no coração humano que a história reescrita não poderia apagar completamente. O profundo sentimento que ele suscitou de muitos, em vários níveis da sociedade, talvez seja melhor capturado na inscrição simples que sobrevive em Pérgamo:

"Senhor do mundo, Mestre da filosofia, governante venerando, piedoso imperador, sempre vitorioso Augusto, disseminador da liberdade Republicana".




Autor: Elton Hall
Tradução: Um Colaborador
Revisão: Osmar de Carvalho
Fonte: www.theosophy.org



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