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JOHN DEE

"Podemos nos aproximar do interior, da profundeza e da visão de todas as distintas virtudes, naturezas, propriedades e Formas das criaturas. E também ir mais longe, subir, escalar, ascender e atingir (com as asas da especulação) em espírito, para contemplar o Espelho da Criação, a Forma das Formas, o Número Exemplar de todas as coisas numeráveis, tanto visíveis como invisíveis, mortais e imortais, corpóreas e espirituais".

Prefácio Matemático

John Dee

Na época em que o impacto da Renascença alcançou a Inglaterra, suas diversas correntes se desenvolveram em formas divergentes e às vezes opostas. A doutrina renascentista da dignidade humana era enraizada na concepção clássica sobre a alma como o princípio individualizante da identidade humana, cujos poderes são comensuráveis em exata correlação às complexas forças da Natureza. Este ponto de vista alquímico, rico em implicações sobre a liberdade, responsabilidade e potencialidade humanas, ameaçou a concepção eclesiástica sobre a salvação vicária o bastante para abalar sua influência. A combinação resultante entre perseguição e indulgência (em troca de uma taxa) intensificou uma duradoura resistência, resultando na Reforma Protestante. Contudo, a disputa doutrinal e política deixaram pouco espaço para a tolerância e civilidade em qualquer país ou região que tivesse sido viciada pela intensa polêmica religiosa. Os Protestantes caçavam os heréticos e profanavam propriedades sacras tão zelosamente como fazia a Inquisição, substituindo as pretensões sobre a derradeira autoridade espiritual e social por reivindicações a respeito de uma revelação direta e um juízo crítico pessoal e autônomo que desdenhava as convicções dos outros.

Estas tensões religiosas e políticas conflitavam com o espírito essencial da Renascença e a obrigaram a se dividir em duas largas correntes, muitas vezes misturadas. Uma delas, tirando sua inspiração de Petrarca, evitava desafiar as doutrinas da Igreja ou da política, centrando sua atenção sobre a retórica e o estilo. Ao mesmo tempo em que cultivava a expressão elegante e intensa, em larga medida desconsiderava o conteúdo. A fonte da segunda corrente partiu de Pico della Mirandola e Marsilio Ficino, e estendeu os corolários do antigo pensamento grego e Neoplatônico. Dentro desta perspectiva humana, a dignidade pessoal implicava o poder de autotransformação. Uma vez que os poderes da alma correspondem a poderes inteligentes da Natureza, tanto a magia como a alquimia representavam as artes da mudança auto-iniciada. A primeira corrente fluiu para as universidades inglesas durante o período Tudor, mas a segunda encontrou seu caminho em homens de gênio excepcional como John Dee e Robert Fludd.

Depois da ascensão de Henrique VII ao trono, um grande número de galeses emigrou para a Inglaterra. Um de seus descendentes, Rowland Dee, casou com Johanna Wilde e por fim se tornou um nobre a serviço de Henrique VIII. Seu filho, John Dee, que podia alegar uma ancestralidade que remontava a Roderick o Grande, Príncipe de Gales e parente distante de Elisabeth I, nasceu em 13 de julho de 1527, em Londres. Tendo recebido uma sólida educação, em 1542 ele entrou no Saint John's College, de Cambridge, onde estudou grego com Sir John Cheke. Ao mesmo tempo em que este renomado erudito ensinava línguas e filologia clássicas, ele também mantinha interesses na matemática, e seu aluno o seguiu com entusiasmo. Anos mais tarde Dee escreveu sobre este período:

"Eu era tão intensamente aplicado nos estudos que naqueles anos eu seguia inviolavelmente a seguinte rotina: dormir só quatro horas por noite; uma pausa de só duas horas a cada dia para comer e beber (com algum recreio depois), e nas outras dezoito horas (exceto pelo tempo de ir e permanecer no serviço divino) eu passava em meus estudos e aprendizado".

Quando Dee recebeu seu Bacharelado em 1545, imediatamente foi nomeado membro de Saint Jonh's. No ano seguinte Henrique VIII fundou o Trinity College, e em 1547 Dee se tornou um de seus primeiros membros. Mesmo enquanto estudava grego seu primeiro e duradouro interesse pela engenharia foi estimulado por sua admiração das maravilhas mecânicas helenísticas. Para uma representação estudantil de uma peça de Aristófanes, Dee elaborou um besouro voador mecânico que raptava um dos atores do palco e o levava até um céu Olímpico fora da visão do público. O movimento dramático, realizado por engrenagens silenciosas e fios invisíveis, impressionou a platéia e alimentou rumores sobre magia negra.

A sede de Dee sobre conhecimento matemático não poderia ser satisfeita em uma atmosfera universitária em que a matemática era considerada na melhor das hipóteses um assunto de mercadores comuns, e na pior delas uma invocação e comércio com demônios. Em 1547 ele partiu para o continente para encontrar estudiosos e matemáticos. Ele encontrou-se com Gemma Frisius e Gerard Mercator, cujos mapas e instrumentos de navegação ele adquiriu, e encontrou a teoria heliocêntrica de Copérnico. Retornando brevemente ao Trinity College para receber seu grau de Mestre em Artes, logo ele viajou para Louvain para continuar seus estudos. Embora tenha se envolvido na legislatura civil "por recreação" e mais tarde obtivesse uma licença nesta área, ele escreveu um livro em 24 volumes chamado Mercurius Coelestis, que desde então se perdeu. Seu interesse na filosofia Hermética e na matemática não impediu que ele visitasse Antuérpia para encontrar Abraham Ortelius, o fazedor de mapas. Durante sua estada em Louvain Dee aceitou estudantes para estudos privados, uma prática que ele seguiria durante décadas. Na altura em que ele partiu para dar palestras no Colégio Rhemes em Paris, em 1550, ela já era reconhecida internacionalmente. Em Paris ele pronunciou palestras públicas sobre os Elementos de Euclides, de um ponto de vista matemático, físico e Pitagórico. Sua grande e ilustrada audiência ficava eletrizada por suas exposições e por várias provas e corolários originais que ele acrescentou a Euclides. Ele foi convidado a se tornar o instrutor de matemática para o Rei francês, mas rejeitou a honraria assim como rejeitaria outras semelhantes dos imperadores Carlos V, Ferdinando, Rodolfo II, Maximiliano e do Czar da Rússia.

Quando Dee voltou à Inglaterra, recusou-se a residir em qualquer das universidades. A desconfiança em relação à matemática e uma preferência por estudos retóricos acima da lógica e da filosofia criavam uma atmosfera que Dee considerava inimiga de seu intelecto aguçado. Quando diversos membros da faculdade lhe ofereceram um estipêndio para ensinar matemática em Oxford, ele o rejeitou alegando que tais colocações sub rosa apenas confirmavam a sua convicção de que para eles o assunto não merecia um estudo regular. Contudo ele não se esquivava de ensinar a nobreza. Em 1551 ele elaborou o horóscopo de Eduardo VI e ensinou astronomia ao jovem rei. Durante este período ele serviu o chefe de governo, o duro e poderoso Duque de Northumberland e seus filhos, incluindo Robert Dudley, a quem Elisabeth I haveria de por fim honrar tornando-o Conde de Leicester. Mais tarde Dee ensinou química - incluindo alquimia e matemática Pitagórica - para os parentes do Conde, Sir Philip Sidney e sua família.

A rainha Mary, embora Católica e oposta a tudo o que sugerisse magia, também pediu seu horóscopo para Dee. Talvez como conseqüência de atender a este pedido em meio a turbulências políticas e religiosas, ele foi preso durante um breve período em 1555 sob a acusação de "calcular e conjurar", mas sua relação geralmente boa com a realeza, a despeito de inclinações religiosas, conseguiu sua libertação. Em 1563 o fervoroso Calvinista John Foxe publicou seu Acts and Monuments, em que intitulava Dee de "o grande Conjurador", uma acusação que o assombrou ao longo de muitos anos, pois o livro de Foxe fora disponibilizado em toda Igreja inglesa e largamente lido. Embora sua reputação ficasse perenemente maculada diante da opinião pública, por fim Dee sentiu-se forte o bastante para apelar à corte para que esta passagem ofensiva fosse eliminada de edições posteriores. A despeito de fofocas malévolas, ele fez o horóscopo de Elisabeth I e determinou o dia mais auspicioso para sua coroação. Durante o reinado da rainha Mary, Dee ficou alarmado com a destruição de livros e manuscritos - e às vezes bibliotecas inteiras - durante a expropriação de mosteiros ingleses e prosseguimento das contendas religiosas. Ele sugeriu a criação de uma biblioteca real e se ofereceu para buscar manuscritos para ela. O plano deu em nada e Dee resolveu continuar o projeto privadamente.

Ao longo de todo este período Dee permaneceu preocupado com os benefícios práticos de seus estudos. Enquanto seus compatriotas procuravam por uma mítica Passagem Nordeste para Catai e para a Índia, Dee voltou sua atenção para a eventual possibilidade de uma Passagem Nordeste. Ele forneceu mapas e projetou rotas para a recém-instalada Companhia Moscovita, treinou seus capitães nas mais modernas técnicas de navegação e até mesmo investiu alguns de seus recursos pessoais na iniciativa. Sua academia marítima privada atraiu marinheiros e exploradores de toda a Europa, e embora a Companhia Moscovita não conseguisse penetrar além de Nova Zemlya, seu rendoso comércio com os russos confirmou a sabedoria do conselho de Dee e o alçou |à posição de autoridade na cartografia e exploração globais. A frota inglesa que primeiro adquiriu proeminência sob Elisabeth I deveu seu impressionante início aos planos que ele elaborou. Homem de energia incansável, Dee também fez contribuições à arquitetura e melhorou o aparato cênico, e deu uma base firme para os estudos ingleses sobre a antigüidade. Ele esboçou reivindicações régias geológicas para Elisabeth I baseando-as em suas concepções sobre as conquistas do rei Artur. Em 1582 ele apresentou planos para um calendário revisado, muito semelhante ao calendário Gregoriano recém instituído por Roma, mas mesmo que Elisabeth tenha esboçado uma proclamação para adotá-lo, o clero inglês impediu alegando que não desejava nada que parecesse imitar ou seguir a liderança do papado.

Um pouco antes de 1570 Dee mudou-se para a antiga casa de sua mãe em Mortlake. Localizada perto do Tâmisa e da corte londrina, ela lhe dava a solidão necessária para seu trabalho e ao mesmo tempo facilitava o acesso ao centro régio de atividade. Ele ampliou a casa a fim de instalar sua imensa biblioteca e três laboratórios separados com dispendioso instrumental para experiências químicas e alquímicas. Por volta de 1580 sua biblioteca abrigava três mil volumes e cerca de mil manuscritos. Nesta mesma época a biblioteca universitária de Oxford continha menos de quinhentos volumes. Um inventário das posses de Dee mostra que ele foi um estudante de todas as artes e ciências. Ele tinha as obras completas de Platão e Aristóteles, bem como uma grande coleção de escritos Estóicos, Epicuristas, neo-Platônicos e Renascentistas. Estavam também representados os antigos poetas e dramaturgos, assim como os últimos trabalhos de matemática, engenharia e tecnologia. Ele coletou um vasto número de manuscritos sobre filosofia e ciência medievais e todo o material que pôde encontrar sobre magia e pensamento Hermético. Embora ele considerasse os teólogos Protestantes dogmáticos e auto-justificadores, ele coletou as obras de Lutero junto com as de Calvinistas e as incluiu entre Agostinho, Lactâncio, Boécio, Ramón Lull, Nicolau de Cusa e Erasmo. Ele possuía manuscritos hebreus sobre a Kabbalah e uma cópia do Corão.

Além de apoiar a ciência, que ele seguia no espírito de Alberto Magno, Robert Grosseteste e Roger Bacon, ele por toda a vida acalentou uma crença de que um entendimento suficiente demonstraria que todas as religiões e filosofias foram erguidas sobre um corpo único de verdade imutável que primeiramente se manifestava à consciência humana como amor e sua correlata tolerância. Ele esperava contribuir para uma religião universal e uma igreja universal cuja doutrina fosse a autotransformação através da autotranscendência teúrgica, e cuja prática levava ao amor incondicional. Embora seu sonho permanecesse não-realizado, ele proveu um centro aberto para estudiosos de todo o mundo europeu (incluindo a Rússia), e em diversas ocasiões hospedou Elisabeth e toda sua corte em Mortlake. Ele modelou sua casa a partir da Academia Florentina de Ficino, e os estudantes que tinham o privilégio de freqüentá-la eram duplamente recompensados, aprendendo a reverência pela filosofia e ciência antigas e modernas, e compartilhando de uma visão da herança universal da humanidade.

Desde seus primeiros anos como estudante e professor itinerante, Dee mostrou um perene interesse na magia Hermética e Neoplatônica, na Kabbalah renascentista e na medicina de Paracelso. Sua convicção de que a verdadeira magia conduz invariavelmente à autotransformação e por fim a uma regeneração de todo o mundo o levaram a confrontar experimentalmente os habitantes dos reinos terrestre, astral e celestial. Sabendo muito bem que os pré-requisitos para a magia prática são pureza de mente e de coração, Dee esperou até que estivesse seguro de possuir estas qualidades. Infelizmente, sua incapacidade de ver qualquer coisa nos excelentes cristais que possuía o obrigaram a procurar um vidente, e deparou-se com Edward Kelley. Embora Kelley parecesse capaz de penetrar na luz astral, ele sofria das fraquezas psíquicas comuns à maioria dos médiuns, incluindo uma incapacidade de distinguir entre as classes de elementais e níveis de percepção astral, bem como uma tendência de exagerar, inverter e fantasiar. Embora a pureza de motivos pessoal de Dee o protegesse de perigos, não parece que estas extensivas experiências fossem produtivas. Em setembro de 1583 Dee partiu com Kelley para o continente, e viajaram até a Polônia, a convite do Príncipe Albertus Laski. Logo depois de sua partida uma revolta supersticiosa irrompeu em Mortlake, destruindo os laboratórios de Dee e danificando sua biblioteca. Na Europa Dee continuou por seis anos suas tentativas de se comunicar com as forças criativas e inteligentes da Natureza. Enquanto mantinha um diário acurado sobre as conversas que tinha com supostos anjos através do médium Kelley, e embora desfrutasse da proteção e favor de Rodolfo II e do Conde Rosenberg da Boêmia, seus esforços de entender as forças invisíveis da Natureza deram em nada. Por fim deixou a companhia de Kelley e voltou à Inglaterra em dezembro de 1589. Kelley ficou para trás e foi nobilitado pelo imperador, só para ser preso em seguida e morrer em uma tentativa de fuga.

Embora Dee tivesse voltado sob ordem de Elisabeth, permaneceu em grande parte esquecido. Os velhos amigos, antes poderosos na corte, haviam morrido ou hesitavam em reconhecê-lo por causa de suas práticas mágicas. Enquanto trabalhava para reconstituir sua biblioteca espoliada, não porém teve recursos para recuperar seus laboratórios. Em 1596 Elisabeth o fez Diretor do Christ College em Manchester, mas a faculdade o via com suspeita e hostilidade. Quando James I ascendeu ao trono em 1603, Dee foi abertamente acusado de práticas malignas. Ele foi obrigado a renunciar ao seu cargo em 1605 e até mesmo escreveu um apelo ao rei pedindo para ser julgado pelas acusações de heresia e magia negra. Considerando-se a intolerância da época, sua impecável integridade mais uma vez o salvou: o rei recusou-se a instalar o julgamento solicitado. Embora este ato evitasse a possibilidade de posteriores acusações formais contra ele, não adiantou nada para mitigar as opiniões negativas nas mentes populares. Dee morreu na miséria, mas pacificamente, em dezembro de 1608, tendo testemunhado um pouco antes a morte de sua esposa.

As imensas contribuições de Dee à Era Elisabetana foram ignoradas durante séculos. Quando em 1659 Meric Casaubon publicou os diários de Dee a respeito de suas comunicações com anjos, ele esperava destruir completamente a credibilidade nos estudos mágicos e o valor da obra de toda a vida de Dee, e em parte teve sucesso. O papel central que Dee desempenhou em levar a marinha inglesa à sua posição de superioridade através da matemática e do instrumental foi esquecido, sua importância como conselheiro de Elisabeth I foi posta de lado, seu trabalho pioneiro na arqueologia e estudos antigos foi subestimada, ignorou-se o ímpeto que ele deu ao movimento Rosacruz, e negou-se os alicerces que ele deixou para a Royal Society. Mesmo hoje em dia seu interesse no teatro e sua influência no círculo Sidney e na filosofia e nas letras em geral ainda devem ser mais plenamente explorados. Nem o parcial Casaubon nem a história filtrada, contudo, poderiam destruir os escritos de Dee. Ele escreveu bem pouco para um polímata renascentista, mas suas publicações atestam uma notável amplidão e profundidade de pensamento.

Em 1558 Dee imprimiu o Propaedeumata Aphoristica (Uma Introdução Aforística) e a dedicou a Mercator, com o motto: Qui non intelliget, aut taceat aut discat (Que quem não entende ou se cale ou aprenda). Convencido de que o cosmos é tanto construído como entendido de acordo com o número, Dee combinou a melhor matemática de sua era com uma revisão crítica da astrologia, em uma tentativa de apresentar a ciência dual da astronomia-astrologia sobre uma nova base. Sugerindo uma conexão íntima entre a ótica (propagação, magnificação e reflexão da luz) e a harmônica (a ciência Pitagórica da proporção), Dee argumentou que influências astrológicas poderiam ser usadas pelo sábio de modo terapêutico. Embora os planetas irradiassem incessante influência sobre a Terra, o poder e a natureza destas influências dependiam das relações mutáveis entre os planetas e do meio em que caem seus raios. De um ponto de vista prático, isso significava para Dee que o conhecimento preciso das propriedades ocultas das substâncias, das conjunções celestes e do uso de espelhos parabólicos para focalizar e concentrar os raios permitiriam aos magos alterar estados físicos e psíquicos nos seres humanos, afetando assim os movimentos da Natureza. De um ponto de vista teórico, Dee reconhecia que o tamanho, movimento e distância dos planetas eram relevantes para seus efeitos em qualquer tempo dado. Ele mostrou que ao todo são possíveis 25 mil conjunções diferentes, e uma vez que este enorme número impedia uma investigação empírica sobre qualquer possível resultado, ele apontou para um entendimento Pitagórico da geometria e da aritmética como uma chave para a resolução de todas as combinações. Para Dee, a "astrologia vulgar" era tão moralmente aviltante como falsa. A astrologia é um aspecto da matemática, ela mesma um ramo da filosofia, que é a arte de viver corretamente. Uma vez que o sol é tanto a fonte física de luz e vida como um símbolo da Deidade manifesta, enquanto a Terra era o foco das influências celestes, a teoria heliocêntrica de Copérnico tem grande valor metafísico e o ponto de vista geocêntrico de Ptolomeu é astrologicamente útil. Dee não via conflito entre estas concepções, pois elas se dirigem para fins distintos, e as descobertas de uma poderiam ser aplicadas no aperfeiçoamento da outra.

Dee estudou com muito cuidado a tradução dos Elementos de Euclides feita por Sir Henry Billingsly, corrigindo passagens difíceis e acrescentando anotações e diversas provas novas. Para a edição de 1570 ele compôs um Prefácio Matemático, que de uma vez declarava sua visão da matemática como uma ciência filosófica, seu motivo para publicar matéria erudita no vernáculo (em vez do latim usual) e suas originais premissas a respeito das ciências matemáticas. A Deidade manifesta e mantém o mundo através do número.

"A numeração, então, para Ele era a criação de tudo. E sua contínua numeração de todas as coisas é a sua conservação na existência... A constante lei dos números... está enraizada nas coisas naturais e sobrenaturais, e está prescrita para todas as criaturas, sendo guardada inviolavelmente".

Para Dee a matemática se divide em aritmética, que trata dos números e suas propriedades, e geometria, a ciência das magnitudes. O termo "geometria", contudo, tem uma excessiva conotação terrestre, e Dee sugeriu em troca "megetologia".

"... não se arrastando no chão e arregalando os olhos com varas, réguas ou linhas, mas elevando o coração acima dos céus por linhas invisíveis e raios imortais, encontrando reflexos da luz incompreensível, e produzindo assim alegria e perfeição inenarráveis".

A matemática é a chave para abrir os mistérios dos três mundos - terrestre, astral e celeste - e a base para a astronomia e a astrologia, para a antropografia (a análise matemática do homem) e estática (a análise do movimento e da inércia), bem como para todas as ciências teóricas, experimentais e aplicadas. A matemática fornece as correlações de todas as forças e formas no homem e na Natureza.

Embora seu Prefácio Matemático tenha recebido reconhecimento nos salões da ciência desde o século XVII até hoje, Dee considerava que sua obra mais importante era a Monas Hieroglyphica (A Mônada Hieroglífica). A convicção de Dee de que a geometria poderia ser aplicada à alma humana assim como ao mundo material o levou a aceitar a visão renascentista de que um símbolo adequadamente construído, quando usado como objeto de contemplação e meditação, poderia conter considerável conhecimento espiritual e afetar diretamente a consciência. Ele buscou durante sete anos por um símbolo perfeito para a mudança dos elementos - a reflexão no tempo do Divino imutável. Subitamente, em janeiro de 1564, ele escreveu o Monas Hieroglyphica em apenas treze dias. O símbolo que levava este nome havia sido longamente gestado em sua mente e até mesmo transparecido na página de título do seu Aphoristica. Não obstante, ele precisou de mais seis anos para ser entendido o bastante para poder expor algo de seu significado sob linguagem cifrada. O Monas Hieroglyphica, às vezes chamado de O Grande Selo de Londres, é representado como um ovo invertido cheio de fluido. A gema é desenhada como um círculo com um ponto em seu centro exato. Um crescente ou arco intersecciona a parte superior da gema, enquanto que uma cruz se associa abaixo dela. Em cada lado do pé da cruz há um arco pequeno. Para Dee esta simples e fascinante figura continha os princípios de perfeição que, quando aplicados, poderiam transformar metal comum em ouro - física, psíquica e espiritualmente.

O cosmos é representado pelo "Ovo da Águia", que não é exatamente circular quando considerado de um ponto de vista heliocêntrico. Dentro dele se encontram as grandes forças duais representadas pelo sol e pela lua, a primeira sendo criativa e iluminadora, e a segunda material e reflexiva. Elas se conjugam porque o poder solar não pode criar sem um substrato, e o veículo lunar não pode ser produtivo sem o alimento do sol. Assim, as hierarquias solar e lunar são mutuamente interdependentes, embora o sol seja invariavelmente a força causativa e superior. O ponto no centro do sol é o ponto de onde derivam todas as linhas e círculos (uma vez que uma linha não pode ser escrita sem pontos), e portanto é a semente do hieróglifo desdobrado. Esta é a primeira e mais elevada manifestação da atividade divina, e por isso é o Um. A cruz representa o ternário criativo como duas linhas e sua intersecção. Também representa o quaternário material através de quatro linhas se irradiando de um centro comum e produzindo quatro ângulos retos, que representam os quatro elementos, as quatro direções e os quatro reinos visíveis da Natureza (mineral, vegetal, animal e humano). Os dois semicírculos abaixo da cruz constituem o signo zodiacal de Áries, o signo do fogo inicial e o começo de tudo que é terrestre. Tomados juntos, estes símbolos fornecem uma imagem da estrutura dinâmica da Natureza nas escalas cósmica e humana, e um meio para a autotransformação que conduz à verdadeira magia, que é a posse da sabedoria como uma arte e uma ciência. Traçando linhas de conexão e círculos de formas diferentes, a pessoa pode localizar os símbolos dos sete planetas sagrados (Lua, Vênus, Mercúrio, Sol, Marte, Júpiter e Saturno) e com isso a força sétupla da Natureza invisível. Usando estas chaves a pessoa tem como base para meditação os princípios necessários para a transmutação alquímica de sua própria natureza reduzindo-a a matéria prima ou fluido no ovo, e modelando-o em formas novas.

John Dee cultivou os mistérios da Matemática e especialmente da megetologia porque ele procurava o elo entre as aspirações do coração e mente humanos e os princípios da Natureza. Se a existência manifesta tem uma Fonte última, então tais princípios devem existir. Através da matemática Dee esperava prover uma base para unificar todas as ciências em um corpo unificado e coerente de conhecimento, que incluiria a ética, a psicologia e a ciência da espiritualidade. Para Dee a matemática não era simplesmente uma matéria a ser dominada, mas antes um modo de vida a ser consumado na ofuscante luz da Deidade. Dee pensava que a ciência e a matemática eram dignas de estudo por causa de seu valor intrínseco e prático, mas ele consagrou sua vida a elas porque estava convencido de que um verdadeiro entendimento delas forneceria os subsídios para uma religião global de amor e tolerância, os correlatos sociais do aprendizado e do silêncio. Embora não visse esta sua visão realizada, sua vida é um testemunho de seu poder e a validação de seu potencial.

"Sei perfeitamente bem que tem havido certos homens que, através da arte dos escaravelhos, dissolveram o ovo da águia e sua casca com pura albumina e com isso fizeram uma mistura de tudo... Com isso quero dizer que se completou a grande metamorfose do ovo... Quem se dedica sinceramente a estes mistérios verá com clareza que nada pode existir sem a virtude de nossa Mônada hieroglífica."

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"E Eu jamais abandono

aquele que Me vê em tudo, e vê tudo em Mim,

nem ele me abandona; mas morando ele onde morar,

vivendo onde viver, habitará e viverá em Mim,

porque conhece e adora a Mim, que habito

em tudo o que vive, e me reconhece em tudo".

SHRI KRISHNA

OM




Autor: Elton Hall
Tradução: Um Colaborador
Revisão: Osmar de Carvalho
Fonte: www.theosophy.org



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