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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
4
uma
visão ESOTÉRICA dO Reino
nOs
ENSINAMENTOS de Jesus
Em linguagem
corrente, a expressão ?Reino? transmite a idéia de uma área de domínio
dentro da qual o reino é delimitado e também da extensão de poder que seu
governante, o Rei, exerce. Alguns autores[1]
sugerem que o termo grego original, basileia,
transmite mais o conceito de domínio. Assim, quando Jesus falava do
?Reino?, estava se referindo às condições ou situações em que o domínio
de Deus imperava. Essa interpretação é especialmente importante para
entendermos a mensagem de Jesus. Ainda que a expressão ?Domínio de Deus?
seja mais apropriada para transmitir o conceito original da expressão grega,
decidimos manter a expressão ?Reino de Deus? nesta obra em virtude de seu
uso corrente em nossa tradição.
Verificamos,
portanto, que as conotações do mundo terreno acabam colorindo as imagens que
são apresentadas sobre o Reino dos Céus. A verdade é que o mundo espiritual
é totalmente diferente do mundo terreno, não estando sujeito às nossas
limitações. O Reino de Deus não tem fronteiras nem limites, pois inclui
todo o universo com todos os seus planos de manifestação, além do
imanifesto que está totalmente além da nossa compreensão.
Se o Reino não
pode ser limitado no espaço, também não pode ser limitado no tempo. As
esperanças de um Reino futuro, na Terra, com o retorno do Cristo, ou no outro
mundo, após a morte, fizeram com que milhões de cristãos ao longo dos séculos
voltassem sua atenção para a direção errada. Quando Jesus anunciou que o Reino
dos Céus está próximo (Mt 3:2), ele não estava se referindo
necessariamente a uma proximidade temporal nem, tampouco, fazendo uma proclamação
apocalíptica. O entendimento errôneo de suas palavras levou grande número
de devotos a esperar por um iminente retorno do Cristo, a vaticinada parousia,
para estabelecer um reino de Deus na terra.[2]
Como, com o passar do tempo, esse retorno material de Jesus não ocorria, os
teólogos passaram a interpretar as palavras bíblicas como o anúncio do fim
dos tempos, quando deverá supostamente ocorrer o temido juízo final.
A simples
verdade é que Jesus procurou nos alertar que o Reino estava, e ainda está,
muito próximo de todos nós, pois pode ser encontrado em nossos corações
aqui e agora. Por isso disse que
o Reino de Deus está no meio de vós (Lc 17:20-21) e ?o
Reino do Pai está espalhado pela terra e os homens não o vêem? (To
113). Não percebemos o Reino porque procuramos por ele fora de nós, enquanto
ele só pode ser encontrado em nosso próprio coração.
Como o homem
pode perceber o Reino? O Salvador, seguindo seu método de instrução
característico, dá-nos os ingredientes para o entendimento e não o prato
feito. Ao dizer que ?meu Reino não é
deste mundo? (Jo 18:36), Jesus estava indicando que o Reino, sendo um
conceito espiritual, só pode ser percebido num sentido espiritual. Para alcançar
o Reino, o homem não precisa morrer e tornar-se espírito, como muitos
acreditam. O Reino pode e deve ser alcançado aqui e agora, com a elevação
da consciência de nosso plano material para o plano espiritual. É por isso
que Paulo disse que ?o Reino de Deus não
consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito
Santo? (Rm 14:17).
Os místicos
que vislumbram ou até mesmo penetram no Reino descrevem suas experiências
como de imensa paz e harmonia, bem-aventurança indescritível, amor
incondicional e total, compreensão da realidade sobre o nosso mundo e de
outras dimensões, a certeza da imortalidade e a percepção de que tudo e
todos fazem parte de um grande Todo, que é Deus. As experiências místicas são
de diferentes tipos e ocorrem em diferentes níveis, confirmando as palavras
de Jesus de que a casa de meu Pai tem
muitas moradas. É por isso que Jesus também se refere ao Reino dos Céus,
no plural, indicando a diversidade de experiências que nos aguardam quando
alcançarmos o estado de consciência do Reino.
Como o Reino
de Deus não é deste mundo, logicamente não pode ser percebido por nossos
sentidos terrenos. Mas sendo um Reino espiritual ele está ao alcance de todos
aqueles que desenvolveram os sentidos espirituais. Esses sentidos não podem
ser definidos, precisamente pelo fato de serem espirituais. No entanto, podem
ser referidos de forma simbólica, oferecendo imagens que possibilitam ao
buscador uma percepção intuitiva de seu significado.
Os sentidos
espirituais têm um paralelo com os sentidos físicos. Geralmente o primeiro
sentido espiritual desenvolvido corresponde ao olfato. Deus e o mundo
espiritual, o Reino de Deus, são percebidos como um perfume inefável. No
mundo terreno os odores têm o efeito de nos atrair ou repelir. Quanto mais
deliciosa a fragrância mais somos atraídos por ela. Como no mundo espiritual
o foco máximo de atração é a presença do Pai celestial, o interesse
crescente do devoto pelas coisas espirituais evoca a imagem de um perfume
extraordinário e irresistível. O sentido espiritual do olfato manifesta-se
como uma atração pela introspeção, oração e meditação, em que o indivíduo
busca a solidão e o silêncio para encontrar a Deus.
No curso
natural do desabrochar interior, outros sentidos espirituais vão
desabrochando. Em muitos casos, a audição e a visão espirituais
desenvolvem-se a seguir. Porém, as percepções mais profundas do Reino dos Céus
só ocorrem com o desenvolvimento dos correspondentes tato e paladar
espirituais.
O estágio
intermediário do desenvolvimento da audição e da visão espirituais
representa uma grande conquista, mas oferece grandes perigos. O devoto passa a
ouvir sons diáfanos, vozes angélicas e até mesmo instruções de natureza
espiritual. Com o tempo passará a perceber, também, imagens de outros
planos. Inicialmente são luzes e vultos indistintos, mais tarde, cenas e
seres diversos. Essas conquistas naturalmente trazem grande satisfação ao
devoto, aumentando sua fé e determinação de seguir o Caminho. Porém, tudo
na vida tem seu preço. O preço dessa conquista são duas armadilhas
perigosas: (a) a possibilidade do desvirtuamento de imagens e mensagens
obtidas no plano astral,[3]
que podem levar o devoto a confundir certas entidades astrais, cascões de
pessoas desencarnadas ou formas-pensamentos de nossos condicionamentos
anteriores, com anjos ou mensageiros do alto; e (b) a inflação do ego, com o
desenvolvimento do orgulho espiritual, a desdita e a perdição de muitos discípulos
avançados.
Talvez como
proteção contra os perigos do desenvolvimento prematuro da audição e da
visão espirituais, a providência divina faz com que muitos devotos passem da
atração irresistível pelo mundo divino, devido ao perfume espiritual, para
o desenvolvimento do tato espiritual. Em alguns casos, só com amadurecimento
conferido pela conquista do tato e do sabor espirituais que, no devoto,
desabrocha a audição e a visão espirituais.
Mas em que
consiste o tato espiritual? Quando o devoto passa a dedicar-se de todo coração
à busca de Deus, procurando de todas as formas acatar a vontade do divino
Pai, chega um determinado momento nesse relacionamento em que ele passa a
sentir a presença de Deus em suas orações ou meditações, até que,
finalmente, essa Presença concede uma graça especial que é sentida pelo
devoto como um abraço inefável. Essa experiência é referida como o sentido
do tato espiritual. Nas palavras de um monge católico que parece ter passado
por ela: ?O toque divino pode ser
sentido como se Deus tivesse descido do alto e nos envolvido num abraço, ou
nos abraçado a partir de dentro e colocado um grande beijo no meio de nosso
espírito. Nossa própria identidade se esvai e, por um instante, Deus é tudo
em tudo.?[4]
Essa, no
entanto, não é a mais alta percepção do Reino. Uma experiência ainda mais
profunda pode ocorrer com o que chamaríamos de sentido do paladar espiritual.
Tendo recebido a imensa graça de ser abraçado por Deus, o próximo passo é
unir-se a Ele, fundindo-se no Supremo Bem. Essa experiência confere uma
bem-aventurança inefável, que os místicos de todos os tempos tentam
descrever com pouco sucesso. Esse indescritível sabor espiritual ocorre de
duas formas, uma temporária e outra permanente. A primeira seria equivalente
à Eucaristia, em que o devoto absorve o corpo espiritual do Cristo e, com
isso, sente-se unido à Presença divina por algum tempo. A segunda seria
equivalente à Câmara Nupcial mencionada no Evangelho de Felipe, em que
ocorre o casamento indissolúvel da alma com o Supremo Noivo, o Cristo
interior. A partir de então, o místico sentirá constantemente a presença
divina, quer esteja em meditação ou envolvido em assuntos do mundo terreno.
Se o Reino só
pode ser percebido com os sentidos espirituais, o objetivo prioritário de
todo devoto deveria ser o desenvolvimento desses sentidos. Felizmente a tradição
esotérica acumulou considerável experiência sobre esse assunto, que
procuramos apresentar de forma sistemática nas três últimas seções deste
livro.
Jesus
provavelmente estava se referindo aos diferentes níveis de experiência do
Reino quando nos ensinou a sublime oração em que invocamos o ?Pai Nosso? para que ?venha
a nós o vosso Reino assim na terra como nos céus.? O místico
geralmente vislumbra e penetra no Reino quando no estado de consciência
alterado que poderíamos chamar de ?céu?.[5]
Esse é o estado contemplativo que será examinado mais adiante, em que o
devoto, ao silenciar inteiramente a mente, consegue perceber as vibrações
dos planos espirituais que se encontram acima da mente concreta.[6]
Porém, só nos estágios mais avançados é que o místico consegue entrar no
Reino estando na terra. Quando entra
no derradeiro estágio místico, referido como a via unitiva, em que percebe
ser uno com Deus, cada momento de sua vida, não importa o que esteja fazendo,
será como viver sempre no céu. Esse estágio é conhecido dos místicos como
a prática da presença de Deus.
Deve ficar
claro, porém, que o aspirante não precisa esperar pelo estágio final do
caminho espiritual, a via unitiva, para começar a ter alguma experiência de
como é possível viver no céu aqui na terra. Assim como os vislumbres do
Reino se desenvolvem lentamente com a experiência contemplativa, da mesma
forma, os efeitos do aprofundamento meditativo se farão sentir gradativamente
na vida cotidiana. Um crescente sentimento de paz e harmonia passará a
envolver o buscador. Um suave contentamento com a vida, mesmo em face de
vicissitudes, demonstrará a profunda confiança que o devoto sente para com a
justiça e o amor divinos. Seu entendimento intuitivo do Plano de Deus[7]
fará com que o espírito de dever seja desenvolvido cada vez mais. Assim,
passará a executar suas tarefas na vida familiar, social e profissional com
amor e dedicação, procurando fazer tudo da melhor maneira possível, pois
sabe que todo ato seu é uma pequenina contribuição para a economia do
universo, para a expressão do bom, do belo e do justo na Terra.
O
principiante que busca orientação sobre o Reino na Bíblia precisará de
muita paciência, estudo e meditação para alcançar o entendimento desejado,
porque a linguagem usada por Jesus em suas instruções e referências sobre o
Reino pode ser frustrante, não só para os principiantes, mas também, para
muitos teólogos como vimos na seção anterior. A linguagem das parábolas,
carregada de símbolos e imagens, tinha como objetivo, não só velar os
ensinamentos internos, mas, ainda mais importante, preparar a humanidade para
a nova etapa do processo evolutivo que estava se iniciando.
Na era
anterior, que estava terminando aproximadamente na época em que Jesus
ministrava na Palestina, o grande objetivo para a humanidade rude e primitiva
de então era o controle das paixões e o aprendizado da vivência harmônica
em grupos heterogêneos. Assim, foi necessária a instituição de regras de
conduta e padrões morais rígidos para uma população ainda em sua infância
espiritual. Essas regras eram as leis mosaicas, cujos 613 preceitos regiam a
conduta do homem em quase todas as situações de sua vida. O objetivo da
instrução religiosa poderia, então, ser resumido como sendo ?obediência
à lei?.
Com o advento
do ministério de Jesus, coincidente com o início da Era de Peixes, uma nova
meta parecia estar sendo indicada para o progresso da humanidade. Não bastava
mais ser obediente à lei, ser um homem justo, como se dizia na época, para
progredir espiritualmente. A grande meta passou a ser, então, o
desenvolvimento da razão e do discernimento, com vistas a produzir homens
mais maduros. A humanidade devia aprender a pensar por sua própria conta e
usar seu livre arbítrio para escolher entre diferentes alternativas o que
seria mais apropriado para si. Isso não quer dizer que Jesus não pregasse o
controle da natureza inferior. Muito pelo contrário, o Mestre, por seu
exemplo e seus ensinamentos, deixou claro que a disciplina é um requisito
essencial para a vida espiritual. Porém, essa disciplina não devia mais ser
imposta de fora para dentro, por meio de um código moral herdado do passado,
devendo ser obedecido compulsoriamente. A disciplina devia refletir o
entendimento do indivíduo de que a obediência voluntária ao mais alto código
de ética possível era o primeiro passo no Caminho.
Se estudarmos
atentamente a linguagem de Jesus em suas parábolas e assertivas, conhecidas
como logia, veremos que o Mestre
procurava sistematicamente induzir seus ouvintes a pensar e tirar suas próprias
conclusões. E mais, de forma também sistemática, confrontava o público com
situações onde demonstrava que agir estritamente de acordo com os preceitos
da tradição não era necessariamente a opção correta, como veremos a
seguir. Em termos atuais, Jesus seria considerado um revolucionário, pois
subverteu a lei (mosaica) e a sabedoria convencional, confrontou as
autoridades (religiosas) e promoveu uma verdadeira revolução ética que
afetou pela raiz o comportamento do povo. Seu trágico fim nas mãos das
autoridades constituídas não é nada surpreendente, tendo em vista seu
ministério revolucionário. Podemos imaginar que o mesmo teria acontecido se
ele tivesse nascido uns quinze séculos depois, na Europa, durante a inquisição.
O leitor
atento poderia contrapor que o objetivo de Jesus de desenvolver a capacidade
de raciocínio e de discernimento de seus seguidores teria como corolário o
desenvolvimento do ego. Sem dúvida, um intelecto aguçado e crítico tende a
produzir uma personalidade forte, o que favorece o aparecimento do orgulho e
do egocentrismo. Jesus, porém, conhecendo a natureza humana, sabia que uma
personalidade forte, apesar de seus perigos, é necessária para que o indivíduo
possa passar para o próximo estágio, o da entrega voluntária ao Eu
Superior, ao Cristo interno. Esse estágio parece ser a meta para a
humanidade, na Era de Aquário, o desenvolvimento da intuição a partir de
uma mente desenvolvida e crítica.
Por essas razões,
em vez de procurar descrever o Reino, Jesus falava a seu respeito em parábolas,
uma linguagem toda especial para esse propósito. Seus ensinamentos sobre o
Reino não visavam primordialmente transmitir informações de natureza
descritiva, que permitiriam formar, quando agregadas, uma imagem pictórica ou
conceitual do Reino. Como o Reino é um estado de consciência, as parábolas
de Jesus tinham o propósito de induzir seus ouvintes ao estado de consciência
em que Deus impera. Nesse sentido, as parábolas se assemelham aos koans da tradição zen
budista, em que proposições aparentemente ilógicas servem como trampolim
para um salto de consciência, do plano mental concreto para o plano
intuitivo.[8]
Nas parábolas
sobre o Reino dos Céus, percebe-se que Jesus falava em sentido figurado,
usando uma simbologia que procurava transmitir idéias do mundo espiritual,
por meio de imagens comuns ao povo daquele tempo, incluindo, principalmente,
os temas centrais da vida rural e religiosa. Porém, as parábolas só
produziam seus frutos de despertar espiritual quando os ouvintes remoíam em
seu íntimo as imagens apresentadas, procurando perceber o sentido mais
profundo do que estava sendo aludido alegoricamente. Assim, se procurarmos
analisar as alegorias e os símbolos apresentados por Jesus, veremos que, aos
poucos, o Reino, ou seja, o estado de consciência em que existe uma total
harmonia com a vontade de Deus, passa a ser uma realidade em nossa mente e,
mais ainda, em nosso coração. O comportamento ético sugerido por Jesus em
suas parábolas e aforismos, tão radical quando comparado à moralidade
tradicional, deve ser entendido como a conduta de indivíduos que aceitam
morrer para o mundo a fim de viver de acordo com o verdadeiro amor a Deus e
aos homens.
Vejamos,
portanto, a interpretação de algumas das principais parábolas sobre o
Reino, buscando compor um quadro mais amplo do mundo dos céus que já existe
potencialmente em cada um de nós, mas que não o realizamos ainda.
A natureza
espiritual do Reino foi indicada quando Jesus declarou que ?Meu
Reino não é deste mundo? (Jo 18:36). O ?mundo? a que se refere
Jesus é um estado de consciência alterado em que os pares de opostos são
unificados, em que o egoísmo dá lugar ao altruísmo e o indivíduo percebe
ser uno com todos os seres.
Interrogado pelos fariseus sobre quando chegaria o Reino de Deus, respondeu-lhes: ?A vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer: ?Ei-lo aqui! Ei-lo ali!, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós?. (Lc 17:20-21)
Jesus
disse: ?Se aqueles que vos guiam dizem ?Vejam, o Reino está no céu?,
então, os pássaros do céu vos precederão; se eles vos dizem que está no
mar, então, os peixes vos precederão. Pois bem, o Reino está em vosso
interior, mas também está em vosso exterior. Quando vos conhecerdes, então
sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas, se não vos
conhecerdes, então estareis na pobreza e sereis a própria pobreza?.
(To 3)
Seus
discípulos lhe disseram: ?Quando virá o Reino?? (Jesus disse:) ?Ele não
virá porque estamos esperando por ele. Não será uma questão de dizer
?eis que está aqui? ou ?eis que está lá?. Pois bem, o Reino do Pai
está espalhado pela terra e os homens não o vêem.? (To 113)
Quando se
alcança o entendimento de que o Reino não é um lugar físico e que não será
encontrado num futuro distante, mas sim que ele existe aqui e agora, dentro
de nossos corações, os ensinamentos de Jesus ficam mais claros,
revelando-se um conjunto de diretrizes que, se forem seguidas com verdadeira
dedicação, levarão à libertação da alma aprisionada no caos, como é
dito em Pistis Sophia.[9]
O importante é o reconhecimento de que não precisamos esperar até o fim do
mundo para entrar no Reino, como muitos ainda acreditam.
O fato de que
o Reino já existe latente dentro de cada um de nós, como um estado de espírito
sublimado, foi magistralmente transmitido na parábola da semente de mostarda
que germina e cresce quando ocorrem as condições propícias, tornando-se um
arbusto frondoso que dá abrigo aos pássaros (àqueles que voam pelas alturas
espirituais). Essa parábola está relacionada à passagem em Ez 17:22-23, que
conta como o cedro do Líbano cresce e chega às alturas, produzindo frutos e
sombra sob a qual habitam as aves do céu.
?O
Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e
semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce
é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a tal ponto que as aves do céu
se abrigam nos seus ramos? (Mt 13:31-32) (semelhante em Mc 4:30-32 e Lc
13:18-19).
A mesma idéia
da pequenina essência espiritual que cresce e transforma a natureza das
coisas externas é transmitida pela parábola do fermento adicionado a três
medidas de farinha. A farinha é a substância material da personalidade do
homem com seus três corpos: físico, emocional e mental, que deve ser
transformada, ou fermentada, para que a consciência possa crescer até
atingir a plenitude do Cristo em nós.
?O
reino dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e pôs em três
medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado? (Mt 13:33)
(semelhante em Lc 13:20-21 e To 96).
Discernimento
e renúncia são necessários no caminho que leva ao Reino. Esse aspecto é
enfatizado em duas parábolas que apontam para o objetivo da vida do homem, a
parábola do tesouro escondido e a parábola do comerciante de pérolas.
Percebe-se nesses textos que o Reino é realmente um tesouro escondido no
interior do ser humano, a ser descoberto po cada um de nós. O corpo onde esse
tesouro está enterrado deve ser trabalhado e revolvido até encontrar-se a
essência divina ali escondida, numa alusão ao eterno chamado para que o
homem conheça a si mesmo.
?O
Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha
e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra
aquele campo? (Mt 13:44)
Num estreito
paralelo com a parábola anterior, a pérola na parábola a seguir simboliza o
tesouro espiritual, a gnosis, pelo
qual devemos sacrificar todos outros bens, como faz o comerciante perspicaz.
Essa imagem da pérola como tesouro precioso, objetivo da busca de todos os
homens, está descrita com riqueza de detalhes no Hino da Pérola (vide Anexo
2).
?O
Reino dos Céus é ainda semelhante a um negociante que anda em busca de pérolas
finas. Ao achar uma pérola de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a
compra? (Mt 13:45-46).
Em algumas
ocasiões, Jesus falava do ?homem? como se estivesse se referindo ao
Reino. Isso se explica pelo fato de que o ?homem? simboliza o Homem
Celestial, o arquétipo do Homem Perfeito (o Logos). A versão dessa parábola
apresentada no Evangelho de Tomé parece mais completa do que na versão de
Mateus (Mt 13:47-49).
E
ele disse: ?O homem é semelhante a um pescador prudente que lança sua rede
ao mar e retira-a cheia de peixinhos. O pescador prudente encontra no meio
deles um peixe grande de excelente qualidade. Ele joga todos os peixinhos ao
mar e escolhe o peixe grande sem dificuldade. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça?
(To 8).
Nesse caso, o
Homem Celestial seria o pescador prudente, o pescador de almas, que
constantemente lança sua rede ao mar da vida. Os peixinhos que ai encontra,
ou seja, os homens comuns que ainda não cresceram em estatura espiritual, são
lançados de volta ao mar da vida terrena, ao mundo do cotidiano, para
seguirem seu curso normal de crescimento. Porém, quando o pescador encontra
um peixe grande, a pessoa que alcançou a gnosis,
guarda-o em seu reino, fora das águas turbulentas das paixões do mundo.
Jesus
disse: ?O Reino do Pai assemelha-se ao homem que queria matar um gigante.
Ele tirou a espada da bainha em sua casa e enfiou-a na parede para saber se
sua mão poderia realizar a tarefa. Então, matou o gigante? (To 98).
O homem é o
ser espiritual real que anseia matar aquele gigante que lhe impede de alcançar
o Reino, a personalidade que escraviza a alma, mantendo-a prisioneira no mundo
por eras sem fim. A espada desembainhada é a verdade, e a mão firme capaz de
atravessar a parede de nossos condicionamentos materiais é a vontade.
Jesus
disse: ?O Reino do (Pai) assemelha-se a (uma) mulher que carrega um vaso
cheio de farinha. Enquanto estava andando pela estrada, ainda muito distante
de casa, a alça do vaso se quebra e a farinha se espalha pelo caminho. Sem
dar-se conta, ela não notou o acidente. Chegando à casa, pousou o vaso no chão
e viu que estava vazio? (To 97).
A mulher é a
alma. Essa é geralmente descrita como sendo do gênero feminino, em
contrapartida ao Espírito, ou Cristo, seu noivo, que é masculino. O vaso é
o receptáculo da personalidade, o corpo, que está cheio de farinha, ou seja,
da substância material de nossa natureza inferior, os desejos e pensamentos
que resultam em apegos que alimentam a personalidade. A alça do vaso é o egoísmo,
que mantém o recipiente da personalidade ligado ao materialismo. Quando o egoísmo
é rompido, a farinha (os apegos) que alimenta a personalidade vai se perdendo
pela estrada da vida, ficando para trás no caminho que leva à Casa do Pai.
Esse esvaziamento era descrito pelos primeiros místicos de nossa tradição
como sendo a kenosis, um processo
necessário para esvaziar inteiramente a taça, ou vaso, dos apegos,
tornando-a pura e pronta para ser preenchida com a gnosis.
Na parábola, a alça do egoísmo é rompida quando a alma está trilhando o
caminho ainda distante da casa do Pai. Ao chegar em casa, depois da longa
peregrinação terrena, a alma deposita o vaso aos pés do Pai, e verifica que
ele está vazio das coisas do mundo e pode ser preenchido, então, com os
tesouros do Reino.
Esse conceito
é adotado por Paulo em sua Epístola aos Coríntios, em que o corpo é
comparado ao templo exterior, que é a morada de Deus. Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita
em vós? (1 Co 3:16)
Se Deus
habita em nosso interior, podemos inferir que o Reino é o estado de consciência
de nossa verdadeira natureza divina. Paulo complementa esse conceito na Epístola
aos Efésios (Ef 4:11-13), quando indica que os santos devem se aperfeiçoar
para a ?edificação do Corpo de
Cristo?, até alcançarem ?o
estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo?.
Esse corpo existe em todos nós em estado latente e será o veículo para
alcançarmos o estado de graça suprema, representado pela entrada no Reino,
quando ocorre a união do exterior com o interior, a união da alma com o
Cristo interno.
Uma parábola
que causa certa perplexidade é a dos trabalhadores na vinha (Mt 20:1-16),
contratados ao longo do dia com o mesmo salário. O dono da vinha é o Senhor
dos céus e da terra. Ele convida todos os que estão disponíveis para
trabalhar na vinha, ou seja, participar da execução do plano divino na
terra, ao longo das eras. O salário simbólico fixado em um denário, a
recompensa do tesouro do Reino, é o mesmo, quer os trabalhadores tenham
iniciado sua labuta transformadora (o caminho da perfeição) na primeira
hora, quer no meio, quer no final da longa peregrinação terrena. O Pai da
grande família humana estende a sua misericórdia igualmente a todos que se
engajam no trabalho, que é o aprimoramento de suas próprias almas.
Outra imagem
do Reino apresentada por Jesus é a parábola das bodas nupciais (Mt 22:1-14).
Nessa parábola, o rei é Deus, e seu filho, para quem o banquete nupcial é
preparado, é o Cristo, o noivo de todas as almas puras preparadas para a união
com o divino. Os servos são os irmãos mais velhos da humanidade, os Mestres
e Hierofantes que percorrem todas as regiões da Terra procurando os
?convidados? para o banquete de luz. Esses servos, apesar de toda sua
dedicação, amor e sabedoria, nem sempre conseguem tocar o coração dos
homens e demonstrar a importância e especial privilégio que é o convite
para participar da festa divina. Os homens, em sua cegueira, não só recusam
o convite como chegam ao ponto de maltratar e até matar esses servos fiéis
do Senhor. Quando o Rei é informado de que seus servos haviam sido
maltratados e assassinados por aqueles que foram convidando para as bodas, é
dito que ele fica ?irado?. Essa ira é um véu, pois Deus é sempre
absolutamente sereno e imperturbável, e a raiva mencionada é a operação da
lei de causa e efeito, que atua automaticamente como instrumento da justiça
de Deus, trazendo conseqüências especialmente danosas para aqueles que
maltratam os enviados divinos. Essas conseqüências são descritas na parábola
como a destruição dos homicidas e o incêndio de sua cidade. Ora, como o
banquete nupcial está sempre preparado, se os primeiros convidados não
querem comparecer, outros são constantemente chamados por todos os caminhos e
encruzilhadas da vida. Porém, ai daquele que comparecer sem a veste nupcial
de absoluta pureza e renúncia do mundo. Ele será lançado na escuridão
exterior de outra encarnação na Terra, o lugar onde causamos sofrimento a nós
mesmos, onde há ?choro e ranger de dentes?. A parábola termina com o
lembrete de que muitos são chamados a entrar no Reino, porém, os requisitos
para a admissão à cerimônia nupcial são tão estritos que poucos são
escolhidos.
Os
discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: ?Quem é o maior no
Reino dos Céus?? Ele chamou perto de si uma criança, colocou-a no meio
deles e disse: ?Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos
tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus.
Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior
no Reino dos Céus? (Mt 18:1-4).
A questão da
pureza como requisito para entrar no Reino é também expressa como a inocência
das crianças. A instrução de Jesus é de que para entrar no Reino
precisamos ser como as criancinhas. Esse era um termo técnico para os
iniciados nos mistérios, usado no mediterrâneo e no oriente médio na época
de Jesus. O Mestre, nessa alegoria, parece estar dizendo que só pode entrar
no Reino quem for iniciado nos mistérios. As crianças também representam a
inocência e liberdade de condicionamentos, que faz com que hajam sem malícia
e com total naturalidade, as atitudes necessárias para que os homens possam
perceber a essência divina por trás de toda manifestação.
A parábola
das dez virgens (Mt 25:1-13) presta-se a muitas interpretações. A mensagem
central dessa parábola é a necessidade de atenção e preparação
constante, ?porque não sabemos nem o dia nem a hora.? As noivas são
todas as almas que anseiam unir-se ao noivo celestial. Algumas são insensatas
e não trazem o combustível necessário para que suas lâmpadas possam
brilhar. O azeite representa, por um lado, o óleo com que o iniciado é
ungido e, por outro, a substância espiritual que arde no coração do discípulo.
Quando a cerimônia de núpcias é iminente, deve ser efetuada uma avaliação
da capacidade de brilho da luz interior (a lâmpada). Se o azeite for pouco,
ou seja, se os méritos acumulados forem insuficientes, as noivas deverão
sair a procura dos que ?vendem o azeite,? o que pode ser interpretado como
a própria natureza interior do homem. Nesse caso, as noivas perderão aquela
cerimônia de núpcias, mas poderão alcançar seu objetivo supremo mais
tarde. O ponto crítico dessa parábola, bem como da anterior, é a participação
no banquete de núpcias. As cinco noivas imprudentes também podem ser vistas
como os cinco sentidos quando não estão suficientemente fortalecidos pela
Graça do Espírito, ou seja, pelos sacramentos simbolizados pelo óleo usado
na unção.[10]
Esse é realmente o mistério, ou sacramento, que Jesus ensinou e ministrou a
seus discípulos e que possibilitava a entrada no Reino.
E
dizia: ?O reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: ele
dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele
saiba como. A terra por si mesma produz fruto: primeiro a erva, depois a
espiga e, por fim, a espiga cheia de grãos. Quando o fruto está no ponto,
imediatamente se lhe lança a foice, porque a colheita chegou? (Mc 4:
26-29).
Por
esta razão vos digo isto, para que possais conhecer a vós mesmos. Pois o
Reino dos Céus é como uma espiga de cereal depois de germinar no campo. Ao
amadurecer ela espalha seus frutos, preenchendo mais uma vez o campo com
espigas para o outro ano. Vós também, apressai-vos a colher uma espiga de
vida para vós, para que possais ser preenchidos com o Reino.[11]
A semente é
a centelha divina que vivifica e habita em cada homem. Para germinar, essa
?semente? deve ser enterrada em solo fértil, ou seja, no corpo de um
homem com condições cármicas propícias. Se o ?solo? for fértil, se
for arduamente cultivado, mantido livre das ervas daninhas dos vícios e
negatividades e regularmente irrigado com a água da vida, que constitui a prática
dos ensinamentos do Senhor, a semente dará frutos. O processo de crescimento
da planta é longo e eivado de riscos. Porém, se os riscos forem superados,
no seu devido tempo, a planta oferecerá uma colheita generosa.
A parábola
dos talentos (Mt 25:14-30 e Lc 19:11-27) é uma das favoritas dos pregadores
porque oferece um nível de significado bastante óbvio: que todos devem
desenvolver seus dons e retornar à economia da natureza resultados alcançados
de acordo com o número de ?talentos? que receberam. Se o Senhor dá a um
servo cinco talentos numa determinada vida, é porque este servo, ao longo das
existências passadas, mostrou-se capaz de utilizar essa quantia mais alta. O
Senhor é absolutamente justo e investe em cada um sempre de acordo com os méritos
do indivíduo (a cada um de acordo com a sua capacidade).
O que a
muitos causa perplexidade na parábola, no entanto, é o tratamento dado ao
servo que só recebeu um talento e não o utilizou, mas enterrou-o no chão,
desperdiçando a oportunidade de gerar alguma riqueza adicional para o Senhor.
Ora, o Senhor é a Vida Una, da qual todos participamos. Quando desperdiçamos
a oportunidade que nos é dada numa vida, por mais singelas que possam ser as
condições dessa existência, representando o equivalente simbólico de um só
talento, estamos trabalhando contra nós mesmos, daí a aparente severidade do
Senhor.
Mas por que
tirar do que tem pouco e dar ao que tem muito? Quem tem poucos méritos e
virtudes, se não os usa para superar sua condição de vida, os vícios e as
tentações se encarregarão de retirar o pouco que tem de bom naquela existência,
endurecendo sua alma e arrastando-o para uma vida de iniqüidade. Verificamos
na vida prática que tudo o que não é usado tende a se atrofiar perdendo sua
utilidade; esse princípio é conhecido dos cientistas como a lei da entropia.
Porém, ao discípulo que tem muitas virtudes e as utiliza bem, quando
engajado firmemente no Caminho Espiritual, mais lhe será dado, pois com cada
nova realização criamos para nós mesmos maiores oportunidades para
contribuir para a Vida Una.
Entrar no
Reino dos Céus significa experimentar uma grande expansão de consciência,
em que os mais profundos segredos são desvelados e de onde advém uma
bem-aventurança paradisíaca, que os místicos têm dificuldade para
descrever, como podemos deduzir das palavras do apóstolo Paulo falando de sua
experiência:
?Conheço
um homem em Cristo que, há quatorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu --
se em corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe! E sei que esse
homem -- se no corpo ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe! -- foi
arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que não é lícito ao
homem repetir? (2 Cor 12:2-4).
O
conhecimento de que o Reino dos Céus está em nosso interior,[12]
aparentemente esquecido pela doutrina ortodoxa, estava bem presente entre os
padres da Igreja primitiva, como indica a seguinte passagem de Simeão, o novo
teólogo, pautada por sua rica linguagem devocional.
?Aprendeste,
meu amigo, que o Reino dos Céus está em teu interior, se o quiseres, e que
todos os bens eternos estão em tuas mãos. Apressa-te, pois, em obtê-los e
cuida de não os perder, imaginando possuí-los. Geme, prosterna-te como o
cego de outrora (Lc 18:35), e dize, tu também: ?Tem piedade de mim, Filho
de Deus, abre-me os olhos da alma, a fim de que eu veja a luz do mundo que tu
és, ó Deus, e que me torne, eu também, filho do dia divino. Envia o
Consolador, ó clemente, a mim também, para me ensinar o que concerne a ti, o
que é teu, ó Deus do universo. Permanece, como o disseste, em mim também,
para que eu seja digno de permanecer em ti e conscientemente te possuir em
mim. Digna-te, ó invisível, tomar forma em mim, para que, vendo a tua beleza
inacessível, eu tenha a tua imagem, ó celeste, e esqueça as coisas visíveis.
Dá-me a glória que te deu o Pai, ó misericordioso, a fim de que, semelhante
a ti, como todos os teus servos, eu venha a ser deus segundo a graça e esteja
contigo continuamente, agora e sempre, pelos séculos sem fim?.?[13]
Para os místicos
de todos os tempos o Reino sempre foi uma realidade interior.[14]
Entrar no Reino é adquirir a consciência espiritual, a consciência da
unidade. Essa consciência é indescritível, mas inclui, além do
conhecimento supremo, a suprema bem-aventurança. Essa felicidade, sem
paralelos com os prazeres deste mundo, é a razão pela qual a meta do Reino
dos Céus sempre foi tida como o Bem Supremo. Em Imitação
de Cristo é dito:
?O
Reino de Deus está dentro de vós, disse o Senhor. Deixa este mundo miserável
e tua alma encontrará descanso. Aprende a desprezar as coisas exteriores,
aplica-te às interiores e verás como vem a ti o reino de Deus. Porque o
reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo, que não é concedido aos
ímpios. Cristo virá a ti, trazendo-te suas consolações, se lhe preparares
no interior, uma morada digna. Toda a sua glória e formosura está no
interior da alma?.[15]
É bom ter
sempre em mente, porém, que o processo evolutivo é gradual e infinito, como
se pode depreender da visão de Jacó, de que ?uma escada se erguia sobre a terra e o seu topo atingia o céu, e anjos
de Deus subiam e desciam por ela? (Gn 28:12). Essa colocação de que
existe uma gradação infinita entre o Céu e a terra, simbolizada pelos
degraus da escada de Jacó, é também retratada num livro que é um
verdadeiro tesouro de sabedoria conhecido como Luz
no Caminho, onde encontramos a afirmação:
?Estarás no seio da Luz, mas nunca tocarás a Chama.?[16]
Por isso, nossa consciência da unidade, ou da natureza divina, será sempre
limitada pelo nosso estágio evolutivo e não pela natureza última da
Divindade, pois sabemos que o Pai Supremo é inefável e que só o Filho o
conhece, ou seja, que somente quando alcançamos a consciência crística
podemos conhecer o Pai.
Como o Reino
dos Céus é a percepção e a manifestação gradual da natureza divina em nós,
podemos acelerar nossa jornada rumo ao Reino. Primeiramente, procurando
entender essa natureza divina e, a seguir, sintonizando-nos progressivamente
com ela, até que possamos finalmente expressá-la em sua plenitude.
Inicialmente, esse será um trabalho de fora para dentro, porém, quando começarmos
a entrar em sintonia, ainda que momentaneamente, com a luz interior, o Cristo,
os efeitos indeléveis dessa união começarão a agir em nós, de dentro para
fora, acelerando o processo.
Verificamos, destarte, que a natureza divina é o começo, o meio e o fim de nossa busca. Quanto mais nos sintonizarmos com essa natureza, que é a essência da paz, do amor e da sabedoria, mais próximos estaremos do Reino. A natureza divina é o princípio, porque somos parte dela. Nossa origem é divina, pois, como diz a Bíblia, fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26). Ela é o meio, porque oferece os instrumentos (examinados na seção VI deste livro) para a nossa entrada no Reino. E, obviamente, é o fim, porque este é o nosso objetivo final: a plena manifestação do divino na Terra. Como a natureza divina é um todo indivisível, qualquer que seja o ângulo que venhamos a enfocá-la ou percebê-la proporcionará um bom começo para nossos esforços, pois levar-nos-á, finalmente, ao entendimento de que todos os aspectos do divino constituem uma única coisa, ainda que nós, com nossa visão separatista do mundo material, necessária para fins cognitivos, descrevamos os diferentes aspectos e características dessa natureza como coisas separadas.
[1] Helmut Koester, History and Literature of Early Christianity (N.Y.: Walter de Gruyter, 1987), pg. 79.
[2] Não foram somente os teólogos que se deixaram envolver pela esperança de um retorno corpóreo do Cristo. Vários sensitivos, ao longo dos tempos, interpretaram suas percepções interiores como indicativas de um retorno do Cristo ao nosso mundo terreno. Dentre esses destaca-se Alice A. Bailey, que permitiu que seu condicionamento religioso como pregadora anglicana durante a primeira parte de sua vida viesse a colorir seu trabalho posterior como sensitiva, a ponto de fazer com que a maior parte de seu trabalho esotérico girasse em torno de um suposto retorno iminente do Cristo, vaticinado por ela desde o início da década de 1920. Vide, por exemplo, The Reappearance of the Christ (N.Y.: Lucis Publishing Co., 1948).
[3]
Para maiores informações vide: Arthur Powell, O
Plano Astral (SP: Pensamento).
[4] Thomas Keating, Crisis of Faith, Crisis of Love (N.Y.: Continuum, 1998), pg. 68
[5]
?No misticismo, o céu é
experimentado como uma condição de união com a natureza divina. É uma
atmosfera espiritual que pode ser conhecida pela alma que se dedica à
verdade. O místico cristão torna-se consciente do céu como um estado de
perfeita fé e paz internas, um bem estar infinito e segurança mais real
do que qualquer ambiente terreno.?
The Mystical Christ, op.cit.,
pg. 143.
[6]
Aquele nível da mente que se ocupa de pensamentos expressos por meio de
palavras e conceitos de nosso mundo material. Acima da mente concreta está
a mente abstrata, também chamada de superior, que se ocupa de percepções
abstratas como a matemática e a filosofia.
[7]
Maiores informações sobre o Plano de Deus são apresentadas mais adiante
na seção O objetivo do processo
da manifestação no capítulo 12: AS REGRAS DO CAMINHO.
[8] Vide glossário.
[9] Vide Anexo 3.
[10] Vide, A Different Christianity, op.cit., pg. 94-96.
[11]
Vide Apócrifo de Tiago, em Nag
Hammadi Library, op.cit., pg 35
[12]
Lc 17:21
[13]
Simeão, o novo teólogo, Oração Mística (S.P.: Edições Paulinas, 1985), pg. 64-65.
[14] Leon Tolstoy, o escritor russo do século passado escreveu suas experiências místicas num livro entitulado: ?O Reino de Deus está dentro de ti?, tendo como sub-título: ?O cristianismo não como uma religião mística mas como uma experiência de vida.? L. Tolstoy, The Kingdom of God is Within You (University of Nebraska Press, 1984).
[15]
Imitação de Cristo, op.cit.,
pg. 107..
[16]
Mabel Collins, Luz no Caminho (S.P., Pensamento), pg. 18.
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