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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
5
A
LEI DAS CORRESPONDÊNCIAS
Muitos dos
grandes instrutores da humanidade fizeram apresentações de suas idéias
sobre a criação e o desenvolvimento do universo e do homem. Seria lícito,
portanto, perguntar a razão de ser dessa fixação em assunto tão abstruso.
Existem bons motivos para isso. Talvez o mais importante seja que a visão
cosmológica, com os processos de criação do universo, oferece a perspectiva
mais ampla possível para o homem entender seu lugar no cosmo.
Grandes sábios
ensinaram que existe uma lei universal de correspondência entre o macro e o
microcosmo.[1]
Do ponto de vista físico, a ciência moderna mostra claramente que existe uma
grande semelhança entre as leis prevalecentes nos sistemas siderais e nos
sistemas atômicos. A lei das correspondências, como apresentadas nos
ensinamentos herméticos, indica que: ?Assim como é acima é em baixo; e
assim como em baixo é acima. O interior é semelhante ao exterior, e o
exterior ao interior?. Essa lei também foi mencionada por Jesus no
evangelho de Felipe: ?Vim fazer (as
coisas abaixo) como as coisas (acima e as coisas) fora como aquelas (dentro.
Vim para uni-las) no lugar.?[2]
Vale a pena lembrar que as palavras da oração do Senhor ?...seja
feita a tua vontade, assim na Terra como no céu,? também sugerem o
mesmo ordenamento nas esferas espirituais e materiais.
Geoffrey
Hodson afirma que:
?Todo
o Universo com suas partes, do plano mais elevado até a natureza física, é
considerado como sendo interligado, entrelaçado, formando uma única unidade
-- um corpo, um organismo, um poder, uma vida, uma consciência, todos
evoluindo ciclicamente sob uma única lei. Os órgãos, ou partes, do
Macrocosmo, ainda que aparentemente separados no espaço e nos planos de
manifestação, estão na verdade harmoniosamente interrelacionados,
intercomunicando-se e interagindo constantemente.
De
acordo com essa revelação da filosofia oculta, o zodíaco, as galáxias e
seus sistemas componentes, os planetas com seus reinos e planos da natureza,
elementos, ordens de seres, irradiando forças, cores e notas não só são
partes de um todo coordenado e em ?correspondência,? ou ressonância mútua
com cada um, mas também -- o que é profundamente significativo -- têm suas
representações dentro do próprio homem. Esse sistema de correspondências
está em operação através de todo o microcosmo, desde a Mônada até a
carne mortal, incluindo as partes do mecanismo (ou veículos) da consciência
e seus chacras, através dos quais o Espírito no homem se manifesta por toda
sua natureza, variando em grau de acordo com o estágio de
desenvolvimento evolutivo. O ser humano que descobre esta verdade pode
entrar no aspecto poder do Universo e valer-se de qualquer dessas forças. Ele
se torna então possuidor de uma influência quase irresistível sobre a
Natureza e os homens.?[3]
Esse conceito
aparentemente tão simples é a chave do estudo esotérico dos mundos sutis,
ou planos da natureza, nos quais nossa mente, em condições usuais, não pode
penetrar. Por meio de inferências a partir do plano, ou sistema, que
conhecemos, podemos ter uma idéia aproximada daqueles que não conhecemos.
Existe, por exemplo, um paralelo entre o conhecimento da célula e da mente.
Cada célula do corpo tem codificada todas as informações para reproduzir a
totalidade do corpo. Assim, também, a mente de cada ser recapitula por meio
dos movimentos holográficos todos os eventos cósmicos.[4]
Portanto, a partir dos sistemas cosmogônicos, com as diferentes etapas de
manifestação do cosmo, podemos inferir que o ser humano seguiu as mesmas
etapas de descida à matéria e retornará da mesma forma à sua fonte divina.
Assim como o Deus Supremo, por intermédio de um processo de sucessivas emanações,
manifestou o mundo material, também Deus no interior do homem, que é um
aspecto microcósmico do Deus Supremo macrocósmico, manifesta-se como o
Cristo interior, emanando outros níveis de manifestação, espiritual, psíquico
e material, para formar o homem completo. O homem imortal, espiritual, pode
então ser identificado e sua longa peregrinação entendida.
Assim, a lei
das correspondências presta-se perfeitamente como instrumento de análise
para o estudioso do ocultismo. O conhecimento de determinado nível da
manifestação, seja macro ou microcósmico, permite o acesso a outros níveis
em virtude da harmoniosa ressonância mútua entre as muitas partes
aparentemente separadas do universo. Essa técnica é especialmente útil para
entender a constituição do homem e a natureza do divino.
Por que, então,
vários movimentos gnósticos eram associados a sistemas cosmogônicos? A razão
dessa ênfase na cosmogonia é que ela propicia uma visão ampla das questões
fundamentais da vida humana, esclarecendo de onde viemos e para onde vamos. No
entanto, deve ficar bem claro que os sistemas cosmogônicos não são a gnosis.
Eles propiciam um mero vislumbre da verdade que não pode ser obtida em
segunda mão, quer seja de livros ou de apresentações orais, ainda que
proferidas por grandes sábios. A gnosis
é necessariamente uma conquista pessoal, uma revelação interior.
Essa revelação
ocorre quando a mente do buscador, inteiramente serena, torna-se translúcida.
Quando isso ocorre, a mente é iluminada pela intuição. Usando a
terminologia cristã, nesse momento o Cristo interior revela a verdade à alma
serena e receptiva. A revelação é feita num outro plano de percepção que
prescinde de palavras. A percepção vem em relances sintéticos, simbólicos,
junto com uma imensa quantidade de informações transmitidas num curtíssimo
intervalo de tempo. Somente após a experiência é que o místico procede à
decodificação das verdades abstratas conferidas durante o vôo da alma,
passando a expressá-las por meio de palavras e imagens que podem ser
compreendidas, ainda que só vagamente, pelos outros. Nessa decodificação,
ou tradução da experiência simbólica interior em palavras, o místico deve
valer-se de sua capacidade imaginativa e dos conceitos correntes em sua
cultura para transmitir os valores ou imagens que procura expressar. Isso
explica, portanto, parte das diferenças entre as várias apresentações
cosmogônicas, quando elas expressam realmente as experiências interiores de
seus autores. A mesma experiência interior inefável provavelmente será
descrita por meio de palavras diferentes por diferentes indivíduos, em
diferentes épocas.
Não podemos
nos esquecer, também, que a gnosis
não é uma experiência uniforme. Existem diferentes graus de gnosis,
ou seja, a iluminação interior ocorre com diferentes níveis de intensidade.
Assim como uma lâmpada no mundo moderno pode ser de diferentes potências,
indo desde a luzinha usada numa lanterna até os grandes holofotes, também a
potência da iluminação interior apresenta-se em diferentes graus durante o
processo de adentramento no Reino dos Céus. Por isso, alguns autores gnósticos
podem ter percebido apenas o contorno da verdade, enquanto outros foram
banhados com a Luz do Alto em grande intensidade, recebendo, portanto, revelações
mais profundas que, aliadas a sua melhor capacidade de comunicação no mundo
exterior, explicam, então, as diferenças de detalhes dos sistemas cosmológicos
existentes.
Portanto, as
representações cosmogônicas derivadas dos ensinamentos de Jesus, como
finalmente foram apresentadas pelos diferentes autores, gnósticos ou não,
oferecem valiosos instrumentos para o entendimento do magnífico processo da
manifestação divina, incluindo a peregrinação da alma. Infelizmente,
diferentes interpretações cosmogônicas e metafísicas geraram disputas e
cisões dentro do cristianismo. Dentre essas vale citar a questão da substância
do Filho, se igual ou semelhante à do Pai (a questão filioque);
se o corpo de Cristo era de carne ou de uma natureza ilusória, denominada
questão docética; se Jesus foi concebido de forma natural ou pelo Espírito
Santo; se sua mãe permaneceu virgem após a concepção, etc.
Essas questões,
que geraram disputas tão acirradas no passado, tornam-se absolutamente
irrelevantes quando examinadas à luz do nosso esforço para alcançar o
Reino. Será que a opção por uma ou outra opinião faz-nos avançar um milímetro
sequer na evolução da alma? Por outro lado, será que o desenvolvimento da
tolerância e do respeito e mesmo do amor por aqueles que mantêm opiniões
diferentes da nossa não nos adianta quilômetros no caminho da perfeição?
Felizmente, nos dias de hoje, é possível uma posição de questionamento
religioso temperada pela tolerância para com as posições contrárias. Isso
nem sempre foi assim. O Papa Inocente III, que ordenou o genocídio dos
albigenses e da população de Constantinopla, no início do século XIII,
declarou que ?todo aquele que tentar
estabelecer uma visão pessoal de Deus que conflite com o dogma da Igreja deve
ser queimado sem piedade.?[5]
[1]
Vide, por exemplo, Hermetica, os escritos atribuidos a Hermes Trimegistos, editado e
traduzido por Walter Scott (Boston, Shambhala, 1985), 4 volumes.
[2]
Evangelho de Felipe, em Nag Hammadi Library, op.cit., pg. 150.
[3]
The Hidden Wisdom in the Holy Bible,
op.cit., Vol. I, pg. vii.
[4]
Vide Sam Keen, Amor Próprio e Conexão Cósmica, em O Paradigma Holográfico (S.P.: Cultrix), pg. 115.
[5] Peter Tompkins, ?Symbols of Heresy? em The Magic of Obelisks (N.Y.: Harper, 1981), pg. 57.
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