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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
9
A
PORTA ESTREITA E O CAMINHO APERTADO
O objetivo da
vida do homem é, como já foi visto, entrar, ou melhor, retornar ao Reino dos
Céus. Esse Reino não é deste mundo, como disse Jesus,[1]
e se encontra em toda parte, mas os homens não o reconhecem. O Reino está
dentro de cada ser humano; ele é a dimensão espiritual da manifestação e
pode ser adentrado quando o homem expande a sua consciência além dos limites
usuais do mundo de nomes e formas expresso pela mente concreta.
Jesus nos
convida a trilhar esse caminho:[2]
?Entrai pela porta estreita, porque
largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que
entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz
à Vida. E poucos são os que o encontram.? (Mt 7:13-14). A expressão
usada por Jesus para descrever o caminho da perfeição, como sendo A porta estreita e o caminho apertado, é mais um exemplo da
felicidade de sua terminologia. A Porta Estreita transmite a idéia de que só
pode passar por ela quem não tiver carregando bagagens volumosas, ou seja,
quem obedecer ao requisito básico de renunciar ao mundo, deixando para trás
seus apegos à vida passada.
Passar
pela Porta Estreita é iniciar o caminho da perfeição. Para alcançar a meta
o postulante terá que percorrer o caminho apertado, o ?caminho do fio da
navalha? como é descrito nas tradições orientais. Esse caminho está
cheio de perigos, devendo o viajante permanecer constantemente atento para não
cair nas armadilhas existentes nos dois lados da via. Por isso, os excessos em
qualquer direção são prejudiciais para o postulante, como alertou o Buda,
ao ensinar o Caminho do Meio, livre dos extremos da vida de licenciosidade,
por um lado, e das asceses rigorosas com punições e até mesmo macerações
do corpo, por outro.
Nesse sentido
Jesus disse ainda: ?Em verdade, em
verdade te digo quem não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus?
(Jo 3:3). A expressão simbólica ?nascer de novo? (alterada na Bíblia de
Jerusalém para ?nascer do alto?) refere-se ao renascimento espiritual que
ocorre quando o homem é iniciado nos mistérios divinos, tornando-se
simbolicamente uma ?criancinha?. A criança é inocente e verdadeira, sem
condicionamentos limitadores, não tendo, portanto, uma grande ?bagagem?,
facilitando, assim, sua passagem pela porta estreita.
Existem também
uma interpretação de sentido ocultista na expressão do Mestre de que ?estreita
é a porta e apertado o caminho que conduz à Vida.? Para aqueles que
postulam que Jesus teria sido iniciado nos Mistérios egípcios, a expressão
pode se referir ao local dos ritos na Grande Pirâmide onde eram conferidas as
iniciações. Como essas iniciações provocavam expansões de consciência,
verdadeiras iluminações, que permitiam ao iniciado a experiência da unidade
e da eternidade, elas eram referidas como a ?Vida?. Para chegar ao local
da iniciação o discípulo tinha que atravessar uma estreita passagem: ?A
chamada Câmara do Rei ... se não era a ?câmara das perfeições? do túmulo
de Cheops, era, provavelmente, o recinto onde tinha admissão o neófito
depois de atravessar a estreita passagem do alto e a grande galeria com a
extremidade pouco elevada, que gradualmente o preparavam para a fase final dos
Mistérios.?[3]
O caminho
largo e espaçoso, por sua vez, não deve ser interpretado como sendo
exclusivamente o dos ?pecados capitais?, que sem dúvida afundam o homem
ainda mais nas trevas da ignorância e do sofrimento. Para o aspirante
espiritual que, como o jovem rico referido nos evangelhos (Mt 19:16-22; Mc
10:17-22; Lc 18:18-23), já obedece os preceitos básicos da lei, o que falta
é a renúncia ao mundo, simbolizada na parábola pela renúncia aos bens
materiais e, por outro lado, dedicação ao trabalho de autotransformação
(seguir Jesus). O caminho largo e espaçoso, para o aspirante, representa o
caminho da sabedoria convencional, sancionado em alguns casos pelas escrituras
e santificado pela prática. Nele procura-se a segurança e a identificação
com a cultura e a estratificação social prevalecentes, com suas quatro
preocupações centrais: família, riqueza, honra e religião.[4]
A família
era considerada o esteio da sociedade judaica, tradição essa que perdura em
nossos dias. A maior parte das famílias conhecia e vangloriava-se de sua
genealogia. Jesus, porém, conclamava seus seguidores a abandonar suas famílias
e segui-lo. Ele deu o exemplo, pois, ao ser alertado de que sua mãe e seus
irmãos o aguardavam, virou-se para aqueles que o ouviam e disse: ?Eis
a minha mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão,
irmã e mãe? (Mc 3:34-35). Para Jesus, o discipulado envolvia uma clara
escolha entre a dedicação estreita à família e o mais amplo amor à
coletividade, ou seja, à família humana.
Para seus
contemporâneos, deve ter sido chocante a afirmação de Jesus de que não
veio trazer paz à terra, mas sim divisão: ?Pois
doravante, numa casa com cinco pessoas, estarão divididas três contra duas,
e duas contra três? (Lc 12:52). Essa passagem refere-se á própria
natureza do homem. A casa é o ser humano. De um lado ficam dois: a alma e o
Eu Superior, contrapondo-se a três: o corpo astral, o destino vinculado ao
corpo etérico e o corpo físico. Como Jesus simboliza o Eu Superior, ou
Cristo, esta passagem indica que quando o Cristo interior finalmente se
manifesta no homem (a casa), o resultado é a divisão que leva à batalha
entre a natureza superior e a inferior.[5]
Trata-se da tradicional batalha entre a luz e as trevas, que é travada no
interior do homem.
Nem mesmo a
sagrada obrigação dos judeus ortodoxos de enterrar os pais escapou da crítica
do Mestre. Quando um possível seguidor, desejoso de juntar-se aos seus discípulos,
disse que iria primeiro enterrar seu pai, Jesus retrucou: ?Deixa
que os mortos enterrem os seus mortos? (Lc 9:60), fazendo um jogo de
palavras cujo sentido era alertar aqueles meramente preocupados com o
cumprimento da letra da lei para o fato de que eles estavam mortos no sentido
espiritual, e são esses mortos espiritualmente que estão preocupados com a
morte física.
As posses e
as riquezas eram, para os judeus, símbolos de segurança e identidade, sendo
consideradas, juntamente com a honra, indicação da recompensa divina para os
justos. A riqueza, portanto, não só era o instrumento para o conforto dos
ricos, mas um motivo para seu orgulho, pois os ricos se consideravam eleitos
dentre os eleitos de Deus. Nesse contexto torna-se mais fácil entender porque
Jesus disse: ?Como é difícil a quem
tem riquezas entrar no Reino de Deus!? (Mc 10:23). Esse comentário do
Mestre não significava necessariamente que a riqueza em si fosse condenável,
até mesmo porque alguns de seus discípulos eram abastados de acordo com os
parâmetros da época (como Bartolomeu, também chamado Nicodemos, Mateus,
Felipe, os irmãos Lázaro, Tiago, Madalena e Marta, José de Arimatéia e
algumas mulheres que contribuíam financeiramente para o movimento[6]),
mas simplesmente que os bens materiais eram mais uma amarra poderosa que
prendia os homens à vida do mundo e dificultava a vida espiritual.[7]
Existe um aspecto de nossas posses que geralmente não recebe a devida atenção,
que são as nossas idéias. Muitas pessoas têm mais dificuldade para
desapegar-se de suas idéias que de suas posses materiais. Por isso, cada um
de nós pode ser o ?homem rico? da parábola, apegado aos supostos
tesouros de sua mente. É por isso que os padres da igreja primitiva e a tradição
mística falam da necessidade de esvaziamento (kenosis)
como a primeira etapa do caminho.
A honra também
agia de forma semelhante, minando a alma com sentimentos de orgulho. Era, de
certa forma, uma conseqüência do status
da família, da situação do nascimento e da riqueza, e seu reconhecimento
social podia aumentar ou diminuir em função da postura do indivíduo perante
a sociedade. A honra era a consideração mais importante que o indivíduo
acreditava merecer em função do seu status.
Numa sociedade de relativamente poucas opções para o consumismo, boa parte
das ações daqueles que tinham poder econômico, político ou social eram
voltadas para a aquisição, preservação e demonstração da honra. Jesus,
no entanto, ridicularizava aqueles que buscavam a honra em seu comportamento
social, como por exemplo ocupar o lugar de destaque num banquete[8]
ou na sinagoga[9],
esperar saudações nas ruas[10]
e, pior ainda, realizar suas práticas religiosas para obter reconhecimento
social.[11]
A religião
era o ponto mais alto do reconhecimento da sabedoria convencional. A crença
entre os judeus de serem o povo eleito de Deus, em virtude da promessa divina
feita a Abraão, levava à conclusão natural de que as práticas religiosas
eram o elemento central para assegurar a herança no Reino dos Céus. João
Batista, em sua linguagem contundente chama a atenção para esse engano: ?Não
penseis que basta dizer: Temos por pai a Abraão? (Mt 3:9). Jesus levou
mais adiante o argumento de que o Reino não é exclusivamente, nem mesmo
primordialmente, dos judeus, ao atestar a fé do centurião romano: ?Mas
eu vos digo que virão muitos do oriente e do ocidente e se assentarão à
mesa no Reino dos Céus, com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto os filhos do
Reino serão postos para fora, nas trevas, onde haverá choro e ranger de
dentes? (Mt 8:11-12). É, assim, fácil de entender a ênfase dada às
práticas religiosas entre os judeus que julgavam que suas realizações no
mundo eram indicações de que Deus começava a prodigalizar na terra o que
seria consumado no céu. Jesus como sábio crítico social e arauto da verdade
criticou, em diversas ocasiões, essa atitude de profunda miopia espiritual de
seus conterrâneos.
A mensagem de
Jesus subverte esses valores culturais. Suas parábolas e provérbios,
revertendo as expectativas criadas pela sabedoria convencional, provocaram
perplexidade e animosidade entre os judeus, despertando ressentimentos entre
os guardiões da cultura religiosa, ou seja, entre os levitas e fariseus. Nas
palavras de um erudito moderno, Jesus ?atacou
o ?caminho largo e espaçoso? da sabedoria convencional como um meio
inadequado para realizar uma transformação interna. Na verdade, ele
considerou-a não só como uma cura inadequada mas como parte do problema. A
sabedoria convencional torna-se facilmente uma armadilha, prendendo o ego com
suas promessas de segurança e identidade, levando-o a preocupar-se com
assuntos externos, limitando sua visão e estreitando seus interesses e
compaixão. Jesus subverteu a sabedoria convencional pela raiz, vendo-a,
juntamente com a autopreocupação que ela promovia, como o mais sério obstáculo
a ser vencido pelo devoto que busca centralizar sua vida e conduta nos
caminhos de Deus.?[12]
A expressão
?a porta estreita e o caminho apertado?
também transmite outro conceito profundamente oculto relacionado à
possibilidade de experiências psíquicas em estados alterados de consciência.
Isso ocorre quando, num determinado momento da prática espiritual, o devoto
sente como se sua alma tivesse alçado vôo no qual experimenta uma expansão
de consciência, percebendo a realidade em outros planos, onde pode receber
instruções, experimentar visões beatíficas, penetrar na Luz, ou mesmo,
sentir-se uno com Deus. Essa experiência mística é descrita por muitos como
iniciando-se com a sensação de que o ser está passando em alta velocidade
por um túnel estreito e escuro.
Para
trilhar-se o Caminho da Perfeição, deve-se, nas palavras de Paulo, deixar o
homem velho morrer para que o homem novo possa nascer.[13]
Essa é a idéia por trás das palavras de Jesus: ?Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me? (Mc 8:34). Isso significa uma transformação radical
simbolizada pela expressão ?morrer
para o mundo?,[14]
o que só pode ser feito atacando as causas e não os efeitos de nossas
perturbações mentais. Nossas ações são efeitos, as causas são nossas
atitudes mentais, que desencadeiam pensamentos e emoções que determinam
nosso comportamento. Portanto, são esses estados mentais que devem ser
mudados.
O processo de
transformação é longo e árduo, porque a personalidade autocentrada resiste
por todos os meios a qualquer mudança, erguendo barreiras, apresentando
dificuldades, racionalizando sempre com todo tipo de argumento o porquê não
pode e não deve mudar. As dificuldades do caminho espiritual podem ser
imaginadas como a subida de uma ladeira íngreme que se torna mais difícil
quanto maior for o peso das tendências materiais que tivermos de carregar.
Esse processo de transformação era conhecido no cristianismo primitivo como metanoia,
posteriormente traduzido como ?arrependimento.? Neste sentido, em quase
todos livros da tradição cristã, quando encontramos a palavra
arrependimento, o que está sendo transmitido é a idéia de mudança de
atitude, valores e orientação de vida, devido à mudança mental.[15]
O caminho
espiritual, portanto, é o processo de gradativa mudança do estado mental do
homem, que deixa de ser autocentrado para tornar-se theoscentrado
(centrado em Deus). Inicialmente a metanoia
significa uma mudança nos pensamentos, do material para o espiritual. Chega
um determinado momento em que a resistência inercial do mundo material é
vencida e a alma, guiada pelo Cristo interior, alça vôo, transcendendo os
pensamentos ordinários e voltando-se cada vez mais para Deus. A partir desse
momento o progresso da alma será acelerado, à medida que a luz interior vai
desabrochando até alcançar a meta final, a plenitude do Cristo.
Parece que Paulo se referia a esse tipo de transformação radical da mente quando disse algo que lembra muito o dharma budista: ?E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus? (Rm 12:2). Essa vontade parece ser a consecução da perfeição, uma perfeição tão sublime que transcende qualquer idéia que o homem possa dela ter em sua experiência de vida usual. Poderia ser imaginada como sendo a plena união de Espírito e matéria ou, vista sob outro ângulo, a plena manifestação do Espírito através da matéria. Essa meta foi alcançada pelos grandes Mestres, referidos como ?homens justos que chegaram a perfeição? (Hb 12:23), que expressam o divino amor, poder e sabedoria num grau muito além do concebido pelo homem comum.
[1]
Jo 18:36.
[2]
No primeiro século de nossa era, a tradição cristã é referida em Atos
(9:2) como o Caminho.
[3] Stanisland Wake, ?The Origin and Significance of the Great Pyramid?, citado por H.P. Blavastky em A Doutrina Secreta, vol. II, pg. 23.
[4] Marcus Bog, Jesus. A New Vision (Harper San Francisco, 1991), pg. 115
[5] Vide Pistis Sophia, op.cit., 343-44
[6] Vide Lc 8:1-3.
[7] Vide Jesus, a New Vision, op.cit., pg. 104-105.
[8] Lc 14:8-11
[9] Lc 11:43
[10] Mc 12:38-39
[11] Mt 6:1-2, Mt 6:5 e Mt 6:16
[12] Jesus. A New Vision, op.cit., pg. 116.
[13]
Cl 3:9-10.
[14]
Cl 3:5.
[15] Vide, Pistis Sophia. Os Mistérios de Jesus, op.cit., pg. 32.
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