| AQUI PARA SE ASSOCIAR! |
HOME | TEOSOFIA | PALESTRAS | ASTROLOGIA | NUMEROLOGIA | MAÇONARIA | CRISTIANISMO | ESOTERICA.FM | MEMBROS |
OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
O
enfoque de Jesus
Nos
documentos canônicos e apócrifos existentes, não se encontra nenhuma
apresentação sistemática do método de Jesus para a transformação do
homem. Cabe a nós, buscadores da verdade e discípulos do Mestre,
organizar seus diferentes e esparsos ensinamentos de forma a obter um
instrumental transformador coerente e sistemático. Nesse afã, não é
difícil perceber nos ensinamentos de Jesus que ele preconizava uma
abordagem semelhante a que hoje seria chamada de holística. Todos os
aspectos do homem deveriam ser desenvolvidos, já que seu enfoque incluía
tanto os métodos de desenvolvimento de fora para dentro como os de dentro
para fora. Seus ensinamentos serviam de alimento à alma tanto das pessoas
comuns, que buscavam consolo para as agruras de suas vidas diárias e
esperança de dias melhores, como dos buscadores avançados que
simbolicamente batiam às portas do Reino.
Para todo ser
humano, o caminho começa exatamente no ponto em que ele se encontra
quando decide trilhá-lo. Como o homem do mundo está necessariamente sob
o jugo de sua natureza inferior, seus primeiros passos serão dados pelo
seu eu adulto consciente, que começa a buscar em si a força para a mudança.
Assim, numa primeira etapa, a mudança será efetuada de fora para dentro
e, consequentemente, de forma lenta e penosa. Só mais tarde, quando a
intuição for despertada, será possível a ajuda do Eu Superior, do
Cristo interno, que começa a orientar a alma, inspirando-a a seguir o
caminho do alto. Inicia-se, então, uma etapa de desenvolvimento
acelerado, em que a transformação ocorre de dentro para fora,
possibilitando a alma queimar etapas.
Jesus, como
todo Mestre, conhecia a complexidade da natureza humana, que tende a
resistir à mudança. Por isso, ele legou à humanidade ensinamentos
concebidos para trabalhar a natureza do homem sob diferentes ângulos. Sua
primeira preocupação parece ter sido quebrar os condicionamentos que
limitavam a capacidade de transformação dos judeus naquela época, da
mesma forma como ainda limitam o homem moderno.
O
comportamento do homem é determinado por seus condicionamentos que
refletem os valores recebidos da família e da sociedade, que são
progressivamente adaptados para refletir seu temperamento, suas experiências
e seu estágio evolutivo. Grande parte dos condicionamentos origina-se de
experiências da infância, quando a criança busca amor e proteção dos
pais e nem sempre os encontra na forma e intensidade desejadas e, em
alguns casos, chega até mesmo a receber maus tratos e descaso, gerando,
então, traumas que a criança procura superar, criando defesas para
evitar o sofrimento. Essas defesas, envolvendo um ?raciocínio?
emocional,[1]
são mantidas no inconsciente e passam a governar importantes aspectos da
vida do jovem e, mais tarde, do adulto, até serem trabalhadas e
superadas, geralmente com bastante esforço.
A liberdade
do ser humano, expressa por seu livre arbítrio, deve ser entendida num
sentido relativo, pois os condicionamentos agem de forma inconsciente,
como um programa de computador que automaticamente processa todos os dados
novos, apresentando respostas ou resultados de acordo com o programa
inicial. Jesus procurou quebrar essa programação inconsciente do homem
que o torna egoísta e distante de Deus. Nos ensinamentos públicos isso
era feito de forma contundente por meio das parábolas, que criticavam a
sabedoria convencional,[2]
fonte de importantes condicionamentos, como por exemplo:
?Ele
faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre
justos e injustos? (Mt 5:45).
?Aquele
que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que
ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim? (Mt
10:37)
?Se
alguém vem a mim e não odeia[3]
seu próprio pai e mãe, mulher,
filhos, irmãos, irmã e até a própria vida, não pode ser meu discípulo?
(Lc 14:26).
A sabedoria
convencional é a expressão da tradição, abarcando os valores da vida
social, principalmente no que se refere à família, riqueza, honra e
religião. As rígidas normas de obediência à Torá, com suas prescrições
detalhadas de práticas religiosas, inevitavelmente criavam situações
conflitivas na vida dos judeus. Um exemplo desse conflito foram as curas
efetuadas por Jesus no sábado, que se prestaram a críticas por parte dos
fariseus e escribas e deram ocasião aos inesquecíveis ensinamentos do
Mestre a respeito da compaixão e das prioridades na vida do verdadeiro
homem justo.[4]
Assim, tendo
Jesus curado num sábado uma mulher que há dezoito anos era possuída por
um espírito que a mantinha recurvada e doente, foi criticado pelo chefe
da sinagoga. Jesus, então, replicou: ?Hipócritas!
Cada um de vós, no sábado, não solta seu boi ou seu asno do estábulo
para levá-lo a beber? E esta filha de Abraão que Satanás prendeu há
dezoito anos, não convinha soltá-la no dia de sábado?? (Lc
13:15-16). Diversas outras passagens dos evangelho (Mt 12:6-7, Mt 12:10-12
e Lc 14:1-5) são igualmente ricas em ensinamentos espirituais do gênero.
A própria prática
da oração, aparentemente de acordo com a lei, ou seja de acordo com a
sabedoria convencional, podia ser ocasião para expressão de orgulho e não
de verdadeiro louvor a Deus, como no caso da parábola do publicano
(coletor de impostos).
?Dois
homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu e o outro publicano. O
fariseu, de pé, orava interiormente deste modo: ?Ó Deus, eu te dou graças
porque não sou como o resto dos homens, ladrões, injustos, adúlteros,
nem como este publicano; jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de
todos os meus rendimentos?. O publicano, mantendo-se à distância, não
ousava sequer levantar os olhos para o céu, mas batia no peito dizendo:
?Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!? Eu vos digo que este último
desceu para casa justificado, o outro não.? (Lc 18:10-14)
Essa parábola
é especialmente feliz em mostrar o contraste entre a pessoa que se
identifica com a máscara de ser ?boa e correta? e outra que reconhece
o comportamento negativo de seu eu inferior, dando assim o passo necessário
para trabalhá-lo e ser, então, purificada.
Todos esses
exemplos do ministério de Jesus são reiteradas críticas à uma
interpretação estreita da lei mosaica, principalmente de seus preceitos
de pureza e observância do sábado, como interpretados pelos escribas e
fariseus, porque não eram temperados pela compaixão. Aliás, outros
profetas da tradição judaica já haviam feito essas mesmas críticas no
passado, como os autores de Isaias, Eclesiastes e Jó. Portanto, o
comportamento pautado pelos ditames da sabedoria convencional, ou seja,
pelos padrões de excelência que guiam a maior parte da sociedade, não
eram no tempo de Jesus, e não são nos dias de hoje, garantia de
comportamento verdadeiramente espiritual. O homem deve usar o seu
discernimento em cada caso, guiando-se pelo coração, ou seja, tendo a
compaixão como bússola para nortear sua rota no relacionamento com as
pessoas e o mundo.
Talvez a
expressão de Jesus: ?é pelos
seus frutos que os reconhecereis? (Mt 7:20) seja um resumo de sua crítica
à posição farisaica. As aparências externas de práticas religiosas e
obediência à lei não eram garantia de uma alma pura e elevada.[5]
O comportamento naturalmente amoroso e um verdadeiro senso de dever
comandado pelo coração e pela razão é uma indicação mais certa do
homem verdadeiramente justo. O que importa é o que vem do coração e não
a preocupação com crenças e comportamentos sancionados pela tradição.
Na prática, crença e comportamento podem se tornar uma religião de
segunda mão, herdada pela tradição, deixando, porém, o homem egoísta
em seu interior, apesar dele acreditar estar fazendo as coisas corretas.
Em Pistis
Sophia (Anexo 3), é dito que os condicionamentos agem como
verdadeiros demônios interiores, procurando levar o ser humano ao erro,
mesmo quando ele procura a vida espiritual. Esses demônios são formas de
influência persistentes, as tendências, que se incorporam aos nossos
conteúdos mentais. Assim, a transformação do homem permanecerá lenta
enquanto a personalidade lutar sozinha contra seus condicionamentos. É
por isso que deve ser solicitada ajuda ao grande aliado da alma, o Cristo
interno, para superar a resistência às influências ?demoníacas? na
forma de tendências arraigadas. Quando isso ocorre, o ser integral, o
homem exterior e seu Eu Superior começam a agir em uníssono, promovendo
a transformação de dentro para fora. E a mudança terá que ser radical,
pois, enquanto as tendências persistirem, enquanto a negatividade não
for reconhecida, o homem voltará a cair no erro. Essa transformação
ocorre progressivamente durante o desenrolar das experiências da vida, em
níveis cada vez mais elevados da espiral do progresso infinito, até que
o homem alcance a gnosis
suprema, a iluminação libertadora, tornando-se, então, um homem
perfeito.
Um autor
experiente chama esses dois enfoques de o caminho longo e o caminho curto.
?Há o Caminho Longo do
auto-aperfeiçoamento, da autopurificação e do auto-esforço; e há o
Caminho Breve do completo esquecimento do eu e do direcionamento da mente
para o Objetivo, para a Vida Una Real, pela lembrança constante dela e
pela prática da identificação com ela.?[6]
O caminho longo é ensinado aos principiantes, sendo praticado até um estágio
bem avançado da busca. É extremamente penoso, demandando que as mesmas
batalhas sejam travadas repetidamente, até que a semente do mal seja
extirpada do coração do aspirante, daí ser chamado de caminho longo,
pois leva muitas encarnações para que a iluminação seja alcançada por
este método. O caminho breve geralmente é trilhado quando o aspirante já
labutou por muito tempo da forma tradicional sem conseguir os vislumbres
do mundo interior e, finalmente, decide entregar-se ao Mestre interior,
negando as demandas de sua natureza inferior e aquietando inteiramente sua
mente em contemplação. Quando isso ocorre, quebram-se as duas últimas
amarras que seguram o homem ao mundo: o orgulho e a ambição espiritual.
Assim, a Graça encontra um ambiente favorável para atuar.
Verificamos,
portanto, que o método de Jesus visava, numa primeira etapa, desenvolver
o discernimento do buscador, quebrando seus condicionamentos limitadores.
Mas, isso não era suficiente para que seus discípulos alcançassem o
estado de consciência do Reino. Esse estado transcende a consciência
usual do homem e só pode ser adentrado quando a mente é iluminada pela
intuição. A realidade última, sendo espiritual, só pode ser apreendida
por aqueles que desenvolveram os sentidos espirituais. Pode também ser
percebida de forma aproximada pelos que conhecem a linguagem do plano
abstrato, qual seja, a dos símbolos. A linguagem simbólica usada por
Jesus em suas parábolas e ensinamentos alegóricos, visava promover o
desenvolvimento da intuição em seus seguidores.
Os símbolos
são para a mente o mesmo que as ferramentas são para as mãos, meios de
estender a aplicação de seus poderes. Assim, a linguagem carregada de
simbolismo usada por Jesus era, em última instância, um método
para forçar a mente a transcender sua consciência usual e atingir os
estados de consciência do Reino. O método de ensino de Jesus tem um
paralelo com o da Cabala, que é um método profundamente esotérico de
transmitir o conhecimento de verdades que transcendem o entendimento da
mente. O uso de símbolos serve como uma escada pela qual a mente pode
subir, degrau a degrau, até adquirir as asas da intuição que lhe
permitirão voar para o alto.[7]
O efeito do
simbolismo e da alegoria é sentido de forma dinâmica. Quando o discípulo
medita sobre as parábolas e outras instruções veladas, os símbolos vão
sendo como que incubados na mente até alcançarem o grau de
amadurecimento em que naturalmente despontam como percepções iluminadas
sobre uma realidade que transcende a mente. Nesse processo, as alegorias
simbólicas, mesmo que não compreendidas, fixam-se no subconsciente de
onde são evocadas sempre que a mente concreta trabalha com idéias
relacionadas ao símbolo. Assim, gradualmente, uma percepção do conceito
transcendental vai sendo desenvolvida por relances parciais até que num
determinado momento a somatória dessas percepções alcança a necessária
massa crítica para perfurar o véu da alegoria e perceber a realidade.
Quando sugerimos que o método de ensino de Jesus poderia ser considerado holístico, por abranger todos os aspectos da natureza humana, não podemos esquecer que um dos legados da tradição cristã foi a divulgação, ainda que velada, de verdades que anteriormente só eram reveladas aos iniciados nos Mistérios Maiores. A vida do Cristo, como relatada nos quatro evangelhos, é uma representação alegórica das cinco grandes etapas ou iniciações do caminho ocultista que levam o discípulo ao pináculo da perfeição humana. Essas etapas serão examinadas no último capítulo deste livro. Muitas outras passagens relatadas na Bíblia são instruções de natureza profundamente esotérica, visando preparar o aspirante para prosseguir na busca. Finalmente, um aspecto importante e pouco conhecido de seu método eram os rituais e sacramentos, examinados mais adiante, que tinham por objetivo proporcionar condições interiores particularmente favoráveis aos discípulos que estavam preparados para recebê-los.
[1]
Daniel Goleman, Inteligência Emocional (R.J.: Editora Objetiva, 1995).
[2]
Vide Marcus J. Borg, Jesus, a
New Vision (Harper San Francisco, 1987), pg. 97 - 116
[3]
As passagens em Lucas (14:26) e Mateus (10:37), mencionando que para
ser seguidor de Jesus a pessoa precisava ?odiar? pais, irmãos e
demais parentes, é geralmente citada fora do contexto lingüístico
da época, pois em aramaico a expressão coloquial ?odiar?, nesse
caso, significava colocar em segundo plano ou amar menos.
[4]
Quando os fariseus criticaram os discípulos de Jesus, que ao passarem
pelas plantações num sábado, arrancaram algumas espigas e
comeram-nas, este lembrou-os de que Davi e seus companheiros haviam
comido os pães da proposição na sinagoga, pois também estavam com
fome. E acrescentou: ?Digo-vos
que aqui está algo maior do que o Templo. Se soubésseis o que
significa: Misericórdia é que eu quero e não sacrifício, não
condenaríeis os que não têm culpa? (Mt 12:6-7)
[5]
Essa mesma idéia é claramente expressa na tradição hindu: ?Alguns
deles, em sua hipocrisia, desejam aparecer como bons perante o mundo
e, por isso, praticam atos de piedade e ritos da religião, seguindo,
entretanto, apenas a letra, e repelindo o espírito das doutrinas
religiosas, e dando as esmolas com ostentação e com coração frio.?
Bhagavad Gita, op.cit., pg.
152.
[6]
Paul Brunton, Idéias em Perspectiva (S.P.: Pensamento), pg. 300-303
[7] Vide Dion Fortune, The Mystical Qabalah (N.Y.: Samuel Weiser, 1996), pg. 29.
| |||||||||||
|
|||||||||||
WWW.LEVIR.COM.BR © 1996-2024 - LOJA ESOTÉRICA VIRTUAL - FALE CONOSCO: levir@levir.com.br - whatsapp: 11-99608-1994 |