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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
11
OS
PRIMEIROS PASSOS
A
busca do caminho
O despertar
para a realidade da vida é o primeiro passo na longa jornada da alma.
Esse passo é muitas vezes desencontrado e sem direção certa, marcado
somente pela determinação de sair do marasmo aprisionador em que a
pessoa se encontrava anteriormente. Quando isso ocorre, o homem passa a
ser um buscador da verdade.
A busca só
começa quando estamos em condições de perceber o ?chamado?. Uma vez
ouvido em nossos corações, jamais conseguiremos esquecê-lo. Podemos
negligenciá-lo por uns anos ou até mesmo por algumas vidas, mas, quando
a alma desperta para a realidade espiritual, só descansará ao voltar à
sua origem, ainda que isso possa levar muitas vidas de luta ingente com as
paixões mundanas. O Pai, através de seus auxiliares nos mundos
espirituais e materiais, coloca em nosso caminho oportunidades para a
busca. São amizades apropriadas, palestras reveladoras, livros
estimulantes, enfim, toda uma série de circunstâncias favoráveis para a
reorientação de nossa vida, da materialidade para a espiritualidade.[1]
Vale lembrar que as circunstâncias favoráveis incluem desapontamentos,
crises e ajustes cármicos, pois o sofrimento é, geralmente, um instrutor
mais eficaz do que a felicidade para o aprendizado da realidade última.
No início o
aspirante busca, como as crianças brincando de ?cabra cega?, tateando
no escuro, procurando a verdade em grupos de apoio nem sempre idôneos,
mudando de filiação sectária ou religiosa diversas vezes, demonstrando
uma grande inconstância. Isso é natural e reflete a insatisfação que
motiva a busca. A determinação do buscador e o uso do discernimento são
suas garantias de que, no seu devido tempo, encontrará o Caminho, pois
ele começa e termina no coração.
A necessidade
da busca é mencionada explicitamente na Bíblia. Somos constantemente
instados a buscar sem cessar e a bater à porta, porque ela se abrirá.[2]
Em Atos é dito que ?O Deus que
fez o mundo e tudo o que nele existe, ... fez toda a raça humana para
habitar sobre toda a face da terra, ... para que procurassem a divindade
e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora não
esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e
existimos? (At 17:24-28).
Em meio a
tantas demandas da vida familiar, social e profissional, o buscador
sincero deve estabelecer suas reais prioridades. Por isso Jesus dizia: ?Buscai,
em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas
vos serão acrescentadas? (Mt 6:33). Essa busca é uma regra
fundamental da vida espiritual. A busca persistente é indispensável para
o sucesso, porque o próprio esforço da busca já predispõe o coração
a mudar. É essencial, também, porque o Caminho só pode ser trilhado
quando descobrirmos onde ele começa.[3]
O esforço da busca não deve cessar nem mesmo na última etapa do
caminho ocultista, a mais crítica, em que o candidato deve descobrir uma
escola do verdadeiro ocultismo, pedir admissão, ser aceito e receber
instruções ou, como é dito em Pistis Sophia, descobrir e receber os
mistérios. Os gnósticos eram particularmente insistentes na necessidade
da busca. No Ensinamento Autorizado
encontramos: ?Busque e investigue
a respeito dos caminhos que deves trilhar, pois não há nada que seja tão
bom como isso.?[4]
O místico, por sua vez, deve buscar o silêncio e a paz que envolve a essência
de nosso ser, ainda que viva na agitação e bulício do mundo, pois só
em profunda quietude será capaz de encontrar Deus.
Essa busca
envolve todos os aspectos do ser, para que haja um desenvolvimento
harmonioso e integrado do homem, como é sugerido e exemplificado no livro
Luz no Caminho, numa passagem
que parece sintetizar todo o caminho espiritual:
?Busca
o caminho, retirando-te para o interior. Busca o caminho, avançando
resolutamente para o exterior. Busca-o, mas não em uma direção única.
Para cada temperamento existe uma via que parece ser a mais desejável.
Porém, só pela devoção não se encontra o caminho, nem pela mera
contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso
sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da vida. Nenhuma
dessas coisas, por si só, faz adiantar o discípulo mais que um passo.
Todos os degraus são necessários para subir a escada. Os vícios dos
homens se convertem em degraus da escada, um a um, à proporção que vão
sendo dominados. As virtudes do homem são, em verdade, degraus necessários,
dos quais não se pode prescindir de modo algum. Entretanto, ainda que
criem uma bela atmosfera e futuro feliz, são inúteis se estão isoladas.
A natureza toda do homem deve ser sabiamente empregada por aquele que
deseja entrar no caminho. Cada homem é absolutamente para si mesmo o
caminho, a verdade e a vida. Só o é, porém, quando domina firmemente
toda a sua individualidade e, quando pela energia de sua acordada
espiritualidade, reconhece que esta individualidade não é ele mesmo, mas
uma coisa que ele criou trabalhosamente para seu uso e por cujo meio se
propõe, à proporção que o seu crescimento desenvolve lentamente a sua
inteligência, alcançar a vida além da individualidade. Quando sabe que
para isso existe a sua assombrosa vida complexa e separada, então, em
verdade, e só então, se acha no caminho. Busca-o submergindo-te nas
misteriosas e esplêndidas profundidades do teu ser. Busca-o provando toda
a experiência, utilizando os sentidos a fim de compreender o
desenvolvimento e a significação da individualidade, a formosura e a
obscuridade desses outros fragmentos divinos que contigo e a teu lado
combatem e que formam a raça à qual pertences. Busca-o estudando as leis
do ser, as leis da natureza, as leis do sobrenatural: e busca-o
prosternando a tua alma ante a pequena estrela que arde no interior.
Enquanto vigias e adoras com perseverança, a sua luz irá sendo cada vez
mais brilhante. Então poderás reconhecer que encontraste o começo do
caminho. E quando chegares ao fim, a sua luz se converterá subitamente em
luz infinita?.[5]
Se por um lado Deus nos incita a buscá-lo, por outro, Ele nos aguarda pacientemente por toda a eternidade. O Senhor Supremo mostra Sua disposição de estar conosco, esperando somente que tenhamos a iniciativa de abrir a porta do coração para que Ele possa entrar e comungar conosco, como é dito na Bíblia: ?Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo? (Ap 3:20)
[1]
A transição da materialidade para a espiritualidade não é tão
simples. Numa primeira etapa, o ego orgulhoso tentará perseguir
objetivos espirituais para obter reconhecimento e consideração, ou
seja, poder e status. Só mais tarde é que o buscador se dará conta
de que não basta fazer a coisa certa, mas é preciso, também, ter a
motivação certa que, no caso da busca, deve ser alcançar a Verdade
e superar todo egoísmo, orgulho e sentimento de separatividade. Essa
etapa de transição foi chamada de materialismo espiritual pelo monge
tibetano Chögyam Trungpa, no livro Além do Materialismo Espiritual (S.P.: Cultrix).
[2] Mt 7:7 e Lc 11:9-10.
[3] Vide, nesse particular, o interessante livro de Rohrit Metha, Seek Out the Way, (Adyar, India: The Theosophical Publishing House, 1990).
[4] Authoritative Teaching, em The Nag Hammadi Library, op.cit., pg. 310.
[5]
Mabel Collins, Luz no Caminho (S.P.: Pensamento), pg. 21-22.
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