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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Se
por um lado existe uma natural curiosidade por parte de todo cristão em
conhecer os ensinamentos internos de sua tradição, devemos estar preparados
para o fato de que esses ensinamentos nem sempre estarão de acordo com nossas
idéias tradicionais. Na verdade, parte dos conceitos ortodoxos deverão ser
modificados e, em alguns casos, até mesmo abandonados, à medida que
adquirirmos um entendimento mais sólido do lado esotérico dos ensinamentos
de Jesus. Esse é o processo natural de amadurecimento de todo indivíduo. As
noções que governam a atitude das crianças em seus primeiros anos de interação
com o mundo exterior, dão geralmente lugar a conceitos mais abrangentes e
complexos quando o jovem adulto está suficientemente amadurecido em sua
capacidade intelectual e emocional. Um processo semelhante ocorre em nossa
vida espiritual. Para que o devoto possa crescer espiritualmente, deve
aprender a entender o sentido esotérico subjacente às doutrinas aceitas
literalmente como dogmas de fé.
Nessa busca,
o leitor verdadeiramente interessado deve estar disposto a investigar a
simbologia bíblica. Essa disposição implica numa atitude de flexibilidade e
tolerância para com idéias e argumentos diferentes dos aceitos até então.
O verdadeiro estudioso deve submeter todo conceito e argumento, tanto
tradicional como não-ortodoxo, ao crivo da razão e, a seguir, à avaliação
do coração. O devoto que adotar essa postura espiritualmente sadia estará
chamando em seu auxílio o Cristo interior, que derramará suas bênçãos na
forma de inspiração para a compreensão mais profunda das verdades
transformadoras de nossa tradição. Com isso ele sentirá uma profunda
alegria ao efetuar uma leitura crítica, que lhe permitirá construir
paulatinamente, e de forma consciente, o arcabouço doutrinário e prático de
sua transformação espiritual.
Isso
significa que o leitor deve adotar a postura do cientista que, ao iniciar um
novo projeto de pesquisa, adota uma série de hipóteses de trabalho, que serão
investigadas e testadas. Caso essas hipóteses facilitem o avanço da pesquisa
e sejam confirmadas por testes posteriores, então, e só então, poderão ser
promovidas de hipóteses a premissas para a implementação da parte prática
que permitirá a conclusão do trabalho. A atitude "científica," apesar
de atraente e lógica, é difícil de ser adotada na prática. Todos nós
interagimos com o mundo a partir de um grande número de condicionamentos, a
maior parte dos quais inconscientes. Nossa mente racional pode estar disposta
a considerar uma determinada linha de raciocínio, porém, nossos sentimentos,
que são governados pelo inconsciente, usurpam muitas vezes a atribuição da
razão e rejeitam os argumentos lógicos tão logo percebem que esses podem
ameaçar a segurança de nossa estrutura de valores. Isso explica a natureza
intrinsecamente conservadora de todo ser humano. Resistimos à mudança porque
toda mudança implica numa revolução interior que demanda algum compromisso
com a verdade. Esse compromisso implica em humildade para aceitar a
possibilidade de que alguns de nossos mais estimados conceitos foram construídos
sobre a areia e, finalmente, uma coragem extraordinária para enfrentar a
resistência inicial de nosso ego orgulhoso e inseguro.
Os meandros
da mente são muitas vezes desconcertantes para o iniciante. Um profundo
estudioso da matéria escreveu: "A
mente formal assemelha-se a um ditador de um estado autoritário. Tal
dirigente não pode, não ousa, tolerar qualquer interferência de outros no
seu despotismo ou sugestão de controle sobre ele, porque se isso prosperasse
a sua ditadura eventualmente terminaria. No que concerne à manutenção de
seu sistema e ao controle das mentes cegas de seus membros, a ortodoxia
religiosa estreita e defensiva está precisamente na mesma posição. Todo
dogmatismo em assuntos religiosos surge do medo e desse impulso para o poder e
sua preservação."[1]
Para o
estudante de esoterismo, toda e qualquer proposição doutrinária ou filosófica
deve ser tomada como hipótese de trabalho da mente concreta, até que ele
alcance o estado místico que lhe permita conhecer diretamente a verdade.
Quando em profunda contemplação ele passar a comungar com a Luz, então, e só
então, poderá saber com toda certeza as verdades que transcendem a mente
intelectiva e que pertencem ao âmbito do que chamamos de intuição (buddhi, em sânscrito). É esse conhecimento que os antigos chamavam
de gnosis, o conhecimento direto da
verdade que é alcançado com a iluminação, e que gera uma fé inabalável.
Assim sendo, as proposições doutrinárias e de ordem filosófica neste
livro devem ser consideradas como secundárias. O importante são os
ensinamentos transformadores, que poderíamos chamar de metodologia para a
transformação do homem velho no homem novo. Quando tivermos nascido de novo,
iluminados pelo Cristo interior, estaremos capacitados a reavaliar nossas
premissas anteriores para, então, estabelecer nossa fundamentação filosófica
com base na Verdade e não mais em hipóteses.
Este livro
procura oferecer ao cristão dedicado essa metodologia transformadora que, se
devidamente utilizada, pode levar o devoto ao estado experimentado pelo apóstolo
Paulo quando disse "Já não sou eu
que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2:20). Todas as considerações
filosóficas ou doutrinárias do livro devem ser consideradas como meras hipóteses,
servindo como elementos auxiliares no desenvolvimento de uma estrutura
referencial que acreditamos ser lógica e sequenciada. O estudante que
estabelecer como meta a sua transformação interior, não se deixando limitar
ou intimidar por argumentos filosóficos ou teológicos, poderá deixar para
mais tarde as decisões doutrinárias, quando estiver capacitado pela iluminação
transformadora a pronunciar-se sobre esses pontos de forma definitiva. O
Mestre deve ter tido isso em mente quando nos disse: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8:32).
Apresentamos
a seguir as principais hipóteses que foram usadas para nortear o trabalho.
Estas hipóteses serão examinadas com mais detalhes ao longo do texto:
1.
O objetivo de todo ministério de Jesus foi alertar a humanidade para a
realidade do Reino e ensinar os homens como alcançá-lo, retornando à Casa
do Pai.
2.
Para chegar ao Reino, ou seja, para alcançar a perfeição, o homem
deve encontrar e trilhar o Caminho ao longo de todas as suas etapas.
3. A maioria das pessoas ainda não despertou para a realidade do Caminho,
pois estão mergulhadas na vida material e sensual, sem o menor interesse na
vida espiritual.
4. O Caminho tem três grandes etapas, que poderiam ser chamadas de
religiosa, espiritual e mística. Essas etapas têm um estreito paralelo com
as três grandes fases da vida do homem: infância, vida adulta e maturidade.
Nem todos os homens chegam a última etapa em sua plenitude, envelhecendo sem
tornarem-se sábios, muitos agindo como crianças em idade avançada.
5. Na infância a criança deve ser conduzida e protegida por seus pais e
tutores, enquanto está sendo preparada para enfrentar a vida adulta por seus
próprios meios. Nessa etapa a criança caracteriza-se por sua relativa
subserviência, passividade e crença no poder e sabedoria de seus mentores,
valendo-se principalmente da emoção como instrumento de resposta ao mundo. O
caminho religioso tradicional eqüivale à infância da humanidade, em que os
fieis são conduzidos pelos sacerdotes, como representantes do Pai Celestial e
da Madre Igreja, crendo em dogmas e obedecendo os mandamentos e as regras
estabelecidos. As práticas religiosas são fundamentadas essencialmente no
aspecto emotivo da natureza humana.
6.
A primeira grande transformação da criança ocorre na adolescência,
um período caracterizado, entre outras coisas, pela rebeldia. Essa rebeldia,
dentro de certos limites, é saudável, pois prepara o jovem para pensar e
agir por conta própria, usando a razão e desenvolvendo o discernimento. Um
período de transição semelhante também ocorre com o devoto que começa e
sentir-se insatisfeito com a vida emocionalmente protegida dentro de sua
religião. Ele começa a se rebelar contra a doutrina estabelecida e a obediência
às regras e à autoridade religiosa constituída. Esse período é
extremamente penoso e eivado de contradições, mas é essencial para a
entrada na próxima etapa do Caminho. É caracterizado por uma insatisfação
essencial que leva à busca da verdade.
7.
A etapa intermediária do Caminho, que chamamos de vida espiritual, eqüivale
à vida do adulto. Nela o buscador deve assumir a responsabilidade por sua
vida e procurar viver de acordo com a mais alta ética que seu discernimento
lhe dirá ser apropriada para uma vida responsável, harmônica e construtiva
dentro da família humana. O aspecto mais importante dessa fase é a constante
preocupação com o crescimento espiritual. A pessoa deverá efetuar diversas
mudanças em sua atitude e no seu comportamento, para purificar-se e chegar
cada vez mais perto da meta.
8. Ao desenvolver um ego forte, lúcido e crítico o homem maduro chegará
um dia ao último estágio do Caminho, a etapa mística. Essa etapa também
corresponde, de certa forma, ao caminho ocultista, que será descrito mais
adiante. O místico é o buscador espiritual que, tendo feito tudo o que podia
para a sua autotransformação, reconhece que os esforços do ego não são
suficientes para alcançar a meta suprema, o que só pode ser feito com a
ajuda do Alto. A Graça Divina não pode ser forçada, mas o terreno para que
ela seja concedida pode e deve ser devidamente preparado por uma vida de
purificação, meditação e serviço. O místico procura subordinar seu ego
desenvolvido para fazer a vontade de Deus e não mais a sua.
9. No Caminho ocorre um drástico afunilamento de uma etapa para a outra,
como havia sido indicado por Jesus quando disse "muitos
são chamados, mas poucos escolhidos" (Mt 22:14) e também que ?escolherei
dentre vós, um entre mil e dois entre dez mil" (Evangelho de Tomé,
versículo 23).[2]
Portanto, não é de se estranhar que as instruções esotéricas de Jesus
fossem dirigidas "aos poucos", enquanto seu ministério público era
voltado para "os muitos." Da mesma forma, entre os milhares de buscadores
que se dedicam à vida espiritual, são poucos os que alcançam as realizações
místicas avançadas associadas ao Reino dos Céus.
10.
O ministério de Jesus cobriu as três etapas do Caminho. O ensinamento
aberto ao povo, mais tarde acrescido das doutrinas e dogmas estabelecidos pela
Igreja, visava atender a primeira etapa de desenvolvimento do homem. Seus
ensinamentos esotéricos, velados nas parábolas e ministrados diretamente a
seus discípulos, tinham por objetivo guiar o homem ao longo da segunda etapa
de busca espiritual. Seu método de ensino, incluindo a crítica à sabedoria
convencional, ou seja, à religião ortodoxa dos judeus de sua época (que será
examinado, em especial, nos capítulos 4 e 10), visava estimular a razão, o
discernimento e o senso de responsabilidade do homem em busca do Reino. Esses
ensinamentos e, principalmente, os mistérios, ou sacramentos, que Jesus
ministrava aos poucos que estavam preparados para eles, visavam levar o homem
à última etapa, à vida unitiva do caminho místico. Nessa etapa o homem
aprende que deve morrer para o mundo para alcançar o Reino, ou seja,
entregar-se inteiramente a Deus para alcançar a Salvação.
Observamos
que o Caminho, como tudo na vida, apresenta uma periódica alternância de
ciclos. Na primeira etapa a criança tem uma atitude passiva para com a vida,
aceitando a orientação de seus superiores. O adulto, ao contrário, para ser
bem sucedido, deve assumir uma atitude ativa, buscando sua liberdade para
decidir sobre o que julga ser melhor para seus interesses. Na última etapa, o
futuro sábio deve mais uma vez retornar à passividade, aguardando com paciência,
humildade e perseverança a chegada da Graça, que trará a iluminação.
A classificação
das três etapas do Caminho como religiosa, espiritual e mística deve ser
entendida como indicativa de características básicas do comportamento e
atitude dos indivíduos. Para evitar controvérsias semânticas, deve ficar
claro que um indivíduo na etapa espiritual ou até mesmo na via mística pode
se considerar corretamente como sendo religioso, cristão ou católico. A
religião em seu sentido mais amplo deve acomodar almas em todos os estados
evolutivos, da mesma forma como o Reino do Pai, que tem muitas moradas.
Esta obra foi
dividida em sete partes. Na primeira, procuramos identificar o estado atual da
vida espiritual do cristão comum, alheio aos ensinamentos internos de Jesus,
e indicar por que o momento presente é especialmente propício para resgatar
esses ensinamentos, confirmando as palavras do Mestre de que "nada
há de oculto que não venha a ser manifesto, e nada em segredo que não venha
à luz do dia" (Mc 4:22).
A segunda
parte estabelece a definição de "tradição interna", determina as
fontes primárias e secundárias dessa tradição e as formas para termos
acesso ao seu material. A importância da interpretação do material bíblico
é ressaltada.
O significado
da meta suprema apontada por Jesus, o Reino dos Céus, é o objeto da terceira
parte. Contrastando com o conceito de "Reino" na tradição judaica e como
ele foi interpretado pelas igrejas ortodoxas, é sugerido que o Reino dos Céus
não é um lugar no tempo e no espaço, e não é atingido somente após a
morte, mas é um estado de espírito que pode e deve ser alcançado aqui e
agora. Ao contrário do que muitos crêem, só aqueles que alcançam o Reino
enquanto encarnados podem gozar da bem-aventurança celestial após a morte.
A quarta
parte é a descrição do processo de retorno à Casa do Pai, a nossa meta,
sendo a Parábola do Filho Pródigo um exemplo de como a interpretação de um
mito ou alegoria pode proporcionar a chave para o entendimento dos
ensinamentos ocultos de Jesus. Dois outros mitos cosmogônicos ainda mais
abrangentes e profundos do que aquela parábola, conhecidos como o Hino da Pérola
e o mito de Pistis Sophia, são apresentados em anexo, oferecendo assim outras
fontes para o mesmo ensinamento. Como o objetivo do trabalho não é meramente
acadêmico, as questões práticas relacionadas com o método e o instrumental
transformador legado pela nossa tradição são enfatizadas, ocupando a maior
parte do livro.
A quinta
parte aborda o método para alcançar o Reino dos Céus, que foi descrito por
Jesus como a porta estreita e o caminho apertado. Em sua essência, o método
poderia ser resumido no que a ortodoxia chamou de "arrependimento", mas
que no original grego era metanoia,
que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos estados
mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos
condicionamentos e da ignorância anterior. Esse conceito é basicamente
psicológico e oferece um paralelo com o enfoque da tradição budista de
transformação da mente. Ainda nesta parte são abordados os primeiros passos
no caminho espiritual, incluindo o despertar para a realidade última da vida,
a eterna busca da felicidade e o papel da aspiração ardente. Finalmente, são
examinadas as regras do caminho espiritual, a fundação da verdadeira fé.
Dentre essas regras são discutidas a unidade de todas as coisas, a natureza cíclica
da manifestação, o objetivo do processo de manifestação, o papel do livre
arbítrio e da lei de causa e efeito e a importância do conhecimento de si
mesmo.
O
instrumental transformador de nossa tradição é tão rico e efetivo como o
das tradições orientais. Esse instrumental, que constitui verdadeiramente as
chaves do Reino dos Céus, é examinado na sexta parte. Assim como a Bíblia
nos fala dos doze apóstolos de Jesus, a tradição interna legou-nos doze
instrumentos transformadores. Os seis primeiros servem como fundação para o
processo transformador, promovendo o que os místicos chamam de via negativa ou purgativa e os cristãos primitivos de kenosis,
ou esvaziamento que prepara a alma para receber a Graça suprema do Espírito.
Esses seis primeiros instrumentos fundamentais são a fé, o amor a Deus, a
vontade, a purificação, a renúncia e o discernimento. Os outros seis
instrumentos são de natureza mais operativa. São eles: estudo, oração e
meditação, lembrança de Deus, atenção, rituais e sacramentos e,
finalmente, a prática das virtudes.
Na
sétima e última parte destaca-se a integração entre a natureza superior e
a inferior do homem que, semelhantemente ao processo de individuação
descrito por Jung, é necessária para que ocorra o verdadeiro crescimento
espiritual. Verifica-se que o amor e a verdade são os elementos integradores
mais importantes no processo. De interesse especial para o devoto são os indícios
de que a transformação está ocorrendo e está levando-o progressivamente à
união com o Supremo Bem, a meta de todo esforço. Um fato de especial
interesse para o devoto é que a vida do Cristo, pode ser vista como uma
alegoria do caminho acelerado, em que os marcos de seu nascimento, batismo,
transfiguração, morte e ressurreição e, finalmente, a ascensão
representam as cinco grandes iniciações.
Com o objetivo de tornar este livro o mais prático possível para o buscador determinado a entrar pela Porta Estreita e trilhar o Caminho Apertado, reunimos no Anexo 1 algumas práticas e exercícios espirituais, decorrência natural dos instrumentos transformadores examinados ao longo do texto. Um glossário também é apresentado, numa tentativa de facilitar o entendimento da terminologia cristã e esotérica, bem como uma bibliografia.
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