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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
13
O
INSTRUMENTAL TRANSFORMADOR NA TRADIÇÃO CRISTÃ
O cristão devoto, desejoso de seguir os passos do Mestre, defronta-se com uma
barreira quase intransponível de desinformação a respeito do instrumental
transformador disponível em nossa tradição. Os ensinamentos da igreja, ao
longo dos séculos, não foram de muito ajuda para seus fiéis. Ao contrário,
as instruções e normas eclesiásticas dificultaram o trabalho dos buscadores
leigos que não tinham o amparo da literatura e da tradição das ordens
religiosas, principalmente das monásticas.
A orientação
tradicional normalmente dada aos leigos era ter fé nos dogmas da igreja, ir
à missa todos os domingos e dias santos, confessar, comungar, rezar, não
pecar e, uma vez feito tudo isto, ter mais fé ainda na Graça de Deus para
que pudessem receber a devida recompensa na outra vida, no paraíso. A
necessidade de autotransformação não era enfatizada. O estudo não era
incentivado. Na verdade, por muitos séculos a igreja romana proibiu aos
leigos a leitura da Bíblia e preconizou que o estudo de outros livros, que não
aqueles poucos publicados com sua permissão, era extremamente perigoso e
podia desencaminhar a alma, levando-a para o inferno.[1]
As práticas espirituais complementares abertas aos leigos tendiam a promover a devoção e não a razão e o entendimento, como as ladainhas, procissões e romarias. Os protestantes, pela natureza mesma de sua origem como movimento de protesto contra os abusos e distorções da igreja romana, sempre deram mais atenção à vida espiritual do que seus irmãos católicos. Contrastando com a proibição de leitura da Bíblia imposta por Roma, os protestantes consideravam a leitura das escrituras sagradas um dever de todo cristão. Uma conseqüência dessa orientação é que os povos protestantes sempre mostraram índices de alfabetização e de instrução mais altos do que os católicos.
Talvez uma
das razões por que a orientação do clero aos fieis seja tão tímida e
limitada no Caminho da Perfeição deva-se à ênfase dada em sua doutrina ao
aspecto transcendente da Divindade. Visto sob esse prisma, Deus estaria no
alto dos céus, além do alcance dos homens, e para chegar até Ele precisaríamos
da intermediação da santa madre igreja com todos os seus santos. Daí o caráter
extremamente devocional e passivo da tradição ortodoxa: o homem deve
entregar a sua sorte a Deus, colocando-se neste mundo aos cuidados da igreja.
Contrastando
com a posição ortodoxa, o buscador da verdade deve estar cada vez mais
consciente do aspecto imanente de Deus, pois Ele está sempre em nosso coração
?pois é Deus quem opera em vós o
querer e o operar, segundo a sua vontade? (Fl 2:13). Na verdade, somos
uma emanação Dele, e não estamos separados do Pai em nenhum momento. A
impressão de separação, a grande ilusão, é inteiramente devida a nossa
consciência ainda imperfeita e dualista. O processo de metanoia
visa transformar os nossos conteúdos mentais para que nossa percepção possa
se estender até aqueles planos interiores onde podemos alcançar a consciência
da Unidade, sabendo, então, por experiência pessoal, e não por elucubrações
intelectivas, que somos unos com Deus.
Em que pese a
pouca eficácia transformadora do instrumental ortodoxo, da forma como é
geralmente apresentado pelo clero, deve ficar claro que, em sua origem, este
instrumental era embasado nos ensinamentos do Mestre e na prática de seus
seguidores. Com o tempo e diante da nova orientação dada pela hierarquia
clerical à vida religiosa dos cristãos, esses métodos foram sendo
deturpados e tirados do contexto em que deveriam ser praticados. O resultado
é conhecido: as verdadeiras práticas foram sendo esquecidas, e as utilizadas
tornaram-se de pouca ajuda para a transformação interior.
Procuraremos,
a seguir, oferecer algumas considerações visando resgatar as práticas da
igreja primitiva, colocando-as numa linguagem mais acessível ao leitor
moderno. Essas práticas, porém, deveriam ser adotadas dentro do contexto em
que foram originalmente concebidas e ser utilizadas como um todo, pois que
formam um conjunto orgânico em que cada elemento serve de suporte e reforço
aos outros, levando, assim, o praticante aos objetivos desejados.
Antes de
examinarmos as práticas transformadoras da tradição interna, é indispensável
ter bem claro que a premissa fundamental dessas práticas é derivada de um
ponto central de nossa fé cristã, qual seja, que o homem foi criado à
imagem e semelhança de Deus. Dessa premissa, surge o corolário bastante
negligenciado, apesar de óbvio, de que o homem também é um criador. Ao
longo de nossas existências criamos o mundo exterior, o ambiente em que
vivemos, pela força de nossas ações e pensamentos, conscientes e
inconscientes. Infelizmente, em nossa ignorância e movidos pelo egoísmo,
criamos principalmente de forma negativa, haja vista a desarmonia, os
problemas e sofrimentos que nos perseguem como conseqüência de nossa
atividade criadora insensata.
As chaves do
Reino legadas por Jesus permitem reverter esse processo de criação negativa
e estabelecer uma rotina consciente e inteligente de criação positiva. O
processo positivo inicia-se com a decisão e a determinação da personalidade
de buscar a Deus. Esse processo é acelerado quando o Cristo interior é
devidamente invocado para canalizar seu infinito poder criador para a realização
da meta final do homem, a perfeição.
Após extenso
estudo da literatura disponível, da vida dos místicos e de ingente busca
interior em meditação concluímos que são doze as chaves do Reino. Essa
conclusão parece ser corroborada por alguns indícios internos. O número
doze tem o significado esotérico de completude, de totalidade. Os doze meses
do ano, os doze signos do zodíaco, as doze horas do dia e da noite, por
exemplo, apresentam a idéia de completude. No cristianismo primitivo esse número
ocorre em diferentes contextos. Assim, simbolicamente, Jesus teria tido doze
apóstolos, uma extensão do simbolismo judaico das doze tribos de Israel. Em
Pistis Sophia, encontramos doze pares de emanações em quase todos os planos,
assim como doze pares de Mistérios. Não seria de estranhar, portanto, que o
método transformador de nossa tradição seja baseado em doze instrumentos.
OS
INSTRUMENTOS TRANSFORMADORES |
|
Facilitadores |
Operativos |
Fé |
Estudo |
Amor a Deus |
Oração e Meditação |
Vontade |
Lembrança de Deus |
Purificação |
Atenção |
Renúncia |
Rituais e Sacramentos |
Discernimento |
Prática das Virtudes |
Os
instrumentos transformadores da tradição cristã podem ser agregados em dois
conjuntos de seis. Chamamos os seis primeiros instrumentos de facilitadores e
os outros seis de operativos. Verificamos também que os dois grupos expressam
as duas etapas que os místicos da idade média chamavam de via negativa e via positiva
já mencionadas anteriormente. Os
instrumentos facilitadores abrem o caminho, promovendo a purificação dos veículos
do homem e o estabelecimento de uma vibração conducente à vida espiritual.
Os instrumentos operativos, como o nome indica, estão voltados para a promoção
da transformação propriamente dita.
Vistos sob
esse prisma, o primeiro grupo de instrumentos facilitaria a promoção daquilo
que os antigos gregos chamavam de kenosis,
o esvaziamento da personalidade das coisas do mundo, para que o segundo grupo
pudesse favorecer o preenchimento da alma com a luz divina. Os dois grupos de
instrumentos parecem trabalhar em uníssono para efetuar a mudança do homem
velho no homem novo que Paulo preconizava:
?Como
é a verdade em Jesus, nele fostes ensinados a remover o vosso modo de vida
anterior - o homem velho, que se corrompe ao sabor das concupiscências
enganosas - e a renovar-vos pela transformação espiritual da vossa mente, e
revestir-vos do Homem Novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da
verdade? (Ef 4:21-24).
Posto que o
ser humano é um conjunto de princípios integrados, os instrumentos
transformadores devem ser operados de forma orgânica, pois estão intimamente
relacionados. Todo progresso na prática de qualquer dos instrumentos se fará
sentir na prática dos outros, porém, um mínimo de proficiência em cada um
é necessária para que não ocorram distorções ou estrangulamentos no
processo de transformação do buscador.
Parece haver
um certo ritmo na utilização dos instrumentos dos dois grupos. O uso do
primeiro estabelece a tônica, que é desenvolvida no do segundo, consolidada
na utilização dos dois seguintes, aprofundada pelo quinto e, finalmente,
temperada ou harmonizada pelo uso do último. Buscando um paralelo em nossa
vida quotidiana, verificamos que eles se parecem com os principais sistemas de
um carro. O primeiro é o motor de partida, o segundo o acelerador, o terceiro
a direção, o quarto os sistemas estabilizadores, o quinto o sistema de injeção
turbo ou a tração nas quatro rodas e, finalmente, o sexto, o freio.
Quanto aos
instrumentos facilitadores: o fundamento da vida espiritual é a fé, comparável
ao motor de partida do nosso veículo hipotético; o amor a Deus acelera nossa
viagem espiritual; a vontade nos mantém firmes na direção certa; a purificação
é o sistema que refrigera o motor da alma e estabiliza a marcha de nosso veículo,
suavizando os percalços da estrada; a renúncia das coisas do mundo, alivia o
peso do carro, eqüivalendo a uma nova injeção de combustível no motor, o
que permite maior progresso; finalmente, o discernimento é o freio necessário
para que o buscador não derrape nas curvas de uma ascese excessiva nem de uma
aceleração do fanatismo, que pode comprometer a segurança do motorista (a
alma) e dos transeuntes que compartilham a estrada da vida conosco.
O buscador
está pronto agora para enfrentar uma nova etapa do caminho para subir pela
estrada íngreme e acidentada que leva ao topo da montanha. Usando mais uma
vez o paralelo sugerido do carro, desta vez com os instrumentos operativos,
verificamos que o estudo constitui o motor de partida. Com a oração e a
meditação começa a lenta aceleração da expansão de consciência. Como a
estrada é estreita e tortuosa, conhecida por muitos como o ?caminho do fio
da navalha,? a lembrança de Deus é a direção que permite manobrar pelos
percalços do caminho mantendo sempre rumo ao alto. Nessa estrada o veículo não
pode falhar, portanto os sistemas auxiliares devem ser confiáveis, o que
demanda a constante auto-observação. Como a estrada vai se tornando cada vez
mais íngreme, a ascensão nas últimas etapas só pode ser feita com tração
auxiliar nas quatro rodas, propiciada pelos rituais e sacramentos. O sistema
de frenagem é especialmente crítico nesse trajeto; a euforia do progresso
nas alturas desenvolve seguidamente o orgulho e a ambição, que só podem ser
neutralizados pela prática constante das virtudes.
Essa
interdependência ficará mais clara quando examinarmos cada instrumento em
particular. Ela já era conhecida dos antigos padres da Igreja. Máximo, o
Confessor, escreveu:
?O
prêmio do autocontrole é o desapego e o da fé, o conhecimento. O desapego dá
origem ao discernimento e o conhecimento dá origem ao amor a Deus. A mente
que teve sucesso na vida ativa avança na prudência, a que teve na vida
contemplativa, em conhecimento.?[2]
Existe uma correlação entre os seis instrumentos facilitadores e os seis
operadores. Sem exaurir o assunto, poderíamos dizer que o estudo confirma a fé;
a oração leva ao conhecimento de Deus que alimenta o amor a Deus; a
determinação facilita a lembrança de Deus; o exercício da auto-observação
facilita a purificação; a morte para o mundo, que é a renúncia,
possibilita o renascimento através dos mistérios (rituais e sacramentos); e
a identificação do real, que é o discernimento, leva à manifestação do
divino no homem, que é a prática das virtudes.
Apesar da lógica
seqüencial dos instrumentos nos dois grupos, eles podem e devem ser
utilizados todos ao mesmo tempo. Em cada etapa da vida espiritual do buscador,
um ou mais desses instrumentos terá maior importância. No início da busca
espiritual, os instrumentos facilitadores devem ser enfatizados, com vista a
adequar a personalidade, pela purificação, à nova vibração mais elevada
da alma. Essa é a via negativa dos
místicos, em que é efetuada a purgação de tudo o que é grosseiro e
mundano e que impede a sintonização da alma com o Divino. O equilíbrio é a
meta que só pode ser alcançada quando as distorções são superadas, já
que essas criam obstáculos ao progresso, daí o desenvolvimento do
discernimento ser tão importante na primeira etapa, e a prática das
virtudes, na etapa mais avançada.
A necessidade
de interação operacional dos instrumentos será inevitavelmente sentida com
o tempo. No início, é especialmente importante o esforço da personalidade
no sentido de trabalhar os defeitos ou falhas de caráter. Com o passar do
tempo, o indivíduo se dá conta que atinge um patamar de realização. Para
progredir além desse ponto precisará de auxílio. E essa ajuda só poderá
ser obtida da fonte de sua força, que é o Deus interior, o Cristo que
aguarda por milênios, no âmago de nosso ser, que o invoquemos para que possa
vir em auxílio da alma sofredora. Invocamos o Cristo interior por meio dos
instrumentos operadores. Esses, quando ativados harmonicamente, proporcionarão
vislumbres de consciência por intermédio dos quais a alma perceberá a Luz
que transforma e salva a todos que a alcançam.
A utilização apropriada do instrumental transformador visa levar o buscador a última etapa do caminho, a via mística. Com o tempo e a prática, o buscador se sentirá cada vez mais próximo da Presença Divina, até o momento em que tiver seus primeiros contatos interiores. Quando isso ocorre o progresso passa a ser consideravelmente mais rápido, pois o indivíduo não estará mais sozinho em sua batalha diária, mas será assistido pelo Mestre interior, na medida em que pedir essa graça fervorosamente em suas orações.
[1] Um exemplo claro desta atitude pode ser visto em Imitação de Cristo, o manual de vida espiritual mais importante da igreja romana nos últimos cinco séculos: ?Melhor, sem dúvida, é o camponês humilde que serve a Deus que o filósofo orgulhoso, o qual, de si mesmo esquecido, considera o curso dos astros. Abstém-te do desejo desordenado de saber, pela muita distração e ilusão que dele advêm. Muitas coisas há cujo conhecimento pouco ou nada aproveita à alma.? Op.cit., pg. 14-15.
[2] Philokalia, op.cit., vol. I, pg. 25-6.
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