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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
15
AMOR
A DEUS
O amor é a
energia cósmica mais atuante na vida do ser humano. Os grandes feitos heróicos
decantados pela história são sempre casos de amor, seja à pátria, à
esposa, ao filho em perigo, a idéias, ideologias ou causas. Existem, também,
muitos casos de heroísmo anônimo, como por exemplo, de mães e pais que se
sacrificam por seus filhos ao longo de meses ou anos de dedicação e
sofrimento. É sabido que muitas pessoas mudam inteiramente sua vida devido a
uma paixão que tudo consome.
É essa força
do amor (que também se manifesta como eros, ou atração, como dizia Freud)
que transforma radicalmente a vida dos místicos. Os místicos, tendo
renunciado ao mundo e voltado de forma unidirecionada toda a força de seu ser
para o alto, consomem nas chamas do amor todas as barreiras e impedimentos
para a união com o Bem-Amado. Suas vidas exemplares comprovam que o amor a
Deus é um dos instrumentos mais cruciais no Caminho da Perfeição.
Ainda que no
cristianismo e em outras tradições religiosas e místicas o amor seja
apontado como a maior virtude divina, nem sempre nos damos conta de que é
também a lei fundamental do universo e do ser. O amor é a energia que
garante o sucesso da manifestação em seu curso de retorno da diversidade
para a unidade. Apesar da inércia da matéria, dos pares de opostos e dos
diferentes níveis da manifestação parecerem conspirar a favor da manutenção
da separatividade, o amor supera todas as barreiras e trabalha inexoravelmente
para a união da essência por trás de todas as formas e em todos os níveis.
O amor é, então, a força que promove a atração de todas as partes que se
encontram aparentemente separadas.[1]
Num sentido
mais abstrato e abrangente, a lei do amor poderia ser vista como a lei
universal da atração.[2]
Essa lei se manifesta em diferentes níveis e contextos abrangendo até mesmo
a coesão atômica, a afinidade química, o magnetismo, o sexo, a radiação,
a gravidade e a gravitação cósmica. Vários desses aspectos de atração
atuam nos seres humanos. Por exemplo, o fototropismo típico das plantas
ocorre também com os homens, numa volta mais alta da espiral evolutiva, no
sentido da orientação do homem em direção à luz espiritual.
Todo ser
humano que passa por uma experiência mística, por um profundo samadhi[3]
meditativo ou por uma experiência próxima à morte (EPM) sabe, por sua
própria vivência, que o amor de Deus pelos homens é incondicional e total,
e que todos aqueles que o experimentam, ao sentirem-se unos com o Todo, passam
a expressar em suas vidas esse profundo sentimento. Nas palavras de uma pessoa
que passou por uma EPM:
?Enquanto
eu estava lá em cima era como se eu estivesse num mundo dourado, num incrível
mundo dourado, pleno da luz de Cristo. Senti que eu fazia parte daquilo tudo,
que era uma parte do todo, que aquele era o meu lugar, que aquilo era a
verdade. E havia todos esses seres, anjos, seres angélicos, luminosos, e esse
sentimento de amor total.?[4]
Não
é de se estranhar que, ao ser perguntado qual era o maior mandamento, Jesus
tenha respondido:
?Amarás
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante
a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos
dependem toda a Lei e os profetas? (Mt 22:37-40).
O amor é o
mais abrangente de todos os mandamentos, pois, como Deus é o Todo, devemos
amar todas as coisas visíveis e invisíveis, já que tudo o que existe é uma
expressão de Deus. A menção de um segundo mandamento, o de amar ao próximo,
é, de certa forma, redundante, pois Deus se manifesta também em cada ser
humano, estando essa recomendação implícita no primeiro mandamento e
vice-versa. Como esse mandamento nem sempre é devidamente compreendido, acaba
tendo pouco impacto na vida do cristão comum.
Amar o próximo
não significa necessariamente gostar dele. A expressão sentimental do amor
tende a obscurecer o verdadeiro amor, porque o que gostamos hoje podemos odiar
amanhã. O amor ao próximo é o eixo central de toda a ética espiritual,
pois significa a identificação com o outro, significa a compaixão pela dor
do próximo que nos leva a uma atitude de boa vontade e cooperação, mesmo
para com aqueles que não gostamos. Lembramos, nesse sentido, as palavras de
Leonardo Boff: ?O amor incondicional
possui características maternas, tem compaixão por quem fracassou. Recolhe o
que se perdeu. E tem misericórdia por quem pecou. Nem o inimigo é deixado de
fora. Tudo é inserido, abraçado e amado desinteressadamente.?[5]
O sentimentalismo pode até ser prejudicial à compaixão, pois pode tornar
nossa identificação com o sofrimento alheio intolerável e, portanto, impossível
de ser transformada em ação de ajuda. O sentimentalismo advém da identificação
do ego como sendo o outro. O verdadeiro amor identifica o Eu Superior como
sendo o próximo. Portanto, enquanto não nos libertarmos em boa medida da
prisão de nosso próprio ego, teremos dificuldade para identificar-nos com a
natureza superior de nosso próximo. É por isso que Jesus acrescenta
sabiamente ao final da declaração a condição de amar ?como
a ti mesmo.?[6]
Podemos
concluir que para desenvolver a verdadeira compaixão devemos, em primeiro
lugar, aprender a nos identificar com nosso verdadeiro ser, o Eu Superior,
para então identificarmo-nos com o verdadeiro ser de nosso próximo, em vez
de cairmos na armadilha do sentimentalismo inoperante e muitas vezes
contraproducente. É por isso que a motivação central do budismo filosófico
é a grande compaixão, conhecida no jargão budista como bhodichitta, ou seja, o compromisso de buscar a iluminação o mais
rapidamente possível para capacitar-nos a ajudar verdadeiramente a todos os
seres.
Em muitas
outras passagens da Bíblia, somos instados a amar-nos uns aos outros (Jo
15:17), a amar-nos como Jesus nos amou (Jo 13:34 e 15:12) e, até mesmo a
amarmos nossos inimigos (Mt 5:44). O amor é, assim, um dos fatores
fundamentais do ensinamento de Jesus, o que era reforçado pelo exemplo do
Mestre, que aparece nos relatos canônicos e apócrifos como um ser
profundamente amoroso que nos convida a seguir seus passos.
Amar
realmente nossos inimigos é sem dúvida um dos mais duros testes de nosso
compromisso espiritual. Essa prática é especialmente difícil porque
geralmente nos volvemos para o ego de nosso desafeto e não para sua natureza
divina. Para amarmos nossos inimigos devemos manter fora de nossa esfera
emocional todas as negatividades da natureza inferior, como o ressentimento, a
amargura, a tendência à discussão, o ciúme, o rancor e a vingança.[7]
Nesse sentido, Buda ensinou: ?O ódio
jamais é vencido pelo ódio. O ódio só se extingue com o amor; esta é uma
verdade eterna.?[8]
Jesus nos
ensina que a expressão de amor que Deus mais quer dos homens nem sempre é
aquela que os homens procuram demonstrar. Por isso ele disse: ?Quem tem meus mandamentos e os observa é que me ama; e quem me ama será
amado por meu Pai? (Jo 14:21). Se interpretarmos a palavra
?mandamentos? como ?ensinamentos? teremos aqui a essência da tradição
interna: seguir os ensinamentos de Jesus como a mais perfeita expressão de
amor a Deus.
No sentido
mais amplo, o amor é a energia que está constantemente atuando para unir o
que se apresenta aparentemente separado na manifestação. Sabemos que os pólos
masculino e feminino estão sujeitos a força de eros, a força da atração
entre os sexos. Mas existe uma polaridade ainda mais fundamental de atração,
que antecede o aparecimento da diferença sexual no mundo, a polaridade entre
Espírito e matéria.
O amor do
superior pelo inferior é o amor de Deus pelo homem e por toda a manifestação.
Se por um instante sequer o amor divino fosse retirado ou suspenso, todo o
universo entraria em colapso e deixaria de existir. Porém, o amor do inferior
pelo superior é seguidamente suspenso ou, o que é pior, é renegado
consciente ou inconscientemente. Mas nem por isso Deus deixa de amar seus
filhos. Para que o ser humano possa alcançar o Reino dos Céus, que é a
consciência da Unidade com o Todo e com todos, a força do amor tem que ser
ativada ao máximo. Ela pode chegar a ser uma aspiração ardente a tal ponto
que se torna um fator não só necessário como suficiente para se alcançar o
Reino, como foi visto anteriormente.
Para alguns
temperamentos é mais fácil expressar o amor a Deus e aos outros seres. As
pessoas amorosas ou devotas têm mais facilidade para crescer espiritualmente
pelo amor a Deus. Esse é o elemento facilitador dos grandes místicos, os
insaciáveis devotos que colocam toda sua vida à disposição do Bem-Amado.
Para outros temperamentos, o amor a Deus pode ser cultivado pela busca
incessante do conhecimento de Deus, através do estudo, da meditação e da
lembrança de Deus.
[9]
Como nem todos podem sentir em seu coração o amor ao Todo, a alternativa é
começar com o amor a certos aspectos desse Todo. Por exemplo, o verdadeiro
amor altruísta para com os seres humanos ou mesmo para com os animais e a
natureza é também um caminho seguro para expressarmos o amor a Deus.
Outras formas
de expressão de amor também oferecem caminhos válidos e seguros, como o
amor ao belo, à verdade e à justiça. Assim, os artistas que se dedicam
sinceramente à expressão do belo, sem outra motivação a não ser a satisfação
do anseio por expressá-lo, estarão também manifestando seu amor a Deus, que
é a suprema beleza e harmonia. O amor à verdade e à justiça pode ser tanto
um instrumento do processo de transformação do homem como uma conseqüência
da operação desse processo. Como Deus é Verdade, quem não ama a verdade não
pode amar a Deus; o mesmo acontece quanto à justiça. Portanto, todo aquele
que tem como meta a sua eventual união com Deus deve assumir um compromisso
inabalável com a verdade e a justiça, agindo em todas as circunstâncias
como arauto e defensor dessas virtudes capitais. É por isso que Jesus
fustigava aqueles que adotavam posturas falsas ou mesmo dúbias, como na célebre
passagem em que o Mestre deplorava a atitude de hipocrisia dos guardiões da
Lei, válida em sua época como no presente:
?Ai
de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus
diante dos homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que
querem fazê-lo!? (Mt 23:13).[10]
O compromisso
com a verdade em todas as circunstâncias seria suficiente para revolucionar a
vida do homem comum tão envolvido com a mentira e a falsidade. A crença de
que os fins justificam os meios, não tem lugar na verdadeira vida espiritual.
Os fins só justificam os meios para as pessoas mundanas, cujo compromisso é
com o sucesso nas coisas do mundo material. Na vida espiritual, pela operação
inexorável da lei de causa e efeito, os meios determinam os fins. Esse
truísmo foi negligenciado pela Igreja Católica ao longo de sua história,
com suas campanhas de perseguição aos hereges, culminando com as atrocidades
sistemáticas da inquisição, que chegava ao cúmulo de torturar e matar em
nome de Deus. Assim, quem procura ser verdadeiro nas ações, palavras e
pensamentos entra em sintonia com a Verdade, que é Deus. Por outro lado, quem
se utiliza de meios errados jamais atingirá objetivos verdadeiros.
Ser
verdadeiro na ação significa agir sem o fingimento e a falsidade que
caracterizam a vida do homem moderno, que sobrevaloriza as aparências. Ser
verdadeiro significa também simplicidade e equanimidade, é dispensar o mesmo
tratamento gentil e cordato a todas as pessoas, sejam importantes ou humildes.
Ser verdadeiro no falar significa não mentir, mas também ser exato e não
exagerar. Como não podemos estar certos da veracidade da maioria das estórias
que se falam sobre as outras pessoas, é preferível não falar da vida
alheia, para evitar a possibilidade de disseminarmos uma possível inverdade.
Além disso, é mais compassivo não expormos as fraquezas dos outros, da
mesma forma como não gostaríamos que falassem das nossas imperfeições. Na
realidade, a nossa fala reflete o estado do nosso coração, como disse Jesus:
?A boca fala daquilo de que o coração
está cheio? (Mt 12:34).
Ser
verdadeiro no pensamento é ainda mais difícil, em virtude das correntes de
pensamentos falsos e superstições que estão disseminadas na atmosfera
mental. O indivíduo precisa valer-se de sua capacidade de discernimento para
ser verdadeiro no pensamento, pois a diferenciação entre o falso e o
verdadeiro na esfera mental é ainda mais difícil do que no plano das ações
e das palavras.[11]
Para aqueles
mais avançados na Senda abre-se uma outra forma de expressão do amor que
poderíamos chamar simplesmente de ?não ferir?. É o que os vedantinos e
os budistas chamam de ahimsa, ou
inofensividade. Sabendo que todos os seres sensientes são expressões de
Deus, aquele que ama a Deus entende que não pode provocar sofrimento a
nenhuma expressão material de Deus. Portanto, todos os atos que prejudicam as
outras criaturas, como matar, roubar, mentir, etc., são evitados. A prática
da inofensividade é um grande passo no caminho espiritual, mormente em nossa
sociedade competitiva, em que as pessoas não hesitam em prejudicar os outros
para alcançar seus interesses egoístas. O buscador da verdade, movido pelo
verdadeiro amor, será levado a estabelecer naturalmente seu código de ética
pautado na norma de não ferir.
O
vegetarianismo ético origina-se desse preceito de não ferir. Os verdadeiros
buscadores, movidos pela compaixão para com os animais, como demonstrada por
alguns grandes santos, como S. Francisco de Assis, não matam animais e não
comem carne para não compactuar com outros que venham a abater os nossos irmãos
menores para suprir a demanda por carne. É interessante notar que o
vegetarianismo já era previsto desde o princípio da criação como indicado
no livro de Gênese: ?Deus disse:
?Eu vos dou todas as ervas que dão semente, que estão sobre toda a superfície
da terra, e todas as árvores que dão frutos que dão semente: isso será
vosso alimento?.? (Gn 1:29).
Muitas pessoas, entre as quais me incluo, podem experimentar angústia e até desespero ao constatar que seu amor a Deus é algo formal, que existe mais da boca para fora do que no âmago de seu coração. O que podemos fazer a este respeito? Logicamente não podemos fingir, porque Deus conhece as nossas intenções, nem podemos forçar nossos sentimentos. O amor é algo que não pode ser forçado, pois é a expressão mais nobre de nossa natureza superior. As pessoas que sentem que seu amor a Deus não se conforma com a nobreza de sentimentos e a intensidade preconizada por nossa tradição cristã estão mais perto do caminho do que imaginam. Para começar, por sua honestidade interior nessa questão tão delicada estão demonstrando um considerável grau de despertar espiritual. O ponto central da questão, no entanto, é que a ilusão da separatividade distorce todas nossas percepções no mundo e nos leva, com freqüência, a imaginar Deus como fora de nós. Na verdade, Deus está no âmago de nosso ser e, portanto, toda expressão de amor que tivermos, seja por nossos pais, filhos ou esposa/o, será sempre uma expressão de amor a Deus, ainda que momentaneamente restrita a apenas algumas expressões de Deus. Com o tempo alcançaremos o amadurecimento espiritual que nos levará a perceber Deus em todas as pessoas e em todas as coisas e, assim, passaremos a expressar de forma mais consciente o amor a Deus que antes era demonstrado de forma inconsciente.
[1] Para alguns autores o amor é a síntese de todas as virtudes: ?O amor é diligente, sincero, pio, alegre e suave; é forte, sofredor, fiel, prudente, constante, varonil, sem jamais cuidar de si mesmo; pois que, desde que alguém a si mesmo se busca, cessa de amar. O amor é circunspecto, humilde e reto; não é inconstante nem leviano; não se aplica a coisas vãs; é sóbrio, casto, firme, tranqüilo e recatado em todos os sentidos.? Imitação de Cristo, op.cit., pg. 182.
[2] Vide A.A. Bailey, A Treatise on Cosmic Fire (N.Y., Lucis Publishing Co, 1962), pg. 1166-1175.
[3]
Vide Glossário ? Anexo 4.
[4]
Dentro da Luz,
op.cit., pg. 210.
[5]
Leonardo Boff, A águia e a galinha (Petrópolis: Vozes, 1998), pg. 132.
[6]
Vide também, Paul Brunton, Idéias
em Perspectiva, op.cit., pg. 82-85.
[7]
Para maior aprofundamento ver: Idéias
em Perspectiva, op.cit., pg. 87-88.
[8]
Dhammapada,
(S.P.: Pensamento, 1993), op.cit., pg. 19.
[9]
Geoffrey Hodson, O Homem e Seus Sete Temperamentos (S.P.: Pensamento).
[10]
Vide também, Mt 23:15-30; 6:2,5 e 16; 7:5; 15:7; 22:18; 23:13; Mc 7:6;
12:15; Lc 12:1,56; 13:15.
[11]
?Aquele que julga as coisas pelo que elas são e não segundo o dizer ou
pensar alheio, é verdadeiramente sábio, instruído mais por Deus que
pelos homens.? Imitação de
Cristo, op.cit., pg. 101.
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