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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
19
DISCERNIMENTO
O
desenvolvimento do discernimento é considerado como fundamental por todas as
tradições. Na tradição cristã, como mantida nos mosteiros orientais,
considera-se de suma importância o desenvolvimento do discernimento, para que
o praticante possa distinguir entre as coisas certas e erradas ou, em termos
mais esotéricos, as coisas do mundo real, que são eternas e muitas vezes
invisíveis, das coisas deste mundo, que são passageiras e ilusórias. Como
dizia Paulo: ?Não olhamos para as
coisas que se vêem, mas para as que não se vêem, pois o que se vê é
transitório, mas o que não se vê é eterno? (2 Co 4:18). Jesus,
usando linguagem parabólica, fustigou seus ouvintes pela falta de
discernimento nas coisas importantes da vida interior, em contraste com a
percepção acertada que tinham dos fatos externos: ?Hipócritas,
sabeis discernir o aspecto da terra e do céu; e por que não discernis o
tempo presente?? (Lc 12:56).
É dito em Aos
Pés do Mestre[1]
que o discernimento é a primeira qualidade que deve ser desenvolvida no
Caminho, pois será necessária a cada passo até a última etapa da iluminação.
Ainda que na teoria pareça fácil efetuar a escolha entre o certo e o errado,
na prática ela não é tão fácil, porque a mente do homem do mundo está
condicionada por toda uma vida, ou melhor, muitas vidas, voltadas para a
gratificação dos sentidos e a busca do prazer, poder e posição social.
Como a escolha é efetuada pela mente, os conteúdos mentais, principalmente
as imagens e condicionamentos do inconsciente, passam a colorir a mente como
se fossem lentes através das quais o mundo é percebido pela pessoa.
Portanto, o discernimento tem que se tornar um processo consciente comandado
pela razão, para que as escolhas não sejam automáticas, comandadas pela memória
do passado, que refletem os velhos condicionamentos, geralmente de natureza
material.[2]
A vontade própria
do corpo físico, que prefere o descanso ao trabalho, a vontade do corpo
astral, que prefere as emoções fortes das paixões em vez das vibrações
mais sutis do coração, a vontade do corpo mental concreto, que medra no
orgulho e no egoísmo, são as vozes da natureza inferior que devem ser
dominadas pela vontade da natureza superior que discerne entre o certo e o
errado e escolhe sempre o que ajuda na evolução da alma. Por isso foi dito:
?Discerni tudo e ficai com o que é
bom? (1 Ts 5:21).
A escolha
entre o real e o ilusório, ainda que inicialmente difícil, é somente a
primeira etapa do exercício do discernimento. Tão logo haja o despertar
espiritual, esses dois pólos tornam-se cada vez mais claros para o aspirante.
A nova meta do discernimento passa a ser, então, o estabelecimento de
prioridades: escolher dentre duas coisas boas a que for mais importante. Vale
mencionar a passagem bíblica em que Marta, ocupada com os afazeres da casa,
reclama com Jesus que sua irmã Maria Madalena, em vez de ajudá-la, ficava
aos pés do Mestre ouvindo atentamente suas palavras. Jesus, então, disse:
?Marta, Marta, tu te inquietas e te
agitas por muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo
uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada?
(Lc 10:41-42). Essa questão é abordada em Aos
Pés do Mestre com a linguagem singela e direta que lhe é peculiar: ?Precisas
distinguir não somente o útil do inútil, mas ainda o mais útil do menos útil.
Alimentar os pobres é uma boa obra, nobre e útil; porém, alimentar-lhes as
almas é ainda mais nobre e mais útil.?[3]
O
discernimento deve ser exercitado nas questões mais fundamentais da vida.
Para o buscador leigo, ao contrário dos monges protegidos no claustro, as práticas
espirituais oferecem algumas dificuldades iniciais. Confrontado com as justas
demandas familiares, a pressão da vida profissional no mundo moderno e os
atrativos da vida de lazer após um dia cansativo, o buscador pode ter
dificuldade em encontrar tempo e energia suficiente para as práticas
espirituais em sua rotina diária. São nessas ocasiões que devemos nos
lembrar das palavras de Jesus: ?Onde
está o teu tesouro aí estará também teu coração? (Mt 6:21). Para o
verdadeiro buscador não deve haver dúvida quanto à sua prioridade máxima.
Se ele for sincero em seus objetivos será sempre possível dedicar uma ou
duas horas por dia, ainda que distribuídas em dois ou mais períodos ao longo
do dia, para fazer aquilo que mais alegra seu coração, ou seja, aproximar-se
cada vez mais do Pai.
Por outro
lado, a verdadeira vida espiritual requer a devida atenção a nossos deveres,
sejam eles profissionais ou familiares, bem como ao cuidado de nosso corpo e
mente. Os compromissos assumidos devem ser devidamente cumpridos como parte da
vida espiritual. Porém, sempre haverá tempo para as práticas espirituais
quando houver interesse, não importa quão ocupados estejamos. Isto pode ser
facilmente verificado no caso de pessoas extremamente ocupadas que, por
exemplo, quando sofrem um ataque de coração, mudam sua rotina por recomendação
médica e passam a dedicar uma ou duas horas por dia ao cuidado da saúde.
Devemos encarar os exercícios espirituais como essenciais para a saúde de
nossa alma. Ademais, a parte mais importante dos exercícios espirituais é a intenção.
Podemos manter praticamente a mesma rotina de vida, tornando-a espiritual,
quando dedicamos tudo o que fazemos a Deus.
O objetivo último
do discernimento é colocar a natureza superior do homem no comando de seu
ser, revertendo o hábito estabelecido ao longo de centenas de encarnações
de permitir que a natureza inferior decida em função de seus interesses próprios
e venha a colher, como sói acontecer, os frutos amargos que resultam de suas
escolhas insensatas. Por isso foi dito: ?Que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber
desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe
a própria condenação? (1 Cor 11:28-29). Na etapa atual do
desenvolvimento da maior parte das pessoas que têm suas vidas ainda
governadas pela personalidade, mas que já estão desejosas de seguir o
caminho espiritual, as difíceis escolhas que se apresentam a cada passo podem
levar os indivíduos a achar que o melhor é não agir.
A indefinição
causada pela dúvida entre ação e inação só pode ser resolvida pelo
discernimento, que é recomendado desde tempos imemoriais. No capítulo quinto
do Bhagavad Gita encontramos algumas
passagens sobre a ioga da renúncia que podem ser úteis ao buscador
interessado em desenvolver seu discernimento.
?7.
Aquele que está purificado, harmonizado pela Yoga, cujo ser é o Ser de todos
os seres, embora execute a ação não é por ela afetado.
10.
Aquele que age colocando todas as ações no Eterno abandona o apego e não é
mais atingido pelo pecado, assim como o lótus não é pelas águas.
16.
Quando a ignorância é destruída pela Sabedoria do Eu, a Sabedoria, como o
Sol, resplandece revelando a Suprema Verdade.?[4]
As condições
de vida dos buscadores leigos oferecem mais incentivos para o desenvolvimento
do discernimento do que as dos monges. Os leigos no mundo moderno estão
acostumados a questionar tudo, sendo essa uma atitude favorável para
desenvolver o discernimento. As ordens monásticas, principalmente no
ocidente, exigem tradicionalmente um voto de obediência de seus membros que
deve ser cumprido à risca.[5]
O indivíduo que se acostuma a obedecer, a seguir regras tradicionais, a não
questionar, a esperar a orientação dos superiores tem naturalmente
dificuldade para pensar por conta própria e, portanto, para desenvolver o
discernimento. O hábito da obediência inquestionável pode levar a sérias
implicações, tanto para o indivíduo que se submete ao domínio de outros,
como para a sociedade, que acaba arcando com as conseqüências do
comportamento de robôs humanos. O discernimento é a grande válvula de
segurança da sociedade moderna no processo de busca da verdade, pois impede o
domínio de uma mente sobre outra, evitando assim a tirania.
Se por um
lado a obediência cega às ordens dos superiores hierárquicos é
extremamente perigosa para a vida espiritual, a obediência também pode ser
entendida de uma forma mais abrangente, como o atendimento à vontade de Deus
percebida pelo coração do buscador. É nesse sentido que místicos entendem
a obediência como importante, pois, tendo vislumbrado o Reino dos Céus,
percebido a vontade do Pai, só podem desejar de todo coração obedecer às mínimas
insinuações que lhes sejam feitas em suas visões, como ordens do sábio e
compassivo Salvador.
O
discernimento é imprescindível até mesmo nas atitudes compassivas de tolerância.
Quando somos tolerantes com os outros, não precisamos deixar que eles se
imponham a nós. Devemos avaliar as circunstâncias e prováveis conseqüências
de nossos atos para, então, decidirmos com prudência até que ponto podemos
ceder sem causar prejuízos a nós e ao próximo. Essa avaliação requer
muito discernimento. Clemente de Alexandria, o grande sábio da Igreja
Primitiva disse: ?A consciência é o
melhor guia para determinar precisamente se deve ser dito ?sim? ou ?não?.
A fundação sólida da consciência é uma vida reta juntamente com o
aprendizado apropriado,?[6]
ou seja o discernimento.
O perfeito discernimento só pode ocorrer quando o indivíduo renuncia o egoísmo e age movido pelo dever e orientado pela Sabedoria do Eu superior, buscando sempre fazer a coisa certa sem apegar-se aos resultados da ação.
[1]
Krishnamurti, Aos Pés do Mestre (S.P.: Editora Pensamento, 1987)
[2]
Talvez por isso encontramos em Imitação
de Cristo: ?Não se deve dar
crédito a qualquer palavra ou impressão; antes, com prudência e vagar,
pondere-se cada coisa, diante de Deus.? Op.cit., pg. 23.
[3]
Aos Pés do Mestre,
op.cit., pg. 21.
[4]
O Cântico do Senhor (Bhagavad
Gita), op.cit., pg.
65-70.
[5]
?Grande coisa é viver na obediência, às ordens de um superior e não
ser senhor de si.? Imitação de
Cristo, op.cit., pg. 33.
[6]
Clemente de Alexandria, Stromateis (Washington, D.C.: The Catholic University of America
Press, 1991), pg. 26.
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