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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
21
ORAÇÃO
E MEDITAÇÃO
A oração
sempre foi a base de toda a prática religiosa e a meditação, a
fundação da vida espiritual. O homem como ser reflexivo pode voltar sua
mente para explorar sua própria natureza e para comunicar-se com o que
transcende a si mesmo. Daí as práticas da oração e da meditação,
sobre as quais a literatura de nossa tradição está repleta de
referências.
Alguns
autores parecem não distinguir entre oração e meditação, usando um
só termo para abranger os dois conceitos, como Teresa de Ávila.
Poderíamos dizer, de forma simplificada, que oração é uma prática
para falar com Deus, enquanto a meditação é a prática em que
procuramos ouvir a Deus. Se adotarmos esses parâmetros, a oração é de
longe a prática mais usual das pessoas religiosas. Deve ficar claro para
todo devoto que Deus não precisa de adoração, de louvor e de ação de
graças. Ao contrário, é o homem que precisa dos benefícios associados
a essas práticas. Esse entendimento deve orientar sua vida interior e seu
relacionamento com Deus.
Teresa de
Ávila, mística de grande realização espiritual, escreveu sobre os
tipos de oração em seu clássico livro
Castelo Interior ou Moradas.[1]
Ela sugere que a mais elementar é a oração mecânica repetitiva, como
habitualmente se reza o terço entre os católicos. Geralmente, os devotos
que rezam o terço ou os Pai-Nossos e Ave-Marias impostos como
penitências por seus confessores repetem as palavras destas orações
apenas com os lábios, enquanto a mente está distante entretida em outros
assuntos mais prosaicos. Obviamente, o efeito espiritual de tal prática
é bastante reduzido. Nesse sentido Jesus nos instruiu: ?Nas
vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque
imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais
como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho
pedirdes? (Mt 6:7-8).
Por outro
lado, uma oração como o Pai Nosso, quando proferida lentamente pelo
devoto, procurando vivenciar em seu coração o significado de cada
palavra e de cada idéia, torna-se um poderoso instrumento de elevação
espiritual.[2]
O Pai Nosso, por exemplo, pode levar-nos às alturas espirituais quando
recitado em atitude meditativa.[3]
No entanto, não basta a enunciação oral ou mental das palavras da
oração. O mais importante é nossa intenção e prática de vida
relacionada com as idéias contidas na oração. A paráfrase anônima a
seguir exemplifica esse conceito:
?Se em minha vida não ajo como filho de Deus, fechando meu coração ao
amor.
Será
inútil dizer: PAI NOSSO.
Se os meus valores são representados pelos bens da terra.
Será
inútil dizer: QUE ESTAIS NO CÉU.
Se penso apenas em ser cristão por medo, superstição e comodismo.
Será
inútil dizer: SANTIFICADO SEJA O
VOSSO NOME.
Se acho tão sedutora a vida aqui, cheia de supérfluos e futilidades.
Será
inútil dizer: VENHA A NÓS O VOSSO
REINO.
Se no fundo o que eu quero mesmo é que todos os meus desejos se realizem.
Será
inútil dizer: SEJA FEITA A VOSSA
VONTADE.
Se prefiro acumular riquezas, desprezando meus irmãos que passam fome.
Será
inútil dizer: O PÃO NOSSO DE CADA
DIA NOS DAI HOJE.
Se não me importo em ferir, injustiçar, oprimir e magoar aos que
atravessam o meu caminho.
Será
inútil dizer: PERDOAI AS NOSSAS
OFENSAS, ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO.
Se escolho sempre o caminho mais fácil, que nem sempre é o caminho do
Cristo.
Será
inútil dizer: E NÃO NOS DEIXEIS
CAIR EM TENTAÇÃO.
Se por minha vontade procuro os prazeres materiais e tudo o que é
proibido me seduz.
Será
inútil dizer: LIVRAI-NOS DO MAL...
Se sabendo que sou assim, continuo me omitindo e nada faço para me
modificar.
Será
inútil dizer: AMÉM.?
Outra
oração muito útil é aquela atribuída a São Francisco, que invoca os
mais altos ideais da vida espiritual:
?Senhor,
fazei de mim instrumento de Tua paz;
Onde
houver ódio que eu leve o amor;
Onde
houver desespero que eu leve o perdão;
Onde
houver discórdia que eu leve a união;
Onde
houver tristeza que eu leve a alegria.
Ó Mestre! Fazei que eu procure mais:
Consolar que ser consolado,
Compreender que ser compreendido,
Amar que ser amado.
Porque
é dando que se recebe,
É
perdoando que se é perdoado,
E
é morrendo que nascemos para a vida eterna!?
De acordo com
Teresa de Ávila, o próximo passo na escala espiritual é a oração
mental, o grande sustentáculo dos devotos e buscadores da verdade por boa
parte do Caminho. Nessa modalidade de oração a pessoa conversa com Deus,
abrindo seu coração para suas necessidades e anseios. É através da
oração mental que buscamos a ajuda de Deus, confiantes nas palavras de
Jesus: ?Pedi e vos será dado;
buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe;
o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá? (Mt 7:7-8). Apesar de
Deus estar no âmago de nosso ser e conhecer todas as nossas necessidades
antes mesmo que possamos enunciá-las, existe uma lei espiritual pela qual
devemos nos engajar em tudo aquilo que aspiramos, inclusive por meio da
invocação do auxílio de Deus.
O devoto
ainda centrado em sua personalidade e apegado às coisas do mundo tende a
voltar-se para Deus como a instância última de suprimento de suas
necessidades e anseios materiais e sentimentais. Quando as necessidades e
aspirações são legítimas ou altruístas e o pedido é suficientemente
fervoroso, elas poderão ser atendidas de forma tal que venhamos a
reconhecer a dádiva Divina. Muitas vezes, porém, os pedidos são
direcionados para coisas mundanas, que Deus, em sua onisciência, sabe que
não atendem aos nossos verdadeiros interesses. Nesses casos, se os
pedidos forem insistentes, poderemos conseguir o que pedimos, mas não da
forma como queríamos ou no momento que esperávamos, mas da forma e na
hora que for mais útil para o nosso aprendizado espiritual. Com
freqüência, queremos coisas que vão contra o nosso verdadeiro
interesse, por isso adverte-nos um monge católico espiritualmente maduro:
?A oração não é um meio para fazermos de Deus o escravo de nossas
ambições, mas para fazer de nós os servos de Seu amor.?[4]
Quando,
porém, pedimos aquilo que está em conformidade com a vontade de Deus,
nossos pedidos adquirem uma força inusitada, pois entramos em sintonia
com o Plano Divino. ?A oração
fervorosa do justo tem grande poder? (Tg 5:16). Por isso, devemos
pedir ajuda a Deus para conhecermos nossos defeitos e negatividades, que
são as correntes que nos aprisionam neste mundo. O passo seguinte será
pedirmos Sua ajuda para superarmos esses entraves ao nosso progresso
espiritual. Se pedimos com fervor, teremos, com certeza, a Sua ajuda, que
poderá se manifestar de muitas maneiras ou formas inusitadas, até mesmo
por meio de livros ou conferências ou de pessoas que, de forma amigável
ou não, apontam nossos defeitos ou através de sonhos simbólicos ou
inspirações durante a meditação, etc.
As palavras
de um conhecido instrutor espiritual sobre a oração são especialmente
pertinentes neste particular: ?A
prece não deve ser, como é para tantos religiosos não esclarecidos,
nada mais do que um pedido para que seja concedido algo em troca de nada,
um pedido de benefícios pessoais imerecidos e pelos quais não se
trabalhou. Ela deve ser, primeiro, uma confissão da dificuldade ou mesmo
do malogro do ego em encontrar corretamente o seu próprio caminho
através da sombria floresta da vida; segundo, uma confissão da fraqueza
ou mesmo da incapacidade do ego em enfrentar os obstáculos morais e
mentais em seu caminho; terceiro, um pedido de ajuda para o esforço do
próprio ego em busca da auto-iluminação e auto-aperfeiçoamento;
quarto, uma resolução de lutar até o fim para abandonar os desejos
inferiores e superar as emoções grosseiras que erguem tempestades de
areia entre o aspirante e seu eu mais elevado; e, quinto, uma deliberada
auto-submissão do ego, ao admitir a necessidade imperiosa de um poder
mais alto.?[5]
A verdadeira
oração, quando expressa os anseios do coração do devoto, tende a criar
uma estado místico, uma atmosfera de quietude e paz, que traz conforto e
alento à vida interior. Esse estado interior deve ser considerado como
uma bênção. Poderíamos dizer que o teste da eficácia da oração do
coração é a paz interior que ela confere. No período de oração
desligamo-nos de nossas preocupações e interesses mundanos e voltamos
nosso coração para o Alto, recebendo nutrição para a alma, o pão
espiritual de cada dia que o Supremo Consolador está sempre pronto a nos
conceder.[6]
Esse estado de paz interior deve ser compartilhado com os outros, mesmo
com aqueles que procuram nos fazer mal, como nos ensinou Jesus: ?Amai
os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem? (Mt 5:44).
O buscador
dá um passo considerável no Caminho quando introduz a meditação em sua
prática espiritual. A meditação é um processo que visa promover a
aquietação da mente, possibilitando uma progressiva penetração nas
camadas mais profundas da consciência. A prática da meditação é bem
mais simples do que as pessoas pensam. Ao invés das práticas usuais dos
iogues orientais, que podem passar horas imóveis na posição de lótus
(sentados no chão com as pernas cruzadas), nós ocidentais podemos
conseguir os mesmos estados de consciência sentados numa cadeira, com os
pés no chão e com a espinha ereta. Existem vários manuais de
meditação que podem orientar os primeiros passos daqueles que desejam
iniciar essa prática imprescindível da vida espiritual.
[7]
Dentre os
diferentes tipos de meditação, algumas podem ser consideradas como
práticas de aquietação da mente, em que o meditador procura
concentrar-se na sua respiração ou observar de forma desapegada a
passagem dos pensamentos. A prática mais comum é a meditação
analítica, também chamada de meditação ?com semente?, em que o
meditador procura concentrar seus pensamentos analíticos exclusivamente
no tema escolhido (a semente). Finalmente, a prática mais elevada é a
meditação ?sem semente?, ou meditação do ?vazio,? como dizem
os budistas, ou contemplação como é chamada na tradição cristã, em
que o meditador procura manter sua mente absolutamente serena, para que,
livre de pensamentos, ela se torne transparente e capaz de receber a pura
luz da percepção direta.
A prática
contemplativa é uma das etapas mais avançadas do relacionamento com
Deus, geralmente precedidas pela oração mental e pela meditação
discursiva. A experiência de alguns anos de meditação discursiva é
altamente desejável antes do indivíduo tentar a ?meditação sem
semente.? A prática meditativa requer um progressivo controle do corpo,
das emoções e, finalmente, dos pensamentos. Essa autodisciplina deve ser
desenvolvida gradualmente, sendo a meditação ?com semente,?
focalizada num tema determinado, o caminho natural para a etapa final, a
concentração sobre o silêncio ou sobre o vazio, que é a
contemplação.
O aspirante
espiritual, durante boa parte do caminho, faria grande proveito da
meditação analítica, usando-a para descobrir as fraquezas e apegos da
natureza inferior, que se constituem nos principais obstáculos ao seu
progresso. Só podemos progredir na medida em que identificamos nossas
fantasias e negatividades. Quando as reconhecemos, podemos, então,
reeducar nossa criança interior levando-a a crescer. Essa prática é
apresentada no Anexo 1.
Os budistas,
ao iniciarem suas práticas espirituais, costumam invocar três refúgios,
que servem como fontes de força e inspiração. Eles se refugiam no Buda,
no dharma e na sangha. O Buda simboliza a fonte da sabedoria e da compaixão; o dharma,
o conjunto de ensinamentos que leva a iluminação; e a sangha,
a comunidade de praticantes que assegura que esses ensinamentos
permaneçam disponíveis a todos os buscadores. O devoto cristão poderia
adotar uma prática semelhante, tomando refúgio em Cristo, na Gnosis e na
Comunhão dos Santos, os Filhos da Luz. Cristo é a fonte da luz interior,
a Gnosis é o conhecimento obtido pela iluminação interior e os Filhos
da Luz são os verdadeiros discípulos que se tornam portadores e
disseminadores da Luz no tempo e no espaço.
De acordo com
Teresa de Ávila, a oração mais elevada é a do silêncio. É um
processo que visa desenvolver a contemplação. É nesse estado que o
místico entra em contanto com outros planos espirituais, chegando a ter
visões que muitos interpretam como visões de Deus e, mais tarde,
alcança o coroamento de todo seu esforço, a união com Deus. A
contemplação eqüivale ao que os orientais descrevem como samadhi,
a comunhão consciencial do meditador com o objeto da meditação, que
ocorre como um transe em que a dualidade é superada, possibilitando a
percepção da Unidade.[8]
É esse último tipo de oração que Jesus nos ensinou ao dizer: ?Quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo, te recompensará? (Mt 6:6). Em outras palavras, Jesus recomenda que retiremos nossa consciência para a caverna de nosso coração, para a essência de nosso ser, fechemos as portas dos sentidos e da mente, um óbvio paralelo ao recolhimento da quinta etapa do processo de ioga de Patanjali (pratyahara), e permaneçamos em silêncio, sem palavras e pensamentos, criando as condições para que a pura luz de buddhi, a intuição, possa filtrar-se dos planos mais elevados, de onde tudo vê em segredo, atravessando nossa mente totalmente aquietada, para finalmente deixar sua impressão em nosso cérebro, registrando assim o conhecimento superior, a recompensa do Pai, em nossa consciência.
[1]
Teresa de Ávila, Castelo Interior ou Moradas (R.J.: Paulus, 1981)
[2]
O tesouro espiritual que é a Oração do Senhor parece ter sua origem
na tradição judaica. Os judeus tinham uma oração antiga conhecida
como Kadish que guarda
considerável semelhança com o Pai Nosso. De acordo com Webster, a
Oração do Senhor pode ser construída quase verbatim
do Talmud. Vide The Mystical
Christ, op.cit., pg. 135.
[3]
Vide, por exemplo, a ?Paráfrase à Oração do Senhor?, em São
Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco de Assis
(Petrópolis: Vozes, 1988), pg. 100-102 e E. Norman Pearson, O
Pai Nosso à Luz da Teosofia (S.P.: Palas Athena).
[4]
Pierre-Ives Emery, A Meditação na Escritura, em Mergulho
no Absoluto, op.cit., pg. 230.
[5]
Paul Brunton, Idéias em Perspectiva, op.cit., pg. 219.
[6] Ver: The Mystical Christ, op.cit., pg. 139-41.
[7]
Como livros introdutórios sobre meditação recomendamos: Clara M.
Codd, Meditação, sua prática
e resultados (Brasília, Editora Teosófica, 1992); Michael J.
Eastcott, O Caminho Silencioso (S.P.:
Pensamento) e Adelaide Garner, Meditação,
um estudo prático (Brasília, Editora Teosófica, 1995). O
principal e mais completo livro de meditação continua sendo os Ioga Sutras de Patanjali, que teria sido escrito entre dois mil e
quatrocentos a quatro mil anos atrás, segundo alguns autores. Existem
versões modernas, com comentários explicativos como a de I.K. Taimni,
A Ciência da Ioga
(Brasília, Editora Teosófica, 1996) e a de Rohit Mehta, Yoga.
A arte da integração (Brasília: Editora Teosófica, 1995).
[8]
Vide J. Hermógenes Andrade, A
Meditação no Hinduísmo, em Mergulho
no Absoluto, op.cit., pg. 52.
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