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OS
ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ
Capítulo
27
A
VIDA DO CRISTO COMO O CAMINHO
Primeira
iniciação: o nascimento
O primeiro
passo na senda da perfeição é o nascimento do Cristo. Ele é a luz do
mundo, que permanece dormente em todos os seres até ser despertado em nossa
consciência. Os relatos evangélicos apresentam uma riqueza de detalhes sobre
o evento. A luz do Cristo nasce sempre quando as trevas são mais profundas no
mundo, daí seu nascimento ser apresentado pela Igreja como ocorrendo em 25 de
dezembro, data do equinócio do inverno, a noite mais longa do ano no hemisfério
norte, onde ocorre o exemplo histórico. A luz do sol aparece nessa data sob o
signo de virgem.
Jesus
representa a centelha divina no homem, o Cristo. Sua mãe, Maria, simboliza a
alma espiritual, situada no plano mental superior. José, seu pai, figura como
a mente inferior. Por isso, não foi José quem gerou a criança, pois a luz
da intuição não pode ser gerada pela mente concreta. No entanto, após o
nascimento da criança divina ela passa a ser cuidada por esse pai adotivo.
Maria e José, portanto, formam um casal, a mente superior e a inferior,
sendo, nesse sentido, os pais do Cristo. O Cristo é concebido pelo Espírito
de Deus, sendo a conceição imaculada anunciada a Maria pelo mensageiro
divino, o arcanjo Gabriel, a expressão da vontade divina criativa. A anunciação
é uma experiência interior pela qual todo iniciado deve passar. Nessa ocasião,
a consciência do homem começa a desabrochar expandindo sua capacidade
intelectiva e percepção psíquica. Trata-se de um verdadeiro nascimento
dentro da alma, aludido por Paulo alegoricamente: ?meus
filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja
formado em vós? (Gl 4:19).
No plano de
Deus a harmonia está sempre presente. Toda vez que o pêndulo da vida
estende-se para um extremo, deve inevitavelmente oscilar a seguir para o
outro. Assim, depois do despontar da luz, da boa nova do nascimento divino, a
força das trevas faz-se sentir, procurando trazer a morte. Herodes, o
governante exterior, personifica as forças das trevas que combatem a luz
.[1]
No ser humano, Herodes representa a personalidade autocentrada, a força do
passado, que teme o nascimento da luz no interior do ser, pois o Cristo, a
esperança do futuro, necessariamente provocará uma revolução, ameaçando o
controle das forças da materialidade e do egoísmo que mantêm o homem
prisioneiro. Para que as forças trevosas do mal não matem o recém-nascido,
a divina família deve fugir para o Egito, terra dos mistérios e santuário
onde os iniciados eram e ainda são instruídos.
A cena do
Natal, rememorada com profunda alegria por milhões de cristãos todos os
anos, está repleta de símbolos. O estábulo, ou gruta, representa o corpo físico
que abriga em seu interior todos os membros da família divina, que são os
diferentes princípios do homem. A manjedoura, onde o Cristo menino está
reclinado, utensílio usado na alimentação dos animais, representa o corpo
vital ou etérico que preserva e distribui o prana,
ou força vital do sol, pelo corpo físico. Os carneiros e as vacas
representam as emoções. Para que o Cristo possa nascer pressupõe-se que
esses animais tenham sido domesticados, ou seja, que as emoções do candidato
à iniciação tenham sido disciplinadas e purificadas.
Os pastores
representam os irmãos mais velhos e guias da humanidade, os Mestres que
sempre comparecem às cerimônias de iniciação. Paulo refere-se a esses
guias como ?os justos que chegaram à
perfeição? (Hb 12:23). Os três reis magos, que vieram do oriente (de
onde vem a luz), simbolizam os três aspectos da divindade. Eles trazem
presentes (ouro, incenso e mirra) ao jovem iniciado, expressando os aspectos
espirituais do poder, do amor e da sabedoria. Com esses presentes a alma recém-iluminada,
ou o Cristo-criança recém-nascido, está capacitado a empreender sua missão.
Os reis magos são guiados pela estrela de Belém, o pentagrama que cintila
acima da cabeça do hierofante sempre que um rito iniciático está em
andamento.
Os evangelistas, como iniciados, conheciam claramente a linguagem sagrada e assim apresentaram um relato alegórico que preserva para todos os que têm olhos para ver a mensagem auspiciosa de que Cristo aguarda a oportunidade para nascer na consciência de todos os que aspiram alcançar o Reino dos Céus. Quando esse nascimento virginal ocorrer, a luz crística na alma do iniciado passará a derramar suas bênçãos sobre toda a natureza inferior do homem, estimulando sua capacidade intelectual, percepção e sensibilidade. A expansão de consciência conseqüente faz com que a unidade de todos os seres deixe de ser meramente um conceito intelectual para tornar-se, ainda que momentaneamente, uma profunda experiência de vida.
[1]
É interessante notar que, em hebraico, herodes quer dizer ?um
terror?, talvez derivado da palavra egípcia ?heru?, aterrorizar.
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