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O PODER TRANSFORMADOR
DO CRISTIANISMO PRIMITIVO

Raul Branco


6. OS INSTRUMENTOS EXTERIORES

 

Estudo do caminho espiritual e da vida dos místicos

Até que o homem alcance a elevada estatura espiritual em que poderá atuar conscientemente com seu princípio crístico, só disporá de sua mente e intelecto para entender o mundo e seus processos. Por isso, o estudo da experiência daqueles que já trilharam o caminho que leva à Verdade libertadora será extremamente útil tanto para inspirar-nos quanto para nos alertar para os percalços do caminho e instruir-nos sobre a importância dos diferentes meios para se alcançar essa meta.

Existem muitas obras sobre a vida espiritual que podem auxiliar o devoto. Porém, devemos ter em mente o óbvio, ou seja, que o propósito do estudo deve ser aprender o que não conhecemos, e não meramente deleitar o ego reiterando o que já estamos cansados de saber com obras de autores conhecidos de nossa linha de pensamento ou de nossa crença. A atitude de buscarmos o novo faz parte do processo de expansão de consciência e de crescimento interior. Essa atitude também produz um excelente efeito colateral, o desenvolvimento da verdadeira fraternidade e da humildade, pois vamos inevitavelmente descobrir nesses livros de autores de outras correntes que não a nossa, que o bom Deus distribui talentos e sabedoria para todos seus filhos, não importa sua religião, nacionalidade ou status. Tenho verificado isso repetidamente em minha própria experiência de estudante da vida espiritual. Um dos temas que mais toca meu coração é a vida e os ensinamentos dos místicos. Depois de ter pesquisado a vida dos místicos cristãos, estudei livros de outras tradições e tive a agradável surpresa de verificar que os místicos orientais e, em particular, os místicos sufis (maometanos) também têm muito a nos ensinar.[35]

Os místicos são os expoentes da família humana que, em todos os tempos e todas as tradições, são consumidos por uma paixão por satisfazer seus anseios pela verdade absoluta e a experiência do amor total de Deus. Para alcançar sua meta fazem, aparentemente sem esforço e de bom grado, sacrifícios que o resto da humanidade considera descomunais. O mundo místico é extremamente diferente da vida cotidiana; qualquer tentativa de entendimento dessa outra realidade requer uma preparação prévia que expanda nossa capacidade de percepção. Assim como os sentidos físicos são imprescindíveis para a percepção da realidade exterior, novas capacidades espirituais são indispensáveis para perceber-se a realidade interior.

Em todos os tempos e tradições religiosas, os leigos e até mesmo boa parte dos religiosos sempre tiveram considerável dificuldade para entender as revelações apresentadas pelos grandes místicos. As idéias dos místicos, eivadas de paradoxos, parecem, às vezes, infringir a lógica e o bom senso. A dificuldade de comunicação entre o místico e o homem comum é semelhante a de uma pessoa com visão normal tentando descrever o por de sol ou o arco-íris para um cego de nascimento. O cego, por mais imaginativo ou inteligente que seja, não pode conceber a diferença entre as cores e seus matizes. No caso da comunicação do místico com o leigo, o leigo é como um cego para aquele nível de percepção em que o místico tem suas visões.

Tomemos, por exemplo, um ensinamento em forma de poesia, do monge alemão, Ângelus Silésius:

?Se no teu centro

um Paraíso não puderes encontrar,

não existe chance alguma de,

algum dia, nele entrar.?

Como se vê, o místico só encontra força para suas realizações aparentemente sobre-humanas por ter a certeza interior de que a meta será alcançada. É como se Deus nos garantisse que quando o buscamos já o encontramos fora das limitações do tempo e do espaço. O místico Royce escreveu a esse respeito: ?Finitos como somos, ainda que pareçamos perdidos na floresta ou no descampado do deserto, neste mundo do tempo e da chance, ainda temos, como os animais perdidos ou as aves migratórias, nosso instinto de direção. Buscamos. Isso é um fato. Buscamos uma cidade ainda distante. No contraste com essa meta, vivemos. Mas nesse caso, já possuímos então algo do Ser mesmo em nossa busca finita. Pois a prontidão para buscar já é uma realização, mesmo não sendo inteiramente satisfatória.?

O misticismo pode ser visto como o processo de preenchimento da consciência com um conteúdo espiritual elevado que supera o obtido na experiência usual do dia-a-dia e que surge involuntariamente do inconsciente. O conhecimento resultante não é derivado da percepção dos sentidos, pois a vontade consciente nada tem a ver com ele, e só pode surgir por meio de inspiração do inconsciente. Os místicos, portanto, não são exclusivamente religiosos e nem sempre buscadores espirituais. Muitos místicos são encontrados entre os gênios da arte e da ciência, dentre os quais poderíamos mencionar Fidias, Rafael, Beethoven, Mozart, Goethe, Miguelangelo, Newton e Einstein.

A evolução da vida do místico, não importa a sua ?escola? ou tradição religiosa, costuma a acontecer nas seguintes etapas: (a) rompimento preliminar com o mundo dos sentidos; (b) novo nascimento e desenvolvimento da consciência espiritual em níveis elevados, também chamado na tradição cristã de ?conversão? e (c) dependência de realização da natureza divina em camadas cada vez mais íntimas e profundas da consciência.

O objetivo do místico é de se transformar de fato Naquele em cuja imagem e semelhança ele foi criado. Somente o Ser pode conhecer o Ser. Percebemos aquilo que somos e somos aquilo que percebemos. O caminho místico é a reconstrução de nosso ser: da ilusão do mundo exterior, onde nos encontramos aprisionados na teia dos sentidos, para a realidade invisível e indizível interior. Só o Real em nós pode conhecer o Real no Todo. Por isso foi dito: ?Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?? (1 Co 3:16)

Apesar da natural variedade de experiências vividas pelos místicos, classificações tentativas foram sugeridas por alguns estudiosos. Ao longo da Idade Média a classificação preferida era de três estágios conhecidos como: via purgativa, via iluminativa e via unitiva. Teresa de Ávila, em sua obra Castelo Interior ou Moradas, fala de sete estágios. Atualmente, porém, a tendência é classificar a vida dos místicos em cinco estágios.[36]

1. Despertar. O despertar para a consciência da realidade divina é geralmente abrupto e bem perceptível, sendo acompanhado de sentimentos de intensa alegria a exaltação. Em alguns místicos pode ocorrer de forma gradativa ao longo de vários anos. Para alguns místicos a pedra de toque é o amor divino que os chama para uma união inefável. Apesar do despertar ser repentino normalmente expressa a culminação de um longo período de gestação interior da alma, que se caracteriza por intranqüilidade, insatisfação e estresse mental. O despertar, também chamado de conversão, pode ser visto como um processo de descentralização.

Com o nascimento biológico o indivíduo sai de seu pequenino e confortável mundo intra-uterino, totalmente protegido, para o mundo exterior onde passará a ser controlado por instintos inatos de autopreservação e de expressão de sua natureza primitiva. Para ele o universo está organizado ao redor de sua personalidade, o centro de seu mundo. Com o crescimento, um dia virá o despertar místico. Esse significa uma reviravolta em sua consciência individual, que passa a ser orientada para um mundo maior, há uma expansão de consciência. Com freqüência essa mudança ocorre de repente e torna-se uma grande revelação. Esse é o primeiro aspecto do despertar: a pessoa emerge de um mundo menor e limitado de existência para um mundo mais amplo e mais belo.

Na maioria dos casos, o início dessa nova consciência ocorre de forma inesperada. Parece imposto de fora em vez de surgir do interior. O tipo de experiência marcante do despertar, ou conversão, depende do temperamento do futuro místico e de suas condições sociais. Existem dois caminhos básicos para a percepção da Realidade: o aspecto transcendente e o imanente, que também se expressam como o eterno e o temporal, o absoluto e o dinâmico. Eles englobam as duas formas de conhecimento de Deus que é ao mesmo tempo Ser e Vir a Ser, longe e perto. Ainda que no místico maduro ambos os aspectos sejam vivenciados, o despertar místico sempre se dá pela linha de menor resistência.

Para alguns a experiência pode ser a apreensão de um esplendor externo, uma compreensão mais ampla do universo, sem forma e inefável, que toma conta da alma, fazendo-a passar do conhecimento deste mundo para um vago ainda que verdadeiro conhecimento do outro mundo. O Deus Supremo é percebido como transcendendo este mundo ainda que imanente em todas as coisas. A nota predominante dessa experiência é a glória de um mundo transfigurado. Para outros indivíduos a pedra de toque é o amor divino, como ocorreu com Francisco de Assis, Madame Guyon, Catarina de Gênova, para citar uns poucos exemplos mais conhecidos. Nesses casos, o místico é estimulado por uma realidade interior, por Deus Imanente. Enquanto os que olham para fora percebem a revelação da Beleza Divina, os que olham para dentro são tocados pelo Amor Divino.

2. Purgação. Para que o despertar interior surta o efeito desejado de direcionar a alma para o caminho místico, o indivíduo deverá responder positivamente a essa experiência. Não basta ser um espectador da Realidade. A pessoa deve ser tomada por um ardente desejo de participar daquela vida maior que vislumbrou. Para isso deve estar disposta a embarcar numa extenuante mudança radical de vida. O primeiro passo desse longo e penoso caminho deve ser o abandono de tudo aquilo que não estiver em harmonia com a realidade superior percebida, isto é, deve renunciar a todas as ilusões, imperfeições e males de todo tipo tão naturais no viver comum. Tendo vislumbrado a beleza ou o amor de Deus, a alma entende que deve se purificar de tudo o que é contrário à natureza divina. Percebe que as virtudes são os ?ornamentos do casamento espiritual?[37] porque aquele casamento é a união com Deus, que se adorna com o Belo e com a Verdade. A alma compreende que deve ser purgada de toda impureza que a torna indigna de aproximar-se do Supremo Bem. Ela deseja ardentemente fazer isso desde o primeiro instante em que percebe o contraste entre a Luz do Bem Supremo e sua natureza mundana maculada. A história da vida dos místicos está cheia de exemplos do profundo senso de necessidade que impele a alma recém-desperta a uma vida de desconforto material, geralmente de grande pobreza e dor, e conflitos existenciais como a única maneira de substituir a ilusória experiência deste mundo pelo conhecimento verdadeiro do mundo celestial. Porém, esse esforço para efetuar a purgação é feito com grande alegria, pois seu objetivo, o retorno à presença de Deus, permanece constante em sua consciência, dando força e alento para todas suas batalhas.

Não importa se as formas de purgação são drásticas e extenuantes as atividades a que o místico é levado, ele reconhece que a destruição de seu antigo universo é uma parte essencial do grande trabalho. A fase de purgação inclui invariavelmente a autodisciplina, que não deve ser confundida com ascetismo. Esse geralmente é uma deturpação da autodisciplina, pois envolve o abuso da capacidade física com privações e autoflagelações, que reforçam, na verdade, o senso de separação do asceta. O ideal é uma atitude de simplicidade austera e saudável. O misticismo cristão passou por várias fases de ascetismo exagerado, que se iniciou com os anacoretas e cenobitas, conhecidos como padres do deserto dos primeiros séculos, e continuou ao longo da Idade Média.

3. Iluminação. Após o período de purificação, a experiência inicial de elevação espiritual retorna, porém de forma mais intensa. O místico alcança o estágio iluminativo, uma das etapas mais características da vida mística. Quando, pela purgação, a alma se desapega das coisas próprias dos sentidos físicos e adquire as virtudes que sente serem necessárias para aproximar-se do Senhor, a Graça da Luz faz-se presente de forma cada vez mais profunda e abrangente. A partir de então é como se a alma estivesse diante do Sol, alcançou a Iluminação, um estado no qual ocorrem visões e aventuras da alma que foram descritas por Teresa de Ávila e tantos outros místicos. Essas experiências parecem formar um caminho dentro do caminho místico, um modo de alcançar o objetivo final, um treinamento divino que visa fortalecer a alma e assisti-la em sua ascensão. A iluminação constitui-se o cerne do estado contemplativo e produz uma certa percepção do Absoluto, um senso da Presença Divina, mas não é ainda a verdadeira união com o Um, embora seja também um estado de grande felicidade.

O termo iluminação para essa fase é literalmente apropriado, pois nela as experiências dos místicos são quase sempre relacionadas com a luz. Essas experiências são descritas pelo profeta Isaías de forma tocante: ?Não terás mais o sol como luz do dia, nem o clarão da luz te iluminará, porque o Senhor será a tua luz para sempre, e o teu Deus será o teu esplendor. O teu sol não voltará a pôr-se, e a tua lua não minguará, porque o Senhor te servirá de luz eterna e os dias do teu luto cessarão? (Is 60:19-20).

Existem três tipos de experiências associadas com a etapa da iluminação que se repetem na vida do místico. O primeiro é o profundo contentamento que acompanha a apreensão do Absoluto, descrito por alguns como a ?prática da presença de Deus?: o místico, agora purificado, ainda se percebe como uma entidade separada de Deus; ele não está imerso em sua Origem mas a contempla. No segundo tipo, essa clareza de visão também pode ser obtida com relação ao mundo terreno: as percepções físicas apresentam-se de forma consideravelmente mais nítidas, a tal ponto que o indivíduo percebe outros significados e realidades em todas as coisas naturais. Por fim, além dessa expansão dual de consciência, há o aumento considerável da capacidade intuitiva e de percepção transcendental. Em virtude dessas expansões de consciência, o místico passa a ouvir em sua mente sons ou mesmo vozes, ocorrendo às vezes diálogos entre a consciência usual e uma inteligência interior que parece ser divina. Visões inefáveis acompanham esse processo.

Depois de todo sofrimento da etapa purgativa, o místico agora se deleita com a efusão do amor divino e com os segredos daquele poderoso universo que ele compartilha com os demais seres da natureza e com Deus. Nesse estágio, a intensidade de visão e a certeza da percepção das coisas se combinam. As visões que o vidente traz consigo quando retorna a sua consciência usual não são meramente impressões parciais, mas verdades que abarcam o mundo, a vida e a conduta dos seres vivos. Essas experiências não se restringem aos religiosos, mas são compartilhadas também por poetas, artistas, filósofos e até mesmo cientistas. Em seus momentos de êxtase, recebem revelações da verdade que nunca antes tinham conhecido. Nesse estágio muitas das conquistas da ciência, da filosofia e da religião são alcançadas pelos místicos ?iluminados? pela consciência crística. Mas o caminho místico não termina nesse ponto, ainda que poucos consigam ir além.

4. Purgação da alma. Antes de alcançar a culminação da união com Deus, o místico terá que passar por outra etapa purgativa, dessa vez de natureza interior. Terá que se purificar da própria noção de ser um eu separado. Essa é tida como a mais terrível de todas as experiências da via mística, sendo chamada por alguns de ?dor ou morte mística?, ?purificação do Espírito? e ?noite escura da alma?. Enquanto na primeira purgação os sentidos foram purificados e disciplinados, e as energias e interesses do indivíduo concentrados em coisas transcendentais, agora o processo de purificação deve ser estendido até o âmago do ser. O instinto humano para a felicidade pessoal deve ser destruído. Deve ocorrer uma crucificação espiritual. O eu deve agora se entregar completamente a Deus, colocando sua individualidade e sua vontade pessoal como oferendas no altar divino.

O ingresso nessa nova etapa toma de surpresa o místico acostumado à bem-aventurança da etapa iluminativa. Mais uma oscilação entre a luz e a escuridão espera o viajante do árduo caminho místico. Quando a ?noite escura da alma? ocorre, ela raramente é interrompida por visões ou amenizada por vozes interiores. Uma de suas maiores misérias é o fato de que o poder adquirido anteriormente do consolo da oração e da contemplação parece inteiramente perdido. Um sentimento de impotência, vazio e de solidão invade a alma do místico, que a partir de então se encontra imerso num ?fogo escuro? de purificação.

Em sua obra célebre, João da Cruz descreve esse tormento com palavras pungentes: ?No tempo das securas desta noite sensitiva Deus opera a mudança já referida: eleva a alma, da vida do sentido à do espírito, isto é, da meditação à contemplação, quando já não é mais possível agir com as potências ou discorrer sobre as coisas divinas. Neste período, padecem os espirituais grandes penas. Seu maior sofrimento não é o de sentirem aridez, mas o receio de haverem errado o caminho, pensando ter perdido todos os bens sobrenaturais e estar abandonados por Deus, porque nem mesmo nas coisas boas podem achar arrimo ou gosto. Muitos se afanam então, e procuram, segundo o antigo hábito, aplicar as potências com certo gosto em algum raciocínio; julgam que, a não fazer assim, ou a não perceber que estão agindo, nada fazem... Tais almas, neste tempo, se não acham quem as compreenda, deixam o caminho, abandonando-o, ou se afrouxando.?[38]

5. União. É nessa etapa que finalmente o místico alcança o objetivo de todo o seu empenho. Quando a alma não espera mais nada, então ela está pronta para a união. Foi assim com Jesus em sua experiência de sofrimento, solidão e abandono, quando disse no Monte das Oliveiras: ?Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita!? (Lc 22:42). Nesse estágio a Vida Absoluta não é simplesmente percebida pelo indivíduo, como na iluminação, pois agora o místico tem a experiência de ser uno com ela. Ele sabe que alcançou a estatura da plenitude de Cristo e passa a agir no mundo como um instrumento divino, com humildade, infinita compaixão e sabedoria.

Agora ele alcançou a Verdade e sabe por experiência própria que é uno com Deus. Na verdade, torna-se uma expressão de Seu poder, de Seu amor e de Sua sabedoria, assumindo, conseqüentemente, a responsabilidade, compartilhada por todas as outras expressões divinas, de ajudar na salvação dos outros filhos de Deus no mundo. Ocorre então uma transformação radical em sua postura de vida. Ele parece receber também a energia divina para dinamizar sua vida exterior. Abandona então a atitude passiva característica das etapas anteriores e embarca num novo período de atividade no mundo como verdadeiro obreiro na seara do Senhor, agindo com incomparável eficiência e habilidade em todas as tarefas necessárias para a realização de sua missão terrena. Temos como exemplos desse extremo dinamismo, as atividades de organização de Teresa de Ávila e João da Cruz; as atividades de pregação de Francisco de Assis, Inácio de Loyola, Eckhart, Suso, Tauler e Fox; de filantropia de Catarina de Gênova, Vicente de Paula, Catarina de Siena e, recentemente, Madre Teresa de Calcutá.

Ao alcançar o ápice da suprema realização da vida espiritual, os místicos passam a viver em duas frentes simultaneamente: voltados para Deus e para a humanidade. Em praticamente todos os casos conhecidos, esses grandes ativistas tiveram primeiro que deixar o mundo como uma condição necessária para o estabelecimento da união com aquela Vida Absoluta, pois uma mente distraída com os muitos não pode apreender o Um. Daí ser a conhecida solidão do deserto ou da caverna uma parte essencial da educação mística. Ele precisa galgar sozinho a montanha, para depois retornar à planície como um plenipotenciário do Alto.

 

Interpretação da Bíblia

O estudo da Bíblia também oferece verdades inspiradoras. Contudo, nossas escrituras, e mais especificamente os evangelhos, têm origem complexa, e o processo de sua transmissão tornou a versão que conhecemos de difícil entendimento. Uma das razões para isso é que Jesus ministrava seus ensinamentos em aramaico e não em grego, língua em que supostamente os evangelhos foram escritos. Como aqueles ensinamentos foram transmitidos em aramaico pelos detentores da tradição oral durante várias décadas, alguns estudiosos acreditam que eles foram primeiramente escritos naquela língua e só mais tarde traduzidos para o grego.

Com base nessa versão grega, os ensinamentos foram, mais tarde, vertidos para o latim e, finalmente, para outras línguas modernas. Daí o surgimento de vários problemas na sua transmissão em função da estrutura dessas línguas e dos problemas usuais de tradução. É notório que a experiência de traduzir um documento, especialmente de caráter místico, redunda sempre em alguma perda do significado original, mesmo quando o tradutor é bem versado nas duas línguas. Mas, no caso da Bíblia, temos um sério problema adicional, que é o fato de que, até o século XV, os exemplares da Bíblia eram individualmente preparados por copistas, até que foi inventado o método de impressão mecânica. Os copistas, geralmente monges, naturalmente cometiam erros de transcrição e, o que é pior, às vezes, procuravam ?ajudar? o entendimento do texto fazendo algumas ?correções? que julgavam apropriadas. Como se isso não bastasse, existem fortes indícios de que várias adições, modificações e subtrações foram efetuadas no Novo Testamento para conformar o texto com decisões tomadas nos diversos concílios da Igreja. Com isso o texto bíblico foi perdendo a pureza da prístina mensagem do Salvador, tal como verdadeiramente registrada pelos autores dos evangelhos.

O trabalho de grande número de estudiosos bíblicos a partir do século XIX, mostrando muitas das incoerências dos evangelhos, conseguiu identificar, por meio da análise lingüística, vários exemplos de interpolações e supressões que teriam ocorrido. Essas descobertas levaram o Papa Pio XII, na encíclica DIVINO AFFLANTE SPIRITUS (30.07.1943), a pedir a revisão das Escrituras e até mesmo da Vulgata. Essa decisão papal causou grande celeuma entre o clero, porque a Vulgata tinha sido proclamada, pelo Concílio de Trento, como inspirada por Deus, e o Papa Bento XV, tinha declarado em 1920 (encíclica SPIRITUS PARACLITUS): ?A inspiração divina atinge todas as partes da Bíblia, sem eleição nem distinção alguma, e é impossível que o mínimo erro se tenha insinuado no texto sagrado inspirado?. Ora, como o Concílio Vaticano I, em 1870, havia estabelecido o dogma da infalibilidade papal (válido mesmo retroativamente), qualquer revisão bíblica estaria infringindo o ?fato? estabelecido por Bento XV de que era impossível existir o mínimo erro no texto sagrado inspirado.

Infelizmente não existe nenhum exemplar conhecido da versão original do Novo Testamento. O mais antigo manuscrito transmitindo os quatro evangelhos num único códice teria sido escrito por volta de meados do século III. No entanto esse manuscrito não é completo.[39] Os manuscritos mais antigos contendo a totalidade dos quatro evangelhos são conhecidos como Codex Sinaiticus e Codex Vaticanus,[40] datados de meados do século IV. Esse fato não permite a comparação do texto atual com o que teria sido o texto original dos evangelhos. A Igreja admite que os evangelhos podem ter passado por três ou mais versões antes de chegar ao texto canonizado.[41] As hipóteses levantadas para explicar essa lenta evolução da redação dos evangelhos, com suas influências mútuas, são demasiadamente complexas para serem apresentadas aqui. O importante é que o texto de cada um dos evangelhos não foi escrito por um único autor, desde o início, sob a ?inspiração do Espírito Santo? em sua forma final e ?sem erros,? como atesta o Papa Bento XV.

Além disso, os ensinamentos originais em aramaico apresentavam conotações que nem sempre era possível expressar inteiramente em outras línguas. Isso se deve ao fato de o aramaico ser uma língua antiga e bastante sintética. Suas palavras podem comumente ter diferentes e múltiplos significados como ocorre com suas línguas irmãs, hebraica e árabe. Ao contrário do grego, o aramaico não tem divisões rígidas entre meios e fins, ou entre qualidades internas e ação externa. Ambos estão sempre presentes.[42] Relativamente ao aramaico, o grego só foi introduzido no oriente médio bem mais tarde, assim, os vários significados de cada palavra em aramaico eram expressos por duas ou mais palavras diferentes em grego. Pode-se, portanto, dizer que, em aramaico, as palavras são ricas em significado, enquanto o grego é uma língua rica em palavras.

Quando os lingüistas comparam os textos bíblicos existentes em aramaico e em grego, verificam que o texto grego invariavelmente limita o significado mais profundo e abrangente da versão original em aramaico. Isso explica parte das dificuldades que os cristãos têm para entender os ensinamentos do Senhor. O significado mais amplo das palavras de Jesus foi limitado, e até mesmo distorcido em alguns casos, com as diferentes traduções e editorações ao longo dos séculos. Esse é um sério problema para o devoto, pois Jesus usava os diferentes significados das palavras para despertar na alma de seus ouvintes uma sintonia com a profunda verdade transformadora que ele procurava transmitir sob a aparência de coisas simples. Verificamos que algumas confusões idiomáticas nas parábolas de Jesus na Bíblia em grego, tornam-se claras para o leitor do texto em aramaico, em vista do significado mais amplo das palavras usadas.

Felizmente ainda existe uma versão da Bíblia em aramaico, ainda que pouco conhecida. Ela é chamada de Peshitta, sendo ainda hoje adotada pela Igreja do Oriente, principalmente em partes da Síria e da Armênia. A palavra peshitta em aramaico significa simples, sincero e verdade.

Para que possamos aquilatar as implicações da diversidade de significados das palavras em aramaico, tomemos, por exemplo, a palavra shema, que pode significar luz, som, nome ou atmosfera. Nas diferentes passagens em que Jesus nos orienta para orarmos ?com ou em seu shema? (geralmente traduzido como ?em meu nome?), que significado Jesus realmente queria nos passar? ?De acordo com uma tradição do Oriente Médio, nas palavras da escritura sagrada ou nas palavras de um profeta todos os significados possíveis podem estar presentes. O devoto precisa considerar cada frase nas diferentes interpretações possíveis. Além disso, o aramaico e o hebraico prestam-se a um rico e poético jogo de palavras, com a rima interna de vogais, repetição de sons de consoantes e frases paralelas. Esses artifícios aumentam ainda mais as possíveis traduções e interpretações de um dado significado.?[43]

Os exemplos de como os diferentes significados das palavras em aramaico nos possibilitam um entendimento mais abrangente para as passagens bíblicas são demasiado numerosos para serem apresentados aqui. Vale a pena mencionar, porém, que a expressão traduzida como ?Jesus filho de Deus? em aramaico era Yeshua bar Alaha, que poderia ser traduzida mais apropriadamente como ?Jesus filho da Unidade?. Talvez a passagem mais marcante para o cristão perceber a riqueza de significados do aramaico seria a Oração do Senhor. O texto abaixo foi adaptado do livreto do estudioso Neil Douglas-Klotz, ?Orações do Cosmo?[44] em cotação com outras versões de traduções do aramaico.

 

O PAI NOSSO

(do original em aramaico)

 

Ó Fonte da Manifestação! Alento da vida!

Pai-Mãe do Cosmo!

Faze Tua Luz brilhar dentro de nós,

para que possamos torná-la útil.

Ajuda-nos a seguir nosso caminho

movidos apenas pelo sentimento que emana de Ti.

Que nosso eu possa estar em sintonia contigo,

para que caminhemos com realeza com todos

os outros seres criados.

Estabelece Teu Reino de unidade agora.

Que Teu desejo e os nossos sejam um só,

em toda a luz, assim como em todas as formas.

Dá-nos o que precisamos cada dia, em pão e compreensão.

Desfaz os laços dos erros que nos prendem,

assim como nós soltamos as amarras que mantemos da culpa dos outros.

Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iludam.

Mas libertá-nos de tudo que nos aprisiona.

E não nos deixe sermos tomados pelo esquecimento

de que de ti nasce a vontade que tudo governa,

o poder e a força viva de todo movimento,

e a melodia que tudo embeleza

e de idade em idade tudo renova.

Amém.

 

A riqueza do significado da língua aramaica é um incentivo adicional para conhecermos a riqueza de nossa tradição cristã escondida na Bíblia. Porém, não basta conhecermos e repetirmos a Bíblia de memória, como um papagaio, dominando a letra morta, mas alheio ao espírito que dá vida. Esse espírito está oculto na linguagem alegórica sagrada de nossa escritura, que deve ser desvelada por todo aquele que busca a Verdade. A dificuldade do ser humano em perceber e aceitar a verdade sempre foi conhecida pelos sábios de todas tradições e em todos os tempos. Por essa razão os grandes instrutores da humanidade geralmente revestem a verdade com uma roupagem de alegoria para que seus ouvintes possam conhecer aquele nível da verdade que estiver ao seu alcance. Uma antiga fábula judaica expressa esse fato:

?Um dia, a Verdade andava visitando os homens sem roupa e sem adornos, tão nua como o seu nome. E todos que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas-vindas.

Assim, a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.

Uma tarde, muito desconsolada e triste, encontrou a Parábola, que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.

- Verdade, por que estás tão abatida? Perguntou a Parábola.

- Porque devo ser muito feia, já que os homens me evitam tanto!

- Que disparate! Riu a Parábola ... Não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.

Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por todos os lugares por onde passava, era bem-vinda. Pois os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada.?

No entanto, para entender o significado profundo da mensagem bíblica, temos, em primeiro lugar, que conhecer a mensagem literal da Bíblia. Nesse particular os evangélicos estão muito à frente de seus irmãos católicos. A comunidade católica sofre as conseqüências históricas da proibição estabelecida pela Igreja, que perdurou por muitos séculos, da leitura da Bíblia pelos leigos. Apesar de a proibição ter sido revogada, o hábito permanece, e a Igreja Católica até hoje não incentiva ou promove a leitura e o estudo da Bíblia por seus fiéis, como fazem as igrejas evangélicas. O resultado é que o católico comum tem um conhecimento muito fragmentado e superficial de seu livro sagrado. O buscador da verdade faria bem em procurar conhecer melhor o grande tesouro de sua tradição.

Mas, se nosso objetivo é entender o significado profundo dos ensinamentos do Senhor que se encontram na Bíblia, precisamos aprender o espírito que está escondido por trás de sua vestimenta externa. Muitos cristãos poderiam questionar se realmente existe um método específico e sistemático para a sua interpretação. Apesar de estarmos cientes das diversas passagens em que Jesus diz que aos apóstolos ele revelava diretamente os mistérios do Reino dos Céus, enquanto ao público tudo era dito em parábolas, não parece que o fiel moderno se deu conta de que os evangelhos foram escritos em parábolas, ou seja, em linguagem alegórica. Portanto, sem a devida interpretação, essas narrações serão aceitas ao pé da letra, perdendo-se assim o ensinamento mais profundo que está escondido por trás do véu da alegoria.

A interpretação dos textos sagrados sempre foi considerada com reserva pela Igreja. Temia-se, com razão, que as interpretações iriam mostrar certas incoerências entre a doutrina oficial e a mensagem bíblica. Um exemplo dessa política foi o desaparecimento da monumental obra de Papias, bispo de Hierápolis (Ásia Menor), que escreveu em aproximadamente 140 d.C. um livro em cinco volumes, intitulado Interpretação das Palavras do Senhor. Essa obra foi perdida, sendo conhecida apenas por alguns fragmentos relatados por Eusébio e Irineu. Porém, a Igreja tinha outra razão igualmente importante para não deixar que a obra de Papias permanecesse em circulação: as palavras do Senhor que ele interpretou não foram retiradas dos quatro evangelhos canônicos, pois eles ainda não existiam naquela época, ao contrário do mito estabelecido pela Igreja de que os evangelhos teriam sido escritos pouco tempo depois da morte de Jesus.

Mas não é somente o Novo Testamento que foi escrito em parábolas e linguagem alegórica. O Antigo Testamento também foi redigido na mesma linguagem sagrada, fenômeno que também ocorreu com as escrituras das outras grandes religiões. Esse fato sempre foi conhecido pelos verdadeiros estudiosos da tradição judaico-cristã. Por exemplo, de acordo com Moisés Maimonides, um renomado teólogo, filósofo e talmudista judeu, que viveu no século doze: ?Cada ocasião em que você encontra em nossos livros um conto cuja realidade parece impossível, uma história que é repugnante à razão e ao bom senso, então esteja certo de que eles contêm uma imperscrutável alegoria velando uma profunda verdade misteriosa; e quanto maior o absurdo da letra, mais profunda a sabedoria do espírito.?[45]

Um dos mais respeitados livros da tradição da cabala judaica, o Zohar, afirma: ?Ai do homem que vê na Tora, isto é, na Lei, somente simples exposições e palavras usuais! Porque, se na verdade ela somente contém isso, nós igualmente seríamos capazes hoje de compor uma Tora muito mais merecedora de admiração ... As narrativas da Tora são as vestimentas da Tora. Ai daquele que toma essas vestimentas como sendo a própria Tora! ... Há algumas pessoas tolas que, vendo um homem coberto com uma bela roupa, não leva sua consideração mais além, e toma a vestimenta pelo corpo, enquanto lá existe uma coisa ainda mais preciosa, que é a alma... Os sábios, os servidores do Rei Supremo, aqueles que habitam as alturas do Sinai, estão ocupados exclusivamente com a alma, que é a base de todo o resto, que é a própria Tora; e no tempo vindouro eles serão preparados para contemplar a Alma daquela Alma (i.e. o Deus) que sopra na Tora.?[46]

A Bíblia, tal como as escrituras de outras religiões, pertence a um tipo especial de literatura, que se pretende seja o repositório da sabedoria divina revelada por profetas e outros mensageiros divinos. Ela foi escrita por meio de uma linguagem especial, referida universalmente como a linguagem sagrada. Essa linguagem utiliza símbolos, alegorias, analogias e parábolas tanto para velar quanto para revelar a mensagem sagrada. Mas se os profetas tinham a missão de trazer a mensagem de Deus aos homens, por que velá-la?

Os mensageiros divinos sempre souberam que somente um pequeno percentual da população de cada país está preparado para receber os segredos mais profundos que conferem poder. Por essa razão Jesus alertou seus discípulos, de forma contundente, sobre os perigos de revelar esse tipo de segredo: ?Não deis aos cães o que é santo, nem atireis as vossas pérolas aos porcos, para que não as pisem e, voltando-se contra vós, vos estraçalhem? (Mt 7:6). O Mestre, conhecendo a natureza humana, ordena a seus discípulos de forma peremptória, que não divulguem os segredos divinos que conferem poder aos homens voltados para a vida material, para que eles não utilizem esses poderes para ?estraçalhar? seus benfeitores e todos aqueles que possam ameaçar seus interesses egoístas.

Como esses segredos possibilitam àqueles que os possuem a manifestação de fenômenos que podem afetar a vida de grande número de pessoas, só podem ser revelados aos discípulos comprometidos que foram reconhecidamente purificados de todo egoísmo, e que são incapazes, em qualquer situação, de fazer mal aos seus semelhantes. Esse é o sentido da segunda bem-aventurança do Sermão da Montanha: ?Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra? (Mt 5:4). Os mansos são aqueles seres amorosos e inofensivos, capazes de atrair até mesmo os animais que sentem essa mansuetude, como ocorria com Francisco de Assis e outros místicos. Herdar a terra significa obter os poderes da natureza que podem afetar a vida na terra, tanto de homens como de outros seres. Essa herança traz consigo uma tremenda responsabilidade, tanto para os que a transmitem como para os que a recebem. Essa é a razão dos véus usados na linguagem sagrada.

Mas a responsabilidade dos profetas e de seus discípulos iniciados nos mistérios da linguagem sagrada não se restringia à dissimulação dos ensinamentos profundos que conferem poder. Sendo seres iluminados e profundamente amorosos, eles por certo assumiam o compromisso de envidar todo esforço, dentro dos limites permitidos pela Lei divina, para colocar os ensinamentos libertadores à disposição daqueles que buscam a Verdade. Isso significa que a linguagem sagrada deve velar os segredos ao público, mas revelá-los aos buscadores da verdade que, por seus méritos, são capazes de descobrir ou receber as chaves para a sua interpretação. Como esse problema dual, velar e revelar, existe desde os primórdios da história humana, os grandes sábios desde tempos imemoriais desenvolveram regras que governam a linguagem sagrada. Não importa em que idioma ela seja escrita, as regras são sempre as mesmas, possibilitando assim a todos os que tiverem suas chaves entender a mensagem por trás das alegorias, mesmo com o passar do tempo e a tradução do texto para outras línguas.

Mas, se essa linguagem sagrada visa coibir a divulgação do sagrado a quem não está preparado para recebê-la, como será possível o conhecimento de suas chaves pelos devotos cristãos no momento atual?

Como a humanidade como um todo evolui, aquilo que era mantido oculto numa determinada época, para determinadas comunidades, com o passar do tempo torna-se progressivamente conhecido por diferentes meios, ainda que o âmago dos segredos que conferem poder permaneça sempre inviolável. Na era atual, algumas dessas chaves nos foram reveladas por aqueles que as receberam de seus instrutores devidamente credenciados. Quatro das sete chaves utilizadas pelos autores das sagradas escrituras encontram-se disponíveis.[47] Elas, quando utilizadas, fazem o papel de óculos para quem ainda não desenvolveu a visão espiritual, restaurando a clareza de visão para aquele que antes percebia o mundo bíblico de forma turva e indistinta.

Ao longo dos séculos, indicações sobre a interpretação bíblica foram apresentadas por diferentes sábios. Entre os judeus, foi feito um esforço, por seus rabinos, para o desenvolvimento de regras que permitissem a compreensão e aplicação da Lei.[48] Nos primórdios da tradição cristã, havia duas escolas principais de exegese e hermenêutica bíblica: a escola de Antioquia, cujos principais mestres foram Teófilo, João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuécia; e a escola de Alexandria, cujos mestres foram Cirilo, Clemente e Orígenes, como seu expoente máximo. A escola de Alexandria ensinava o método de interpretação alegórica, que já era usado um século antes por alguns sábios judeus como Philos de Alexandria (primeira metade do século I d.C.). Para ela, a letra da escritura é como o corpo, mas sem a alma o corpo é um cadáver; o sentido alegórico é a mensagem espiritual.[49] Porém, a escola de Antioquia, já nos séculos III e IV, acusava esse método de levar a um individualismo desenfreado. Essa acusação seria válida se as interpretações alegóricas fossem feitas aleatoriamente, sem uma metodologia, o que não era o caso, como será visto mais adiante. Os mestres de Antioquia insistiam no método histórico que levava em consideração o contexto cultural da tradição judaica, no qual o texto foi escrito ou dito, e o propósito a que serviu.

Como Jesus obviamente falava dentro do contexto histórico e cultural da tradição judaica, mas apresentava seus ensinamentos públicos em forma de parábolas, com seus símbolos e alegorias, os dois métodos são complementares e não antagônicos, como sugerem muitos teólogos desde tempos idos até os dias de hoje. Quando buscamos entender as passagens bíblicas, verificamos que o método histórico facilita o entendimento do contexto em que os ensinamentos foram ministrados e nos possibilita compreendermos a razão de Jesus usar certas imagens em suas pregações. O estudo dos evangelhos no original aramaico, com seus significados abrangentes, estaria incluído no método histórico. No entanto, o uso exclusivo do método histórico não é suficiente para desvelar as mensagens mais profundas escondidas na letra da escritura. Por isso o método de interpretação alegórica, usado desde os primeiros tempos do Antigo Testamento pelos sábios judeus e retomado pela escola de Alexandria, é o complemento necessário para a compreensão do sentido espiritual dos ensinamentos de Jesus.

Os exegetas de Alexandria diziam que os autores das escrituras sempre usavam palavras que, por analogia, davam o sentido espiritual da mensagem subjacente. Por exemplo, uma montanha era usada para representar um estado elevado de consciência. Assim, quando uma passagem bíblica menciona que os personagens subiram a montanha (ou monte), o que está sendo transmitido é que eles alcançaram um estado elevado de consciência. Ao contrário, quando é dito que desceram a montanha, está sendo indicado que retornaram ao estado normal de consciência. Para esses estudiosos, o texto bíblico foi escrito em alegorias em que ?pessoas e incidentes tornam-se representativos de virtudes, doutrinas ou incidentes abstratos na vida da alma.?[50] Outros autores, ao longo dos séculos foram revelando progressivamente outros aspectos da linguagem sagrada.

Geoffrey Hodson, eminente clarividente, pesquisador e escritor que viveu no século passado, coligiu todas as informações que obteve da literatura e de suas pesquisas meditativas ao longo de mais de cinqüenta anos sobre a interpretação bíblica, publicando-as em dois livros monumentais. O primeiro foi A Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada, publicado em inglês pela primeira vez em 1963 em quatro volumes, e o segundo A Vida de Cristo, publicado originalmente em 1975. Ambos foram traduzidos para o português e oferecem as chaves e um extenso ?glossário? dos símbolos usados nas alegorias bíblicas, bem como exemplos de sua utilização na interpretação de textos do Antigo e do Novo Testamento. Essas chaves e os símbolos divulgados são como tesouros escondidos no campo: aquele que os encontrar e utilizar ficará imensamente mais rico, espiritualmente.

Essas quatro chaves para a interpretação bíblica são resumidas a seguir e exemplificadas adiante:

1.      Tudo o que é apresentado como ocorrendo no exterior, ocorre no interior do homem. Seu significado espiritual é mais psicológico do que histórico.

2.      Os personagens de cada história ou passagem representam os diferentes aspectos do ser humano, com suas qualidades, poderes e defeitos.

3.      Cada passagem descreve uma determinada etapa no caminho da alma em sua jornada rumo à perfeição final, descrita como o retorno à Casa do Pai.

4.      Os nomes, números e certos objetos mencionados têm significados simbólicos, sendo esses significados constantes ao longo do tempo e em todas as tradições.

As mensagens relacionadas com a transformação interior que deve ocorrer para que o ser humano possa evoluir do estágio atual para a meta da perfeição, não significa que aquelas passagens não tiveram uma fundamentação histórica. Ao contrário, os autores dos livros da Bíblia procuraram aliar história com o ensinamento sagrado. Em alguns casos, porém, as estórias relatadas foram criadas especificamente para transmitir as verdades eternas que deveriam fazer parte do fluxo de ensinamentos que estavam sendo ministrados. Uns poucos exemplos de interpretação servirão para dar uma idéia de como o uso das chaves revela ensinamentos profundos escondidos por trás da linguagem alegórica.

A passagem em Mt 21:2-11 sobre a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém montado num jumentinho é geralmente considerada como irrelevante por muitos cristãos. Porém, quando devidamente interpretada, revela importante ensinamento. O fato de a passagem ser mencionada nos quatro evangelhos é indicativo de sua importância histórica. Os judeus tradicionalmente faziam uma peregrinação ao templo de Jerusalém nas grandes festas. Jesus foi para a comemoração da Páscoa, quando acabou sendo preso e morto. No contexto histórico-cultural, a passagem pode ser interpretada no sentido de que Jesus, como Messias, toma posse da cidade santa de Jerusalém. Seria equivalente a um comentário rabínico (midrash) do texto do capítulo 9 do profeta Zacarias, citado textualmente por Mateus. Assim como Alexandre Magno entrou triunfalmente em Jerusalém, como libertador dos judeus, após derrotar os persas, Jesus também é recebido como ?o Messias? por ocasião da festa das tendas, que recorda a caminhada dos israelitas pelo deserto em busca da terra prometida. O povo recebeu Jesus gritando hosana, que quer dizer: ?liberta-nos.? Um exegeta tradicional diria que a passagem expressa o desejo popular de que Jesus fosse seu libertador político e espiritual.

Na interpretação alegórica, Jesus representa o Cristo interior em cada ser humano. Numa etapa avançada de sua jornada, a alma estará pronta para entrar na Casa do Pai, simbolizada por Jerusalém, a cidade sagrada. Mas, para que isso aconteça, deverá cumprir um requisito básico, que, nesse caso, é representado pelo jumentinho. Sendo esse animal um quadrúpede, na linguagem sagrada ele simboliza a natureza quaternária mortal do homem exterior, ou seja, seus corpos físico, energético, emocional e mental concreto. Mas o jumento é conhecido por duas características. A primeira é sua tradicional intransigência e rebeldia antes de ser domado, exatamente como a personalidade do homem. Porém, quando o animal é perfeitamente disciplinado, torna-se dócil e inteiramente obediente a seu dono. Portanto, a natureza exterior do homem deve se tornar inteiramente dócil, humilde e obediente ao seu senhor, o Cristo interior, para então servir como um veículo apropriado. A personalidade deve se tornar modesta, meiga e humilde de coração como demonstrado por Jesus. Quando isso ocorre, o homem integral, ou seja, o Cristo interior cavalgando a natureza animal (mortal) exterior, poderá então entrar na cidade sagrada, o Reino de Deus. Finalmente, o júbilo e a aclamação da multidão expressam o estado exaltado de consciência e a felicidade que são experimentados quando ocorre a elevação de consciência libertadora (hosana) representada pelo Reino dos Céus.

Outro exemplo marcante da diferença entre a leitura literal e a interpretada simbolicamente refere-se à passagem em que Jesus acalma a tempestade. Esse trecho é comum aos três evangelhos sinóticos e encontra-se em Mt 8:23-27, Mc 4:35-41 e Lc 8:22-25. Em Mateus, lemos: ?(Jesus) entrou no barco e os seus discípulos o seguiram. E, nisso, houve no mar uma grande agitação, de modo que o barco era varrido pelas ondas. Ele, entretanto, dormia. Os discípulos então chegaram-se a ele e o despertaram, dizendo: ?Senhor, salva-nos, estamos perecendo!? Disse-lhes ele: ?Por que tendes medo, homens fracos na fé?? Depois, pondo-se de pé, conjurou severamente os ventos e o mar. E houve uma grande bonança. Os homens ficaram espantados e diziam: ?Quem é este a quem até os ventos e o mar obedecem???

No seu sentido literal a passagem descreve um ato milagroso, em que o Mestre, usando seus poderes teúrgicos, acalma os ventos e o mar. Jesus certamente pode ter realizado tal fenômeno. Porém, quando usamos as quatro chaves de interpretação descobrimos outro aspecto da verdade libertadora. O incidente refere-se ao estágio da evolução do homem em que a consciência crística recém desperta alterna-se com momentos de retorno à consciência comum. O que é descrito como ocorrendo no exterior passa-se no interior do homem. O barco representa o corpo físico, os discípulos os diferentes aspectos da mente e Jesus o Cristo interior. A tempestade expressa as perturbações da mente. Assim, nas palavras de Geoffrey Hodson: ?a mente do homem se torna o verdadeiro cenário tanto da tempestade como da intervenção milagrosa de um poder superior. Uma fase particular e muito importante é acentuada, a saber, a do despertar espiritual e dos seus resultados mais imediatos.? ?O barco da vida do homem exterior veleja,? continua Hodson. ?O capitão, a mente, comanda a embarcação de acordo com as regras estabelecidas que são suficientes para o cumprimento da sua tarefa... A tempestade consiste dos ventos da dúvida e das ondas do desejo e o perigo com que estes ameaçam a embarcação física do homem. Ele reconhece as incertezas e a instabilidade de uma base puramente material de viver... A tempestade mental ganha força quando a mente se torna determinada a encontrar estabilidade no meio da instabilidade das ocupações terrenas... Os discípulos quando tensos representam aspiração, determinação e despertar da intuição, e como resultado do estresse a grande descoberta é feita. A frase chave no relato de S. Mateus é o apelo dos discípulos: ?Senhor, salva-nos, estamos perecendo!? Quando metaforicamente esse apelo surge do interior do coração e da mente de um homem, começa uma nova fase evolucionária para ele.?

G. Hodson apresenta, então, suas conclusões sobre a passagem: ?A mente formal deliberadamente se abre para a luz e verdade das fontes profundamente interiores até então desconhecidas e desconectadas. A manifestação do espírito no homem e seu domínio sobre a matéria são representados pelo emergir do Senhor Cristo do sono no interior do barco. Como ele está adormecido e aparentemente inconsciente da crise, até ser despertado por um pedido de ajuda, assim também o poder espiritual do homem conforma-se em seu próprio mundo, cumprindo somente a vida automática que preserva as funções. Simbolicamente, o Cristo que dorme é despertado pelos discípulos expostos ao perigo ao tentarem pilotar o barco numa tempestade. Os discípulos compreendem que apenas um Ser pode salvá-los na sua grave emergência, o divino Mestre quando desperto do sono. Ele responde a esse apelo e demonstra completo controle sobre os elementos ar e água. Ocorre um encontro, seguido por uma união: espírito, mente e cérebro tornam-se uma entidade de consciência. As tempestades mentais da dúvida, da revolta contra a ignorância, impotência e instabilidade se desvanece. Reina a paz, a verdadeira paz do eterno.?[51]

Um último exemplo de interpretação, dessa vez de uma parábola, pode ser útil para que o leitor possa descortinar o poder da interpretação sistemática da Bíblia para desvelar seus segredos. Uma das parábolas mais conhecidas é a do grão de mostarda. ?O Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore, a ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos? (Mt 13:31-32). A minúscula semente contém em si o germe de tudo o que, no seu devido tempo, irá surgir de acordo com sua natureza última. Por analogia, a pequenina semente representa a natureza divina no homem, tão pequenina que é invisível. Essa sementinha deve ser enterrada na escuridão da terra, ou seja, na natureza material do homem terreno. Assim como na natureza a maior parte das sementes não vingam, são poucos os homens que, na era atual, experimentam a germinação e o nascimento do Cristo interior. Como no reino vegetal, a natureza crística no homem deverá seguir pelo processo natural de crescimento sazonal, até tornar-se uma grande árvore, ou seja, alcançar a estatura da plenitude de Cristo. Quando isso ocorre, as aves do céu se abrigam nos seus ramos e, poderíamos acrescentar, alimentam-se de seus frutos. As aves do céu simbolizam os homens e mulheres que despertaram espiritualmente e já experimentam a alegria e esplendor dos vôos da alma. As almas despertas têm um instinto espiritual para buscar refúgio e sustento em seus irmãos maiores, como descrito na parábola.

A mudança de uma leitura literal da Bíblia para uma interpretada simbolicamente, para assim buscar o significado escondido de suas mensagens, requer disciplina e bastante prática. As obras de Geoffrey Hodson e de outros autores ajudarão a efetuar a transição de forma satisfatória. O resultado será um manancial de novos ensinamentos voltados para a transformação interior, levando, no seu devido tempo, ao nascimento do Cristo interno, a fonte da Verdade libertadora. A partir de então, os ensinamentos ocultos da Bíblia ajudarão no crescimento do Cristo interior até que o devoto alcance a perfeição, quando, então, metaforicamente poderá ascender também aos Céus.

 

 

Rituais e Sacramentos

Sabemos que todos os lugares de oração e adoração (igrejas, templos, mesquitas, capelas e oratórios) são centros de força estabelecidos no plano físico, nos quais são criadas condições especiais para permitir a livre passagem da energia e consciência do alto para o plano material e do retorno das energias geradas nesse último para o plano espiritual. ?A razão da existência da Igreja, com os seus maravilhosos sistemas de forças e presenças angélicas, é prover uma usina, em que se possa acelerar a evolução tanto do homem como do anjo.?[52] Isso significa que as igrejas cristãs, tanto as católicas como as protestantes têm também uma função extremamente importante na economia espiritual do planeta.

Nas igrejas católicas, os fiéis contam com rituais e sacramentos poderosos que remontam a um longínquo passado e que foram depois incorporados ao ritual da missa pela Igreja. No entanto, o católico comum recebe somente uma pequena parte dos benefícios disponíveis da missa e, principalmente, do sacramento da eucaristia, porque desconhece o que se passa no lado invisível das cerimônias e, assim, não coopera com o fluxo das forças que estão sendo vertidas naqueles rituais.

Aqueles poucos seres humanos que, nas palavras de Jesus ?têm olhos para ver? (o mundo invisível), ou seja, que desenvolveram o dom da clarividência superior, verificam que o Verbo, em seu infinito amor e sabedoria, serve-se de uma imensa hierarquia angelical para facilitar o trabalho de redenção do homem. Uma série de mecanismos facilitadores, em particular aqueles que envolvem rituais, é utilizada para esse propósito. Os anjos atuam como intermediários entre a energia divina e o homem. As hierarquias angélicas atuam como canais para essa energia, vertendo-a ao comando de certas palavras ou gestos de poder, fazendo com que a energia seja distribuída em todas as direções ou seja direcionada para o coração dos devotos que anseiam por ela.

Dois desses clarividentes avançados já falecidos, que eram também padres da Igreja Católica Liberal, Geoffrey Hodson e C.W. Leadbeater, registraram de forma sistemática suas visões da energia divina e da atuação das hostes angélicas durante a cerimônia da santa missa e da sagrada eucaristia. Vale mencionar que o bispo Leadbeater, valendo-se de sua capacidade clarividente e, em alguns casos, do auxilio de anjos escreveu extenso e valioso compêndio chamado A Ciência dos Sacramentos.[53] A presença e o ministério dos anjos nos cultos da Igreja foram descritos nestas palavras: ?Há uma ordem de anjos ligados à Igreja Cristã, que, estando dedicados ao serviço de Cristo e servindo como canais e conservadores de Sua bênção e Seu poder, assistem a todos os serviços feitos em Seu nome. Cheios de Seu amor e compaixão, procuram levar aquelas dádivas sem preço às almas dos homens; na grande celebração do mistério do pão e do vinho, eles se apresentam para que toda alma sedenta receba segundo as suas necessidades. Os homens nada sabem deles nem os vêem, e assim os servidores angélicos passam despercebidos e desconhecidos.?[54]

No relato de Leadbeater: ?Minha atenção foi despertada pela primeira vez pela observação do efeito produzido pela celebração da Missa em uma Igreja Católica Romana numa pequena aldeia da Sicília. No momento da consagração, a hóstia cintilou com a mais deslumbrante alvura; converteu-se em um verdadeiro sol aos olhos do clarividente, e, quando o padre a ergueu por cima das cabeças dos fiéis, observei dois tipos distintos de força espiritual que dela emanavam, o que poderia talvez ser tomado, numa comparação material, como a luz do sol e os raios de sua coroa. Todas as coisas relacionadas com a hóstia ? o tabernáculo, a custódia, o próprio altar, as vestes sacerdotais, o véu isolante humeral, o cálice e a patena ? todas se achavam inteiramente impregnadas desse poderoso magnetismo e o estavam irradiando, cada qual em seu grau.?[55]

O sacramento da eucaristia é o mais profundo mistério instituído por Jesus e está ao alcance de todos fiéis. Seu poder para estimular os princípios superiores do homem são sentidos pelas pessoas que têm um mínimo de sensibilidade. Geoffrey Hodson diz: ?A celebração da Santa Eucaristia é um método cerimonial e sacramental de despertar, acelerar e liberar os poderes da Divindade em toda forma de vida. Executado com propriedade e produzindo seus resultados ideais, evoca os poderes da Santíssima Trindade profundamente ocultos em toda forma sob sua esfera de influência, no sacerdote, nos servidores, na congregação encarnada e desencarnada, nos santos anjos, nos espíritos da natureza, no material, nos edifícios e seus móveis e mesmo nos arredores naturais fora da Igreja.?[56]

O efeito da energia divina é especialmente concentrado naquele que recebe a comunhão, de acordo com Leadbeater. O devoto, ao absorver a hóstia consagrada, recebe uma partícula de luz e fogo invisível, que se convertem em energia fluídica que, por sua vez, se espalha por todo o corpo do fiel, concentrando-se particularmente em certos centros de força do corpo energético, conhecidos como chacras. Seu corpo físico, como os outros corpos sutis (energético, astral e mental) e mesmo seus corpos superiores são estimulados pelo afluxo de força conferido pela eucaristia. O devoto que já despertou em algum grau seu corpo intuicional, ou seja, seu princípio crístico, recebe um benefício especial com a estimulação do Cristo interior por meio da bênção sacramental do corpo do Cristo transubstanciado na hóstia.

A repetida participação dos devotos nesses rituais, quer sejam evangélicos ou católicos, procurando acompanhar o significado de cada etapa da cerimônia, promove a crescente sintonização deles com o Plano Divino de redenção da humanidade. Quando essa participação é acompanhada do recebimento da Santa Eucaristia, com profunda devoção e aspiração no sentido de que o Cristo interior possa comungar com o Cristo cósmico, a meta de alcançar a Verdade libertadora estará cada vez mais perto. Por essa razão, o fiel deveria se lembrar durante a Missa e ao longo do dia que o Cristo interior oculto no tabernáculo de seu coração é tão sagrado como o Cristo invisível guardado no tabernáculo do altar.


 

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