TODAS AS
MENSAGENS DOS MESTRES
VÊM DA MESMA FONTE?
PRÓLOGO
Conheço várias pessoas
adoráveis, sinceramente engajadas na busca espiritual. Algumas participam de
vários grupos de estudo, cura e meditação, e dedicam de uma a duas horas por
dia a seus 'decretos' e práticas espirituais ditadas pelos "Mestres Ascensos."
Tocado pela dedicação e candor dessas pessoas, comecei a pesquisar a respeito
dessas doutrinas e práticas que, obviamente, parecem estar fazendo bem a elas.
Com todo o respeito e carinho, gostaria de oferecer as observações e
considerações a seguir a essas pessoas queridas e a milhares de outros irmãos
devotos dos Mestres. Procurei enfocar a questão de forma objetiva,
apresentando considerações e sugestões que poderiam ser investigadas por esses
sinceros buscadores da verdade.
CONHECIMENTO DOS
MESTRES
Até meados do século XIX muito
pouco era conhecido no Ocidente sobre os Grandes Seres, chamados no Oriente de
Mahatmas, ou Mestres de Sabedoria. No Oriente, principalmente na Índia, os
Mestres já eram conhecidos há milênios nos meios dos devotos e iogues. No
Ocidente, no entanto, somente uns poucos discípulos aceitos conheciam seus
Mestres, guardando essa informação de forma reservada, por respeito a estes
Santos Seres e para a proteção deles.
Foi somente a partir do final do
século XIX, com a fundação da Sociedade Teosófica e posteriormente com a
divulgação dos escritos de H. P. Blavatsky, que o conhecimento da existência
dos Mestres se espalhou nos meios esotéricos e filosóficos na Europa e nas
Américas. Alguns colaboradores de Blavatsky foram contrários a essa
divulgação, em virtude da tradicional reserva observada pelos discípulos com
relação a comentários públicos sobre a existência de seus instrutores. Mas os
tempos eram outros e os próprios Mestres contribuíram indiretamente para que
sua existência fosse amplamente divulgada no Ocidente.
AS CARTAS DOS
MESTRES
O principal meio de divulgação da
existência e do trabalho dos Mestres foi a publicação, no início do século XX,
de uma longa série de cartas escritas pelos Mestres, entre 1880 a
1886, a dois ingleses, A. O. Hume e A. P. Sinnett, sendo a maior parte
dirigida a esse último. Sinnett, mais tarde, utilizou o material contido nas
cartas para escrever dois livros muito comentados na época: Budismo
Esotérico e Mundo Oculto. Os Mestres também enviaram cartas, em
menor número, a outros colaboradores seus, sendo muitas destas coligidas e
publicadas por C. Jinarajadasa, com o título de Cartas dos Mestres de
Sabedoria.
Essas cartas são marcos para o
estabelecimento de parâmetros sobre os ensinamentos desses Grandes Seres e
para o conhecimento de seus métodos de comunicação com aqueles poucos
aspirantes que apesar de não terem sido treinados no caminho ocultista, de
alguma forma mereceram recebê-las. Seu valor especial está no fato de serem
reconhecidas por quase todos os estudiosos como sendo de autoria dos Mestres.
Algumas foram recebidas poucos instantes depois de terem sido "enviadas" por
Sinnett, no próprio verso do papel em que as perguntas tinham sido feitas. É
importante frisar que a maioria das cartas foi precipitada. O Mahatma
K.H. respondendo a Sinnett sobre esse processo disse: "Devo pensar bem,
fotografando cuidadosamente cada palavra e frase no meu cérebro antes que
possa ser repetida por 'precipitação'." Blavatsky
comentou sobre esse processo que: "O trabalho de escrever as cartas em questão
é efetuado por um tipo de telegrafia psíquica; os Mahatmas raramente escrevem
suas cartas da forma usual. Uma conexão eletro-magnética, por assim dizer,
existe no plano psíquico entre um Mahatma e seus chelas, um dos quais age como
seu secretário." O curioso é que,
não importa qual chela venha a escrever manualmente a carta, a letra será
sempre exatamente a do Mestre. Um fato que ainda não foi explicado pela
ciência moderna é como a tinta foi colocada, não na superfície do papel, mas
no seu interior. Permanece inexplicável, também, como estrias, feitas com a
mesma tinta com que a carta foi escrita, foram incorporadas a espaços
regulares no papel. Esses e muitos outros detalhes técnicos foram estudados em
profundidade por um dos maiores especialistas em grafologia e falsificações,
Vernon Harrison, gerente de
pesquisas da Thomas De La Rue (equivalente à Casa da Moeda Britânica). Essas
cartas encontram-se no Museu Britânico.
A Summit Lighthouse, uma das
principais fontes de canalização de mensagens atribuídas aos Mestres Ascensos,
confirma a existência e autenticidade destas cartas: "a fundação da Sociedade
Teosófica deve-se aos Mestres Morya e Koot Hoomi, que a utilizaram para
difundir seus ensinamentos para o Ocidente, em parte por meio de cartas
pessoais dirigidas a um punhado de alunos teosóficos."
Apesar do interesse de Sinnett em
tornar-se um discípulo aceito do Mestre Koot Hoomi, geralmente referido como
K.H., seu principal correspondente, foi-lhe dito que ele não tinha os
requisitos para ser um discípulo, ou chela, como são conhecidos na
Índia. Seus hábitos de vida e, principalmente, seus condicionamentos mentais,
militavam contra a simplicidade e disciplina necessárias à vida de um
chela. Sem essa disciplina e reorientação de vida, seria impossível
para ele passar nos duros testes a que todos os discípulos são submetidos. Noutra ocasião,
explicando a natureza do treinamento dos discípulos e como eles deviam arcar
com as conseqüências de seu carma, disse: "Não guiamos nunca nossos
chelas (mesmo os mais avançados) nem os advertimos previamente,
deixando que os efeitos produzidos pelas causas que eles próprios criaram, lhe
ensinem pela melhor experiência." Ao solicitar uma
comunicação direta com o Mestre sem comprometer-se a nenhuma mudança em sua
vida, recebeu como resposta: "Aquele que quiser erguer alto a bandeira do
misticismo e proclamar que o seu reino está próximo tem que dar o exemplo aos
outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus próprios modos de
vida."
OUTRAS FONTES DE INFORMAÇÕES
SOBRE OS MESTRES
A partir de então, a literatura
esotérica em geral e a teosófica em particular, passou a referir-se
extensamente aos Mestres. Informações esparsas divulgadas por alguns de seus
discípulos eram repetidas nos círculos esotéricos, nem sempre com a exatidão
devida, contribuindo para a criação de certas lendas e imagens distorcidas
sobre esses Grandes Seres. Esta situação foi amenizada a partir de 1925, com a
publicação do livro, Os Mestres e a Senda. Seu autor, C. W. Leadbeater,
era discípulo do Mestre K.H. Leadbeater conhecia pessoalmente seu Mestre bem
como alguns outros membros da Grande Hierarquia Branca, como a Fraternidade
destes Grandes Seres é geralmente conhecida. A obra ajudou a colocar muitos
fatos em perspectiva. Leadbeater, era um vidente avançado, conseguindo
comunicar-se com vários Mestres, tanto no plano físico como em outros planos.
Por ser um discípulo Iniciado, teve acesso direto a um grande número de
informações até então desconhecidas no Ocidente. Dentre as revelações de seu
livro vale a pena mencionar a estrutura da hierarquia dos Mahatmas, seu modo
de operação no mundo e seu processo de treinamento de discípulos.
Por outro lado, várias entidades
do astral começaram a enviar mensagens atribuídas aos Mestres. Essas
comunicações geralmente oferecem mensagens calcadas em palavras de
solidariedade humana e amor ao próximo. Muitas chamam a atenção para uma
eminente crise que deverá se abater sobre nosso planeta se os homens não se
regenerarem e atenderem aos apelos dos Mestres para uma mudança de vida. Para
aqueles que conhecem a literatura espírita, essas comunicações atribuídas aos
Mestres guardam um estreito paralelo com as comunicações de entidades
desencarnadas, os "espíritos", que desde o século XIX vêm sendo recebidas por
intermédio de médiuns em diversos países.
Em virtude do teor aparentemente
benéfico dessas comunicações, muitas pessoas poderiam questionar, por que nos
preocuparmos com a autoria dessas mensagens. Se elas estão estimulando as
pessoas para uma vida mais ética e amorosa, o que importa se essa atribuição
aos Mestres é correta ou não? Devemos nos lembrar que o objetivo da vida
espiritual é o conhecimento da verdade, objetivo esse indicado por Jesus
quando nos disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."
(Jo 8:32) Mas não é só isso. Apesar do teor adocicado das mensagens em
pauta, elas trazem em seu bojo três grandes perigos de distorção: sobre a
maneira como os Mestres atuam no mundo, a natureza do progresso espiritual dos
discípulos e alguns aspectos da vida oculta.
RELACIONAMENTO E COMUNICAÇÃO
ENTRE MESTRE E DISCÍPULO
Em primeiro lugar, a atribuição
dessas mensagens aos Mestres cria uma idéia errônea sobre o método de operação
dos Mahatmas no mundo. Provavelmente ainda são válidas as palavras do Mestre
K.H. enviadas a Sinnett e aos teosofistas europeus no século XIX: "Nenhum de
vocês jamais conseguiu formar uma idéia acurada dos 'Mestres' ou das leis do
Ocultismo pelas quais eles são guiados." Os Mestres
sempre indicaram que sua latitude para ação no mundo material é
consideravelmente limitada e que agem, via de regra, por meio de seus
discípulos no mundo e não por meio de comunicações bombásticas ou de fenômenos
para-normais, geralmente chamados de milagres.
Isso ficou claro no caso clássico
de Sinnett que, ao longo de sua extensa correspondência, instou os Mestres a
demonstrarem cabalmente ao mundo sua existência por meio de algum fenômeno
incontestável, como a materialização de um exemplar do jornal The
Pioneer em Londres, no mesmo dia de sua publicação na Índia, e do
Times em Simla, na Índia, no mesmo dia de sua publicação em Londres, o
que, em virtude dos meios de transporte da época, esse feito seria um
verdadeiro "milagre." O Mestre K.H. pacientemente explicou a Sinnett:
"Justamente porque o teste com o jornal de Londres fecharia a boca dos céticos
– ele é impensável... A verdade é que nós trabalhamos usando leis e meios
naturais e não sobrenaturais... Você diz que metade de Londres seria
convertida se você pudesse entregar ao público de lá o jornal Pioneer
no mesmo dia da sua publicação. Permita-me dizer que, se as pessoas
acreditassem que a coisa era verdadeira, elas o matariam antes que pudesse dar
uma volta no Hyde Park, e se elas não acreditassem, o mínimo que
poderia acontecer seria a perda da sua reputação e de seu bom nome, por
propagar tais idéias." O Mestre
continuou a carta por várias páginas, apresentando seus argumentos com extrema
sabedoria e lucidez, provando a Sinnett que a experiência milenar da
Fraternidade comprova que a humanidade sempre resiste aos fenômenos que não
consegue explicar, endeusando ou matando aqueles que os apresentam.
Os Mestres, portanto, agem no mundo
através de seus discípulos. Projetos, mensagens ou ações que desejam realizar
para a humanidade são efetuados por seus colaboradores no mundo material,
sendo atribuídos a esses colaboradores. Esse é um ponto básico, como podemos
verificar com obras 'inspiradas' como Luz no Caminho, A Doutrina
Secreta e tantas outras, que são sempre publicadas em nome do discípulo. O
Mestre solicita ou inspira seu discípulo a agir da forma desejada. Mas, deve
ficar claro aqui, que o Mestre quando muito solicita, sem jamais atropelar ou
forçar o livre arbítrio do ser humano. Os irmãos das trevas agem de forma
diferente, manipulando, hipnotizando ou forçando as pessoas, de uma forma ou
outra, sem respeitar sua vontade própria. Para os agentes
das trevas os fins justificam os meios, para os Seres de Luz isso seria
inadmissível.
Dentro desses parâmetros, e
levando em conta a experiência dos membros da Fraternidade, acumulada ao longo
de inúmeros milênios de atuação no mundo, os Mestres sabem exatamente o que
pode ser feito e o que deve ser feito para ajudar cada indivíduo no seu
estágio atual de evolução. Jamais agem baseados em personalismos e
preferências, mas sempre de acordo com os méritos das pessoas, de suas
condições cármicas e das oportunidades para estender o maior benefício ao
maior número possível de pessoas, por meio das ações a serem realizadas por
seus colaboradores no mundo.
Quando estudamos o maravilhoso
trabalho dos Mestres, podemos imaginar que o mundo seria totalmente diferente
se uma grande parte da humanidade conhecesse esses Grandes Seres. Isso nos
levaria a pensar que um movimento de conscientização popular do trabalho dos
Mestres poderia ser um grande facilitador para a evolução. Somos informados,
porém, que justamente o contrário é verdadeiro. A última carta escrita pelo
Mestre K.H, em 1900, a Annie Besant, então Presidente da Sociedade Teosófica,
urgia ação muito específica a esse respeito: "Muito poucos são aqueles que
podem saber qualquer coisa a nosso respeito... O falatório acerca dos
'Mestres' deve ser silenciosa mas firmemente eliminado. Que a devoção e o
serviço sejam somente para aquele Supremo Espírito, do qual cada um é uma
parte. Nós trabalhamos anônima e silenciosamente, e a contínua referência a
nós mesmos e a repetição de nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha
nosso trabalho."
MÉTODOS DE COMUNICAÇÃO DOS
MESTRES
Convém esclarecer os métodos
conhecidos pelos quais os Mestres capacitam seus discípulos a transmitir
informações e ensinamentos ao mundo. A tradição esotérica sugere que os
Mestres geralmente usam dois métodos para transmitir informações que gostariam
de divulgar à humanidade. No caso de uma obra que no atual estágio evolutivo
da humanidade pode agora ser divulgada, mas que deve ser transmitida
absolutamente sem erros, geralmente imprimem telepaticamente o texto na mente
do discípulo para que esse, por sua vez, possa escrevê-lo de forma correta.
Esse parece ter sido o caso da obra Luz no Caminho, escrita por Mabel
Collins no século XIX. De acordo com Leadbeater, em casos excepcionais, os
Mestres podem até ditar a mensagem a ser transmitida: "Há casos, em que uma
incumbência de grande importância é ditada palavra por palavra, e anotada no
plano físico, na hora, pelo recipiendário, mas tais casos são sumamente
raros."
O outro método, geralmente usado
com discípulos mais avançados, é a transmissão telepática de informações,
conceitos e idéias, deixando por conta do discípulo a formulação do texto
final de acordo com seus dons intelectuais e literários. Essas transmissões
geralmente ocorrem no plano mental abstrato ou no búdico (intuitivo).
Lembramos que nos planos superiores, as comunicações não são realizadas por
palavras, como em nosso mundo. Os conceitos são expressos de uma forma
simbólica sintética, e devem ser "decodificados" ou "traduzidos" em palavras,
pela mente concreta, para serem inteligíveis em nosso plano.
Um exemplo clássico das
comunicações por meio de discípulos avançados é o conhecido trabalho de
Blavatsky A Doutrina Secreta. Ela era capaz de recolher informações dos
registros akáshicos, ler à distância textos que se encontravam em
outros lugares (como na biblioteca secreta do Vaticano) e receber comunicações
de diferentes Mestres colaborando na obra. Porém, a tarefa não era meramente a
de receber um ditado, mas sim a de compor, com suas próprias palavras o texto
a ser produzido. A Condessa de Wachtmeister, sua companheira constante durante
o período em que escreveu A Doutrina Secreta, relata que, um dia: "...
ao entrar no gabinete de Blavatsky, encontrei o chão coberto de folhas
manuscritas. Perguntei a razão desse aspecto de confusão e ela respondeu: -
Sim, tentei doze vezes escrever esta página corretamente e toda vez o Mestre
diz que está errado. Acho que vou ficar louca, escrevendo-a tantas vezes; mas
deixe-me sozinha; não descansarei enquanto não o conseguir, ainda que tenha de
ficar aqui a noite toda. Uma hora mais tarde ouvi sua voz me chamando e, ao
entrar, verifiquei que havia, finalmente, concluído o trecho e de maneira
satisfatória."
COMUNICAÇÕES CANALIZADAS
ATRIBUÍDAS AOS MESTRES
A principal consideração que nos
levou a alertar os estudantes de ocultismo para o perigo dessas comunicações,
apesar de seu caráter aparentemente beneficente, é o fato delas conterem
muitas distorções e, até mesmo, erros factuais e conceituais. Isso sugere que
a grande maioria, se não a quase totalidade dessas mensagens provavelmente não
é de autoria dos Mestres. Numa de suas cartas, K.H. disse a Sinnett que não
era possível a comunicação com ele por meio de médiuns. "Você quer saber por
que é considerado extremamente difícil, se não completamente impossível para
os Espíritos puros desencarnados se comunicarem com os homens através
de médiuns ou Fantasmasofia. Eu digo que é: (a) devido às atmosferas
antagônicas que envolvem respectivamente esses mundos; (b) por causa da
diferença extrema que há entre as condições fisiológicas e espirituais; e (c)
porque essa cadeia de mundos sobre a qual falei a você não é somente um
epiciclóide, mas uma órbita elíptica de existências, tendo como toda elipse
não um, mas dois pontos, dois focos, que nunca podem se aproximar um do
outro. O homem está em um dos focos, e o Espírito puro no outro."
Em outras palavras, as entidades
do astral não são confiáveis como instrutores. Com exceção dos pouquíssimos
Nirmanakayas que atuam
no astral para o benefício daqueles que estão de passagem naquele plano, a
grande maioria dos habitantes do astral que enviam mensagens para pessoas
encarnadas por intermédio de médiuns, já perderam seus princípios superiores e
estão em processo de decomposição. No entanto, devido às características
especiais daquele plano, essas entidades, melhor conhecidas como cascões, ou
cadáveres astrais, retêm parte de sua memória passada e podem, além disso,
entrar em sintonia com as emoções e pensamentos das pessoas envolvidas na
sessão mediúnica. Por essa razão podem enviar mensagens baseadas em sua
memória do passado bem como no conhecimento atual dos encarnados que
participam da sessão. Por isso, as mensagens tendem a refletir a expectativa
dos recipiendários, sendo geralmente aceitas, apesar de não acrescentarem nada
de novo em termos de ensinamentos.
O Mestre K.H., respondendo a uma
pergunta de Sinnett, que sempre mostrou grande interesse pelos processos
mediúnicos, alertou: "Naquele mundo (o astral), meu bom amigo, nós só
encontramos máquinas ex-humanas, inconscientes e autômatas; almas em estado de
transição, cujas faculdades e individualidades adormecidas estão como uma
borboleta em sua crisálida; e os Espíritas esperam que elas falem com
sensatez! Colhidas em certas ocasiões pelo vórtice da corrente anormal
"mediúnica", elas se tornam ecos inconscientes de pensamentos e idéias
cristalizadas em volta dos que estão presentes."
Em inúmeras ocasiões os Mestres
alertaram seus correspondentes sobre os perigos das comunicações mediúnicas em
geral, e da virtual impossibilidade deste meio ser utilizado pelos Adeptos
para suas comunicações com seus colaboradores. Porém, deixaram claro que
muitas comunicações espúrias do astral seriam atribuídas a eles. "Pode ocorrer
que em função de objetivos próprios nossos, médiuns e seus fantasmas sejam
deixados à vontade e livres não só para personificar os "Irmãos", mas até
mesmo para forjar nossa letra manuscrita." Esse ponto deve
ser levado em consideração nas mensagens atribuídas aos Mestres. Todos os
grandes reformadores espirituais alertam para esse fato. Jesus, por exemplo,
disse: "Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados de
ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes" (Mt 7:15).
Examinemos, agora, algumas das
distorções e erros apresentados em certas comunicações atribuídas aos Mestres.
Uma das mais citadas e que provocou considerável impacto nos meios esotéricos
foram as obras de Alice A. Bailey. Ao longo de quase trinta anos (1922 a
1949), Alice Bailey produziu 24 obras, sendo 18 delas atribuídas a uma
entidade, por muito tempo referida simplesmente como "O Tibetano". Nos últimos
anos de suas atividades literárias Bailey deixou escapar, ou deu a conhecer,
os fatos não são muito claros, que "O Tibetano" era o Mestre Djwal Khul, que
havia ajudado o Mestre K.H. no trabalho da Sociedade Teosófica no século XIX.
Alice Bailey tinha uma mente brilhante e destacou-se rapidamente nos meios
teosóficos, chegando a atuar como coordenadora da sessão esotérica da
Sociedade Teosófica nos Estados Unidos. Acabou deixando a S.T. para fundar sua
Escola Arcana, que ministrava por correspondência ensinamentos esotéricos,
baseados nas instruções atribuídas ao Tibetano.
Suas obras, escritas num estilo
literário um tanto convoluto, que tornava os assuntos tratados muito mais
complicados e aparentemente mais profundos, exerceram grande influência nos
meios esotéricos, sendo muito citadas. Com a repetição das citações as
informações apresentadas em suas obras foram adquirindo uma aura de
respeitabilidade inquestionável. Os estudantes de esoterismo que são
submetidos a esse bombardeio de informações de fontes aparentemente
fidedignas, depois de certo tempo, têm dificuldade para separar o joio do
trigo.
O autor deste ensaio pode falar
sobre esta questão com conhecimento de causa, pois foi estudante da Escola
Arcana por cerca de cinco anos, recebendo o material de instrução diretamente
da sede da Escola em Nova Iorque. Se por um lado o material era atraente em
vista da profusão de informações de cunho esotérico, continha vários pontos
que pareciam questionáveis.
Só consegui livrar-me do terrível
emaranhado de dúvidas e questionamentos em que estava enredado, quando vim a
saber que Alice Bailey somente teria tido inspiração do Mestre Djwal Khul para
suas três primeiras obras: Cartas sobre Meditação Ocultista, Iniciação
Humana e Solar, e Tratado sobre Fogo Cósmico. A ajuda e inspiração
interior do Mestre Djwal Khul lhe teria sido retirada pelo fato de usar
aquelas obras e as atividades da Escola Arcana para propagar suas idéias e
preconceitos religiosos adquiridos na infância e durante os anos em que
trabalhou como evangelizadora da Igreja Anglicana na Inglaterra, Irlanda e
Índia.
Bailey acreditava literalmente no
retorno de Cristo para o estabelecimento de Seu Reino na Terra por mil anos.
Esse foi o principal ponto que teria provocado a ruptura com seu Instrutor, a
insistência em seus livros e palestras de que toda a Hierarquia estava
engajada no trabalho de preparação para o "iminente retorno do Cristo". Apesar
de aproximadamente oitenta anos terem se passado desde que começou a pregar
sobre o "iminente" retorno, a chegada de Cristo em nosso sofrido planeta ainda
é uma promessa a ser cumprida, pelo menos no sentido em que sempre foi
entendida pelos fundamentalistas, ou seja, de forma corpórea e com toda Sua
glória externa. Com a retirada da inspiração do Mestre Djwal Khul, não se sabe
que entidade apareceu para ocupar o vazio criado na comunicação psíquica de
Alice Bailey, mas seus livros subseqüentes indicam uma certa mudança de estilo
e passaram a apresentar cada vez mais detalhes curiosos sobre a vida esotérica
e o trabalho da Hierarquia.
OS MESTRES
"ASCENSOS"
A partir da década de trinta, do
século XX, começou a aparecer um tipo especial de comunicação canalizada,
dessa vez referindo-se aos Mestres "Ascensos". Ao que tudo indica, essas
comunicações começaram com as mensagens transmitidas por intermédio de Guy
Ballard. As comunicações de Ballard começam com os detalhes do que teria sido
seu primeiro encontro com o Mestre Saint Germain, no Monte Shasta, na
California. Informou que de lá foi levado em seu corpo sutil, pelo Mestre, ao
retiro de Monte Teton, escondido dentro daquela montanha em Wyoming, EUA. A
partir de então suas experiências foram relatadas em diversos livros, como:
Mistérios Desvelados, A Presença Mágica, Os Discursos EU SOU, Instruções de
um Mestre Ascenso e O Amado Saint Germain Fala. Por ocasião de sua
morte, no Retiro de Royal Teton, teria finalmente ascendido, passando a ser
conhecido como o amado Mestre Ascenso Godfre.
O trabalho de Ballard parece ter
aberto a caixa de Pandora de onde saíram uma infinidade de outras comunicações
atribuídas aos Mestres Ascensos. Uma busca na internet revelará a variedade de
materiais existentes sobre esse assunto. Essas comunicações foram
"canalizadas" não só por sensitivos americanos, mas também de outros países,
inclusive do Brasil. Seria impossível, dentro do escopo deste ensaio, tentar
apresentar algo do trabalho de todos esses sensitivos ou mesmo dos mais
representativos. Procuraremos, no entanto, apresentar as linhas gerais dos
ensinamentos transmitidos por esses diferentes canais, pois guardam
considerável semelhança.
Antes, seria útil mencionar
alguns dos grupos ou movimentos criados em função dessas comunicações. Os mais
conhecidos são:
·
O Movimento EU SOU
·
Ponte para a Liberdade
·
Vahali
·
Fraternidade Pax Universal
·
Fraternidade dos Guardiões da Chama
·
A Fundação Saint Germain
·
O Templo da Presença
·
Fundação para o Ensinamento do Mestre
Ascenso
·
The Summit
Lighthouse.
Vale mencionar que, após as
comunicações de Ballard, talvez os movimentos com maior repercussão tenham
sido a Ponte para a Liberdade e a Summit Lighthouse (Farol do Cume), ambos
fundados nos Estados Unidos, passando a atuar em vários países, inclusive no
Brasil. Parte das informações sobre esses grupos apresentadas a seguir, em
forma resumida, foi retirada de folhetos, páginas da net e livros da Summit
Lighthouse do Brasil.
Em primeiro lugar, o que é um
Mestre Ascenso? Um Mestre Ascenso seria um iniciado que alcançou a Sexta
Iniciação que, para esses grupos, é tida como a Iniciação equivalente na
tradição cristã à Ascensão de Cristo aos Céus para ficar à direita do Pai. De
acordo com essa linha, a Primeira Iniciação seria simbolizada pelo Nascimento
do Cristo, a Segunda pelo Seu Batismo, a Terceira pela Transfiguração, a
Quarta pela Crucificação, a Quinta pela Ressurreição e a Sexta pela Ascensão.
Parece ter havido uma certa confusão nesta codificação das iniciações. Até a
Terceira, as Iniciações como simbolizadas pela vida de Cristo conferem com a
visão de outros autores. As diferenças
aparecem a partir da Quarta Iniciação, já que os eventos da Crucificação e da
Ressurreição, que para a linha dos Mestres Ascensos constituiriam iniciações
separadas, sempre foram considerados pelos estudiosos do Cristianismo
Esotérico como dois aspectos da mesma iniciação. "Na simbologia cristã a
Quarta Iniciação está representada pelas angústias sofridas no horto de
Gethsêmane, a crucificação e ressurreição de Cristo." A crucificação
e a ressurreição representariam, assim, os dois lados da mesma moeda, ou seja,
a morte do homem velho e o nascimento do homem novo de que fala Paulo. A
tradição dos Mistérios egípcios descrevia essa Iniciação ocorrendo numa
cripta. Nela, o candidato era atado sobre uma cruz de madeira, induzido a um
transe profundo, equivalente à morte, descendo então aos mundos inferiores em
seus corpos sutis, para finalmente ser desperto, ou "ressuscitado" pelo
Hierofante no terceiro dia.
A Quinta Iniciação, de acordo com
a tradição esotérica, constituiria a última iniciação do ciclo humano. A
partir de então, os Adeptos passam a trilhar uma nova Senda, incompreensível
para a nossa experiência humana. Nas palavras de Leadbeater, "O Adepto
realizou o propósito através daquilo que o fez homem, e assim dá agora o passo
final que o torna Super-homem – Ashekha, como o chamam os budistas,
pois ele nada mais tem a aprender e exauriu as possibilidades do reino humano
da natureza... No simbolismo cristão, a Quinta Iniciação é representada pela
Ascensão de Cristo e a vinda do Espírito Santo em línguas de fogo, que
corresponde à entrada no Adeptado, porque o Adepto ascende a uma esfera
superior à humanidade e muito além da terra."
As comunicações dos Mestres
Ascensos contêm incontáveis detalhes sobre a vida dos Mestres, suas
encarnações anteriores, os retiros onde vivem, os projetos em que estão
engajados, e os dons e poderes divinos que operam em prol da realização do
grande plano divino. O estudante de esoterismo não cessa de se maravilhar com
as informações de caráter oculto oferecidas. As mudanças na estrutura da
Hierarquia são relatadas em todos seus detalhes. Somos informados que Sanat
Kumara, o Senhor do Mundo, foi convencido a deixar seu posto supremo na
Hierarquia, em favor do Senhor Buda. Com isso várias mudanças ocorreram na
estrutura hierárquica.
"Em 1º de janeiro de 1956, numa
cerimônia realizada no Retiro de Royal Teton (de forma surpreendente nos
Estados Unidos e não em seu tradicional reduto nas regiões trans-Himalaias),
Gautama sucedeu a Sanat Kumara no cargo de Senhor do Mundo e Maitreya sucedeu
a Gautama nos cargos de Cristo Cósmico e Buda Planetário, passando o manto de
Instrutor do Mundo aos candidatos a esse cargo, Jesus Cristo e Kuthumi."
Parece estranho que agora existam dois Instrutores do Mundo, sendo um,
o Mestre Jesus, do Sexto Raio, apesar desse cargo ser sempre ocupado por um
Mestre do Segundo Raio, pois esse reflete a energia divina utilizada nessa
função. Com isso outros espaços teriam sido abertos nos cargos de Chohans dos
Raios. O Mestre Ascenso Lanto teria assumido o cargo de Chohan do Segundo
Raio. Somos informados que Lanto "alcançou sua mestria quando estudava sob a
orientação do Senhor Himalaia, Manu da Quarta Raça Raiz, cujo Retiro do Lótus
Azul está escondido nas montanhas que levam o seu nome." Outra promoção
relatada é a da Mestre Ascensa Nada, que assumiu o Sexto Raio, com a
transferência de Jesus, conjuntamente com Koot Hoomi, para o cargo de
Instrutor do Mundo.
Ao que parece, a Hierarquia
passou, no século XX, a refletir nos planos espirituais os anseios de melhor
representatividade de sexos e raças da era atual. Além da Mestra Ascensa Nada,
somos informados que a Mestra Ascensa Kwan Yin, que teria precedido o Mestre
Ascenso Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio, tornou-se um dos sete
Mestres Ascensos que atuam no Conselho do Carma, trazendo assim um melhor
equilíbrio para a polaridade negativa na dispensação da misericórdia e justiça
divina. Até a minoria negra (nas Américas, onde foram feitas essas
revelações), obteve uma fatia do poder. "O Mestre Ascenso Afra tornou-se o
primeiro Mestre Ascenso da África, passando a ser o patrono da África e da
raça negra." Por outro lado, o caráter predominante anglo-saxão da Hierarquia
fica patente pelos cabelos louros dos Mestres nas fotografias que são
apresentadas no livro:
Senhores dos Sete Raios de Mark e Elizabeth Prophet, e nas páginas da
WEB da Summit Lighthouse do Brasil. Aparecem com cabelos louros: Jesus, Paulo
Veneziano, Saint Germain, Nada e Maria mãe de Jesus. Uma última curiosidade:
provavelmente refletindo o axioma hermético de que o que está em baixo é como
o que está em cima, encontramos na Hierarquia um misterioso ser descrito como
K-17, que seria o Diretor do Serviço Secreto Cósmico.
Com a entrada da Era de Aquário,
os Mestres teriam informado que uma aceleração estaria ocorrendo no processo
evolutivo da humanidade. Para ajudar nessa aceleração a Mestre Ascensa Nada
teria concedido a dispensação da Ciência da Palavra Falada e o Mestre Ascenso
Saint Germain o poder para toda a humanidade transmutar seu carma negativo por
meio da Chama Violeta. Os procedimentos para a utilização desse novo
instrumental são explicados exaustivamente em inúmeras comunicações de
diferentes Mestres. A ajuda parece ser tão poderosa que o discípulo que
proceder de acordo com as instruções ministradas, poderia "ascender" numa só
vida.
É dito que um discípulo
inteiramente dedicado pode passar da Terceira Iniciação para a Ascensão
(Sexta) em seis anos de vida rigorosamente de acordo com a nova dispensação. A
razão pela qual o Caminho tornou-se tão mais fácil, comparado com o das
antigas tradições, é que com a nova dispensação, "Um Mestre Ascenso precisaria
transmutar ao menos 51 por cento de seu carma e receber as iniciações do Raio
Rubi no ritual da Ascensão."
Os Mestres Ascensos conferem
grande atenção à Ciência da Palavra Falada. Essa ciência ter-se-ia originado
no momento da manifestação do Universo, pois, no princípio "Deus disse: 'Haja
luz' e houve luz" (Gn 1:3). Para esse ato criador Deus não pensou nem meditou,
mas sim disse, 'haja luz'. O poder do Verbo é a energia mais poderosa de toda
a manifestação. Os Mestres Ascensos ajudaram o homem moderno a "resgatar a
Ciência da Palavra Falada, utilizada há 12 mil anos atrás nos templos
sagrados da Lemúria e da Atlântida."
A Ciência da Palavra Falada é
operacionalizada por meio de decretos. O homem, a quem Deus outorgou o poder
de ser também um criador, deve ordenar por decreto às hierarquias criadoras,
presididas pelos anjos e arcanjos, especificamente o que deseja realizar. O
decreto é, portanto, "o poder do Verbo na solução de problemas e elevação da
alma." Foi revelado que: "o decreto é a mais poderosa das petições à
Divindade. É uma ordem, proferida pelo filho ou filha de Deus em nome da
Presença do EU SOU e do Cristo, para que a vontade do Todo-Poderoso seja
manifestada, assim em baixo como no alto. É o meio pelo qual o reino de Deus
se torna realidade aqui e agora, usando o poder da Palavra Falada."
Somos informados que o ser humano
deve ter fé no poder dos decretos, pois "A lei cósmica afirma que as idéias
expressas em palavras tornam-se obrigatoriamente realidade quando são
proferidas em nome de Deus e pela autoridade da chama de Cristo." Para aumentar o
incentivo ao uso da Ciência da Palavra Falada, o Senhor Maitreya teria
anunciado por ocasião de uma conferência, realizada em Washington, D.C., em
01/07/1961, que: "De hoje em diante, todo decreto que proferirdes será
multiplicado pelo poder de dez mil-vezes-dez mil", ou seja, será
cem milhões de vezes mais forte.
O outro instrumento utilizado
pelos Mestres Ascensos para acelerar a evolução da humanidade é a utilização
da poderosa energia da chama violeta para a transmutação das negatividades. A
esse respeito os Mestres teriam declarado: "A dispensação permitindo que a
chama violeta fosse posta à disposição dos discípulos neste século foi
concedida pelos Senhores do Carma porque Saint Germain compareceu perante esse
augusto conselho para advogar, como defensor da humanidade, a causa da
liberdade." "A chama violeta perdoa à medida que liberta, consome à medida que
transmuta, elimina os registros do carma do passado (saldando assim as vossas
dívidas para com a vida), uniformiza o fluxo de energias entre vós e os
outros, e impele-vos para os braços do Deus vivente." "Venho esta noite, em
nome de Deus, para declarar a todos os homens que a vida eterna é mantida pelo
poder da chama violeta! Compreendeis o que isso significa, amados? Significa
que o uso da chama violeta e do fogo sagrado dá a todos os homens o passaporte
para a vida eterna, e não há outro meio de obterem a liberdade."
Numa série de comunicações mais
recentes, a Mestra Ascensa Kwan Yin teria concedido à humanidade sofredora um
poderoso método de cura, que veio a ser conhecido como Magnified
Healing (Cura Magnificada). Essa modalidade de cura seria antiqüíssima,
sendo que antes de 1983 só era usada nas dimensões superiores pelos Mestres
Ascensos. Em 1992, pela intervenção direta da Mestra Kwan Yin, a Cura
Magnificada do Deus Supremo do Universo teria sido facultada em sua forma
expandida para o avanço espiritual da humanidade e da Terra. Com a
disseminação desse processo de cura, já existem mais de 21 000 iniciados neste
método em 52 países.
Magnified Healing foi dispensada
originalmente a duas co-originadoras americanas: Kathryn Anderson e Gisèle
King. Kathryn é uma Ministra Ordenada e mestre em Reiki, sendo uma Instrutora
de instrutores. Gisèle é uma curadora, Ministra-Diretora do Movimento da
Fraternidade Universal e mestre em Reiki.
Kathryn e Gisèle teriam recebido
as Chaves finais da Ascensão aceitando o manto de Instrutoras-Mestras de
Magnified Healing do Deus Supremo do Universo, por meio da Mestra Kwan Yin. A
3ª Fase do método de Cura da Luz ter-lhes-ia sido dada pelo Arcanjo
Melchizedek, no final do ano de 1996.
AVALIAÇÃO DAS DOUTRINAS E
PRÁTICAS
Avaliação é uma coisa séria. Para
minimizar os perigos de possíveis erros de apreciação das práticas e conceitos
apresentados na literatura canalizada sobre os Mestres Ascensos, procurarei
ater-me aos fatos mais relevantes, sobre os quais as informações disponíveis
permitem um nível aceitável de segurança nessa avaliação.
Em primeiro lugar, os seguidores
dos Mestres Ascensos enfatizam práticas exteriores em detrimento da
interiorização. Para entendermos o perigo dessa distorção devemos recordar que
os dois esteios da vida espiritual são a autotransformação e a sintonia
crescente com Deus. Para isso é indispensável a introspecção, ou seja, a
mudança de foco do exterior para o interior. A auto-análise e a meditação são
as práticas mais usadas para esses fins. Os seguidores dos Mestres Ascensos,
no entanto, devotam horas às práticas externas sobrando pouco tempo,
entusiasmo e convicção para as práticas internas, principalmente a meditação.
Leadbeater, em suas considerações sobre o caminho iniciático, indica que um
dos três obstáculos para a Segunda Iniciação é a superstição, que "inclui
todas as espécies de crenças irracionais e errôneas, entre elas a de que os
ritos e cerimônias externas são necessários para a purificação do coração. O
Iniciado verifica que todos os métodos que nos são oferecidos pelas grandes
religiões, tais como orações, sacramentos, peregrinações, jejuns e a
observância de múltiplos ritos e cerimônias, não passam de meios auxiliares, e
o homem prudente adotará disso o que ele achar útil para si, porém jamais
considerará qualquer deles como suficiente para alcançar a salvação. Ele sabe
definitivamente que tem de buscar a libertação em seu interior."
A Ciência da Palavra Falada é a
principal prática espiritual dos seguidores desse movimento. Realmente o Som,
também referido como o Verbo, o Logos e a Palavra, é a energia mais poderosa
do Universo. No entanto, o Som primordial, que deu início à manifestação do
Universo, não pode ser tomado como uma palavra pronunciada por Deus, no
sentido em que nós humanos a utilizamos no plano físico. Na realidade, Deus
não é uma pessoa com boca e cordas vocais que pronuncia essa ou aquela
palavra. Portanto, quando é mencionado em Gênesis que Deus disse: "Haja luz",
algo simbólico está sendo comunicado a nós seres humanos, incapazes que somos
de alcançar com nossa limitada mente concreta o que ocorreu no Imanifestado ao
gerar o mais elevado plano espiritual da manifestação. Naquele momento, a
ordem divina "ecoou" numa dimensão do espaço inteiramente diferente do nosso
mundo, fazendo com que a vibração repercutisse de uma forma tal, que nós só
poderíamos concebê-la, em termos de nossa experiência, chamando-a de Palavra
de Deus. Reiteramos que quando tomamos as passagens da Bíblia em seu sentido
literal estamos sujeitos a tirar conclusões inteiramente errôneas. Todas as
escrituras sagradas são coletâneas de ensinamentos profundos velados pela
linguagem da alegoria e do símbolo.
Em alguns casos encontramos
distorções sutis, como na mensagem a seguir, atribuída ao Senhor Maitreya:
"Vários sistemas de meditação ióguica oferecem métodos para acalmar a mente do
homem e produzir uma maior sintonia com o Divino. Alguns desses métodos
tornaram-se arriscados quando aplicados pelo homem ocidental, pois exigem do
praticante uma grande disciplina mental e espiritual. Os decretos, por outro
lado, são relativamente simples de dominar uma vez compreendidos os princípios
básicos, e muito mais eficazes."
Os métodos ióguicos "arriscados"
são aqueles que envolvem a movimentação de energias, como o pranayama,
o laya ioga, o kundalini ioga e o tantra ioga. No entanto, a sabedoria
milenar, conhecendo esses perigos, estabeleceu a tradição de só transmitir a
totalidade da prática por meio de um guru devidamente capacitado, que
acompanha os primeiros exercícios de seu discípulo para assegurar que eles
sejam realizados de forma correta e em segurança. Ainda que alguns livros
pareçam ensinar algumas dessas práticas, ficam faltando sempre alguns passos
fundamentais que só são transmitidos de boca a ouvido.
Também não nos parece correta a
afirmação de que o decreto seja a forma mais elevada de comunicação com Deus,
como sugerido na seguinte passagem: "Essa ciência milenar (a Ciência da
Palavra Falada) combina oração, meditação e visualização com decretos
poderosos – e é um avanço em relação a todas as formas de oração usadas no
Oriente e no Ocidente." Os verdadeiros iogues e os místicos de todas as
tradições sabem, por experiência própria, que justamente o oposto é correto. A
oração falada sempre foi considerada a mais simples de todas as preces. A mais
poderosa é a oração do silêncio, ou contemplação, em que o silêncio se estende
até mesmo à mente. Os místicos conseguem por meio da contemplação alcançar a
união com O Bem Amado, como descrito na obra clássica Castelo Interior ou
Moradas, de Teresa de Ávila. Esse também é o
propósito central do ioga, a aquietação dos processos mentais, descrita na
celebrada obra Ioga Sutras de Patanjali, para que o
iogue alcance o samadhi, ou união com Atma. "Deus é silêncio em
vez de discurso. A coisa mais bela que o homem pode dizer de Deus é que,
conhecendo Suas riquezas interiores ele torna-se silencioso. Portanto, não
seja tagarela com Deus."
Muitos cristãos surpreendem-se ao
saber que a "oração do silêncio" foi ensinada por Jesus, há dois mil anos,
como atesta a passagem: "Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e,
fechando tua porta, ora ao teu Pai que está lá, no segredo; e o teu Pai,
que vê no segredo, te recompensará" (Mt 6:6). Como a linguagem da Bíblia é
simbólica, a seguinte interpretação é sugerida: entrar em nosso quarto,
significa entrar em consciência na câmara secreta do coração. Fechar a porta,
significa desligar-se dos ruídos do mundo e da mente. Orar ao Pai que lá se
encontra, significa nos sintonizarmos com a Presença de EU SOU em nosso
coração. Orar em segredo, significa aquietar a mente e permitir que no
silêncio que se segue, possamos ouvir a Deus, e não nossas próprias palavras e
pensamentos. Finalmente, a recompensa prometida, é sermos admitidos à Sua
Presença.
Quanto à prática de repetição de
decretos em voz alta, talvez outra orientação de Jesus apresentada no Sermão
da Montanha seja pertinente: "Nas vossas orações não useis de vãs repetições,
como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão
ouvidos. Não sejais como eles, porque o vosso Pai sabe do que tendes
necessidade antes de lho pedirdes." (Mt 6:7-8).
As várias mudanças na Hierarquia
anunciadas nas comunicações atribuídas aos Mestres Ascensos poderiam ser
questionadas, a começar pela suposta renúncia de Sanat Kumara de seu posto de
Senhor do Mundo. A tradição sabedoria ensina que esse grande Ser
comprometeu-se a guiar a humanidade por todo o período de manifestação da
Terra, como chefe da hierarquia espiritual de nosso Planeta e Iniciador Único.
Encontramos em A Doutrina Secreta que esse augusto Ser "não deixará o
seu posto senão no último dia deste Ciclo de Vida."
É importante lembrar que o Senhor
do Mundo expressa o aspecto poder (Primeiro Raio) do Logos em nosso Planeta, e
o Senhor Buda o aspecto sabedoria (Segundo Raio). Se, porventura, o Senhor do
Mundo deixasse seu cargo seu sucessor seria um Adepto do Primeiro Raio e não o
Senhor Buda. Como todas as outras
mudanças anunciadas na estrutura da Hierarquia dependem da veracidade da
renúncia de Sanat Kumara a seu posto, achamos mais pertinente não tecermos
argumentos sobre as outras mudanças subseqüentes, apesar de existirem claros
indícios de que as coisas permanecem na Hierarquia como eram há um século
atrás. Mudanças na Hierarquia são muito raras, especialmente nos mais altos
níveis, onde um Grande Ser pode ocupar um posto por muitos milênios. Essa
questão, não só é difícil de resolver com provas cabais, como é ainda, de
certa forma, irrelevante para a vida espiritual. Nosso progresso espiritual
não depende em absoluto de nos mantermos atualizados sobre as supostas
novidades em Shambala.
O aspirante deve se concentrar na
autotransformação e em dar o passo seguinte na Senda, e não em gastar o
precioso tempo que a Providência Divina lhe concedeu em especulações sobre a
vida dos Grandes Seres. Vale a pena lembrarmos mais uma vez a recomendação do
Mestre K.H., em sua última carta escrita em 1900: "O falatório acerca dos
'Mestres' deve ser silenciosa mas firmemente eliminado. Nós trabalhamos
anônima e silenciosamente, e a contínua referência a nós mesmos e a repetição
de nossos nomes gera uma aura confusa que atrapalha nosso trabalho." Encontramos na
tradição judaico-cristã um paralelo nos mandamentos apresentados por Moisés:
"Não pronunciarás em vão o nome de Iahweh teu Deus" (Ex 20:7).
Talvez seja pertinente, porém,
algumas observações sobre alguns membros da Hierarquia, mencionados na
literatura dos Mestres Ascensos. Os novos Chohans que teriam assumido o
Segundo e o Sexto Raio, os Mestres Ascensos Lanto e Nada, não são conhecidos
na literatura esotérica tradicional, sendo mencionados pela primeira vez nas
canalizações atribuídas aos Mestres Ascensos. No caso de Saint Germain e Kwan
Yin os questionamentos são de outra natureza. É dito que Kwan Yin precedeu a
Saint Germain como Chohan do Sétimo Raio e que essa transferência de
cargo deu-se em 1954. No entanto, na
obra Os Mestres e a Senda, publicada pela primeira vez em 1925, é dito:
"O Chefe do Sétimo Raio é o Mestre Conde de Saint Germain, personagem
histórico do século XVIII, também conhecido como o Mestre Rakoczi." Portanto, de
acordo com a tradição oriental, o Conde de Saint Germain já era o
Chohan do Sétimo Raio, bem antes de 1954, quando, de acordo com a
literatura dos Mestres Ascensos, ele teria supostamente assumido essa alta
função.
Com relação à Mestre Ascensa Kwan
Yin, o problema é a personificação antropomórfica de um princípio impessoal.
Kwan-Shi-Yin e Kwan-Yin, são nomes chinêses para os aspectos masculino e
feminino de Avalokiteshvara. De acordo com A Doutrina Secreta:
"Kwan-Shi-Yin é Avalokiteshvara, e ambos são formas do Sétimo Princípio
Universal; enquanto que em seu caráter metafísico mais elevado, essa Divindade
é a agregação sintética de todos os Espíritos Planetários, os Dhyan-Chohans.
Ele é o 'Manifestado por Si Mesmo'; numa palavra, o 'Filho do Pai'." Não podemos
descartar a possibilidade de que tenha existido um Grande Ser,
coincidentemente na China, chamada de Kwan Yin, que tenha se tornado um Mestre
de Sabedoria. No entanto, em nenhuma parte da literatura esotérica, antes do
aparecimento das revelações atribuídas aos Mestres Ascensos, qualquer
referência foi feita a essa personagem. Ao contrário, Kwan Yin sempre
representou um princípio e não uma pessoa.
A outra prática central atribuída
aos Mestres Ascensos é a transmutação do carma por meio da chama violeta, de
acordo com o ministério do Mestre Ascenso Saint Germain. Muitos decretos e
rituais de cura estão voltados para esse fim. Em primeiro lugar, convém
investigarmos o método pelo qual esse procedimento teria se tornado possível.
Numa citação anterior, de material canalizado pela Summit Lighthouse, foi
dito: "A dispensação permitindo que a chama violeta fosse posta à disposição
dos discípulos neste século foi concedida pelos Senhores do Carma porque Saint
Germain compareceu perante esse augusto conselho para advogar, como defensor
da humanidade, a causa da liberdade." Em primeiro lugar, os Senhores do Carma,
ou Lipikas, os "escribas" que registram todas as palavras e ações dos
homens nesta Terra, como são conhecidos na literatura esotérica, "são os
agentes do carma" e não membros
de um suposto conselho do carma. O carma sendo uma lei fundamental e
inexorável da operação da manifestação não está sujeito a "deliberações" de um
conselho. Tampouco os Mestres agem como políticos, de forma emotiva visando o
impacto popular, procurando modificar uma lei irrevogável "advogando, como
defensores da humanidade, a causa da liberdade."
A transmutação, porém, é uma
realidade conhecida da alquimia. Como Saint Germain foi o maior alquimista
conhecido, é natural que os rituais de transmutação sejam sempre referidos a
Ele, principalmente quando é utilizada a chama violeta, instrumento de
trabalho notório do Sétimo Raio. No entanto, existe uma grande diferença entre
transmutar as negatividades de um indivíduo e transmutar seu carma. Quando
falamos de transmutar negatividades, estamos nos referindo às tendências da
natureza inferior da pessoa. Essas tendências, skandas de acordo com os
budistas ou samskaras de acordo com os hinduístas, são os tiranos que
escravizam os homens numa roda viva de repetições de atos, palavras e
pensamentos negativos, que necessariamente resultam em sofrimento.
Mas transmutação de carma é outro
departamento. O carma é uma das leis fundamentais do universo e, como tal, é
imutável. Imaginemos, por exemplo, outra lei do universo, a da gravitação. O
que iria ocorrer se um Grande Ser decidisse alterar um pouco a gravitação do
planeta Terra, para que ele ficasse mais perto do Astro Rei, o Sol? Ou ainda
acelerar ou retardar um pouco a rotação da Terra ao redor de seu eixo? Por
pouco que fosse a alteração, o resultado seria uma catástrofe indescritível.
Uma lei divina universal é, por definição, tautologicamente, universal e
eterna. Não pode ser alterada.
Blavatsky afirma categoricamente
que: "Os Mahatmas são os servos, não os árbitros da Lei do Carma." Vemos nas
Cartas dos Mahatmas várias passagens indicando a imutabilidade do carma: "A
justiça absoluta não vê diferença entre os muitos e os poucos... Em nossa
Fraternidade todas as personalidades submergem em uma idéia – o direito
abstrato e a justiça prática absoluta para todos." "Não podemos
alterar o Carma, meu 'bom amigo', de outro modo nós dissiparíamos a nuvem
atual que há sobre seu caminho. Mas fazemos tudo o que é possível nestas
questões materiais." "A vida e a
luta pelo Adeptado seriam muito fáceis, se tivéssemos sempre varredores atrás
de nós a limpar os efeitos por nós gerados em nossa inconsideração e
presunção." "Tendes
especialmente de conservar em mente que a mais leve causa produzida, embora
inconscientemente, e seja qual for seu motivo, não pode ser desfeita nem os
efeitos detidos em seu progresso, nem mesmo por um milhão de Deuses, demônios
e homens combinados." Podemos em sã
consciência imaginar que os sábios membros dessa Fraternidade, tendo afirmado
de forma tão contundente a imutabilidade do carma, iriam mudar de idéia alguns
anos mais tarde e passar a 'varrer atrás de seus devotos os efeitos gerados
por seu carma?', ou 'transmutar as causas produzidas e seus efeitos, que nem
mesmo um milhão de Deuses, demônios e homens combinados podiam desfazer?'
Jesus também pregou a
imutabilidade do carma. Algumas passagens da Bíblia atestam esse fato, na
linguagem simbólica que lhe é usual: "Porque em verdade vos digo que, até que
passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei
(do carma), sem que tudo seja realizado" (Mt 5:18). "Assume logo uma
atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho,
para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz, ao oficial
de justiça, e, assim, sejas lançado na prisão (da roda de
renascimentos). Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares
o último centavo" (Mt 5:25-26). "Tudo aquilo, portanto, que quereis que os
homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os (ensinamentos
dos) profetas" (Mt 7:12). Paulo também reiterou esse ponto fundamental da
vida espiritual em várias passagens, sendo a mais direta: "Não vos iludais: de
Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá" (Gl 6:7).
A imutabilidade do carma coloca
em cheque todas as reivindicações de práticas que prometem a transmutação
parcial ou total do carma. A repetição de decretos e o processo de cura de
Magnified Healing enquadram-se nessa categoria. Magnified Healing é certamente
uma poderosa energia de cura. Tendo recebido algumas aplicações dessa energia,
posso afirmar que senti a energia atuando em meu corpo. Tudo leva a crer que
Magnified Healing poderia ser considerado um "super-Reiki" ou "Reiki
magnificado." Essa hipótese ganha força quando verificamos que as duas
americanas disseminadoras originais do processo já eram mestras de Reiki por
muitos anos. Ainda que Magnified Healing seja comprovadamente uma poderosa
energia de cura, atuando sobre os corpos sutis do ser humano, as considerações
expostas acima, sobre a imutabilidade do carma como uma lei universal, põem em
questionamento a reivindicação de que a dimensão espiritual dessa energia
também poderia transmutar o carma do "paciente." É interessante notar que a
aplicação dessa energia, dispensada pelo 'Deus Supremo do Universo,' pode ser
cobrada dos "pacientes," em contraste com a antiga lei oculta de que as
energias espirituais não podem ser objeto de comercio. Nesse particular nossos
irmãos espíritas são mais coerentes: os 'passes', a participação em rituais de
cura e até mesmo as operações espirituais não são cobradas, ainda que os
beneficiários possam contribuir de livre e espontânea vontade para a
manutenção da obra. O estudante de esoterismo teria muito a aprender sobre
essa questão em Palmelo, cidade goiana onde existem dezenas de indivíduos e
instituições voltados para a cura espiritual.
Voltando ao carma, a Lei divina
estabelece que a semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória. Mesmo os
chelas e iniciados estão sujeitos à Lei. Isso nos remete ao ponto
seguinte, a suposta aceleração do processo evolutivo, possibilitando a um
discípulo tornar-se um Mestre Ascenso transmutando somente 51 por cento de seu
carma.
A milenar tradição esotérica
postula que, para receber a Quarta Iniciação, o Iniciado tem que quitar todo
seu carma pendente. Essa é a razão porque alguns neófitos estranham o fato de
certos santos e notórios servidores da humanidade, que ao longo da vida
mostraram desprendimento, sabedoria, amor ao próximo e bondade para com todos
os seres, sofrerem todo tipo de infortúnio, doenças e até mesmo perseguições.
Talvez um ou dois exemplos facilitem o entendimento da Grande Lei. O saudoso
Chico Xavier passou a vida fazendo o bem, mas foi várias vezes injuriado e
durante toda a sua vida sofreu de uma ou outra doença. Com seu conhecido bom
humor, dizia que, apesar de uma vida celibatária, sempre foi assediado por
duas senhoras: Glaucoma e Angina, que não lhe deixavam em paz (com terríveis
dores nos olhos e no coração).
A indômita Helena Blavatsky
renunciou a tudo para viver exclusivamente a serviço do mundo, tendo sido
difamada, injuriada e passado por necessidades materiais e enfermidades
dolorosas, permanecendo, porém, sempre firme no serviço de seu Mestre. Dois
fatos relacionados à imutabilidade do carma aparecem de forma curiosa na vida
de Blavastky. Numa batalha pela unificação da Itália, recebeu um tiro, ficando
a bala alojada perto da coluna, causando-lhe dores e desconforto. Apesar dos
médicos não poderem retirar a bala ela, com seus poderes ocultistas, poderia
desmaterializar o projétil. No entanto, não tinha permissão para faze-lo, pois
estaria infringindo a lei do carma e usando poderes ocultos em benefício
próprio. Num determinado momento enquanto estava trabalhando na sua grande
obra, A Doutrina Secreta, seu corpo combalido não dava mais sinais de
resistir aos inúmeros problemas de saúde que enfrentava. O médico que a
acompanhava já dava como certa a sua morte. Nesse instante, porém, seu Mestre
apareceu em corpo físico e perguntou se ela queria por um fim ao seu
sofrimento ou preferia continuar a viver para terminar seu trabalho. Blavatsky
não hesitou em decidir pela continuação do trabalho. Seu Mestre, então,
reanimou seu corpo dando-lhe uma sobrevida, porém, sem curar as doenças que
tinha, ou seja, sem mudar seu carma.
A única explicação para essas
aparentes incoerências do carma, nos casos de Chico Xavier, Blavatsky e
tantos outros servidores da humanidade, é o fato de que esses grandes
iniciados estariam resgatando o restante de seu carma ainda pendente de vidas
passadas, para capacitá-los à Quarta Iniciação, que os tornariam
Arhats, seres que não mais precisam encarnar, se optarem por entrar em
Nirvana. A vida de sofrimento dos candidatos à Quarta Iniciação é, certamente,
equivalente a uma verdadeira "crucificação" ainda que, no seu devido tempo, as
atribulações sejam substituídas pela glória da "ressurreição."
A possibilidade de uma aceleração
no processo evolutivo por meio de certas práticas é, sem dúvida, um grande
incentivo para qualquer aspirante. No entanto, o famoso Caminho Acelerado de
que trata a tradição esotérica, é o árduo Caminho da Iniciação, para o qual
existem regras milenares rígidas seguidas pela Grande Hierarquia. A tradição
menciona que o homem passa simbolicamente por 777 encarnações, desde sua
individualização como ser humano até tornar-se um super-homem, um Iniciado do
Quinto Grau, um Mestre de Sabedoria. As primeiras 700 encarnações simbolizam o
longo caminho do homem mundano, materialista, vivendo para a gratificação dos
sentidos. As 70 encarnações seguintes simbolizam o considerável período de
desenvolvimento intelectual e moral, levando ao despertar espiritual, até
tornar-se um discípulo aceito preparando-se para a Primeira Iniciação. As
últimas 7 encarnações simbolizam o Caminho Acelerado, o número de encarnações
necessárias para aquele que "entrou na corrente" atingir "a outra margem," ou
seja, trilhar o Caminho Iniciático da Primeira à Quinta Iniciação.
Esses números de encarnações,
obviamente são simbólicos. Podem ser mais ou menos, dependendo do empenho de
cada alma. O que é importante é a ordem de grandeza das três grandes etapas: a
etapa das Iniciações representaria um décimo do tempo da etapa de evolução
intelectual e moral, e essa um décimo da etapa da vida do homem comum,
inteiramente mundana, egoísta e materialista.
Em contraste com essa experiência
milenar, a literatura dos Mestres Ascensos acena com uma notável aceleração do
processo. Por exemplo, é dito que o discípulo dedicado pode passar da Terceira
Iniciação para a Ascensão em seis anos de trabalho intenso. Somos informados,
também, que os principais "canais" desses movimentos, chamados de "mensageiros
dos Mestres" teriam alcançado a Ascensão, ou seja a Sexta Iniciação, enquanto
se supõe que Blavatsky e Chico Xavier não alcançaram mais do que a Quarta
Iniciação. Guy Ballard teria se tornado o Mestre Ascenso Godfre e Mark Prophet
o Mestre Ascenso Lanello.
Espera-se que um ser que
"ascendeu" tenha tido uma longa série de encarnações à serviço da humanidade.
Esse parece ter sido o caso dos dois grandes mensageiros dos Mestres Ascensos.
Ballard relatou ter-se encarnado anteriormente como George Washington, e os
reis da Inglaterra Henrique V e Ricardo I (Ricardo Coração de Leão). No caso de Mark Prophet, sua viúva
informa-nos que em vidas passadas ele teria sido: Noé, Ló, Ikhnaton, Esopo, o
discípulo Marcos, Orígenes, Lancelote, Bodhidharma, Saladino, Boaventura, Luís
XIV e Longfellow.
Obviamente não nos compete
questionar a nobre linhagem desses mensageiros dos Mestres Ascensos, pois não
temos credenciais para tanto. No entanto, devemos lembrar que o Noé da Bíblia
é um personagem mítico. Ele representa o poder criativo masculino, sendo
também a personificação de um dos dez Sephiroth. Nas palavras de
Geoffrey Hodson: "Noé é a personificação do ocupante de uma Função
(Manu) no Governo Espiritual dos Sistemas Solares, Cadeias, Rondas,
Planetas e Raças. Noé representa mais especialmente os Manus Raiz e
Semente, cuja vocação é de absorver e preservar dentro de suas auras (arcas),
durante os Pralayas (dilúvio), as sementes das coisas vivas e as
Mônadas dos homens. Essas eles entregam aos seus sucessores no início do
Manvantara seguinte (a dispensação após o dilúvio)."
È provável, portanto, que tenha
havido um engano nas informações canalizadas por Elizabeth Prophet. Não é
possível que Mark Prophet tenha se encarnado como Noé. É dito que na
Hierarquia Terrena, um Manu é um Iniciado do Sétimo Grau. Portanto, se
Mark porventura tivesse sido Noé, teria regredido em vez de evoluir, pois,
após várias encarnações, teria alcançado no século passado outra vez o nível
de um Mestre Ascenso, ou seja a Sexta Iniciação, na terminologia da Summit
Lighthouse. Esse fato levanta uma dúvida: erros semelhantes também não
poderiam ter ocorrido em outras partes do material canalizado por Elizabeth
Prophet e pelos outros mensageiros dos Mestres Ascensos? Nesse caso, que grau
de confiança podemos ter no material canalizado?
CONCLUSÕES
É dito que existem tantos
Caminhos como existem seres humanos e que as necessidades de cada um mudam com
o passar do tempo. Assim como as brincadeiras de criança dão lugar aos
esportes e à busca da sensualidade no adolescente, mais tarde aos jogos de
poder no adulto e, finalmente, no homem maduro ao anseio espiritual, assim
também, o buscador da verdade passa por diferentes etapas em sua jornada. Em
cada etapa da vida teremos novos desafios. Assim como a fruta só aparece na
estação certa, no ser humano o amadurecimento espiritual virá no seu devido
tempo, e a Providência Divina colocará ao nosso alcance as circunstâncias mais
favoráveis ao nosso progresso. Cabe a cada um, porém, discernir o que lhe é
mais apropriado e tomar as ações devidas para aproveitar as oportunidades ao
seu alcance.
Porém, devemos ter sempre em
mente que todas as informações, instruções e revelações do exterior, estejam
elas contidas nas Sagradas Escrituras, livros inspirados, nas palavras de
grandes sábios ou em mensagens canalizadas, são meramente meios para um fim. O
objetivo último de toda a vida espiritual é a experiência interior de unidade
com o Todo e com todos, ou a união com Deus, como dizem os místicos. Nas
palavras de Lama Govinda, "Os instrutores tibetanos sempre enfatizam o fato de
que a verdade última não pode ser expressa em palavras, mas somente
experimentada em nosso interior. Portanto, nossas crenças não são importantes,
mas sim o que nós experimentamos e praticamos, e como isso afeta a nós mesmos
e o ambiente que nos cerca."
Aqueles que se sentem
confortáveis em sua tradição ou movimento, nele encontrando tudo o que seu
coração pede, devem aproveitar para mergulhar fundo em seus estudos e,
principalmente, em suas práticas. Devemos ter em mente, porém, que cada um de
nós é um diamante em processo de lapidação. Existem inúmeras facetas dessa
pedra preciosa que precisam ser buriladas. Em geral, precisamos mudar de
posição ou a direção do movimento, para burilar uma nova faceta. Por isso
devemos ter em mente a sabedoria milenar contida na preciosa obra: Luz no
Caminho. Nela somos instados a buscar o caminho: "Busca o caminho,
retirando-te para o interior. Busca o caminho, avançando resolutamente para o
exterior. Busca-o, mas não em uma direção única. Para cada temperamento existe
uma via que parece a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o
caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso,
nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da
vida. Nenhuma dessas coisas por si só faz adiantar ao discípulo mais que um
passo. Todos os degraus são necessários para subir a escada."
Por essa razão, convém ao
buscador estar sempre atento a outros enfoques, a outras doutrinas, além
daquelas professadas por sua religião, movimento ou tradição. É dito que uma
das melhores maneiras de entendermos as doutrinas de nossa religião é
estudarmos outra religião. Como estaremos começando do princípio e, no caso da
"religião dos outros," não seremos tolhidos por questões de fé doutrinária,
torna-se mais fácil estudarmos e questionarmos até entendermos os pontos
fundamentais dessa outra religião. Isso invariavelmente nos remeterá a vários
pontos paralelos de nossa própria religião, que anteriormente haviam sido
aceitos mesmo sem ser entendidos. Como todas as religiões originam-se da mesma
fonte e levam ao mesmo objetivo, não é de se estranhar que venhamos a
encontrar inúmeras concordâncias ou paralelos em seus aspectos fundamentais. A
teosofia, a sabedoria divina, é exatamente a essência esotérica fundamental
que está por trás de todas as grandes religiões e tradições.
Para meus queridos irmãos,
seguidores dos ensinamentos dos Mestres Ascensos, que ainda estão lendo com
pertinácia este ensaio, apesar dos questionamentos levantados, sugiro
simplesmente que procurem ler as cartas dos Mestres publicadas originalmente
no século passado, e disponíveis agora em português. Algumas pessoas
talvez prefiram ler inicialmente o livreto: Meditações. Excertos de Cartas
dos Mestres de Sabedoria, que apresenta
citações selecionadas, relacionadas com as principais virtudes requeridas na
vida espiritual. Com essa leitura terão um termo de comparação entre o estilo
e a doutrina ensinada pelos Mestres no final do século XIX e aquela
apresentada atualmente pelo material canalizado atribuído aos Mestres
Ascensos. Se esse estudo indicar que não existe grande diferença entre as duas
fontes, então poderão prosseguir com consciência tranqüila de que estão
tomando todos os cuidados possíveis para caminhar sempre em terreno sólido.
Se, no entanto, descobrirem que existem diferenças importantes de métodos de
instrução e de doutrina, terão então uma oportunidade para desenvolver seu
discernimento e testar até que ponto a intuição é capaz de guiar sua vida.
Não há dúvida de que o anseio por
receber instrução do Mestre é legítimo. Porém não podemos nos esquecer de duas
máximas do ocultismo. A primeira é que: "Quando o discípulo está pronto o
Mestre aparece." Será que realmente estamos prontos para ser instruídos pelos
verdadeiros Mestres? Estamos prontos para enfrentar uma disciplina de
treinamento mais exigente e rigorosa do que a dos atletas olímpicos, não só
por alguns meses ou anos antes da competição, mas por toda nossa vida? Estamos
prontos para assumir o compromisso de servir à humanidade, sem nenhuma
distinção, por séculos e milênios sem fim, até que o último ser humano seja
salvo? Estamos prontos para renunciar ao nosso conforto, aos nossos interesses
pessoais e até mesmo aos nossos bens, para executar o trabalho do Mestre?
Estamos prontos a continuar a servir, mesmo quando vilipendiados e injuriados?
Estamos realmente conscientes de todas as implicações de nossa eventual
aceitação como discípulo do Mestre?
A segunda máxima, uma extensão da
lei do carma, é de que "Cada um tem o Mestre que merece." Somente o próprio
indivíduo pode avaliar o grau de sua pureza de coração, de seu altruísmo, de
sua entrega à Deus, de seu amor incondicional por todos os seres, de sua
humildade e de seu discernimento, para saber que tipo de Mestre ele
merece.
O livreto apropriadamente
intitulado Aos Pés do Mestre, de autoria de Krishnamurti, menciona que
existem quatro qualificações para Senda. "A primeira dessas qualificações é o
Discernimento, usualmente tomado no sentido da distinção entre o real e o
irreal, que conduz o homem a entrar na Senda. É isso; mas é também muito mais,
e deve ser praticado não somente no início da Senda, mas a cada passo, todo o
dia, até o fim." Os Grandes
Instrutores alertam repetidamente que todo discípulo está se preparando para
tornar-se um Mestre e, portanto, deve desenvolver seu intelecto, percepção e
discernimento ao ponto de jamais ser enganado pelas ilusões do mundo. Se
aspiramos a nos tornar discípulos, devemos também desenvolver o discernimento,
investigando todos os ângulos da doutrina que nos for apresentada. Essa era
uma recomendação constante do Senhor Buda: submetermos sempre ao crivo da
mente e do coração os ensinamentos que nos são passados pelos sábios e pelas
Escrituras, incluindo até mesmo a doutrina que ele havia ensinado. A fé cega
leva ao fanatismo e à estagnação. A fé consciente, ao contrário, leva ao
crescimento e, no seu devido tempo, à iluminação.
Que a Luz Divina ilumine nossas
mentes e fortaleça a nossa determinação, para que possamos trilhar o árduo
Caminho da Perfeição que leva, no seu devido tempo, aos pés do Mestre.