A INTERNET ENQUANTO METÁFORA
John Algeo
As metáforas são figuras de linguagem poderosas. Blavatsky declarou que os antigos teosofistas eram chamados
analogistas devido ao seu costume de interpretar todos os mitos e escrituras sagradas como sendo análogas às
experiências da alma humana. Atualmente, nossos mitos e escrituras são do tipo secular, mas, mesmo assim, elas não são
menos apropriadas à interpretação analógica ou metafórica do que foram os mitos e escrituras do passado.
Hoje em dia, um dos mais poderosos artefatos de nossa sociedade é o computador. Já se afirmou que ele é a invenção mais
influente desde que Gutenberg trouxe os livros dos monastérios e colocou-os nas mãos das pessoas comuns em todo
lugar. E isto pode ser apenas um lado da questão. O computador é uma grande ferramenta, um grande foco para o
mito, e uma grande metáfora.
Pensemos por alguns instante no que venha a ser o computador. Ele possui dois aspectos, ambos essenciais. Por um lado é
um amontoado de mecanismos: um teclado, uma tela, e uma unidade central com fios, chips e placas, e outros
componentes misteriosos, através dos quais fluem os impulsos elétricos. Isto é o "hardware". Por um outro ângulo, o
computador é também um sistema de instruções ou programas que dirigem o fluxo da eletricidade através do hardware.
Isto é o software. O "soft", como também é chamado, não é um objeto real. Ele é um conjunto de impulsos que
controlam a energia elétrica.
Não nos exigirá muito da imaginação para percebermos que no computador nós podemos divisar uma analogia com a
constituição humana. O hardware é o nosso corpo (ou nossos corpos, se pensarmos à respeito de nossas emoções,
mente e intuição como coisas materiais). A eletricidade que flui através do hardware é como o prana ou jiva, a energia
vital, que flui pelos nossos corpos. Do mesmo modo que a eletricidade não pertence ao hardware do computador, mas
apenas flui por seu intermédio, igualmente a energia vital da existência não pertence aos nossos corpos, mas somente
flui através dele. A eletricidade e o prana são ambas forças universais que nós utilizamos, mas que não são
nossas.
Os programas, ou softwares, que comandam o hardware são idênticos à nossa consciência. Como o software, a alma é
"descorporificada", apenas um conjunto de impulsos que controlam a energia que governa o corpo. O pai da
cibernética, Norbert Weiner (que compara nosso cérebro e sistema nervoso a um sistema eletrônico idêntico a um
computador), declarou que os seres humanos não são coisas "permanentes", mas sim padrões que perpetuam a si
mesmos. Nossas almas e consciência são estes padrões que se auto-perpetuam. Elas são nosso software.
O hardware e o software tem que trabalhar em conjunto. Nenhum deles funciona propriamente sozinho. Se você possui o
mais avançado hardware jamais construído, mas não possui software, ele não faz nada. Ele apenas ocupa lugar, inerte.
A eletricidade pode até fluir através dele, mas ele não realiza nada. O equipamento sem o programa é como um corpo
sem uma alma. Ele é um máquina morta, ou quando muito possui uma vida vegetativa.
Ao mesmo tempo, o mais sofisticado programa do mundo é inútil a menos que exista algum equipamento para "rodá-lo". O
software é em si apenas um conjunto de instruções, de impulsos eletrônicos potenciais. Ele necessita da eletricidade
para ativá-lo e o equipamento para liberar o seu potencial. Ele é uma alma sem um corpo. Os disquetes nos quais o
programa é armazenado guardam semelhança com os átomos permanentes, ou os "skandhas" dos budistas. Quando
você os insere em um "drive" do equipamento, e a eletricidade começa a fluir através dele, coisas maravilhosas
acontecem. Neste momento uma alma carregada com a vida universal ativa um corpo, que produz um indivíduo.
Mas há mais. Mesmo o mais avançado equipamento e o mais sofisticado programa, com a eletricidade fluindo
perfeitamente através deles, ainda assim não fazem nada sozinhos. Mais um elemento é necessário. Alguém tem que
sentar diante do teclado e comandar as instruções. Este alguém tem que observar o monitor e verificar quais são os
resultados e continuar fornecendo instruções apropriadas, por intermédio de comandos também apropriados. Assim,
tem que existir um "operador" do computador. O operador é análogo ao EU ou Atma. Ele aciona o interruptor que
inicia o fluxo da eletricidade; ele escolhe o programa a usar; ele seleciona o equipamento a recebê-lo. Ele inicia tudo.
Ele controla tudo, e tudo é feito por e para ele.
Então, o computador é realmente uma grande metáfora para nós; corpo, mente e espírito.
Mas isto não para por aqui. Isto porque existe a Internet, que tem sido muito divulgada ultimamente. Ela tem sido chamada
de "A Super-rodovia da Informação", ou "Infobhan". O que é exatamente a Internet?
Pense em um escritório que possua um certo número de computadores. Cada computador tem seu próprio operador,
utilizando aquele equipamento para um trabalho individual. Mas os operadores precisam estar em contato uns com os
outros. Eles precisam saber o que está acontecendo em todo o escritório, e eles precisam dividir alguns dos mesmos
materiais, dados e programas. Assim, logo o gerente do escritório interliga todos os computadores por meio de
cabos, de forma que eles possam partilhar a informação e outros recursos. Esta é uma pequena rede dentro de um
escritório.
Agora imagine que alguns escritórios, em diferentes partes da cidade, também necessitem estar interligados. Então, cada
escritório (ou computador no escritório) vem a possuir um "modem" (modulador-demodulador), que é uma máquina
que liga o computador à linha telefônica, e traduz a informação do computador num formato que que possa ser
transmitido pela linha telefônica até outro modem, em outro computador. Agora possuímos um número de escritórios,
cada um dos quais constituindo uma pequena rede de comunicação, interligadas conjuntamente numa rede ainda maior,
abrangendo toda a cidade.
O próximo passo é visualizar que esta rede maior se interliga, por meio de modems, linhas telefônicas e outros cabos, à
outras redes similares em outras cidades. Então teremos uma rede nacional, constituída de redes de redes. E
imaginemos que esta conecta-se com redes similares em outros países, de forma que finalmente conforma-se uma rede
global, constituída de muitas redes dentro de outras redes - uma aura, ou emaranhado, de redes. Isto é a
Internet.
É possível, uma vez que estejamos interligados à Internet, estar em contato com pessoas no outro lado do mundo e nos
comunicar com elas enviando mensagens através do admirável labirinto da Internet. Suas mensagens não seguem
diretamente à pessoa para quem você mandou, mas sim é "ecoada", à velocidade da luz, através de múltiplos canais da
Internet. A Internet é uma hierarquia de conexões que possibilita a grande democracia da interconexão.
E isto possui alguma analogia conosco?
Nós somos indivíduos, em nossos próprios e separados computadores, equipamento e programa, funcionando graças à
força elétrica universal, e controlados pela nossa faceta real, o operador espiritual que é nosso EU superior. Mas nós
estamos todos interligados na incrível hierarquia das conexões que finalmente permite a cada um de nós estar em contato
com todos os outros.
A involução da vida provém da unidade inconsciente do absoluto e cria as individualidades separadas que somos nós
mesmos. Nos tornamos conscientes, mas também nos tornamos separativistas. Agora a evolução nos leva adiante
reunindo cada ego separado em uma comunidade, numa unidade comunicativa. No processo não perdemos nossa identidade
separada. Permanecemos distintos. Mas nos conectamos, somos re-ligados, à unidade consciente.
A Sociedade Teosófica é uma rede. Mas ela está interligada, nos planos ocultos, com outras redes, e todas juntas
constituem nossa Internet espiritual planetária. Os membros da Sociedade se associam à grande Internet através da
rede da Sociedade. Interligamos nossos equipamentos conjuntamente neste núcleo particular. Mas através dele nós
estamos conectados com uma rede que não conhece limites. Pois nós integramos a rede da Vida Cósmica e seu
Propósito.
Isto é uma metáfora perfeita. E realmente uma realidade.
(The American Theosophist, 1994, V.82, Nº 6)
* John Algeo é atual presidente da Seção norte-americana da
Sociedade Teosófica.