"Quem determinou ao sol e as estrelas o
seu caminho?
Quem além de Ti faz a lua minguar e crescer?
Quem colocou a terra em seu lugar abaixo do
céu nublado de modo que não caia?
Quem estabeleceu as águas e as plantas?
Quem domou os cavalos do vento e das chuvas?
Quem, oh Sábio, é o criador da Boa Mente?
Qual artífice fez a luz e a escuridão?
Qual artífice fez o sono e o despertar?
Quem fez a manhã, o meio-dia e noite,
para lembrar os homens sábios de sua tarefa?
É como Boa Mente que tu fundaste teu Domínio?
Quem criou a Devoção, consagrada com o
Domínio?"
ZOROASTRO
"Todas as outras coisas têm uma porção de
tudo, mas a Mente é infinita e autogovernada... Pois ela é a melhor das coisas,
e a mais pura; ela tem todo o conhecimento sobre tudo e o maior dos poderes. E
a Mente controla todas as coisas que possuem vida, tanto as maiores como as
menores."
ANAXÁGORAS
A história européia começou com a emergência
de Atenas como a cosmópole clássica do norte do Mediterrâneo. Atena venceu uma
disputa com Posseidon, decidindo a soberania protetora sobre a Ática, ao dar à
região a sagrada e nutritiva oliveira, e sua ave sagrada, a coruja, se tornou o
símbolo da cidade. Duplamente abençoada, Atenas se tornou o foco das forças
convergentes que dentro de um breve período iniciariam uma cultura de tamanha
criatividade e esplendor que as gerações subseqüentes na Europa a considerariam
a fonte da ciência, da ética e do conhecimento da alma. Primeiramente Atenas
atraiu idéias para si mesma, e mais tarde atraiu pensadores, até que veio a
abrigar as escolas e tradições que forneceram as fundações do pensamento
europeu. Talvez mesmo antes do tempo de Homero, uma incipiente decadência
antropomórfica começou a minar o apelo da mitologia micênica e minóica. Os
deuses como personificações das forças inteligentes no Homem e na Natureza
foram degradados em seres que refletiam somente os mais superficiais traços
humanos. À medida que os Mistérios se retiravam cada vez mais da vista
profanadora do olho público, embora não do conhecimento público, os pensadores
procuraram por novas maneiras de vivificar os significados mais profundos da
existencia humana. Os antigos filósofos enfatizavam ou um entendimento da
natureza livre de seus excessos antropomórficos, ou a dimensão ética na estrutura
do cosmos. Pitágoras e Platão levaram esta última preocupação a uma fruição
sublime, e Anaxágoras deixou os fundamentos do método experimental e da ciência
teórica.
Anaxágoras nasceu na cidade portuária de
Clazômene, na Jônia, em torno de 500 aC, embora quase nada seja conhecido de
sua vida ou da ordem dos seus eventos. Seu pai, Heguesíbulo, era extremamente
rico, e Anaxágoras aparentemente devotou os primeiros anos de sua vida
comodamente ao estudo. Embora fosse uma cidade grega, Clazômene havia caído em
poder dos persas, e é provável que o pensativo Anaxágoras tenha aprendido os
rudimentos da religião ensinada por Zaratustra, a quem os gregos chamavam de
Zoroastro. Ahura-Mazda, o Senhor da Luz, não pode ser descrito em termos
humanos crus, embora Vohu-Maná, a Boa Mente, o primeiro aspecto da Deidade
manifesta, seja visto como aquele que ordena e move todas as coisas. Antes do
que pela forma humana, Ahura-Mazda e seus sete aspectos são melhor
representados por um fogo eterno e pelo candelabro de sete braços. Desde o
início de sua vida ativa, Anaxágoras fez do fogo um tema central em seu
pensamento. Quando ele tinha em torno de vinte anos, viajou para Atenas, onde
sua riqueza (e talvez as ligações de seu pai) deu-lhe acesso imediato aos mais
altos círculos, onde se tornou um bom amigo de Temístocles e Péricles. Embora
Péricles provavelmente jamais fosse um aluno de Anaxágoras num sentido formal,
ele freqüentemente reconheceu seu débito para com Anaxágoras por muitas de suas
idéias e políticas, e finalmente seu relacionamento acabou por se tornar
famoso.
Anaxágoras ensinou em Atenas durante toda sua
vida adulta. Algumas vezes, durante este tempo, ele se tornou o alvo dos
opositores da reforma política de Péricles. Sátiro escreveu que Tucídides, um
velho inimigo de Péricles, considerava impossível confrontar com sucesso seu
oponente, e então o atacava indiretamente levantando acusações de asebeia (impiedade) contra Anaxágoras.
Uma vez que os atenienses sustentavam oficialmente que o sol era uma deidade, a
visão sustentada por Anaxágoras de que o sol era como uma pedra incandescente
foi transformada por alguns em impiedade. Mas Tucídides também o acusou de
traição nas guerras persas. Anaxágoras fugiu de Atenas para só retornar mais
tarde com pleno perdão, depois de Péricles assegurar mais firmemente sua
própria posição. Sótio, contudo, escreveu que Anaxágoras tarde na vida havia
sido acusado de impiedade por seus ensinamentos sobre o sol e que foi forçado a
exilar-se. Qualquer que seja a verdade literal, Anaxágoras viveu em tempos
tumultuados e gloriosos, e não seria impossível ele ter sido exilado duas
vezes. Embora vulnerável devido aos seus relacionamentos, Anaxágoras nem tomava
parte na vida política da cidade, nem prestava qualquer atenção à opinião alheia.
Para o grande desgosto de seus amigos e parentes, permitiu que sua grande
herança fosse dissipada, seja deixando que sua fazenda voltasse a ser uma
pastagem, seja dando-a a parentes. Seu interesse estava totalmente na
contemplação do céu e da terra.
Anaxágoras não foi o primeiro grego a observar
a natureza cientificamente, embora ele fosse um escrutinador excepcionalmente
cuidadoso dos fenômenos. Por exemplo, a laboriosa observação levou-o à
descoberta de que a imagem refletida na escura pupila do olho constituía o
exato campo da visão. Enquanto que outros ensinavam que todo o olho via, ele
identificou corretamente a pupila como a janela ativa da percepção. Só a
observação, contudo, era insuficiente para se descobrir as causas das coisas.
Anaxágoras desenvolveu o método de experimentação como um meio de confirmar as
explicações dos processos naturais. Suas observações dos ventos soprando
através das árvores convenceu-o de que os gases exercem pressão, mas para
convencer uma audiência ateniense cética, ele encheu uma bolsa com ar e
selou-a, e então convidou os desafiantes a achatá-la. Uma vez que o ar estava
preso dentro, ele supôs que o ar exerceria pressão que se manifestaria como
resistência a qualquer um que tentasse achatar a bolsa. Além da observação e da
experimentação, Anaxágoras reconheceu a necessidade de uma unidade de
explicação, de uma coerência de teoria, para descrever a natureza. Embora ele
não enfatizasse a natureza matemática do mundo como o fez Pitágoras, Anaxágoras
juntou os outros elementos da pesquisa científica, deixando as bases amplas do
método científico usado até nos dias de hoje.
Seu interesse em explicar a ocorrência dos
fenômenos naturais em termos de leis invariáveis e não de circunstâncias
especiais - tais como as extravagâncias de deidades caprichosas - junto com seu
reticente modo de vida, resultou em se lhe
atribuir o status de profeta. Com base em sua teoria sobre as estrelas e
planetas, ele argumentou que seria possível que caísse deles material rochoso
sobre a terra. Quando um meteorito caiu à terra em Egospótami, talvez ainda
durante sua vida, surgiu a lenda de que ele o havia previsto em detalhe. Sua
compreensão da natureza dos eclipses habilitou-o a informar Péricles do momento
de um obscurecimento solar completo, e o estadista usou este conhecimento
prévio para firmar-se entre os atenienses, quando ele ocorreu. Amiano Marcelino
escreveu que Anaxágoras havia obtido este conhecimento no Egito. Plutarco
asseverou que ele havia dominado a geometria e havia esquadrado o círculo de
modo bem-sucedido. Sátiro relatou que Eurípides o admirava enormemente e
poderia até ter sido seu aluno. Teodoreto sustentava a possibilidade menos
provável de que quando jovem Sócrates houvesse estudado com Anaxágoras.
Anaxágoras seguia a tradição de seu tempo e
ensinava os estudantes que chegavam para ouví-lo discursar, mas não estabeleceu
uma escola permanente. Não obstante, como Parmênides, ele escreveu um livro
delineando sua metodologia e explicações da natureza. Uma vez que Parmênides havia
ensinado que a mudança era logicamente impossível, a obra de Anaxágoras,
tomando a mudança como fundamental na natureza, se tornou o texto-padrão para a
ciência ateniense que nascia. Sócrates é feito fazer referência à sua obra na Apologia de Platão, e criticar suas
abordagens no Fédon, onde ele não diz
que Anaxágoras estava errado, mas que suas explicações do comportamento são
inadequadas quando aplicadas à ação humana. A poderosa motivação para entender
a natureza movia Anaxágoras tão profundamente que ele renunciou ao cuidado de
seu bem-estar, exemplificado no abandono de sua grande herança, sua retirada
dos excitantes assuntos públicos, e sua permanência à distância de
envolvimentos pessoais de todo tipo. Seu desligamento de envolvimentos mundanos
se tornou lendário quando ele respondeu à notícia da morte de seu filho dizendo
que ele sabia que seu filho era mortal desde o momento de seu nascimento.
Quando perguntado do porquê de alguém dever se alegrar de ter nascido antes do
contrário, ele respondeu: "Nasceste a fim de contemplar os céus e a
estrutura da ordem mundial como um todo". Isto constitui a vida
verdadeiramente feliz, disse Anaxágoras, embora a maioria das pessoas não
pensasse assim.
Anaxágoras viveu em Atenas cerca de trinta
anos, um período abrangendo a idade dourada da cultura clássica grega. Ele
representou a abordagem racional do entendimento dos eventos e das coisas,
advogando uma percepção calma e distanciada, sustentada por uma mente alerta,
livre das escuras nuvens da emoção desenfreada e do comportamento egoísta.
Perto do fim de sua vida, deixou Atenas, talvez porque novamente estava sendo
acusado de impiedade, e em torno de 433 aC retirou-se para a cidade de
Lâmpsaco, no Helesponto. Lá foi bem recebido, rodeado de estudantes e honrado
pelos cidadãos. Quando ele morreu, em torno de 428 aC, deram-lhe um funeral
público, e os cidadãos inscreveram um tributo em sua tumba:
"Aqui jaz Anaxágoras, cuja imagem da
ordem do universo chegou mais perto da verdade".
Pouco antes de sua morte, seus seguidores
perguntaram-lhe qual seria o modo apropriado de honrar sua memória. Ele
respondeu que os estudantes deveriam todos os anos dedicar o mês em que ele
morreu como férias. Anaxágoras era tão altamente respeitado em Lâmpsaco que sua
morte foi lembrada, como ele desejara, por mais de um século.
A filosofia científica desenvolvida por
Anaxágoras se baseava em duas convicções fundamentais: que a natureza e todas
suas operações são racionais, isto é, são acessíveis ao entendimento através da
razão, e que todo relato da natureza deve explicar e ser consistente com os
fenômenos observados. Afirmando que "as coisas visíveis são um vislumbre
do invisível", ele não pensava que a ordem universal fosse limitada ao
reino empírico, mas apenas que qualquer explicação da natureza devia levar a
natureza visível em conta. Sua física começava com a suposição teórica de que a
matéria é eterna, pois sem ela o
indivíduo teria de explicar processos completamente não-observados da matéria
vindo à existência a partir da imaterialidade. Anaxágoras também reconhecia que
a característica fundamental de cada aspecto do universo é a mudança. Enquanto
Parmênides argumentava a partir do fato da mudança incessante na natureza, indo
até uma concepção metafísica do mundo em que nem a mudança nem a pluralidade
eram reais, Anaxágoras deixava de lado a metafísica e tentava explicar os
princípios da mudança e da manutenção da multiplicidade. Ele aceitava a lógica
pura da demonstração de Parmênides de que nada vem a ser nem deixa de ser, e ensinava
que a mudança era devida à separação e à combinação.
Para Anaxágoras, a matéria era eterna e
imutável em sua natureza essencial. Uma vez que nada pode deixar de ser, as
substâncias materiais não podem ser reduzidas a elementos fundamentalmente diferentes.
Portanto, a matéria deve ser infinitamente variada em suas partes irredutíveis
para explicar a vasta variedade de coisas que existem. A doutrina da homoiomeria é simplesmente a de que as
partes têm a mesma natureza que o todo, e que as partes derradeiras são
eternas. Uma vez que as formas vivas devem ser compostas de partes da mesma
natureza, e uma vez que elas são nutridas pelo alimento, todo objeto deve
conter partículas de uma infinita variedade e a vida deve ser parte de tudo o
que existe. Assim como um osso é chamado osso por causa da predominância de
partículas ósseas, e a rocha é chamada assim por causa da predominância de
partículas minerais, do mesmo modo as coisas vivas são reconhecidas como tais
quando o arranjo de partículas permite a expressão da vida. Dado que "em
tudo existe uma parcela de tudo", se as partículas materiais forem de
todos os tamanhos e de uma variedade infinita, cada coisa, por exemplo, uma
fatia de pão, seria infinita em seu tamanho. Se as partículas não tiverem tamanho,
contudo, mesmo um número infinito delas não somaria um tamanho qualquer.
Portanto, Anaxágoras arrazoava, as partículas são infinitesimais.
Pois para o pequeno não existe o mais pequeno
de tudo, mas há sempre o que é um pouco menor; pois é impossível, para o que
não é, ser. Mas também para o grande sempre há algo maior. E é igual ao pequeno
em número, cada coisa sendo, a respeito de si mesma, pequena e grande.
Esta visão engenhosa explica a nutrição, pois
cada parte do corpo extrai da comida ingerida aquilo que lhe é semelhante, e
requer um universo infinitamente grande para acomodar uma infinitude de
partículas. Não há nada na natureza das partículas, contudo, que explique a
mudança. As partículas são eternas, mas as estruturas compostas delas vêm à existência
e se dissipam. Todas as mudanças são o resultado do movimento, e qualquer
teoria racional da dinâmica deve almejar isolar uma força ou princípio de
movimento que possa explicar cada tipo de mudança. Uma vez que a ordem racional
do universo inclui a mudança, a única entidade racional que atende os critérios
requeridos é Nous, ou Mente.
Materialmente, o macrocosmo e o microcosmo refletem um ao outro com exatidão;
dinamicamente, a operação óbvia de Nous
no homem, nos animais e mesmo nas plantas deve refletir a operação universal da
Mente cósmica. A Mente como um princípio racional de mudança se manifesta em
toda a natureza como Lei. Assim, o universo consiste de matéria partícula da
eterna, imutável, e de uma Mente dinâmica eterna e imutável. Filósofos
posteriores criticaram Anaxágoras por descrever processos mecânicos para
explicar os fenômenos naturais e por não invocar a Mente, mas Anaxágoras via
claramente que atribuir à Mente a causa direta de tudo não explicava nada, e
que a universalidade da Mente implicava que todos os processos mecânicos eram
expressões da dinâmica Nous. A Mente,
sendo tão vasta e infinita como o cosmo, não pode ser descrita na linguagem das
leis secundárias e derivativas; não obstante, sendo racional, torna possível
aquelas leis descritíveis, enquanto permanece por trás delas como um mistério
impenetrável e inegável.
Enquanto que as explicações mecânicas são
suficientes para muitos fenômenos naturais, as leis envolvidas não podem ser
pensadas como sendo simplesmente mecânicas. A Lei é a atividade inteligente de Nous. Anaxágoras pensava que isto era
demonstrado através de um estudo da percepção. Quando dois fluidos da mesma
temperatura são reunidos, não se observa nenhuma mudança na temperatura. Só
quando qualidades opostas são conjugadas é que a mudança ocorre. A percepção
envolve mudança, e deve também seguir o princípio geral de que as mudanças
observáveis têm lugar apenas entre corpos cujos estados diferem de algum modo.
A Mente Universal penetra em cada área da natureza e é responsável por todas as
mudanças. Portanto, Nous é
quantitativamente distinta de toda substãncia material, e assim é incorpórea,
embora substancial. Esta condição de completa diferença de tudo mais permite à
Mente perceber e conhecer tudo. Nada está oculto da Mente, que assim opera
inteligentemente.
Armado destes princípios da física, Anaxágoras
audaciosamente estabeleceu uma teoria das origens. Uma vez que tudo contém tudo
mais, diferindo apenas na preponderância dos tipos de partículas, Anaxágoras
imaginou que antes da atividade da Mente a matéria estaria em um estado de
caos, no qual todas as partículas estariam distribuídas ao acaso. Uma vez que
nada diferiria de nada neste estado primordial, não seriam possíveis existência
ou percepção, embora a matéria e a Mente estivessem em uma espécie de Seidade
[no original, Be-Ness - NT]
atemporal. Por razões agora impossíveis de averiguar, a Mente começou a mover a
matéria em um movimento rotativo inicial que tendeu a reunir partículas mais
densas no centro e as mais leves na periferia. Os vestígios deste movimento
rotativo inicial podem ser vistos nos movimentos dos planetas e no giro da
abóbada celeste. Tendo ocorrido a separação rudimentar das massas materiais, um
segundo movimento, de ascensão e queda, se tornou dominante, como pode ser
visto, imaginava Anaxágoras, nas correntes de convecção que ocasionam muitos
fenômenos meteorológicos. Estes movimentos produziram o arranjo grosseiro do
mundo como é experimentado hoje, e a Mente usa numerosos processos mais focalizados
para refinar a ordem mundial. A Mente, sendo eterna como a matéria, não pode
perecer. Enquanto que o sono é como a morte durante a vida, ainda assim existe
uma diferença crítica entre elas.
O sono advém do cansaço do corpo. É uma coisa
feita pelo corpo, não pela alma. E a morte é a separação da alma do corpo.
A Mente é imortal, mas a observação não revela
seu destino post-mortem. Para Anaxágoras, não há razão para se duvidar que a
Mente continue a ter experiências depois da morte do corpo, permaneça envolvida
no ordenamento do mundo, e reencarne sempre.
Uma vez que Anaxágoras recusava-se a usar a
Mente como uma explicação-padrão para todos os fenômenos, ele teve de elaborar
explicações de diversos processos naturais com base na observação e na experimentação.
Enquanto que algumas de suas conclusões poderiam parecer absurdas em comparação
com as explicações contemporâneas, sua fidelidade ao seu método rigoroso
levou-o a muitas percepções notáveis. Ele sustentava que todos os planetas e
estrelas são compostos das mesmas substâncias que a terra, e que todos eles
seguem as mesmas leis. Ele reconheceu que o trovão e o raio eram efeitos da
mesma causa, que tinha a ver com as ígneas forças etéricas. Ele ensinava que a
luz deveria viajar em linhas retas, que os eclipses lunares eram devidos à
projeção da sombra da terra sobre a lua, e que, diversamente do sol, que é
incandescente, a lua brilha por refletir a luz solar. Muito antes de Galileu
ousar relatar suas observações telescópicas, Anaxágoras reconheceu que a lua é
coberta de montanhas e ravinas, mas desprovida de água. Ele ensinava que a Via
Láctea consiste de inumeráveis estrelas e que o Nilo transborda no verão devido
às neves distantes que se derretem na primavera. A observação lhe ensinou que
tanto os animais como as plantas respiram. Ele notou que nos humanos o pai
determina o sexo da criança. Tão completo era seu compromisso com a unidade de
toda vida que ele não poderia dizer que os humanos diferiam dos animais por
possuírem mente: todas as coisas são penetradas pela Mente. O homem é
distinguido por sua habilidade de expressar Nous
mais completamente do que quaisquer outras criaturas, e isso se reflete na
moldura humana. Quando perguntado qual era a característica mais distintiva do
homem, Anaxágoras respondeu que "os Homens são os animais mais sábios
porque têm mãos".
Anaxágoras não apenas exemplificou o espírito da era de Péricles; ele
permaneceu à frente de seus criadores. Sua fé na razão, reverência pela
Natureza, rigor no método e refinamento das técnicas experimentais ganharam
para ele um lugar permanente como um dos primeiros fundadores da ciência
moderna. Porque Nous penetra tudo,
para Anaxágoras a dimensão ética da vida é inerente a ela, e assim ele não
prestou atenção especial ao assunto. Platão percebeu que a ética devia se
tornar explícita em uma sociedade rapidamente perdendo sua proximidade com a
Natureza, e que a Mente no Homem, a psicologia, é também um estudo central.
Abstendo-se de enfocar estas áreas críticas do entendimento humano, Anaxágoras
adotou também uma atitude de verdadeiro ceticismo, nem se pronunciando a
respeito nem alegando saber nada a respeito delas, além daquilo que a pesquisa
racional do tipo mais elevado e mais preciso levasse ao conhecimento, aqui
assim como em qualquer outro lugar. Onde quer que tenha focalizado seu olhar,
ele influenciou gerações subseqüentes de pesquisadores, tanto em sua
metodologia teórica como nas práticas experimentais que deixou. Talvez seja
adequado o apelido que os historiadores e filósofos lhe deram:
"Mente".