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FRANCISCO DE ASSIS
FRANCISCO DE ASSIS

"Este é o meu conselho a respeito do estado de vossa alma. Como a vejo, deveríeis considerar como um favor especial tudo que torna difícil para vós amar a Deus, mesmo se outras pessoas, incluindo os frades, sejam responsáveis por isso ou mesmo se elas chegarem a levar-lhe à violência física. Este é o caminho que devíeis querer seguir, e podeis tomar isto como uma ordem de Deus e minha. Estou convencido que isto é verdadeira obediência. Devei amar aqueles que se comportam daquele modo para convosco, e não devíeis querer nada deles, exceto o que Deus permitir que vos suceda. Podeis demonstrar vosso amor por eles desejando que sejam melhores Cristãos. Isto seria de maior benefício para vós do que a solidão de uma eremita".

Carta a um Ministro
FRANCISCO DE ASSIS

Cada época tem suas fontes secretas de renovação e seus homens excepcionais que discernem o essencial da vida. Como Platão ensinou no Mito de Er, quando uma cultura não tem seus valores claros, a maioria das pessoas fica obnubilada na sua consciência e age compulsivamente ou com desagrado. Quando uma cultura tem uma formulação rígida de valores, muitos se tornam conformistas cegos. No meio da estagnação e do caos, as forças quintessenciais da ideação penetram no campo do pensamento e da ação, afetando a muitos sem que se dêem conta e provendo os materiais brutos para que alguns poucos auto-escolhidos se coloquem como exemplos para a época e como uma inspiração para o porvir. Os séculos XII e XIII aparecem para as gerações subseqüentes como toscos senão mortos, de um ponto de vista, e de outro, como tediosos em suas intrigas políticas e religiosas. Ainda assim eles foram tempos de despertar de novas possibilidades de aprofundamento das dimensões da existência humana.

As cortes do sul da França e do norte da Espanha cultivaram a tradição trovadoresca do amor cavalheiresco. As relações entre os homens e as mulheres foram tiradas do contexto dos contratos de casamento e reformuladas em termos de uma busca por ideais. Uma estranha mistura de piedade e desejo de ação manifestou-se nas Cruzadas, nas quais nobres de toda a Europa navegaram para Ultramar para resgatar a Terra Santa das mãos dos gentios. A aceitação acrítica da autoridade eclesiástica, antes, abrira caminho para  reformas religiosas radicais, dramaticamente corporificadas nos movimentos Cátaro e Albigense. A velha nobreza possuidora de terras viu-se confrontada por uma classe comercial emergente que tinha seus próprios modos de vida e valores. Dentro da fermentação política e econômica da época, surgiu um novo despertar espiritual que levou grande número de indivíduos a abandonar o mundo por retiros ascéticos em vales despovoados e colinas remotas. O mundo medieval era fluido e promissor para aqueles que floresciam em meio à mudança.

Pietro di Bernardone, um próspero comerciante de Assis, viajava freqüentemente para Champagne para as grandes feiras comerciais. Lá, em 1181, sua esposa Pica deu à luz uma criança que ela batizou de Giovanni. Assim que Pietro retornou à casa ele mudou o nome para Francesco, derivado de França, o país cuja cultura ele admirava. Pouco se sabe da família de Francisco, exceto que sua mãe era piedosa e ortodoxa, e seu pai, não muito. Homem determinado, ele desafiava o temperamento do Ducado de Espoleto ao demonstrar entusiasmo por tudo o que era francês. Colhidos entre os esforços papais de preservar e expandir suas terras e pelo avanço do Sacro Império Romano, os cidadãos eminentes de Assis consideravam desagradável, senão perigoso, o desdém cavalheiresco de Pietro para com os assuntos políticos. As idéias Albigenses haviam viajado com os mercadores para a Itália, e Pietro fora influenciado pelos ensinamentos dos Katharoi, "os puros". Antes de Francisco nascer o imperador havia dominado a Úmbria, e Assis, diversamente de suas cidades irmãs, havia aceito o governo germânico. Na paz resultante, os mercadores prosperaram e Francisco cresceu em uma vida de calmo luxo. Sua educação foi modesta mas sólida, adequada a uma pessoa que eventualmente assumiria um papel principal nos negócios familiares.

Em 1197 Henrique VI morreu e os domínios Hohenstaufen se dissolveram em suas partes componentes. Três meses mais tarde faleceu o papa Celestino, e no início de 1198 Lotário de Segni foi ordenado padre, consagrado bispo, e coroado como papa Inocêncio III. Em poucos meses Inocêncio aproveitou a ocasião e conduziu um avanço triunfante sobre as antigas terras papais, recebendo cidade após cidade de seus usurpadores imperiais. Quando o Ducado de Espoleto foi reclamado pelo papa, Assis não resistiu. Os cidadãos, contudo, não viram vantagem em substituir um tirano por outro, e eles laboriosamente desmantelaram o forte real da colina sobre a cidade. Embora se submetessem à autoridade papal, elegeram cônsules e começaram a operar como um território semi-independente. Os jovens de Assis aproveitaram a nova liberdade ao máximo. Francisco era freqüentemente eleito "Rei das Folias" e conduzia os jovens em arruaças e saques pela cidade. O que lhe faltava de nobreza hereditária, ele adquiria com sua habilidade de pagar. Enquanto que muitos nobres aceitassem sua perda de poder e mesmo se mudassem para a cidade para desempenhar seu papel de cidadãos, alguns dos senhores mais poderosos resistiam às mudanças e apelaram por ajuda para a vizinha Perúgia. Quando os cidadãos de Assis destruíram o castelo de Sassorosso, seus nobres fugiram para Perúgia e a cidade pediu compensação pelas perdas dos seus novos cidadãos.

No outono de 1202, o exército de Assis marchou sobre Perúgia. A riqueza de seus pais possibilitou a Francisco que se juntasse à cavalaria, e ele rumou para a antecipada vitória com excitação e um sentimento de destino. O exército posicionou-se em Collestrada, perto do rio Tibre, esperando pelas forças de Perúgia. A batalha seguinte foi desastrosa para Assis. Muitos soldados a pé foram mortos, e Francisco foi capturado junto com um grupo de companheiros a cavalo. Ficou um ano prisioneiro de Perúgia, e durante seu cárcere ele apresentava um corajoso bom-humor que afetava mesmo os prisioneiros mais deprimidos. Quando foi libertado, voltou para casa, para descobrir que a facção moderada havia falhado em assegurar uma paz razoável com Perúgia. Os elementos mais extremos forçavam um prosseguimento da guerra e haviam mesmo eleito um podesta, ditador temporário, Cátaro durante alguns meses. A igreja reagiu aliando-se a Perúgia, e um número de cidadãos, incluindo, ao que parece, Pietro Bernardone, foi solicitado a fazer profissões especiais de ortodoxia. A guerra havia acabado.

Francisco sentiu em si uma profunda necessidade de cumprir seu destino, mas não foi abençoado com uma intuição imediata do que seria este destino. Seu pai havia-lhe ensinado as canções dos trovadores na langue d'oc, o francês arcaico do sul. O amor cavalheiresco e espiritualizado dos trovadores e as lendas populares da Távola Redonda do rei Artur mesclaram-se num entendimento romântico das Cruzadas e dos reinos de Ultramar. Conquanto os detalhes não sejam conhecidos, é claro que Francisco desenvolveu um profundo anelo de se tornar um cavaleiro, pois nesta figura arquetípica ele encontrava unidos o guerreiro e o fiel devoto do Divino. Walter de Brienne estava lutando na Apúlia pela restauração da ordem legítima, e Francisco decidiu juntar-se a ele no sul. Seu pai armou-o com um magnífico paramento de cavaleiro e mandou-o para a fama e para a glória. Logo antes de partir, teve um sonho:

"Enquanto Francisco dormia, um homem apareceu-lhe e chamou-o pelo nome em um vasto e aprazível palácio, onde as paredes eram cobertas de cotas de malha, brilhantes escudos e todas as armas e armaduras dos guerreiros. Francisco deliciou-se, e refletindo em qual poderia ser o significado de tudo isso, ele perguntou a quem eram destinadas as armas esplêndidas e o belo palácio; e ele recebeu a resposta de que eram para ele e seus cavaleiros."

Esta aparente confirmação de suas aspirações aumentou sua alegria ao partir de Assis em direção ao sul.

Mal havia andado Francisco poucas milhas além de Espoleto quando caiu doente. No meio de um estupor, uma voz perguntou-lhe: "A quem seria melhor servir, ao servo ou ao amo?" Francisco respondeu que seria melhor servir ao amo. "Por que, então", continuou a voz, "procuras o servo antes do que o amo?" Surpreso, mas não penetrando no significado, Francisco disse "O que queres que eu faça, Senhor?" A voz respondeu: "Volta à tua terra natal e prepara-te para fazer o que te for ordenado". Enquanto esta instrução fosse bem diferente das vagas idéias que Francisco estivera entretendo, de imediato ele abandonou sua empreitada cavalheiresca e voltou a Assis. De certo modo ele encontrara em si algo da máxima importância, e de outro modo havia perdido completamente a si mesmo. De volta a Assis, permanecia bem disposto e afável, mas novas correntes se moviam em sua profundeza. Mesmo que não incomodasse os outros com suas dúvidas interiores, periodicamente ele entrava em humores reflexivos e, às vezes, em transes. Para a grande consternação de seu pai, Francisco comprou dispendiosos ornamentos para as igrejas de Assis, fez uma peregrinação até Roma, e começou a pedir conselhos ao novo bispo de Assis, o ambicioso e mundano Guido. Francisco estava pressentindo seu caminho para sua missão verdadeira, e suas atividades, às vezes excêntricas para a visão do povo e cada vez mais aborrecidas para seu pai, eram bastante convencionais para a época. Não obstante, o ponto de virada veio com um simples ato. Perto do fim de sua vida, ele ditou seu Testamento: Começa ele:

"Foi assim que Deus inspirou a mim, o Irmão Francisco, a embarcar em uma vida de penitência. Quando eu estava em pecado, a visão dos leprosos me enojava além da medida; mas então Deus me levou á companhia deles, e eu me apiedei deles. Quando eu me acostumei a eles, o que antes me nauseara se tornou para mim fonte de consolo espiritual e físico. Depois disso eu já não demorei em deixar o mundo".

Francisco fez uma ligação intuitiva entre seu modo de vida, que era irresponsável em um mundo de sofrimento e dor universais, e sua repulsa pelo sofrimento alheio. O horror que ele experimentava ao ver a decadência física no mundo era somente um reflexo da decadência moral e estagnação espiritual em si mesmo. Uma vez tendo percebido a ligação, não haveria escapatória das implicações pela fuga a qualquer aspecto do mundo. Francisco iniciou, com medo a princípio, a visitar e assistir os leprosos, levando comida, roupa, positividade e interesse humano. A lógica de sua percepção conduziu à adoção de uma vida de penitência, mas tal lógica não se discernia imediatamente, e Francisco percebeu-o só com vagar. Ele começou a desaparecer nas colinas em torno de Assis, retirando-se em cavernas para buscar, como dizia aos seus amigos curiosos, tesouros. Então um dia, ao passar pela decrépita igreja de São Damião, logo ao sul da cidade, ouviu uma voz interior dizer-lhe que entrasse e rezasse. Ele o fez e logo ouviu uma voz: "Francisco, não vês que minha casa está em ruínas? Vai, e repara-a para mim". Talvez por ter a mente um pouco literal demais, talvez como uma prefiguração de sua grande obra, Francisco presumiu que significasse a restauração da igreja em que rezara. Na primeira oportunidade tomou grande soma de dinheiro da casa de seu pai e foi para a igreja. Seu pai enviou um grupo para trazê-lo de volta, mas Francisco se escondeu em uma gruta durante um mês. Tudo isso era demais para Pietro, e quando Francisco fez uma aparição pública, seu pai agarrou-o e prendeu-o e acorrentou-o em um porão escuro. Isso foi o pior escândalo que o povo da cidade poderia lembrar.

Pietro insistia que Francisco não podia gastar a fortuna da família em reparos de igrejas. Francisco insistia que ele faria exatamente isso. Por fim Pietro teve de viajar a negócios, e durante sua ausência Pica libertou Francisco, que imediatamente voltou para São Damião. No seu regresso, Pietro ordenou publicamente que Francisco voltasse para casa. Francisco recusou. De acordo com os estatutos locais, o mau uso de bens paternos era punível com o exílio. Pietro denunciou seu filho e exigiu que fosse trazido a julgamento, mas quando o juiz emitiu uma ordem para que aparecesse, Francisco rejeitou-a alegando que estava ligado à igreja e sob a jurisdição do bispo. Sem a autorização do bispo, nenhuma autoridade secular poderia tocar em Francisco, e assim seu pai citou-o diante do tribunal eclesiástico. Desta vez Francisco apareceu por vontade própria, ouviu as acusações de seu pai e aceitou o julgamento do bispo. Guido, não desejando dividir nenhum grupo por causa de um conflito familiar, tomou um rumo intermediário, declarando que Francisco deveria devolver o dinheiro disputado e que a soma necessária para a restauração da igreja em seu devido tempo seria divinamente manifesta. Imediatamente Francisco desnudou-se, dobrou suas roupas e colocou o dinheiro em cima da pequena trouxa. O surpreso bispo colocou seu manto em torno de Francisco e acolheu-o no palácio episcopal.

Agora Francisco estava completamente sozinho. Salvo pelo conselho paternal e a doação de uma velha túnica, o bispo Guido não se sentiu obrigado para com o impetuoso jovem. De início a cidade tratou Francisco como uma piada pública. Logo, contudo, Francisco viu como a igreja deveria ser restaurada: ele devia fazê-lo ele mesmo. Usando velhas pedras, começou a reconstruir São Damião. Quando acabou o material disponível, foi para a cidade pedir por mais. Como os discípulos do Buddha, e em contraste com as tradições monásticas da Europa, ele também esmolava por comida. Quando as pessoas viram que ele trabalhava por si mesmo, ganhou sua simpatia, e elas lhe deram materiais e começaram a visitá-lo na pequena igreja para dar-lhe uma mão. Quando São Damião ficou completa, ele mudou-se para a capela arruinada de São Pedro della Spina, e depois voltou-se para o mais famoso de seus trabalhos, uma antiga igreja chamada de Porciúncula. Quando ela foi acabada, em fevereiro de 1208, veio um padre da abadia Beneditina local para celebrar a missa. Seu texto foi os ensinamentos de Jesus para irem pelo mundo sem dinheiro ou posses e pregar a penitência. Súbito, Francisco exclamou: "É isto o que eu desejo de todo coração!", e deixou seus trajes de pedreiro pela túnica eremítica.

Francisco era doce e humilde. No pensamento medieval o penitente se sacrificava e renunciava ao mundo não apenas pelo bem de sua própria alma, mas também como um exemplo e uma força positiva na humanidade como um todo. O penitente afetava toda a comunidade e era aceito como parte da sociedade medieval. Diversamente dos eremitas errantes costumeiros daquela época, Francisco não proferia sermões admoestadores com uma face dorida. Ele andava sorrindo e dando risadas e lembrando aos indivíduos que encontrava que o mundo é belo, e a terra, boa. Ele apreciava tanto a vida na natureza que as pessoas passaram a acreditar que ele conhecia a linguagem dos animais, especialmente a dos pássaros. Para ele, todo elemento da natureza era sacramental - cada flor, criatura ou mineral atestava a bondade e a glória transcendente do Divino. Logo indivíduos começaram a passar seu tempo com ele, e não demorou que surgisse uma "ordem" informal. A idéia de uma ordem de penitentes tomou forma quando Bernardo, um rico imigrante de Assis, falou seriamente em juntar-se a Francisco como seu discípulo. Depois de consideráveis discussões os dois foram até um padre e pediram-lhe que abrisse o missal ao acaso por três vezes. As três passagens foram notáveis:

"Se desejas ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me."

"Não leveis nada para o caminho, nem cajado, nem bolsa, nem pão, nem dinheiro."

"Se algum homem vier a mim, que negue a si mesmo, tome sua cruz e siga-me".

"Esta é a nossa vida", disse Francisco, "esta é a nossa Regra, e quem quiser se unir a nós terá de fazer o mesmo". Assim, os rudimentos da Ordem Franciscana, consagrada à pobreza, perambulação e penitência, surgiu. Dentro de duas semanas Pedro e Gilles se uniram a Francisco e Bernardo. Os quatro alegremente distribuíram tudo o que Bernardo possuía, para o espanto de Assis. Francisco chamou seu grupo de a Távola Redonda, e não há dúvida que ele via seu grupo como cavaleiros espirituais em uma tradição semelhante à de Artur. Foi seguido por indivíduos de origem pobre e mesmo pela flor da jovem nobreza de Assis. Francisco escreveu uma Primeira Regra, então perdida, e, a despeito, da diversidade de origens, aqueles eremitas se governavam democraticamente. Em 1209 partiram para Roma para buscar aprovação papal. Assim que chegaram à Cidade Eterna, Francisco conseguiu encontar-se com o papa em um corredor de Latrão. Francisco proferiu seu pedido em meio a assombro e incoerência, e o chocado Inocêncio disse-lhe para viver em um chiqueiro. Francisco obedeceu literalmente. O bispo Guido, em Roma para negócios, ouviu sobre este estranho incidente e persuadiu o grupo de irmãos a se lavar e falar com o cardeal Giovanni de São Paulo. Depois de diversos dias de encontros, o cardeal concluiu que Francisco e seu grupo não demonstravam nenhuma tendência de heresia, e providenciou um encontro formal com o papa. Para a surpresa de seus conselheiros, o papa acolheu Francisco, encantado com as histórias de sua obediência literal no assunto do chiqueiro, e aprovou a Regra da Ordem sob a condição de que os frades pregassem penitência e não teologia.

De volta a Assis, a Ordem - mais uma fraternidade em tom e temperamento - floresceu modestamente. Na perspectiva de Francisco, a Ordem havia de ser rigorosamente simples: eles seriam pobres, evitariam o dinheiro, seriam mendigos, andarilhos, pregadores da penitência, castos e, acima de tudo, irmãos em espírito. Mas ele não acreditava em excessos. Ele não estava além da autoflagelação, mas para com os outros insistia na moderação. A Ordem não existia para recriminação mútua, mas para apoio coletivo. Enquanto que o modo de vida dos primeiros Franciscanos era suficientemente árduo para desencorajar a maioria das pessoas, a boa disposição e a alegria dos irmãos eram atraentes. Em 1211, Clara, uma jovem nobre cuja infância havia se passado no exílio em Perúgia, solicitou um encontro com Francisco. Com o auxílio de vários irmãos que juraram silêncio, eles se encontraram secretamente em diversas ocasiões. Seus espíritos se exaltaram, e se apaixonaram. Com cuidadosos arranjos prévios, Clara fugiu de casa uma noite, encontrou-se com os Franciscanos, cortaram-lhe o cabelo e a levaram para o convento de São Paulo. Quando a família tentou resgatá-la, ele se recusou a ir. Também recusou-se a tomar o hábito Beneditino, pois, disse ela, havia jurado a Ordem Franciscana. Assis ficou escandalizada, embora ninguém pudesse encontrar o menor sinal de alguma indecência. Pior ainda, em poucos dias a irmã de Clara, Agnes, fugiu para juntar-se a ela. Nesta altura o bispo Guido, aborrecido e embaraçado com estas atividades imprevistas, entrou em cena. Ele ofereceu a Clara a igreja de São Damião, a primeira estrutura reconstruída por Francisco, e estabeleceu-a ali, a duas milhas da Ordem masculina. Logo, a Clara e Agnes uniu-se sua terceira irmã, Beatriz, e sua parenta Pacífica. Por fim sua mãe, Ortolana, também se juntou a elas, e Francisco tornou Clara a primeira abadessa das Clarissas Pobres. Sabendo bem dos rumores que cercavam as ordens que admitiam homens e mulheres em uma vida comum, Francisco foi cuidadoso em manter separados os sexos. Embora mesmo durante sua vida os Franciscanos acabassem por modificar a Regra o bastante para Francisco acreditar que o impulso inicial havia desaparecido de seu movimento, a Ordem foi sempre honrada por sua circunspeção.

O espírito das cruzadas ainda não havia morrido na Europa. Francisco o havia experimentado quando, ainda jovem, desejara se juntar a Walter de Brienne na Apúlia. Agora ele sentia uma profunda necessidade de pregar aos Sarracenos, os Muçulmanos que estavam aos poucos reconquistando a Terra Santa. Quando o irmão de Walter de Brienne casou com a jovem Maria de Jerusalém e embarcou para Acre, Francisco desejou acompanhá-lo. Delongas e mau tempo fizeram-no desembarcar na Eslovênia e de lá ele voltou para a Itália. Destemido, aprontou-se com vários irmãos para uma peregrinação à catedral de Santiago de Compostela, na Espanha. Embora não dissesse nada de seus verdadeiros propósitos aos seus companheiros,  os historiadores em geral acreditam que ele planejava confrontar lá os Mouros. Na melhor das hipóteses a viagem foi custosa, e embora Francisco estivesse alegre durante o trajeto, caiu doente em Santiago. A doença perdurou e a jornada de volta para casa foi longa. Embora desapontado, Francisco não se desencorajou. Em 1215 Inocêncio III convocou o grande XII Concílio Ecumênico, onde, além de proclamar setenta cânones que remodelaram a igreja, o papa fez a convocação para uma nova Cruzada em 1217. Embora hesitante em fazê-lo, Francisco finalmente aceitou cartas de salvo-conduto do cardeal Ugolino que, como papa Gregório IX, canonizaria Francisco dois anos depois de sua morte. Em 1219 Francisco embarcou para Outremer.

Quando Francisco chegou em Acre, fez um descoberta chocante: muitos Muçulmanos eram mais civilizados e Cristãos em suas virtudes do que o era o endurecido e variegado grupo de cruzados. Sob as instâncias de João de Brienne, não se fez nenhuma tentativa de retomada imediata de Jerusalém. Antes, atacaram a cidade de Damietta no Egito e capturaram as fortalezas externas. No meio deste conflito, logo depois que Damietta caiu, Francisco foi para o campo do sultão Melek al-Kamil. Al-Kamil apreciava discussões filosóficas e convidou Francisco a aproximar-se dele. Para fazê-lo, contudo, Francisco teria de caminhar sobre um tapete de cruzes que o sultão usava para separar os conversos dos espiões. Al-Kamil surpreendeu-se ao ver Francisco atravessar o tapete sem perturbação, mas Francisco explicou que ladrões também foram crucificados com Cristo. A verdadeira cruz está na consciência, e a cruz dos ladrões, no solo. Francisco e Al-Kamil ficaram amigos.

Não houve dúvida sobre a fé de Francisco. Ele ofereceu-se para sofrer o ordálio, mubhala, o teste do fogo. Primeiro ele sugeriu que caminhasse pelo fogo junto com um doutor Muçulmano. Aquele que saísse incólume professaria a verdadeira fé. Quando o sultão informou-o de que era contra a lei do Corão aceitar tais desafios, Francisco ofereceu-se para passar sozinho pelo fogo. Novamente o sultão declinou, oferecendo a Francisco presentes e salvo-conduto de volta ao campo Cristão. Quando a Segunda Regra foi publicada, Francisco especificou duas formas de testemunho missionário. Ao mesmo tempo em que admitia o martírio, o modo medieval por excelência, ele determinou que o rumo preferível seria viver entre os infiéis como um exemplo de vida Cristã. Quando prega a penitência, a pessoa está persuadindo indivíduos a tomarem no coração o que eles em algum nível já acreditam.  Fecha-se o vão entre a teoria e a prática. Quando se testemunha para indivíduos de crenças diferentes mas igualmente sinceras, só o exemplo será convincente.

Sua estada em Outremer foi perturbada por mensagens informando-lhe de problemas com a Ordem na Úmbria. Apressou-se a voltar para casa, encontrando lá novos estatutos em vigor e grande confusão entre os irmãos. Enquanto resolvia estes assuntos e aplacava as disputas, decidiu renunciar à liderança. Francisco se juntou a Gilles e Bernardo como recluso. Em 1224, durante um jejum de quarenta dias, recebeu os estigmas, o primeiro homem a exibí-los depois da Crucificação. Eles eram tão vívidos que ele teve de ser carregado de volta a Porciúncula. Rapidamente também ficou cego.  Embora ainda sofrendo no corpo e no coração, compôs o formoso Cântico ao Irmão Sol. Em 1226, quando reconheceu que estava à beira da morte, ele acrescentou o cumprimento final à Irmã Morte, e Clara foi autorizada a cuidar dele. Agora sem força, sua vida já havia inspirado a milhares. O estranho homem de Assis se tornara objeto de respeitosa reverência. Quando ele morreu, em 3 de outubro de 1226, foi carregado para o próprio centro de Assis e lá enterrado. Embora ele sentisse a si mesmo como um fracasso por não ter sido capaz de manter sua Ordem fiel aos ideais que houvera estabelecido para ela, ele triunfou do modo que ele considerava o melhor testemunho - pelo exemplo. Embora houvesse escrito pouquíssimo, cristalizou a mensagem daquele testemunho em um breve poema:

"Senhor,
Fazei-me instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado;
compreender que ser compreendido;
amar, que ser amado.

Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.
Amém."

São Francisco de Assis


"Sim! conhecendo a Mim como fonte de tudo,
e criador de todas as criaturas,
o sábio em espírito adere a Mim,
entra em Meu Ser.
Corações fixos em Mim; alentos soprados para Mim;
louvando-Me, todos,
de modo que tenham sua felicidade e paz,
com pensamentos e palavras piedosos:
e para estes - os que assim servem bem, os que assim amam sem cessar,
eu dou uma mente de disposição perfeita,
por onde chegam a Mim".

SHRI KRISHNA
OM


Autor: Elton Hall
Tradução: Um Colaborador
Revisão: Osmar de Carvalho
Fonte: www.theosophy.org



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