A história oculta - o estudo das causas reais
por trás do desenrolar manifesto do drama humano - é a história da alma imortal
esforçando-se, debaixo da eternamente imutável Luz Átmica, por reconhecer
aquela Luz dentro de si mesma e em todos os seres. É a evolução da Fraternidade
Universal. Existe um hiato entre a história como é conhecida dos Iniciados, que
podem penetrar na aurora dos tempos, e os homens comuns, que se contentam
freqüentemente com um relato parcial de eventos superficiais, embora
turbulentos. As reflexões mais profundas sobre a história do homem meramente
roçam na sabedoria, poder e majestade da plena compreensão da história
universal.
Por mais inadequada que seja, uma noção do
giro da história dos sete últimos séculos é um requisito mínimo para um
entendimento da vida da maior ocultista do período, Helena Petrovna Blavatsky
(1831-1891). A reforma de Tsong-ka-pa, no século XIV, do pensamento e prática
Budistas no antigo Oriente, e sua decisão de enviar mensageiros da Verdade ao
Ocidente moderno é o ponto de partida fundamental deste período. Audazes
filósofos renascentistas e médicos Rosacruzes, brilhantes aristocratas e homens
de negócios, levaram o impulso em direção a novos níveis de realização
espiritual através das páginas da história até o século XIX, quando foi
possível proclamar que existiam sobre a Terra os Mahatmas - a fonte
corporificada da sabedoria.
Não obstante, negras nuvens cobriram o
horizonte oitocentista. A fluidez da mudança e inovação que tornou possível um
rápido progresso humano também permitiu que as forças mais vorazes e egoístas
se manifestassem. A revolução industrial conduziu à exploração do trabalho
doméstico em proveito de poucos, e os territórios coloniais para a glória da
metrópole. As favelas esquálidas incharam com aqueles que eram atraídos para os
centros urbanos buscando trabalho e vidas decentes, não encontrando nada disso.
Vícios dos tipos mais degradantes proliferaram. A descoberta da lógica do
desenvolvimento na evolução da natureza foi tomada pelo materialismo mais cru e
antifilosófico, encorajando uma negação absurda da razão na natureza por muitas
instituições religiosas. Formas de governo representativo revelaram suas
próprias insuficiências peculiares, incluindo tendências de caprichoso governo
popular e uma inabilidade de regular os economicamente poderosos. O abuso da
tradição (como exemplo, a tortura do trabalho, ética para justificar uma quase
servidão nas fábricas), o colapso de antigos ideais, e o conflito de muitos interesses
discordantes geraram um desassossego psíquico que se precipitou como um
Espiritismo altamente nervoso e freqüentemente escapista para saciar um desejo
por fenômenos que era frustrado no plano da vida cotidiana. Os intelectuais,
arrogantes embora inseguros, conduziam as massas para milhares de falsos
corredores, rebaixando as virtudes inconscientes das mentes mais simples.
Através de toda essa patética deformidade, a
obra dos Mestres quietamente continuava, passando com calma pelo climatério do
século XIX em seu rumo até 1875. Na meia-noite de 11 para 12 de agosto de 1831,
aquele ser que haveria de ser conhecido como Helena Petrovna Blavatsky nasceu
em Ekaterinoslav, nas margens do rio Dnieper, na Ucrânia. Sua família era
aristocrática, descendente da nobreza alemã e russa. Na tradição camponesa, a
data de seu nascimento sugeria que ela teria grandes e misteriosos poderes, e
quando os trajes do sacerdote oficiante pegaram fogo durante seu batismo,
acreditou-se que sua vida seria difícil.
H.P.Blavatsky mostrou desde cedo um profundo
interesse no conhecimento universal - dentro da tradição Iluminista - e um
inabalável senso de integridade individual. Esta rara combinação tornou-a
completamente destemida, mental e fisicamente. Ela enfrentava todo tipo de
jornada difícil e recusava-se a calibrar suas ações pela medida míope da
opinião pública ou da moralidade convencional. Antes, duas questões absorviam
tão intensamente sua consciência que os interesses mundanos caíam na
insignificância. "ONDE está, QUEM, e O QUÊ é Deus? Quem há de ter visto o ESPÍRITO IMORTAL no
homem, de modo a ser capaz de assegurar-se da imortalidade do homem?"
Aqueles que fossem capazes de responder estas perguntas teriam sua devoção infalível
e seu serviço denodado.
Ela, incansável, educou a si mesma até 1848, e
então começou suas viagens através da Europa e do Oriente Médio. Embora ela
repetidamente sonhasse com um maravilhoso ser humano que parecia protegê-la nas
crises, ela não o encontrou senão em 1851, no Hyde Park, em Londres. Ele podia
responder aquelas perguntas fundamentais, e H.P.Blavatsky depositou sua inteira
confiança nele como seu Guru e na Fraternidade dos Mahatmas. Ela jamais
vacilou, em pensamento, palavra, sentimento ou atos, em seu leal senso de dever
para com o seu Instrutor, e em sua voluntária obediência às diretivas da
Verdade que ele ensinou e corporificou.
Daquele momento em diante seus extraordinários poderes e vontade se
focalizaram em um só desejo: servir a Fraternidade dos Mahatmas da maneira que
eles desejassem.
Ela viajou para o Canadá e Estados Unidos,
México, Caribe e América do Sul, alcançando a Índia em 1852. Indo novamente aos
Estados Unidos através da Inglaterra, e depois para a Índia e Tibete através do
Japão, e de volta à Europa, chegou à Rússia em 1858. Ela aprendeu empírica e
metafisicamente as complexidades e possibilidades da natureza humana. Viajando
pelo Cáucaso de 1860 a 1863, emergiu, com um total domínio de seus poderes, de
uma prolongada luta contra a morte. Depois de outras viagens, acompanhou seu
Mestre para a Índia e Tibete em 1868. Depois de naufragar numa viagem da Grécia
ao Egito, viveu no Cairo durante 1871-72, e uma jornada através do Levante
levou-a até Paris em 1873.
H.P.Blavatsky recebeu ordens de ir a Nova
Iorque, e embora tivesse pouco dinheiro, partiu imediatamente, chegando lá em 7
de julho de 1873. Estabeleceu-se, ganhava a vida modestamente e começou a
encontrar as pessoas mais profundamente envolvidas no exame dos fenômenos
Espíritas. Em 14 de outubro de 1874, durante uma visita à fazenda Eddy, em
Chittenden, em Vermont, palco de notáveis demonstrações Espíritas, ela
encontrou o coronel Henry Steel Olcott. Por volta desta época em diante ela
começou a publicar defesas da veracidade dos fenômenos, ao mesmo tempo que levantava
questões a respeito da adequação das explicações e teorias geralmente
enunciadas.
A seu pedido, Olcott trouxe um jovem advogado
e amigo para encontrá-la em 1874. No momento em que William Quan Judge entrou
em seus aposentos, em Irving Place, como ele recordou mais tarde, "foi seu
olho que me atraiu, o olho de alguém que eu devo ter conhecido em vidas há
muito passadas. Ela olhou para mim reconhecendo-me imediatamente, e desde então
este olhar jamais mudou". Assim, W.Q.Judge viu o "olhar do leão, o coração
de diamante de H.P.B.".
Em julho de 1875 H.P.Blavatsky lançou em seu
livro de notas: "As ordens recebidas da Índia mandam estabelecer uma
Sociedade filosófico-religiosa e escolher um nome para ela - escolher também
Olcott". Ela publicou uma carta aberta no Spiritual Scientist de 23
setembro de 1875, na qual ela indicava os temas principais e idéias-chave que
haveriam de ser elaborados no resto de sua vida e em seus escritos.
Rejeitando tanto a fé cega como o cinismo, ela
escreveu que "meu próprio princípio foi sempre fazer da Luz da Verdade o
farol de minha vida" Traduzidas em um modo de descoberta,
"As palavras pronunciadas por Cristo
dezoito séculos atrás: 'Crêde, e entendereis', podem ser aplicadas neste caso,
e repetindo-as com uma leve modificação, posso bem dizer: 'Estudai, e haveis de
crer' ".
"As Ciências Ocultas requerem a devoção
de toda uma vida", escreveu ela, "e as conseqüências de estudá-las
levianamente são perigosas".
"Deve-se ter em mente a notável fábula de
Édipo, e temer as mesmas conseqüências. Édipo decifrou apenas metade do enigma
proposto pela Esfinge, e provocou sua morte; a outra metade do mistério vingou
a morte do monstro simbólico e forçou o rei de Tebas a preferir, em seu
desespero, a cegueira e exílio, do que encarar aquilo que ele não se sentiu
puro o bastante para abraçar. Ele desvendou o homem, a forma, e esqueceu Deus -
a idéia.”
"Os requisitos estabelecidos para a busca
da sabedoria esotérica são rigorosos: pureza absoluta, desejo de sofrer o
martírio, especialmente como um ser pessoal diante dos olhos do mundo, e
renúncia a todo orgulho pessoal e interesses egoístas.”
"Deve-se abandonar, de uma vez por todas,
toda a lembrança de suas idéias anteriores, sobre tudo e sobre cada coisa. As
religiões, o conhecimento e as ciências existentes devem se tornar um livro em
branco para ele, como nos dias de sua infância, pois se ele quer ter sucesso
deve aprender um novo alfabeto no regaço da Mãe Natureza..."
O "Ocultista verdadeiramente corajoso e
perseverante" não pode esperar conforto nem da ciência nem da religião.”
Os dois inimigos até então inconciliáveis, a
ciência e a teologia - os Montéquio e os Capuleto do século XIX - se aliariam
às massas ignorantes contra o Ocultismo moderno.
E sua grande arma não seria a fogueira, mas a
difamação. O Ocultista deve estar preparado para provar à ciência que "só
existe uma Ciência positiva - o Ocultismo".
Para a Teologia, o Ocultista do futuro terá de
demonstrar que os Deuses das Mitologias, os Elohim de Israel, assim como os mistérios
religiosos e teológicos do Cristianismo, começando com a Trindade, saíram dos
santuários de Mênfis e Tebas; que sua Mãe Eva é apenas a espiritualizada Psique
de antanho, ambas pagando um preço por sua curiosidade, descendo ao Hades ou ao
Inferno, a última para trazer de lá a famosa Caixa de Pandora - a primeira,
para encontrar e esmagar a cabeça da serpente - símbolo do tempo e do mal; o
crime de ambas sendo expiado pelo Prometeu Pagão e pelo Lúcifer Cristão; o
primeiro, libertado por Hércules - o segundo, vencido pelo Salvador.
Aqueles cujos interesses estão ligados à
manutenção do status quo não
considerarão voluntariamente as instâncias da verdade: eles tentarão voltar
"a Hidra de mil cabeças" da opinião pública contra o ocultismo real.
Uma vez que ela (a opinião pública) é "composta de mediocridades
individuais", é de longe um perigo maior para o ocultista do que "os
minúsculos relâmpagos clericais" e as "negações infundadas" da
ciência "no futuro conflito entre Verdade, Superstição e Presunção; ou,
para dizer em outras palavras, Espiritualismo Oculto, Teologia e Ciência".
As chaves para a verdade estão profundamente
escondidas, e obstáculos quase insuperáveis bloqueiam o caminho do discípulo.
"Só a fé, da qual apenas um grão do
tamanho da semente da mostarda, de acordo com as palavras de Cristo, pode
erguer uma montanha, é capaz de descobrir o quão simples se torna a Cabala para
os Iniciados, depois de ter conseguido vencer as primeiras dificuldades
abstrusas. O seu dogma é lógico, plácido e absoluto. A união necessária de
idéias e símbolos; a trindade das palavras, letras, números e teoremas; sua
religião pode ser resumida em poucas palavras: 'É o infinito condensado na mão
de um infante', diz Eliphas Levi. Dez cifras, 22 duas letras alfabéticas, um
triângulo, um quadrado e um círculo. Estes são os elementos da Cabala, de cujo
seio misterioso nasceram todas as religiões do passado e do presente; que
dotaram todas as associações Franco-Maçônicas com seus símbolos e segredos, que
somente pode reconciliar a razão humana com Deus e a Fé, o Poder com a
Liberdade, a Ciência com o Mistério, e que sozinha possui as chaves do
presente, do passado e do futuro".
Esta linguagem, um véu que protege os
mistérios contra aqueles que só estão procurando riqueza e poder, "é uma
linguagem viva, eloqüente e clara: mas é e pode vir a ser assim apenas aos
verdadeiros discípulos de Hermes".
"Assim as obras sobre Ocultismo, repito,
não são escritas para as massas, mas para os Irmãos que fazem da solução dos
mistérios da Cabala o principal objetivo de suas vidas, e que se supõe terem
ultrapassado as primeiras dificuldades abstrusas do Alfa da Filosofia
Hermética".
Formulando sua discussão das chaves para a
sabedoria de acordo com o simbolismo relativamente familiar mas mal
compreendido do Ocidente, H.P.Blavatsky conclui sua carta aberta com uma
palavra de conselho: "Tenta e transforma-te".
"Uma única viagem ao Oriente, feita com o
espírito apropriado, e as possíveis emergências que surgem do que pode parecer
nada mais do que encontros casuais e aventuras de qualquer viajante, tanto
podem, quanto não, certamente abrir de par em par ao estudante sério as até
então cerradas portas dos mistérios finais".
No mesmo jornal, em 4 de outubro de 1875,
H.P.Blavatsky abordou diretamente o conceito de magia. Escreveu ela:
"O exercício de poder mágico é o
exercício de poderes naturais, mas SUPERIORES às funções ordinárias da
Natureza. Um milagre não é uma violação das leis da Natureza, exceto para as
pessoas ignorantes. A Magia é apenas uma ciência, um conhecimento profundo das
forças ocultas na Natureza, e das Leis que governam os mundos visíveis e
invisíveis. O Espiritismo nas mãos de um Adepto se torna Magia, pois ele é
versado na arte de fundir as leis do Universo sem quebrar nenhuma delas e
portanto sem violar a Natureza. Nas mãos de um médium inexperiente, o
Espiritismo se torna FEITIÇARIA INCONSCIENTE... através da qual emergem as
forças cegas da Natureza que se escondem na luz astral, bem como bons e maus
espíritos".
Depois de ponderar sobre estas declarações,
ilustrando o benéfico uso da magia na história mundial, e indicando os grandes
Iniciados que trabalharam no meio da humanidade, H.P.Blavatsky declarou
audaciosamente:
"A FRATERNIDADE DE LUXOR é uma das seções
da Grande Loja da qual sou membro".
Se alguém duvidar desta declaração,
"pode, se quiser, escrever para Lahore pedindo informação", embora os
"Sete do Comitê" provavelmente não respondam.
Em 7 de setembro de 1875, H.P.Blavatsky,
W.Q.Judge e H.S.Olcott trocaram bilhetes em uma palestra dada por George Felt,
e em 8 de setembro decidiram fundar a Sociedade Teosófica. Em meados de outubro
decidiu-se que Olcott seria o presidente, Judge o conselheiro legal e
H.P.Blavatsky a secretária correspondente. Em 17 de novembro Olcott proferiu o
discurso inaugural da Sociedade Teosófica. Dali em diante, H.P.Blavatsky
delineou os princípios básicos do eterno
Movimento Teosófico. Juntando os liames dourados de ciclos passados,
coroou-os com a revelação pública de que os Mestres são Homens vivos, em
contato com indivíduos, e prontos para acolher na Grande Obra aqueles que
preencherem os requisitos estabelecidos para o discipulado.
Durante os dois anos seguintes, a incipiente
Sociedade manteve poucos encontros e recebeu pequena atenção do público.
H.P.Blavatsky, contudo, instruiu Olcott e Judge nos princípios Teosóficos e
modos de investigação e autodescoberta. Ao mesmo tempo recebendo e ensinando um
contínuo fluxo de visitantes de todo o mundo e publicando alguns artigos e
cartas, trabalhava diligente em seu primeiro livro. Em 1877 ela publicou Ísis sem Véu, uma chave-mestra para os
mistérios da ciência e teologia antigas e modernas. W.Q.Judge acompanhou-a
quando ela assinou o contrato de publicação. "Quando o documento foi
assinado", escreveu ele mais tarde, "ela me disse em segredo: 'Agora
devo ir para a Índia' ". O livro causou um profundo impacto na América e
na Inglaterra, especialmente entre os estudantes de ocultismo. Sua abordagem
iluminada de abstrusos problemas filosóficos, sua erudição e destemida análise
dos fenômenos inexplicados, seus relatos de primeira mão de estranhos lugares e
estranhos eventos fascinou, excitou e às vezes ultrajou o mundo de língua
inglesa. Ficou claro que o Movimento Teosófico não comprometeria o direito dos
pesquisadores de procurarem o conhecimento onde quer que fosse encontrável, nem
dependeria de apelos a uma autoridade externa. Os Espíritas viram seus
fenômenos apreciados, mas suas teorias criticadas; os eruditos souberam que
seus achados podiam ser usados enquanto que seus preconceitos eram abandonados,
e os cientistas descobriram que sua presunção oitocentista não intimidava o
exame Teosófico.
H.P.Blavatsky se tornou cidadã americana em 8
de julho de 1878, e partiu com o coronel Olcott para a Índia no fim do ano.
W.Q.judge ficou encarregado da Sociedade na América. Estabelecendo-se em
Bombaim, começou a publicar o The Theosophist em outubro de 1879. Os
orientalistas foram atraídos para aquele centro e para o pensamento indianos
muito por causa dos esforços de H.P.Blavatsky, mesmo quando eles, como Bernouf,
falharam em compreender a conexão entre a fraternidade universal e a sabedoria
divina. Os eruditos indianos, naturalmente desgostosos com o tratamento que
seus livros sagrados recebiam nas mãos profanas de orientalistas ocidentais,
entraram na arena. T.Subba Row e Tukaram Tatya publicaram traduções e
comentários na Índia, enquanto que Judge encorajava o mesmo trabalho na
América.
Uma sede permanente foi fundada em Adyar,
Madras, em 1883. Nesta altura a Sociedade exercia um amplo impacto
internacional e seu sucesso foi marcado pelo aparecimento de chelas verdadeiros como Damodar K.
Malavankar, assim como de uma hoste de buscadores independentes, invejosos e
obtusos. Em 1884, H.P.Blavatsky viajou para a França, Alemanha e Inglaterra,
onde ela encontrou um ambiente favorável à Teosofia. Depois de um breve
regresso à Índia, partiu para a Europa em 31 de março de 1885, para jamais
retornar. As maquinações dos Coulomb, um ingrato casal que havia sido hospedado
e alimentado por H.P.Blavatsky quando estavam à beira da inanição, conduziram
ao infame Relatório Hodgson à
Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. Baseado em evidências
falsificadas, o relatório acusava H.P.Blavatsky de fraude a respeito dos fenômenos
que às vezes ela produzia. Embora a Sociedade de Pesquisas Psíquicas repudiasse
este relatório em 1968, muito depois de ele deixar de ser convincente para quem
quer que fosse, ele resultou em recriminações mútuas e sentimentos hostis em
Adyar. H.P.Blavatsky resolveu não gastar suas energias em tais assuntos, e em
vez disso viajou pela Itália e Alemanha, estabelecendo-se em Londres em maio de
1887. Em setembro ela iniciou a publicação de Lúcifer.
H.P.Blavatsky sabia que o tempo era precioso.
A Teosofia devia ser apresentada de uma forma que confrontasse as
formas-pensamento da época; devia ser acessível ao estudante sincero; tinha de
falar às futuras gerações. Ao mesmo tempo, era preciso reunir com um laço mútuo
um núcleo de estudantes em quem se pudesse confiar, que assimilassem e
propagassem os ensinamentos, e os exemplificassem diante do mundo como um
prelúdio a um possível chelado. Era preciso preparar o solo para o próximo
Instrutor. Embora com má saúde e atormentada por todos os lados, aplicou suas
incríveis energias para estas finalidades.
Em 1888 Olcott veio para a Inglaterra para
ajudá-la a organizar a Seção Esotérica, planejada para reunir os Teosofistas
plenamente engajados, de modo que garantisse que o espírito do Movimento e a
centralidade dos Mestres fossem preservados depois da partida dos
Fundadores. Em 9 de outubro foi
anunciada a Seção Esotérica. No mesmo mês foi publicada A Doutrina Secreta, um monumento e um mistério, tanto em sua produção
quanto em seu conteúdo. Em um elaborado comentário sobre estâncias escolhidas
do Livro de Dzyan, se delineia e se
elucida a origem, natureza e evolução do cosmos e do homem, com uma análise
filosófica do mito e da religião, e uma crítica independente da ciência do
século XIX. Em 1889 ela publicou A Chave
para a Teosofia e A Voz do Silêncio.
A Doutrina
Secreta suscitou grande interesse entre os discípulos mais próximos.
H.P.Blavatsky respondia perguntas sobre as estâncias em Londres e elas foram
registradas estenograficamente, revisadas por ela e publicadas em 1890 e 1891
sob o título Minutas da Loja Blavatsky.
Em 1890 a sede européia do Movimento Teosófico foi estabelecida em Londres, e
durante todo este período fluía de sua pena uma grande corrente de artigos e
cartas, cintilantes em profundidade e sabedoria.
Tendo visto que os ensinamentos que podiam ser
dados no Ciclo de 1875 haviam sido claramente enunciados e que um núcleo de
discípulos levaria a tocha da Verdade para o século XX, H.P.Blavatsky foi
habilitada a deixar seu corpo mortal com a idade de sessenta anos, em 8 de maio
de 1891. W.Q.Judge ficou na América expandindo a obra e exemplificando de modo
inteligente e devoto a lealdade à Instrutora-Maga até 21 de março de 1896.
H.S.Olcott permaneceu como presidente da Sociedade Teosófica até sua morte em
1907.
Para honrar este notável ser que consistente e
totalmente devotou-se à Loja dos Mahatmas, embora se parecesse mais com um
deles do que como sua subalterna, seu aniversário de morte é comemorado como o Dia
do Lótus Branco nas Lojas e Sociedades Teosóficas em todo o mundo.
W.Q.Judge, em quem H.P.Blavatsky reconheceu seu mais devoto discípulo e fiel
amigo, escreveu:
"Sua meta foi elevar a raça. Seu método foi lidar com a mente do
século XIX assim como a encontrou, tentando conduzí-la passo a passo; foi
encontrar e educar aqueles poucos que, apreciando a majestade da Ciência
Secreta e devotando-se 'à grande órfã, a Humanidade', podiam levar adiante seu
trabalho com zelo e sabedoria; foi fundar uma Sociedade - por menor que pudesse
ser - cujos esforços injetariam no pensamento da época as idéias, as doutrinas,
a nomenclatura da Religião-Sabedoria, de modo que quando o próximo século
atingisse seu 75° aniversário o novo mensageiro, vindo novamente ao mundo,
encontrasse a Sociedade ainda em atividade, as idéias espalhadas amplamente, a
nomenclatura pronta para dar expressão e corpo à verdade imutável, e assim
tornar fácil a tarefa que para ela desde 1875 foi tão difícil e coalhada de
obstáculos pela própria pobreza da linguagem - obstáculos mais difíceis de
sobrepujar do que quaisquer outros".