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GALENO
GALENO

"O fato é que aquele cujo propósito é saber qualquer coisa melhor do que a multidão deve ultrapassar em muito todos os outros, tanto em sua natureza como em seu treinamento precoce. E quando ele chega à primeira adolescência ele deve se tornar imbuído de um ardente amor pela verdade, como um inspirado; nem um dia ou noite ele pode deixar de incitar-se e esforçar-se a fim de aprender completamente tudo o que tenha sido dito pelos mais ilustres Antigos. E quando ele o tiver aprendido, então por um longo período ele deve testar e prová-lo, observando qual parte está de acordo e qual em desacordo com os fatos óbvios. Assim ele escolherá uma coisa e rejeitará outra".

Peri Physikon Dynameon III, 10
GALENO

Pérgamo emergiu rapidamente no mundo Helenístico depois que Átalos I Sóter derrotou os Gálatas invasores, em 235 aC. Apesar de que sua aliança com Roma levasse á absorção de Pérgamo pelo império em 133 aC, possibilitou a Átalos e seus sucessores fazerem de sua cidade a maravilha da Ásia Menor. Sua localização protegida por colinas, dispondo de rios e vales férteis, abriu espaço para inspirada arquitetura e sustentou uma agricultura grandemente diversificada. Eumenes II, filho e sucessor de Átalos, estabeleceu uma biblioteca planejada para rivalizar com a de Alexandria. Embora nunca atingisse tal nível, chegou perto o bastante para alarmar os Ptolomeus, que proibiram a exportação de papiros para impedir o crescimento da biblioteca de Pérgamo. Em resposta, os artesãos de Pérgamo desenvolveram os 'charta pergamena', peles de animais especialmente tratadas que evoluíram até o pergaminho dos séculos posteriores. Quando eruditos fugiam do tumultos políticos que periodicamente irrompiam em Alexandria, mais freqüentemente iam para Pérgamo. Ergueu-se um grande 'Asclepieion', ou templo de cura, do outro lado do rio defronte ao centro da cidade, e como hospital e lugar sagrado, desenvolveu-se como principal centro de Esculápio (ou Asclépios, filho de Apolo e pai de Higéia, deusa da saúde), assim como Delfos era especialmente dedicada a Apolo, Elêusis a Deméter e Éfeso a Ártemis. Pérgamo se tornou uma cidade onde a prosperidade econômica, a cultura clássica e as artes curativas se mesclaram, como se fossem destinadas a prover o berço e lar de Galeno, o maior médico do mundo antigo.

Galeno nasceu em 130 aC em uma florescente propriedade rural entre Pérgamo e o mar. Seu pai, Nikon, era arquiteto, matemático e um conhecido praticante de criação racional de animais, e sua mãe era irascível e belicosa, um temperamento salientado pelo contraste com a natureza amável de seu marido. 'Galenos', sereno, foi o nome escolhido para a criança, talvez para direcionar seu caráter, embora falhasse em indicar sua capacidade de concentração intensa e sua impaciência com pontos de vista dogmáticos. À medida que Galeno crescia, ia aprendendo matemática, astronomia, agricultura e criação racional de animais de seu pai, mas freqüentemente visitava a cidade e cresceu acostumado aos seus hábitos. Ele assistiu à construção de um novo e maior Asclepieion no lugar do antigo templo de cura e maravilhou-se com o seu esplendor. Uma estrada calçada de um quilômetro, ligava a cidade e sua entrada monumental. Dentro de seus enormes muros com colunas ficava um templo modelado a partir do Panteão, um grande berçário circular, um teatro, um templo dedicado a Adriano, um altar para Ártemis e Higéia Elétia (deusa do parto), e uma fonte sagrada com seu templo. Uma passagem subterrânea ligava o berçário com o centro da praça, talvez para funções religiosas em torno do parto. Na altura em que Galeno estava pronto para iniciar os estudos formais na cidade, com a idade de quatorze anos, os edifícios sacros estavam prontos.

Nikon desejava uma carreira pública para seu filho. Além de ensinar-lhe muitas coisas a respeito da Natureza e estimular seu interesse pela ciência, Nikon procurou imbuir em Galeno uma abertura mental e uma capacidade de apreciação de diferentes pontos de vista. Galeno assistia às palestras dadas pelos expoentes das quatro escolas de pensamento aceitas: a de Platão, Aristóteles, dos Estóicos e de Epicuro. Enquanto assistia igualmente a cada escola, seu precoce treinamento matemático fê-lo admirar-se das incertezas implícitas nos argumentos e explicações conflitantes. Ele poderia ter se tornado um matemático, mas um sonho inspirado por Esculápio instou-o a estudar medicina como um meio de descoberta da verdade e de usar seus diversos talentos de um modo integrado. Ele iniciou estudos de anatomia com o anatomista Sátiro de Esmirna, um homem de fama tal que era hóspede permanente de Rufino, o arquiteto que restaurara e ampliara o Asclepieion. Quatro anos mais tarde Nikon morreu, e Galeno sentiu-se livre para continuar seus estudos em outro lugar.

Ele viajou então para Esmirna para estudar com Pélops, e então para Corinto, para trabalhar com Numisiano. Ele encontrou tempo também para continuar seu treinamento filosófico com Albino, o Platônico. Na época em que chegou a Alexandria, em 152 aC, ele já era um escritor cujos livros de anatomia eram respeitados. Além de continuar seus estudos de anatomia em Alexandria com Heracliano, vasculhou o Egito à procura de ervas e remédios, visitou professores renomados e engajou-se em debates médicos e filosóficos. Em 158 voltou a Pérgamo, onde foi recebido com honras e indicado médico da 'schola gladiatorum'. Assumindo a função de médico dos gladiadores, cujos ferimentos eram diversos e terríveis, teve a oportunidade de comparar a anatomia humana com a dos animais que ele estudara. Seu sucesso foi demonstrado pelo fato de que foi indicado para o posto por quatro vezes consecutivas; ele poderia ter continuado naquela função indefinidamente, não tivesse a guerra entre Pérgamo e os Gálatas interrompido as lutas de gladiadores. Na ausência de trabalho estimulante, Galeno decidiu visitar Roma.

Galeno chegou em Roma em 162, bem na ocasião em que Antonino Pio foi sucedido por Marco Aurélio. Ele escrevia, era ativo nos círculos médicos e assistia palestras de Eudemos, o Aristotélico. Altamente respeitado em uma cidade de luminares intelectuais e científicos, foi chamado para atender Eudemos quando este caiu doente. Logo os principais teóricos da medicina se engajaram em calorosos debates sobre a causa da cura da moléstia. Galeno seguiu seu método e Eudemos curou-se, mas Galeno havia incorrido em tamanha animosidade que Eudemos advertiu-o sobre a possibilidade de assassinato. Galeno pensou que seria melhor voltar a Pérgamo, onde poderia escrever e praticar em paz, mas sua reputação em Roma aumentou em sua ausência, e logo Marco Aurélio chamou-o de volta para ser o médico régio de seu filho, Cômodo, durante a ausência do imperador nas guerras das fronteiras germânicas.

Como médico da corte, um posto que manteve até a sucessão de Cômodo em 180, Galeno encontrou tempo para refletir sobre o que havia aprendido e para escrever alguns tratados sobre assuntos médicos e filosóficos. Quando um incêndio destruiu o Templo da Paz na Via Sacra, em 192, perderam-se algumas obras de Galeno. Talvez esta tragédia tenha representado um sinal para Galeno retirar-se da vida pública, pois ele retirou-se para Pérgamo, onde viveu e escreveu em paz e honra, evitando a confusão e os eventos incertos do final do século. Pouco se sabe sobre estes seus últimos anos, exceto que morreu em 199, tendo assegurado um lugar na história da filosofia e da medicina. Ele não poderia saber que suas concepções forneceriam as bases para a medicina Islâmica durante mais de mil anos, ou que o renascer do interesse pelo saber clássico asseguraria sua autoridade na medicina da Europa até que Paracelso desse um novo impulso aos estudos médicos.

Galeno foi um escritor prolífico e às vezes prolixo. Sobrevivem cento e dezoito obras das setecentas que ele compôs. Perto do fim de sua vida já não podia lembrar-se de todos os seus tratados. Ele sentiu a necessidade de estabelecer uma bibliografia de seus trabalhos e compôs dois ensaios que a ordenavam e comentavam sobre sua evolução ao longo de sua vida como pensador e médico. Fazendo isso ele produziu a primeira autobiografia de um cientista e a primeira bibliografia na história registrada. Em acréscimo, ele quase casualmente revelou os ingredientes fundamentais de suas percepções e influência subseqüente. Em primeiro lugar, ele continuou seu treinamento filosófico durante toda sua vida. Ele privilegiava a lógica e a matemática em seus estudos, mas demonstrou uma notável capacidade de mesclar a abertura mental para com diferentes pontos de vista com uma preocupação em estabelecer conclusões firmes. Em segundo lugar, ele tinha uma profunda veneração pelos mestres antigos e contemplava suas descobertas com reverência. Embora chamasse repetidamente Hipócrates de 'divino', ele evitava a afirmação dogmática de velhas concepções e a adesão escrava à tradição herdada. Terceiro, ele acreditava que a observação empírica é essencial ao estudo da saúde humana, e para ele a anatomia era a chave. "A menos que se saiba como um órgão funciona", ensinava ele, "não se pode nem reconhecer sua condição saudável nem aliviar seus males, e a função de um órgão pode ser entendida somente dentro do contexto da unidade de todo o organismo e sua unidade com seu ambiente". Galeno foi um dos pioneiros da Medicina holística.

Assim como Galeno houvera aprendido dos quatro sistemas filosóficos aceitos de sua época, ele também examinou as principais escolas da medicina. E assim como ele retirou elementos de cada escola filosófica, também extraiu a essência de diversas visões médicas, ao mesmo tempo que rejeitava a considerável escória a elas associada. Das antigas escolas a mais velha era a Hipocrática. Conquanto todos os médicos prestassem homenagens ao fundador grego da ciência médica, alguns sutentavam que a sabedoria médica inteira podia ser encontrada no sistema Hipocrático. A escola Dogmática tentou conciliar os ensinamentos Hipocráticos com os de Aristóteles, mas recusou-se a aceitar a possibilidade de descobertas médicas fora desta dupla. A escola Empírica emergiu a partir dos estudos anatômicos que floresceram em Alexandria e baseavam seus ensinamentos no acompanhamento terapêutico ('teresis'), na história clínica e na analogia. Infelizmente, sua obsessão pelos detalhes tendia a levar a experimentação farmacêutica à beira do bizarro. Três escolas contemporâneas de pensamento emergiram da conquista romana do mundo grego. A escola Metódica, baseada no atomismo de Epicuro, reduzia todas as doenças e disfunções à constrição e relaxamento dos poros do corpo, elevando portanto um só tipo de observação clínica ao nível de princípio operativo. A escola Pneumática declarava que todas as desordens eram devidas á desproporção entre os ares e gases circulantes no corpo, mas não havia o reconhecimento de que alguns gases eram resultado da atividade dos órgãos. A escola Episintética tentou uma variação ao reconciliar estas visões, e embora seus proponentes tivessem excelente treinamento médico, careciam do embasamento filosófico necessário para elaborar um método científico consistente.

Galeno procurou basear a arte da medicina em um método científico perdurável, apoiado em um alicerce filosófico adequado, e ele tentou incorporar as melhores concepções de todas as escolas. "A que seita pertence Galeno?" perguntou certa feita o anatomista Marcial, e ele respondeu que Galeno não pertencia a nenhuma e chamou de escravos aqueles que aceitavam quaisquer ensinamentos como definitivos e completos. Mesmo Galeno jamais sentiu que tivesse encontrado soluções irrefutáveis. Mesmo que rejeitasse as pretensões das escolas com veemente polêmica, sua suspeita recorrente de que a medicina poderia ser reapresentada de forma matemática e que a anatomia poderia se basear na geometria apontava para um sistema que sempre lhe escapou. Não obstante, ele desenvolveu diversas visões que deram direção e coerência aos estudos médicos.

"Hipócrates", escreveu Galeno, "foi o primeiro conhecido por nós dentre aqueles que foram tanto médicos quanto filósofos, onde ele foi o primeiro a reconhecer o que a Natureza faz". Galeno tomou como seu próprio ponto de partida o ensinamento de Hipócrates de que o organismo individual é uma unidade que reflete a unidade da Natureza ('Physis'), da qual ele é uma parte. Tanto a saúde como a doença - qualquer condição determinável no organismo - devem ser entendidas com referência àquela unidade, especialmente se alguém procura fundir a diagnose, a prognose e a terapia. A fisiologia - de 'physis' e 'logos' - é portanto o estudo da razão e causalidade na Natureza. Para Galeno, a fisiologia inclui grande parcela de física e química, elas mesmas consideradas como o estudo dos processos inteligentes (e portanto inteligíveis) da Natureza. Antes do que sucumbir à tendência romana de reduzir a biologia à física, Galeno era inclinado a assimilar a física à biologia. Ele voluntariamente aceitou e adotou livremente a metodologia científica de Aristóteles e seu discípulo Teofrasto, mas ele tirou sua filosofia de Platão, cuja ética e doutrina da alma foram essenciais ao pensamento de Galeno.

A principal característica da Natureza, de acordo com Galeno, é 'techne', sua artisticidade criativa. Nos organismos vivos - embora tudo na Natureza seja vivo em pelo menos algum grau impercebido - 'techne' é exibida no crescimento e na nutrição, que dependem de faculdades naturais que extraem materiais apropriados para si. Através da assimilação, o organismo altera o material incorporado a si mesmo. Embora os organismos sejam sujeitos a 'phora', movimento passivo, que é representado pelas leis mecânicas, eles funcionam por movimento autônomo. 'Drastike kinesis', movimento ativo, ou 'alloiosis', alteração, não podem ser incluídos nas leis mecânicas, porque o movimento próprio é um tipo de autodeterminação que depende da natureza do organismo ou órgão. Este movimento pode ser entendido de três modos: como 'dynamis' (potencialidade), 'energeia' (realização) e 'ergon' (o resultado de 'energeia') - isto é, em termos do trabalho a ser feito, do trabalho sendo feito e do trabalho completado. Enquanto que as categorias do movimento autônomo podem ser entendidas a priori, a observação clínica baseada em detalhado conhecimento anatômico é crítica para a diagnose de qualquer doença ou desequilíbrio no sistema orgânico. Se a ciência médica há de progredir, contudo, os detalhes de casos específicos têm de ser redutíveis á generalização. Galeno preferiu o poder de dedução às incertezas do método indutivo, de modo que tentava elaborar conclusões genéricas a partir das observações a fim de deduzir uma teoria prática da doença. Ele achava a metodologia Euclidiana convincente, mas ele sabia que nem a anatomia nem a medicina poderiam aplicá-la de modo inflexível, mesmo que analogias pudessem ser úteis.

Para Galeno, a lógica e a observação não poderiam por si fornecer os requisitos da ciência médica. Insistindo na importância da experimentação, ele se tornou o primeiro fisiologista experimental, concentrando-se no estudo das funções renais e na fisiologia da medula espinhal. Seus estudos levaram-no a aceitar duas posições, que ele intermitentemente tentou conciliar. Em primeiro lugar, tomando a disfunção orgânica e a doença como fenômenos que não eram radicalmente distintos em natureza mas sim diferentes pontos no espectro da doença, ele provisoriamente aceitou a teoria Hipocrática dos humores. Nesta visão, as doenças são causadas por excesso de um ou mais dos quatro humores - sangüíneo, fleugmático, bilioso negro e bilioso amarelo. O excesso não é determinado pela quantidade de cada humor presente no organismo, mas pela sua proporção em relação aos outros humores. Cada sistema orgânico tem seu próprio equilíbrio - um reflexo da unidade na multiplicidade - e se um ou outro humor aumentar significativamente, o equilíbrio sistêmico é abalado e resulta a doença ou distúrbio. Embora a teoria dos humores não seja parte da ciência médica ocidental contemporânea, a teoria dos hormônios é originada dela, e os humores permanecem essenciais na medicina tibetana até hoje. A tentativa de restaurar o equilíbrio dos quatro humores levou Galeno a procurar substâncias curativas pela Ásia Menor, Egito, Ilhas Gregas, Palestina, Chipre e Itália. Sua farmacopéia era tão grande que ele tinha de transportar boa parte dela consigo, uma vez que não podia esperar encontrar entre os estoques dos farmacêuticos locais os seus ingredientes exóticos.

A segunda visão que ele considerava atraente era a teoria pneumática. 'Pneuma', literalmente alento, tinha para Galeno dois significados distintos mas relacionados. Como ar inspirado, era reunido no coração e levado pelas artérias a todos os tecidos do corpo. Embora Galeno não descobrisse a circulação do sangue, ele reconheceu o coração como uma bomba. O ar circulante purificava e restaurava os tecidos assim como dava o calor inato ao organismo. Como um princípio vital sutil, o 'pneuma' atua de três formas. O 'pneuma physikon' (espírito natural) viaja através das veias e governa as funções vegetativas do organismo; o 'pneuma zotikon' (espírito vital) dá autonomia individual ao sistema como um todo coerente e com mobilidade autônoma; e 'pneuma psychikon' (espírito psíquico) é o princípio fisiologicamente operativo da alma, transmitido através dos nervos. Os desequilíbrios que podem ocorrer nos humores têm efeitos secundários, incluindo a inibição do fluxo de 'pneuma' no sistema. Porém, se o fluxo do 'pneuma' é impedido,  isso pode afetar os humores. Assim a diagnose e a prognose baseadas na fisiologia devem incluir a psiquiatria, bem como um estudo da história do organismo e de seu ambiente.

Galeno aceitava a divisão tripartite Platônica da alma - ao mesmo tempo que afirmava com Platão que a alma é uma unidade - e restringiu a medicina ao aspecto inferior. Não obstante, ele acreditava que os médicos devem ter maior conhecimento do que o lógico ou o filósofo precisamente porque a arte de Esculápio tem de combinar a teoria Apolínea com a prática da razão de Ártemis, deusa da caça, que sempre encontra sua presa. O verdadeiro curador deve dominar os três ramos da fisiologia: a lógica, a ciência do pensamento correto e da conceitualização; a física, a ciência da Natureza visível e invisível; e a ética, a ciência do que fazer. O médico deve levar a mais alta integridade ética aos seus estudos assíduos dos antigos, à experimentação cuidadosa e à observação penetrante. A Natureza é viva e inteligente; o caráter moral do médico reflete seu reconhecimento da operação da própria Natureza. Para Galeno, o curador tem sucesso não só por causa de seu conhecimento, mas também porque ele conscientemente busca auxiliar a Natureza, que revela seus segredos aos seus servos fiéis e devotos.

Apesar de Galeno aceitar a doutrina Platônica da alma e admitir sua onisciência potencial, ele concluiu, de seu extensivo estudo dos animais e criança, que a Natureza estabelece já no nascimento limites ao crescimento e pleno desenvolvimento. A educação não pode assegurar até mesmo para os estudantes diligentes que eles, através de estrênuos esforços,  se tornarão seres humanos excepcionais. Poderia, entretanto, auxiliar a alguém extrair o pleno leque de possibilidades que existissem dentro dos parâmetros da Natureza, e ele sentia que poucos faziam isso. Alguns indivíduos são por natureza bons, e outros são maus, e a educação não pode alterar significativamente suas constituições naturais. Pode, não obstante, desenvolver os naturalmente bons e impor algumas restrições aos inerentemente maus. A vasta maioria, contudo, vive entre estes dois extremos, e a educação pode ser de enorme valia para eles. Para a maioria dos seres humanos, sentia Galeno, é possível o progresso ético e intelectual. Em seu tratado 'Sobre a Melhor Educação', ele desautorizou o método do cético Favorino, que ensinava aos seus estudantes a argumentar com igual facilidade a partir dos dois lados de uma questão. Esta abordagem negava o fato de que existem pontos de partida para o conhecimento, e os estudantes eram deixados a fazer seus próprios julgamentos sem auxílio. Se o professor não pode ver com maior clareza intelectual que seus estudantes, argumentava Galeno, ele não deveria estar nesta profissão.

Galeno sustentava que o caráter podia ser influenciado pela educação porque os traços atribuídos à personalidade e caráter são parte não da alma racional, mas da irracional - os aspectos de vitalidade e o vegetativo da psique. Assim, as crianças que ainda não possuem uma capacidade desenvolvida de pensar não obstante apresentam personalidades altamente idiossincráticas. Os adultos devem assumir a responsabilidade pelos seus caracteres, uma vez que estes podem ser alterados e afetados pela educação e treinamento. Favorino se tornou para Galeno um símbolo do perigosamente mau professor porque ele negava esta função quintessencial da educação. Educar uma pessoa de modo que quase assegure que ela não usará sua educação para melhorar-se é privá-la de um dos meios de crescimento moral e intelectual. Galeno acreditava que o estudo exigente e o questionamento severo poderiam ser harmonizados prontamente pelo comprometimento inabalável para com valores fundamentais. Embora ele se abstivesse de atribuir qualquer esquema teleológico abrangente à Natureza como um todo, ele estava convencido de que cada organismo, e a fortiori o ser humano, poderia ser entendido funcionalmente apenas em termos de processos e comportamento intencionais.

O interesse de Galeno em fundir a razão, a observação e a experimentação em um poderoso método de demonstração compeliu-o a voltar sua atenção para a lógica. Ele entendia o poder do silogismo Aristotélico, embora preferisse o método da prova linear encontrado em Euclides. Os antigos escritores árabes, que tiveram acesso a alguns escritos de Galeno hoje perdidos para a história, eram unânimes em afirmar que Galeno inventara a quarta figura na lógica silogística tradicional, e os pensadores renascentistas não sabiam o porquê se referiam muitas vezes a isso como a 'figura Galênica'. Embora Galeno tenha explorado as possibilidades do silogismo, ele focalizou sua atenção sobre as falácias lógicas, e em seu 'Peri ton para ten Lexin Sophismaton' (Sobre as Falácias Lingüísticas), ele argumentou que o pensamento falacioso emerge tanto de falhas na argumentação devidas a ambigüidades gramaticais como de ambigüidade nos conceitos. Ele foi o primeiro e talvez o único pensador que tentou classificar cada ambigüidade lingüística com base em princípios teóricos. Galeno pensava que a  linguagem essencialmente significa, e que a ambigüidade é o grau em que o significado é obscuro. Para Galeno era essencial o reconhecimento deste problema lingüístico, pois ele freqüentemente se viu debatendo com médicos que confundiam rotulação com diagnóstico. Eles buscavam encontrar um rótulo apropriado para colocar a doença sob estudo, e então tratariam o rótulo e não o paciente. Esta abordagem tentadora e ilusória da cura constituia uma óbvia negação da unidade do organismo. Seus seguidores inconscientes tendiam a atacar a doença como se ela pudesse ser separada de toda a vida do paciente - uma visão que Galeno trabalhou toda sua vida para banir da prática médica.

Galeno foi honrado por médicos e filósofos, mas o âmbito de seu gênio era grande demais para ser compreendido por muitos, mesmo entre seus admiradores. Seus escritos filosóficos e teóricos freqüentemente foram negligenciados, e suas teorias médicas foram elevadas a um nível de certeza que ele jamais pretendeu. Suas polêmica demolição de visões alternativas fez com que suas próprias teorias, quando tiradas do contexto de suas judiciosas explicações, tomassem um ar de autoridade que ignorava suas bases experimentais. Galeno, que jurou jamais adotar uma única seita médica, se tornou postumamente o fundador de uma seita dogmática que triunfou sobre todas as outras, tanto no mundo Cristão como no Islâmico. Quando, séculos mais tarde, Paracelso queimou os livros de Galeno em uma palestra pública sobre medicina, a faculdade médica que o contratara ficou horrorizada e providenciou que ele fosse apresentar suas teorias em outro lugar. Ironicamente, contudo, Galeno teria aplaudido o ato, pois mesmo quando o sucesso e o renome recompensavam seu trabalho, ele acreditava que a integridade intelectual do verdadeiro filósofo-médico harmonizava a veneração pelos que haviam trabalhado antes com um exame independente de cada teoria e ponto de vista. Galeno é um representante exemplar não daqueles que proclamam a verdade última, mas daqueles que apontam o caminho para ela.

 


"Os elementos, a vida consciente, a mente,
A força vital invisível, os nove estranhos portões
do corpo, e os cinco reinos dos sentidos;
o desejo, a aversão, o prazer e a dor, e o pensamento
profundamente entretecido, e a persistência do ser:
tudo isso é elaborado na Matéria pela Alma!"

SHRI KRISHNA

 

OM




Autor: Elton Hall
Tradução: Um Colaborador
Revisão: Osmar de Carvalho
Fonte: www.theosophy.org



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