" A loucura de amor
é uma rica meada.
Quem quer que reconheça isso
não trocaria o Amor por nada:
ele pode unir os Opostos
e reverter o paradoxo.
Declaro a verdade sobre isso:
a loucura do amor torna amargo o que era doce,
torna o estrangeiro um amigo,
e torna o menor o mais digno.
"Para almas que não
atingiram tal amor,
eu dou este bom conselho:
se não podem fazer mais,
que peçam anistia ao Amor,
e o sirvam com fé,
de acordo com o conselho do nobre
Amor,
e pensem: 'Pode acontecer,
o poder do Amor é tão grande!'
Só depois que morre
é que uma pessoa fica além da
cura".
Embora na altura do século XI o
papado tivesse esmagado impiedosamente todo movimento que pudesse ser acusado
de heresia, falhou em erradicar a urgência de reformar a igreja. Uma poderosa
corrente de renovação espiritual sobrepujou as antiquadas instituições e
políticas corruptas, e nem mesmo a Inquisição medieval, refinada nas versões
romana e espanhola posteriores, poderia enfraquecer o anelo por visão
espiritual redentora. As principais heresias que haviam oferecido alternativas
à teologia e práticas religiosas romanas foram destruídas, mas o desejo de
retorno ao significado essencial da vida Cristã abalou a igreja a partir de
dentro de suas fileiras leais. Mesmo que a França estivesse a salvo de apelos
de regeneração, os Países Baixos revelaram novos descontentes que acabaram
contribuindo para a Reforma. Nos séculos XII e XIII, contudo, os indivíduos
devotos à igreja vieram a rejeitar a vida monástica formal como meio para a
verdadeira espiritualidade. As Beguines - mulheres que se auto-impuseram votos
de pobreza e castidade e viviam tranqüilamente em casa - começaram a se reunir
em pequenas comunidades sob orientação espiritual de instrutoras leigas
estimados por sua devoção e experiência. Talvez a maior destas líderes tenha
sido Hadewijch, cuja vida e obras afetaram profundamente Ruysbroeck,
influenciaram o pensamento religioso alemão e deixaram as bases para a
literatura holandesa subseqüente.
Nada se sabe da vida de
Hadewijch, exceto por sugestões retiradas de seus próprios formosos escritos.
Nem mesmo seu nome ajuda, pois se conhece pelo menos cento e onze mulheres com
o mesmo nome naquela época. Seu conhecimento de cavalaria e vida cortesã
sugerem que ela nasceu na aristocracia, e talvez, na nobreza, perto do final do
século XII. Ela era flamenga, muito provavelmente nascida em Antuérpia, e
parece ter recebido excelente educação. Embora ela escrevesse no holandês
medieval e endereçasse suas obras para as companheiras Beguines, ela tinha bom
conhecimento do latim e do francês e usou isso para efeito literário. Suas
principais fontes de inspiração eram o Velho e o Novo Testamentos, mas ela
mesclou um profundo conhecimento de numerologia, astronomia Ptolomaica,
princípios de versificação e de redação de cartas, e de teoria musical, para
dar expressão original às suas novas perspectivas.
Hadewijch admirava Orígenes,
Agostinho, os Vitorinos e os antigos Cisterciences, e seus pontos de vista
teológicos refletem o ensinamento Ortodoxo ocidental, como o da igreja Romana.
Ela estava muito familiarizada com a poesia amorosa das cortes, com os versos
dos trovadores da Provença, e com a linguagem dos Minnesänger alemães, assim
como dos Minnesanc nativos. Estas poesias de amor surgiram da poesia de amor
espiritual desenvolvida pelos Sufis da Pérsia, do Oriente Médio, Norte da
África e Espanha Islâmica, mas na Cristandade medieval haviam se tornado
completamente seculares. Como se devolvendo-as à sua fonte original de
inspiração, Hadewijch elevou a poesia de amor cortesão à intensidade da busca
da alma pelo Divino.
As Beguines eram mal vistas pela
igreja até que o Papa Honório III as autorizasse em 1216 a viver juntas e
seguir a vida boa. Hadewijch ou se uniu a um grupo de Beguines ou formou outro
por volta desta época, e se tornou sua guia espiritual. Sua poesia e cartas
demonstram que muitas de seu grupo achavam seus padrões altos demais e tentaram
sabotar sua autoridade. Hadewijch estava bem consciente desta dissensão e
buscou apelar ao melhor lado de suas companheiras através da exortação moral
sem coerção de nenhum tipo. Aparentemente, ela foi por fim expulsa de sua
comunidade e, a despeito da lealdade inabalável de algumas poucas seguidoras,
não lhe foi jamais permitido voltar. Não se sabe mais nada dela depois disso,
embora lendas posteriores sugiram que ela foi aprisionada pela Inquisição e
mesmo executada. Provavelmente ela tenha vivido em retiro, organizado seus
escritos e morrido como uma mulher piedosa e anônima, a quem poucos conheciam.
Suas obras gradualmente se perderam no século XV, só para serem redescobertas
em 1838. M. Brauns escreveu que é para o crédito de nossa outrossim idade das
trevas que Hadewijch tenha sido redescoberta, mas Columbus Hart sugeriu
recentemente que sua descoberta pode não ter sido tanto para o crédito da
época, mas antes para seu resgate. Hadewijch transcendeu seu tempo em
pensamento e expressão, e suas obras falam com igual claridade e força para os
seres humanos receptivos de qualquer época.
Hadewijch relatou visões
detalhadas em uma prosa literária, embora direta. Suas cartas, algumas das
quais quase tratados, foram escritas em resposta às várias necessidades que
surgiam entre as Beguines, e não tentam registrar sistematicamente suas visões.
Seus poemas - alguns em stanzas e outros em coplas rimadas - são altamente
refinados e têm estrutura muito cerrada mas abundam metáforas elaboradas.
Hadewijch experimentou pela primeira vez uma visão ardente quando tinha dez
anos. Embora levasse anos para criar a profundidade de devoção, constância de
pensamento e pureza de vontade que são essenciais à fruição da intimidade com o
Divino, ela prontamente reconheceu a irrelevância de se filosofar sobre a
natureza última da Deidade, e de buscar uma carreira de conquistas mundanas.
Para ela, a questão central da existência terrena era: Qual a relação da alma
com o Divino? Ao responder isso, ela escolheu deliberadamente um conceito que contém
o enigma velado por uma única palavra - Minne, amor. Hadewijch entendeu a sutil
complexidade que une um ser e seu encontro com Minne. A entidade tem sua
própria existência, natureza e qualidades, mas a consciência de uma entidade é
condicionada pela maturidade e orientação da consciência individual. A
experiência de um ser é necessariamente filtrada pela consciência condicionada.
Ao passo que todos estão a par das confusões que isso produz a respeito dos
objetos materiais - pode-se, por exemplo, tomar erroneamente, na penumbra, uma
corda por uma serpente - Hadewijch estava intensamente cônscia do problema em
relação à Deidade.
Uma vez que a experiência pessoal
de Deus é condicionada pela consciência, Minne se refere tanto ao Divino como à
resposta da alma a ele. Hadewijch estava menos interessada na ambigüidade desta
dupla referência do que com os modos de vida e pensamento que purificam a
percepção e movem a alma para uma crescente comunhão com o Divino. Uma vez que
para Hadewijch Deus é transcendente, inefável e incompreensível, e
simultaneamente imanente na manifestação da Trindade através de Jesus, e
portanto misticamente presente na hóstia da comunhão, ela não tentou descrever
o inexprimível. Antes, ela tentou atrair a alma receptiva para a Deidade
elucidando os estágios e aspectos de Minne. Minne em si é um aspecto do Divino
que se reflete como uma qualidade da alma, e é também a conexão entre eles,
antes como a luz refletida da superfície de um objeto: o raio de luz e o orbe
solar são um só. Sabendo que a mera exortação moral e mortificação da carne são
mais propensos a distrair a alma do que orientá-la para Deus, ela adotou a
linguagem poética dos trovadores para induzir um movimento positivo da alma.
"O que é este suave peso do
Amor
e seu jugo de suave sabor?
Será a nobre carga do espírito
com que o Amor toca a alma amante
e a une a ele numa só vontade
e em um só ser, sem
retorno?"
Hadewijch sustentava que o
indivíduo não encontraria força para buscar o Amado (Minne, o Divino) a menos
que ele inicialmente provasse a força compulsiva do Amor (Minne). Quando a
completude do Amor satura a alma desperta, a pessoa aprende a dissipar as
expectativas errôneas e a renunciar a concepções erradas; aprende a ser
completamente viva. Ao regenerar os poderes latentes da alma, o Amor renova as
perspectivas pessoais em relação a este mundo mutável.
"Oh, como aos meus olhos
parece novo
quem serviu ao novo Amor
com fidelidade nova e verdadeira
-
como a noviça deveria
apropriadamente fazer
quando o Amor primeiro se revela
a ela...
Pois o Amor concede o bem novo
que torna a mente nova,
que renova a si mesmo em tudo
em que o Amor renovadamente
toca".
Quando alguém começa a sentir a
totalidade do poder do Amor, sem o qual nada poderia ser atraente, a pessoa
perde o desejo por reflexos secundários da fonte primária.
"Conheço uma pessoa que no
início
dedicava-se ao Amor como num
jogo:
até que perdeu-se nele tão
completamente
que já não havia jogo algum para
ela.
Para ela, o recuo é completamente
impossível".
Como um cavaleiro errante, a alma
desperta deve aprender a sacrificar tudo em prol do Amor, que é tanto o caminho
para o Amado como sua meta.
"Devemos esquecer completamente o amor em troca do
Amor;
aquele que troca o amor pelo Amor é sábio.
É íntegro, seja na morte ou na vida:
morrer pelo Amor é ter vivido bastante.
Eia, Amor! Há muito tempo me conduziste ao extremo;
mas neste mesmo extremo aonde me levaste,
manterei vigília, Amor, a serviço de teu amor."
Para Hadewijch, a experiência do
Amor e o primeiro intenso anelo por ele assinalam um limiar perigoso. O
indivíduo que foi desperto para esta nova noção de vida ainda não tem a exata
autodisciplina e rigorosa autocrítica necessárias para mantê-lo na vereda
estreita em direção ao Amado. Se expectativas eivadas de preferências por
prazer habitarem a mente, ele será amargurado pelos sofrimentos relativos ao
Amor. Se ele não tem noção clara de sua constituição psíquica, cairá em
concepções romantizadas sobre o Amor, e se não conhecer sua própria
constituição somática, se tornará sensual em seu pensamento e ação. A
experiência pura do Amor é uma entrada súbita num domínio transcendente, o
reino do Amor. Uma vez que os seres humanos estão encarnados em um mundo
condicionado, esta consciência exaltada prontamente é mal-traduzida na
intensificação das experiências telúricas. Esta é a rota da autoderrota e da
morte em vida, a rota que Hadewijch temia que muitas de suas Beguines estavam
trilhando voluntariamente. Só a potência clarificadora da Razão posta a serviço
do Amor pode evitar estes erros desastrosos. Em uma de suas visões, Hadewijch
viu uma rainha vestida de um traje verde semeado de olhos.
"Diante da rainha caminhavam
três donzelas. Uma, com um régio manto vermelho, levava dois trompetes em suas
mãos; e ela soprou um deles e disse: 'Quem não ouvir à minha Senhora será
eternamente surdo á felicidade e jamais ouvirá ou verá a melodia superior e o maravilhoso
poder do Amor'. E o outro trompete soou e ela disse: 'Quem acorrer e seguir os
caminhos que minha Senhora ama será poderoso no reino do Amor'.
"A segunda donzela tinha um
régio manto verde e levava em suas mãos dois ramos de palma, cada um deles
selado com um livro. Com os ramos ela removia de sua Senhora o pó dos dias e
das noites, e do sol e da lua, pois ela não queria que nenhum deles ficasse
empoeirado.
"A terceira donzela tinha um
régio manto negro e em sua mão segurava algo semelhante a uma lanterna cheia de
dias, pela qual a Senhora via as profundezas das profundezas, e as alturas das
mais elevadas altitudes.
"A rainha aproximou-se de
mim ameaçadoramente rápido e colocou seu pé em minha garganta, e gritou com a
voz mais terrível, e disse: 'Sabes quem sou?' E eu disse: 'De fato sei; já me
causaste muito pranto e dor. És a faculdade da Razão da minha alma' ".
As três acompanhantes régias são
o temor santo, o espírito do auto-exame que vela pela pureza das perfeições
reivindicadas pela alma aspirante; o discernimento, que distingue entre Amor e
Razão; e sabedoria, que une a Razão ao Amor e vê "só Deus como Deus, e
todas as coisas como Deus no conhecimento de Deus, e cada coisa como divina
quando em espírito estou unida a Deus".
Se a Razão mostra claramente o
caminho ao Divino, o Amor é a motivação para percorrê-lo. O Amor deve ser o
mais puro possível, e a pureza é adquirida através da incondicionalidade, a
qual é ganha pelo cultivo de todas as virtudes. Assim, a pessoa precisa manter
a postura de humildade, uma vez que a virtude incondicional não pode ser
considerada posse pessoal. Para Hadewijch, a meta é distante, embora o senso de
sua presença possa estar perto do humilde buscador, e qualquer pessoa que
deseje verdadeiramente pode fazer a jornada, embora cada um deva começar com o
primeiro passo. Não há privilégios de posição e nem há descanso na ascensão
espiritual. Em uma visão evocativa, Hadewijch foi levada por um jardim de
árvores, cada qual simbolizando uma profunda verdade espiritual.
"Lá havia uma árvore com
suas raízes para cima e sua copa para baixo. Esta árvores tinham muitos ramos.
Dos ramos mais baixos, que formavam o topo, o primeiro é a fé, e o segundo
esperança, pelos quais a pessoa inicia. O Anjo me disse: 'Oh senhora, subis
nesta árvore do início até o fim, todo o caminho até as profundas raízes do
Deus incompreensível. Entende que este é o caminho dos iniciantes e daqueles
que perseveram até a perfeição".
Seguir a árvore ao longo de todos
os seus ramos até as raízes leva a alma até a sede da Deidade. Lá Hadewijch
contemplou um trono em forma de disco, sustentado por três pilares - um de
fogo, um de topázio e um de ametista. Sob o centro do disco havia um escuro
remoinho girando rapidamente.
"O trono que parecia um
disco era a eternidade. Os três pilares eram os três nomes pelos quais os
miseráveis que estão longe do Amor o conhecem. O pilar de fogo é o nome do
Espírito Santo. O Pilar semelhante ao topázio é o nome do Pai. O pilar como
ametista é o nome do Filho. O fundo redemoinho, que é tão pavorosamente escuro,
é a fruição divina em suas tormentas ocultas".
Lá ela contemplou o Amado e
percebeu que ela havia sido conduzida por ele todo o dia, mesmo que a maior
parte dele ainda tivesse de ser vivido. Embora caísse a seus pés, ele
imediatamente disse: "Levanta! Pois estás em mim desde a eternidade,
completamente livre e sem queda'. Depois de explicar que lhe concedera esta
visão porque o Anjo guardião a havia considerado digna em reverência e
realização, ele disse: 'Além disso, dou-te um novo mandamento. Se queres ser
como eu em minha Humanidade... deves desejar ser pobre, miserável e desprezada
por todos; e todas as tristezas te serão mais doces do que qualquer prazer
terreno - jamais deixe que te entristeçam". Para Hadewijch, os imensos
apelos do Amor espiritual demandam nada menos do que uma total imersão no
Divino. Este desejo inevitavelmente engendra sofrimento, pois tudo o que
pertence ao mundo se torna alheio e cessa de alimentar o amante. Mas aos olhos
do amante o mundo é simultaneamente transfigurado, de modo que o que os outros
chamam de sofrimento e penas na verdade se torna jubiloso. O amante se aproxima
da Deidae assumindo a humanidade de Cristo como exemplificada na vida de Jesus.
Ao emular Cristo a pessoa se une a Deus.
"Deves sempre, com avidez
ardente,
procura novos sofrimentos em prol
do Amor.
Deves deixar o Amor - ele mesmo -
agir;
Ele te recompensará todas as
penas com amor.
Se deixares teus sofrimentos
serem um fardo para ti,
tu não o amas, é evidente.
Se desejas fazer uma cena e
ostentar teu sofrimento,
esqueceste completamente do nosso
Amor,
que conquista tudo, e conquistará
quem quiser pertencer
completamente a ele...
Assim, adornemo-nos ambas
para que o próprio Amor possa nos
levar
à beatitude que foi preparada,
onde o Amor estará
eternamente".
Como as diversões do mundo - e
tudo que não é visto como uma manifestação do Divino é uma distração - são
estranhas à alma, o Amor deve purgá-las. A alma sofre porque suas noções de
experiência devem ser transformadas. Nos arroubos iniciais do Amor há uma sutil
tintura do eu, pois todas as experiências envolvem alguma referência ao eu que
passa pela experiência. Ao olhar o Amor como Aquilo que nunca pode ser
descrito, a atenção inclui o eu. Se esta tendência de desviar a atenção não é
purgada, a alma passará a admirar os dons com exclusão do Doador. Sobrevém o
afeto, a pessoa perde a meta de vista, e com o tempo as purgações do Amor
parecem duras e mesmo injustas. A pessoa se torna autocentrada e ou foge para
os prazeres mundanos ou se isola na amargura. Hadewijch decobriu que a
experiência purificada sem a auto-referência é de fato possível.
"Quem conquista o Amor é ele
mesmo conquistado;
assim ele é servido;
e quando acalenta quem quer que
seja
ele consuma
em nova moldura tudo o que
possui.
Assim, sendo velho, aprende
através do poder do Amor
conquistar a paz,
onde ele descobre que o preço do
Amor
é a miséria".
A pessoa pode contemplar o Divino
além das imposições limitadas da consciência que não foi regenerada. Sabendo
que o Amor é distinto das experiências particulares, a pessoa pode aprender a
experimentar puramente, testemunhando a Fonte sem perceber a testemunha. Assim
o eu é perdido no Amado porque o que era o elemento brilhante na consciência é
aperfeiçoado através da união com o Amado. O indivíduo que consegue isso
experimenta uma liberdade sem paralelo e uma considerável liberdade de vontade.
Conseguir isso, contudo, requer uma jornada espiritual que começa no entusiasmo
do jovem espiritual, passa por muitos estágios de autocorreção, e amadurece
quando a pessoa se torna espiritualmente velha. Almas velhas sabem que o
sofrimento não é caracterizado por sinais externos, mas representa a alienação
do Divino e é estimulado pelas freqüentemente dolorosas renúncias aos laços
estranhos a ele.
A intensa atração da alma pelo
Amor é um sinal de que ainda não ficou velha. Para adquirir este estado, que
tem pouco a ver com a longevidade, a alma deve aprender a ser destemidamente ativa
ao mesmo tempo que incondicionalmente receptiva. Ao buscar o Amor, a alma é um
cavaleiro errante, preparada para enfrentar cada prova e privação em prol de
chegar mais perto do Amado.
"Às vezes indulgentes e às
vezes rudes,
às vezes tenebrosos e às vezes
brilhantes:
ao liberar consolo, no medo
coercitivo,
no aceitar e no dar,
devem aqueles que são
cavaleiros errantes no Amor
viver sempre aqui embaixo".
Quanto à alma, ela deve
adornar-se como uma noiva esperando a boda, pois quando a alma adquiriu as
virtudes do altruísmo, caridade e identificação com todos os seres, e as
faculdades da vontade, veracidade e memória espiritual, será elevada pelo
divino esposo à boda celeste. A alma altruísta se torna um espelho tão perfeito
do Divino que a luz Crística e seu reflexo se tornam indistinguíveis.
Se persevera nesta digna
condição, a alma é um abismo insondável no qual Deus basta a si mesmo; e sua
própria autosuficiência sempre encontra fruição plena nesta alma, assim como a
alma, de sua parte, sempre a encontra nele. A alma é uma passagem das
profundezas de Deus em direção à sua liberdade; e Deus é um caminho para a
passagem da alma para sua liberdade, isto é, para suas maiores profundezas, que
não podem ser tocadas exceto pelo abismo da alma. E até onde Deus não pertencer
à alma em sua totalidade, ele não a satisfará verdadeiramente.
Hadewijch pode ter se desapontado pela inabilidade de muitas
de suas Beguines de fazerem pleno uso de sua oportunidade de se tornarem
cavaleiros e esposas do Amado.