"Em idos dias devotei-me ao
vinaya e também mergulhei nos sutras e shastras. Mais tarde, quando eu percebi
que eles eram remédios para a salvação e apresentações de doutrinas sob forma
de palavras escritas, descartei-os de uma vez por todas, e, procurando o
Caminho, pratiquei meditação. Ainda mais tarde encontrei grandes mestres.
"Foi então, com meu Olho do
Dharma se tornando claro, que eu pude perceber todos os antigos mestres debaixo
do céu e distinguir os falsos dos verdadeiros, Não é que eu tenha entendido
desde o momento em que nasci de minha mãe, mas que, depois de investigação
exaustiva e contínua disciplina, em um instante eu conheci a mim mesmo".
LIN-CHI
As relações entre a China e o
Japão oscilaram ao longo dos séculos, refletindo os interesses internos de cada
nação assim como as atitudes de uma para com a outra. Depois que a agitação das
visitas à China inauguradas pelo Príncipe Shotoku começou a declinar, o Japão
como um todo se tornou menos interessado na cultura chinesa, e a tradição
Budista permaneceu como o elo vital entre eles. Porém, os ensinamentos Budistas
rapidamente se acomodaram às formas japonesas e precisaram pouco mais do que
infusões periódicas de Ch'ang-an ou T'ien-t'ai para florescerem. Justamente na
época em que a ch'an, meditação, sofria seus desenvolvimentos mais dramáticos
na China, o Japão esquecia largamente seu grande vizinho ocidental, mas quando
o Zen chegou no Japão, foi sob uma forma criada pela presença imensa de um
adepto ch'an chinês.
Em 845 a Grande Perseguição prejudicou seriamente a erudição ao destruir centros de estudo, mosteiros e
templos na China. No espaço de dois anos, quase dois mil grandes templos e
quarenta mil pequenos centros haviam sido destruídos e cerca de 250 mil monges
e monjas foram forçados a voltar à vida secular. Como conseqüência, a única
forma de pensamento e prática Budista chinês que sobreviveu relativamente
intocada foi a forma de ch'an praticada no sul, que havia permanecido rural,
idiossincrática e afastada de todo caráter institucional. A recuperação Budista
foi, então, uma disseminação do ch'an do sul, que se dividiu em cinco escolas,
duas das quais se tornaram predominantes e por fim passaram ao Japão. A
primeira foi fundada por Lin-chi, cujo nome mais tarde veio a designar a escola
conhecida no Japão como Rinzai. Mesmo que fosse Eisai quem trouxesse o Zen
Rinzai para o Japão no século XII, Lin-chi sempre foi considerado o seu
fundador.
Lin-chi I-hsuan nasceu nos
primeiros anos do século IX, na atual província de Shantung. Embora detalhes de
sua primeira vida sejam esparsos, parece que seu brilhantismo inerente foi
reconhecido desde uma idade precoce. Ele foi uma criança-modelo, cheia de
reverência por seus pais, mas logo foi atraído pela buddhavachana, a Palavra de
Buda, e se tornou monge. Ainda jovem ele estudou os sutras e as regras do
vinaya para os monges, assim como numerosos comentários sobre os textos
sagrados. Na altura de seus vinte anos, contudo, ele havia perdido o interesse
nas práticas e rituais ortodoxos e desejava uma percepção interior direta,
prajna, da mensagem de Buda. Assim, ele começou a viajar em busca de um
instrutor, chegando enfim ao mosteiro de Huang-po, talvez o mais famoso
preceptor de ch'an de sua época. Ele ouviu os discursos de Huang-po e seguiu as
práticas do mosteiro durante três anos, aparentemente sem resultados. Ele
estava prestes a desistir quando o principal discípulo sugeriu que ele
solicitasse uma audiência privada com Huang-po. Ele o fez, e quando ele
perguntou para seu mestre a questão-padrão, "Por que Bodhidharma veio do
Ocidente?", Huang-po bateu-lhe com um bastão. Ele visitou Huang-po duas
vezes mais e obteve respostas igualmente curtas. Desesperado, ele disse ao
monge líder que estava partindo para atingir sua meta em outro lugar.
Quando Lin-chi encontrou-se com
Huang-po para despedir-se, o velho mestre gentilmente aconselhou-o a ir para o
mosteiro próximo, presidido por Ta-yu, e este conselho mudou a vida de Lin-chi.
Ao apresentar-se a Ta-yu e explicando sua história, Ta-yu disse: "Huang-po
tratou-te com grande compaixão. Ele só quis dissipar tua preocupação".
Subitamente Lin-chi entendeu e respondeu: "Então a doutrina de Huang-po é
muito simples; não há nada ali!"
"Seu patife!", gritou
Ta-yu, agarrando Lin-chi. "Tu te queixaste dizendo que o ensinamento de
Huang-po era incompreensível. Agora tu dizes que não havia nada ali. O que tu
entendeste? Fala agora!"
Lin-chi respondeu empurrando as
costas de Ta-yu, e Ta-yu disse: "Teu mestre é Huang-po. Tu não me
interessas". Lin-chi imediatamente voltou para o mosteiro de Huang-po e
apresentou-se ao seu mestre.
"Não voltaste um pouco
cedo?", perguntou Huang-po. "Recém saíste!"
"Porque foste tão amável
comigo", respondeu Lin-chi, "voltei logo". Então Lin-chi contou
o seu encontro com Ta-yu.
"Que boca grande tem aquele
velho", disse Huang-po. "Quando eu o encontrar de novo, dar-lhe-ei
uma prova de meu bastão".
"Por que esperar?",
respondeu Lin-chi. "Eu posso fazê-lo agora", e deu um tapa no rosto
de Huang-po.
Huang-po disse: "Este monge
louco está puxando os bigodes do tigre", e Lin-chi soltou um grito.
Então Huang-po disse para um
auxiliar: "Leva-o ao salão de reuniões".
Talvez Huang-po e Ta-yu tenham
trabalhado juntos para promover o despertar súbito de Lin-chi, pois ambos
certamente o reconheceram. Embora o despertar de Lin-chi fosse repentino,
resultado de uma observação aparentemente casual, Lin-chi havia trabalhado
longa e arduamente desde muito jovem para atingi-lo. O momento da realização
foi virtualmente instantâneo, mas o caminho que levou a ela foi árduo. Quando
mais tarde ele descreveu o momento, ele o colocou fora do estudo do canon
sagrado, fora dos rituais, práticas e comentários, e mesmo além da meditação,
mas de modo algum ele desmereceu a "investigação exaustiva" e a
"constante disciplina" que o precedeu. Sua rejeição à eficácia última
do aprendizado e da prática assumiria formas radicais, mas nasceu de um
entendimento metafísico sofisticado do buddhadharma, o Ensinamento de Buda, e
de uma igualmente sublime compreensão da metapsicologia.
Lin-chi permaneceu durante mais
algum tempo com Huang-po, mesmo que seu trabalho parecesse terminado. Anos mais
tarde, Lin-chi advertiu que embora a iluminação constituísse uma ruptura, como
cortar um fio de cabelo com uma espada afiada, a espada da percepção interior
devia ser continuamente afiada. Aparentemente Huang-po e Lin-chi apreciavam a
companhia um do outro, pois freqüentemente trabalhavam juntos, trocando vivazes
comentários que apontavam para uma verdade subjacente. Por exemplo, o primeiro
registro de experiências de iluminação Budista ch'an, A Transmissão da Lâmpada,
contém a seguinte história:
"Um dia o Mestre Lin-chi foi com Huang-po fazer um trabalho no qual
participavam todos os monges. Lin-chi seguia seu mestre, o qual, voltando sua
cabeça, percebeu que Lin-chi não estava levando nada em sua mão.
- Onde está a tua enxada?
- Alguém a levou.
- Vem cá. Vamos conversar,
ordenou Huang-po, e assim que Lin-chi chegou mais perto, Huang-po jogou sua
própria enxada no chão e disse:
- Não há ninguém no mundo que
possa apanhar minha enxada.
Lin-chi pegou a ferramenta,
ergueu-a e exclamou:
- Então como ela poderia estar em
minhas mãos?
- Hoje temos outra mão conosco. Não
é preciso que eu fique aqui.
E Huang-po voltou para o
templo".
Alguns pensadores viram nesta
brincadeira a transmissão oficial do ensinamento, a transmissão da lâmpada, de
Huang-po para Lin-chi.
Por fim Lin-chi despediu-se de
seu mestre e saiu para o mundo. Como as instituições Budistas estavam sendo
atacadas durante a Grande Perseguição, muitos monges ch'an e seus discípulos,
que não precisavam de templos, santuários, bibliotecas ou vestes especiais, se
misturaram à população rural onde viviam. Lin-chi, contudo, simplesmente
continuou a viajar e ensinar como se não percebesse o caos irrompendo ao seu
redor. Quando viveu na prefeitura de Ho durante algum tempo, instruiu os monges
locais. O governador regional, Conselheiro Wang, visitou-o e inquiriu-o acerca
das práticas ch'an.
"Wang perguntou:
- Os monges deste mosteiro lêem
os sutras?
- Não, respondeu Lin-chi, eles
não lêem os sutras.
- Eles aprendem a meditar?
continuou Wang.
- Não, disse Lin-chi, eles não
aprendem a meditar.
- Se eles não lêem os sutras nem
aprendem a meditar, o que eles fazem?
- Tudo o que faço, respondeu Lin-chi,
é fazê-los se tornarem budas e patriarcas".
Com o tempo, Lin-chi
estabeleceu-se no Templo de Hsing-hua, na prefeitura de Taming, e ali seus
ensinamentos foram registrados para a posteridade. Enquanto que ele rejeitava
descompromissadamente qualquer noção de que o desenvolvimento intelectual
ajudasse alguém a obter a iluminação, ele sabia que uma mera recusa de pensar -
por princípio ou por preguiça - era também inútil. Uma vez que os seres humanos
de fato usam sua mente discursiva, Lin-chi desenvolveu uma sutil dialética que
desafiava a racionalidade convencional, tomando estratégias primeiro usadas
metafisicamente por Nagarjuna, mas agora para fins metapsicológicos. Lin-chi
não queria pintar uma imagem da Realidade. Antes, ele queria que as pessoas experimentassem
a Realidade, que está presente a todos os momentos em todos os lugares. Sua
ênfase na experiência imediata transformou a doutrina ch'an do mentalismo
exclusivo em um método no qual tudo o que é preciso já se encontra presente no
ser humano. Assim ele tomou o ensinamento de Huang-po sobre a mente universal e
tornou-o existencial, algo mais para ser do que para se saber sobre, e
acrescentou ao método ch'an do uso de gestos ou declarações misteriosas - o que
viria a ser o koan - o rápido golpe do bastão como terceiro elemento, o que
constituiria um resposta livre de conteúdo discursivo. Não obstante, ele não
confundia gestos ou sons desarticulados com provas de iluminação. De acordo com
os Ditos Registrados de Lin-chi:
"O Mestre perguntou para um
monge:
- De onde vens?
O monge deu um grito.
O Mestre saudou-o e fez com que
sentasse. O monge hesitou, e o Mestre bateu nele.
Vendo chegar um outro monge, o
Mestre ergueu seu bigode.
O monge curvou-se profundamente. O
Mestre bateu nele.
Vendo um outro monge
aproximar-se, o Mestre de novo ergueu seu bigode. O monge não prestou atenção.
O Mestre bateu nele também".
Huang-po havia criticado a
frouxidão e as formas ritualizadas da ortodoxia Budista porque ele acreditava
que a religiosidade institucionalizada atrapalhava os discípulos em sua busca
pela iluminação. Lin-chi voltou sua atenção para a própria ch'an, em parte
porque a Grande Perseguição havia quase destruído as escolas e templos
Budistas, e em parte porque ele via muita ostentação personalista se passando
como profunda instrução espiritual. Ele não poupava nem seus próprios
discípulos ao recusar-se a tolerar qualquer tipo de imitação. Uma vez, numa
assembléia de monges, ele disse:
"Todos vocês imitam meu grito, mas deixem-me dar-lhes um teste. Uma pessoa
vem do salão leste e outra do salão oeste. Elas se encontram e gritam
simultaneamente. Vocês podem distinguir o convidado do hospedeiro - o
não-iluminado do iluminado? Se não podem, vocês estão proibidos de imitar meu
grito".
Para Lin-chi, os professores não
deviam ensinar a não ser obrigando os estudantes a experimentarem por si mesmos
a verdade. Palavra, grito, gesto e ação não deviam ser explicativos, mas antes
reveladores, atordoando o intelecto discursivo numa paralisia momentânea de modo
que o discípulo pudesse vislumbrar o que há por trás.
O trabalho de Lin-chi foi bem
sucedido, de acordo com os padrões mundanos, pois sua escola prosperou e vinham
para ele monges de toda a China. Ele deixou as bases de uma escola que dominou
o pensamento ch'an e foi levada para o Japão como o Zen Rinzai, uma das duas
escolas principais da prática Zen. Porém ele, quando envelheceu, viu a si mesmo
acabando por se tornar um monumento nacional, e ele protestou por ser
considerado o padrão pelo qual os outros seriam medidos. Quando ele anunciou
sua iminente partida deste mundo, ele reuniu seus discípulos e perguntou-lhes o
que era seu ensinamento para que devesse ser preservado. San-sheng
imediatamente deu um grito e Lin-chi disse: "Quem poderia acreditar que o
tesouro de meus ensinamentos seria transmitido para este asno cego?". Mas
mesmo um grito requeria um contexto, e Lin-chi compôs um gatha ou verso:
"Carregado para longe na
infinita correnteza,
tu perguntas o que fazer.
Consegue a iluminação verdadeira e
infinita, eu respondo.
Mas ser livre de formas e nomes
não é coisa inata no homem.
Mesmo a espada mais afiada deve
ser constantemente reafiada".
Tendo terminado seu verso,
Lin-chi abandonou seu corpo. Com sua morte, a corte imperial, já não mais
interessada em perseguição, concedeu-lhe o nome honorífico póstumo de Hui-chao,
"Iluminação Sábia".
Lin-chi afirmava que o ser humano
era preso pela cognição seqüencial, a tendência persistente de um pensamento
conduzir a outro. Seja a seqüência aleatória ou constitua uma rigorosa exegese
lógica, a corrente de consciência discursiva mascara o homem real por trás. Envolva-se
a mente em uma série de prazeres grosseiros, acumule a ambição de buscar poder
ou fama, ou siga sublimes doutrinas espirituais, a tensa cadeia de pensamento
discursivo a cega para a verdade. A sabedoria intuitiva não é o produto de
algum tipo de atividade mental discursiva; é o rompimento da cadeia, a
interrupção do processo. Daí a iluminação sempre surgirá de repente, mesmo
tendo ocorrido uma longa e cuidadosa preparação prévia. Um instrutor deve fazer
uso dos mesmos meios que emprega a mente discursiva para construir suas
contorcidas cadeias de pensamentos, mas ele os usa de maneiras que a mente não
espera, desejando quebrar a cadeia. Falando sobre seu grito famoso, Lin-chi
disse a um monge que algumas vezes seu grito era como a espada cravejada de
jóias de um espírito-rei, dura e perdurável; algumas vezes era como um leão a
rugir, forte, teso e poderoso; também poderia ser como o caniço de pesca feito
de um galho de mato, provando e atraindo o desatento; e às vezes um grito não
funciona como um grito.
Lin-chi advertia seu discípulos
contra as artimanhas sutis da mente discursiva. A própria tentativa de entender
é outro tipo de cadeia cognitiva de pensamentos, e a iluminação intuitiva não
pode ser assegurada por nenhum processo cognitivo. Uma vez Lin-chi perguntou:
"Alguém tem alguma pergunta? Se tem, que a faça agora. Mas no instante em
abrir a boca você já estará perdido". De acordo com os Ditos Registrados
de Lin-chi, ele elaborou o que queria dizer em um breve discurso para seus
monges:
"Às vezes eu afasto o homem e não afasto o ambiente. Às vezes eu afasto o
ambiente e não afasto o homem. Às vezes eu afasto homem e ambiente. Às vezes
não afasto nem homem nem ambiente".
Esta é a análise quádrupla de
Lin-chi sobre a intercambialidade entre sujeito e objeto.
A realidade, ensinava Lin-chi,
não é nem subjetiva nem objetiva, mas as cadeias de pensamentos tentam torná-la
uma ou outra coisa. O homem real, contudo - a mente verdadeira ou universal -
está além de ambos. Quando alguém está absorto na beleza da Natureza ou nas
palavras de um livro, a subjetividade é absorvida no mundo objetivo. Quando um
poeta imagina um poema ou um artista cria uma pintura, a objetividade é
perdida na subjetividade total. Na meditação profunda, quando os sentidos
estão inoperantes, tanto a subjetividade como a objetividade vão e vêm
livremete - a percepção de si mesmo se mesclando às condições do mundo - a
pessoa experimenta o mundo da vida diária comum. Isto está mais próximo da
iluminação intuitiva, pois aquilo que é iluminado se manifesta ora como uma,
ora como outra.
Filosoficamente, estas
possibilidades apontam para a 'realidade-mente', nas palavras de Lin-chi, que é
universal e onipresente. Cada ser humano é aquela realidade-mente em um foco
individual. O paradoxo da natureza humana e a razão pela qual todas as palavras
podem ocultar a verdade tanto como revelá-la é que um ser humano é
simultaneamente a realidade-mente e a pessoa concreta ao mesmo tempo. Perceber
que a pessoa é quem vê, aquilo que é visto, o nada que é ver sem um 'eu' ou sem
algo que é visto, e todo o processo de um 'eu' vendo o mundo, é obter a
iluminação. A realidade-mente não é uma doutrina metafísica, um artigo de fé ou
uma meta a ser atingida: é um fato na Natureza e no Homem. Não há nada real
além disso. Entender isso é experimentá-lo, e experimentá-lo é vivê-lo. A
pessoa não pode pensar sobre isso, pois ao fazê-lo ela objetiva o que não é objetivo.
Nem pode simplesmente negá-lo, pois isto subjetiviza o que não é subjetivo. Antes, a pessoa deve apenas ser o que é.
O Buda universal que é a força
inteligente na Natureza e na história, Gautama Buda, que ensinou aos homens a
verdade, e o ser humano individual, são inteiramente um só e o mesmo ser. Este
é o motivo de Lin-chi fazer declarações chocantes como "Sempre que o
encontrares, seja dentro ou fora, mata-o imediatamente: encontrando Buda, mata
o Buda; encontrando o patriarca, mata o patriarca". O verdadeiro Homem, o
"homem sem hierarquia", ou a realidade-mente, é perdido com os
condicionamentos e qualificações assim que alguém pensa sobre ele. Dar uma
forma a Buda, mais ainda, associá-lo com uma imagem, é impor um condicionamento
- uma hierarquia - sobre a realidade-mente, é limitá-la e confiná-la dentro do
pensamento estreito da consciência discursiva. Mudando o foco da aspiração
espiritual do mentalismo exclusivo para o homem sem hierarquia, Lin-chi não
alterou o desejo e propósito fundamentais da buddhavachana, mas antes os tirou
do remoto reino da abstração e os centrou em cada ser humano. Aquele homem
verdadeiro que não tem hierarquia é a natureza de Buda da pessoa, a
realidade-mente universal, a pureza da simples intuição. Lin-chi não queria que
a possibilidade de percepção intuitiva fosse degradada como apenas um outro elo
na cadeia do pensamento discursivo, e assim sua doutrina e seu método
constituíram uma unidade metafísica e metapsicológica. Ele viveu como
ensinava, uma espantosa mistura de confiança e negação, trilhando o caminho do
fio da navalha da fidelidade à verdade mais fundamental.
"No momento em que o
estudante pisca seus olhos, ele já se perdeu. No momento em que ele tenta
pensar, ele já está diferente. No momento em que surge um pensamento, ele já
fugiu. Mas para o homem que entende, ele está sempre aqui diante de seus
olhos".
"Constante e sem ilusões, o
conhecedor de brahman nem exulta no agradável nem se perturba com o
desagradável, mas está estabelecido em brahman.
"Não sendo atado por
contatos sensoriais externos, ele encontra alegria no Eu. Subjugado pelo yoga
com brahman, ele desfruta de perene beatitude"
Bhagavad Gita,
V, 20-21
SHRI KRISHNA