A Saúde
Integral do Homem
Palestra
Pública proferida em 17 de julho de 1998, na Loja Teosófica Liberdade
por Carlos Eduardo Gonzales Barbosa,
com
a participação do Dr. Carlos Affonso Vieira
Hoje o nosso assunto é a saúde integral do
ser humano.
Antes de iniciar nossa palestra, eu gostaria de
lembrar a vocês que na próxima sexta-feira, dando
continuidade ao assunto da questão da saúde, nós temos
a palestra do professor Claudio Witte, que é terapeuta
corporal, sobre terapias corporais - a busca da saúde
integral por métodos naturais. Realmente é bastante
interessante e valerá a pena participar.
(...)
Nós estamos fechando a programação do mês de
agosto, mas eu vou antecipar para vocês o que nós temos
fechado até o momento. O mês de agosto, além de ser o
mês do "cachorro louco", para nós também é
um mês de palestras sobre o tema da magia e do
conhecimento oculto.
Nós temos confirmada para a segunda semana de agosto,
com o professor Bloes, uma palestra sobre o Tarot. Na
terceira semana, o Ronaldo, nosso vice-presidente, dá
continuidade à sua seqüência de palestras e o tema é
"o discipulado", que é justamente a
preparação do indivíduo para a entrada na hierarquia
daqueles que são mestres na prática e no conhecimento
da magia.
A última palestra do mês vai tratar sobre o tema da
alquimia.
Estamos aguardando uma confirmação na primeira
semana do mês de agosto, que seria uma palestra sobre o
tema dos anjos, um tema que foi muito discutido - houve
um modismo, houve uma euforia excessiva em relação ao
tema, e então nós estamos convidando uma pessoa que
esteve diretamente ligada ao início desse entusiasmo em
relação aos anjos para que esteja aqui conversando com
a gente, falando sobre este tema.
Para setembro nós estamos preparando uma série de
palestras com o tema "meio ambiente e equilíbrio
espiritual" porque o mês de setembro, todo mundo
sabe, é o início da primavera - o que lembra meio
ambiente, ecologia, o signo de libra, que é o
equilíbrio - e então por isso nós estamos preparando
os temas nesse sentido.
(pausa)
Bem, para não falar sozinho aqui, uma vez que o
objetivo nosso era ter um painel sobre essa questão da
saúde integral. Eu tinha a esperança de que pelo menos
dois dentistas que fazem parte do nosso quadro de
filiados estivessem aqui hoje. Infelizmente os dois não
puderam comparecer, a Dra. Neusa e o Dr. Ronaldo. Então,
eu convidei o Dr. Carlos, que não é médico e nem é
dentista, mas que é um excelente teosofista e nosso
anterior presidente, para me fazer companhia, para eu
não fazer um painel sozinho aqui.
Carlos Vieira - Eu vi uma pessoa perguntando para um
outro se ele falava francês "eu não falo",
respondeu, "mas eu tenho um irmão que fala".
Eu não sou médico, mas eu tenho um irmão médico.
Carlos Eduardo - É médico por osmose...
Então nós vamos dar início a esse nosso painel,
primeiramente, lembrando a vocês - embora aparentemente
isso não tenha nada a ver com o tema de hoje - nós
estamos numa reunião da loja teosófica Liberdade, que
é uma loja filiada à Sociedade Teosófica no Brasil,
que por sua vez está filiada à Sociedade Teosófica
internacional, que tem a sua sede em Adyar, na Índia.
Essa sociedade foi formada no século passado com
três objetivos que a gente sempre está repetindo aqui
porque são importantes e fundamentais para o
funcionamento não só da Sociedade Teosófica, mas para
o bom funcionamento da humanidade. Esses objetivos são
três e o primeiro deles é a formação de um núcleo de
fraternidade humana universal sem distinções de casta,
credo, raça ou cor, e isso até hoje ainda é uma
"utopia". Não digo isso pelos teosofistas,
digo sim pela humanidade como um todo. O espírito de
fraternidade ainda não está prevalecendo na comunidade
de uma maneira geral.
O segundo objetivo é a promoção do estudo
comparativo de religiões, ciência e filosofia, com a
finalidade de descobrir justamente o que há de
verdadeiro por trás de todos esses ensinamentos.
E o terceiro objetivo é a investigação das leis
ocultas da natureza e dos poderes latentes em cada um de
nós, que completaria, por assim dizer, o ciclo
preparatório daqueles que pretendem entrar no caminho do
discipulado, o caminho de quem vai avançando em
direção a essa hierarquia oculta que nós acreditamos
estar por trás do governo das boas coisas que a
humanidade produz no mundo inteiro.
Por que nós lembramos desses objetivos da Sociedade
Teosófica?
Porque nós estamos falando de saúde. Normalmente
nós nos esquecemos do significado da palavra
"saúde". Nós nos lembramos do significado da
ausência da saúde. Nós associamos saúde a hospital, a
doença, nós associamos a falta de higiene, problemas
decorrentes de idade, tudo isso nós lembramos, quando
pensamos em saúde, mas que são coisas que se
caracterizam pela falta da saúde, e não pela presença
dela.
Então vamos tratar hoje da saúde integral do homem,
e não da falta dela. Tratemos do que seria esse conceito
de saúde integral do ser humano. Para isso nós
precisaríamos começar naturalmente definindo o que é a
saúde.
Esse princípio de saúde, o que é isso na vida de um
ser humano?
Se nós perguntarmos o que é a falta de saúde creio
que todo mundo sabe. Porque para cada um de nós é muito
fácil perceber a falta da saúde. Aliás quase todos
nós nos consideramos de uma maneira geral carentes de
saúde. Nós achamos sempre que estamos doentes. Isto é
um mal crônico da humanidade. Achamos que todo mundo
está saudável, e nós é que estamos doentes. Esse é
um mal que não tem muito a ver com a saúde do corpo,
mas que tem muito a ver com uma carência afetiva, com a
saúde da alma. E nós nos esquecemos normalmente o que
é exatamente estar ou se sentir com saúde.
O que seria então esse princípio de saúde?
É alguma coisa invisível, uma coisa que nós não
sabemos definir, que não vamos definir ainda, mas que
faz com que o organismo humano funcione direitinho. Ou
seja, o aparelho digestivo faz a digestão, o aparelho
respiratório respira, os ossos sustentam o corpo, os
órgãos internos todos produzem as suas secreções e
realizam suas tarefas e sua química, e nós nos sentimos
bem. Então quando nós estamos nesse estado, quando
alguma coisa produz esse equilíbrio dentro de nós,
então nós dizemos que temos saúde. E desejamos saúde
para todo o mundo (mesmo que seja só formalmente!), mas
desejamos até para o inimigo "muita saúde, bem
estar, etc.". Todo final de ano brindamos à saúde
de todo mundo.
Saúde é uma coisa muito importante para nós. É um
conceito muito importante na vida de cada um de nós. É
tão importante esse princípio de bom
"funcionamento" que nós transplantamos o termo
para quase todas as atividades humanas. Então nós
falamos hoje de saúde política, saúde financeira,
saúde de equipamentos, não é? É até uma coisa
engraçada um mecânico falar da saúde do meu
automóvel, mas se fala. O conceito se distribuiu para
todas as áreas em que o ser humano atua, porque para
nós é muito importante sentir que as coisas funcionam.
Isso nos dá um prazer muito grande. Presenciar o
princípio de saúde em qualquer atividade, ou em
qualquer objeto que seja, nos dá um bem-estar, nos dá
um prazer muito grande.
Então nos perguntamos: por quê temos essa relação,
por assim dizer, distante da saúde? Ou seja, nós que
gostamos tanto da saúde no entanto não sentimos a
saúde dentro de nós. De uma maneira geral, quase todos
nós tomamos consciência apenas dos problemas - da falta
de saúde - e não da saúde em si.
Para que possamos entender melhor isso, vamos pensar
de onde vem a saúde. Para entender o que é, exatamente,
esse princípio de saúde. Eu vou anotar (...) no quadro
as várias origens, ou os vários meios pelos quais nós
obtemos saúde. Nós nos lembramos de alguns, que são
óbvios. Por exemplo, uma boa alimentação
costuma trazer saúde.
(...) interrupção breve - alguém pergunta o
significado da palavra "saúde" e o palestrante
diz que falará sobre o assunto mais adiante -
A respiração também normalmente nós
associamos a uma idéia de saúde. Se eu respiro bem eu
me sinto saudável. Eu vou para um ambiente aberto, por
exemplo, eu vou para o mato, para uma floresta, e o que
eu faço? Eu respiro fundo e penso "nossa, isso aqui
me deixa mais forte. Me sinto mais saudável só de
respirar esse ar mais puro". Então a respiração
também é um meio de se obter saúde.
Mas também quando, falando de saúde, nos lembramos
das doenças, vamos buscar o que? As terapias.
Toda a parafernalha farmacêutica, todas as terapias
alternativas, tudo aquilo que pode eventualmente nos
devolver um estado perdido de saúde. São práticas,
são produtos ou substâncias que ingerimos e que não
são nem o alimento, nem o ar que respiramos, mas que nos
trazem também saúde.
Mas há outras coisas que nos trazem também saúde,
como, por exemplo, determinados hábitos de
comportamento. Que hábitos de comportamento? Por
exemplo, pessoas que não têm regularidade no seu sono -
o sono traz saúde, não é mesmo? Mas traz saúde não
pelo sono em si mas pela regularidade. Da mesma forma
como a alimentação traz saúde pela regularidade. A
respiração também traz saúde pela regularidade.
Existem regras que trazem saúde. Não adianta, para
obter saúde, me empanturrar de alimento, respirar
bastante e dormir com a indolência de um porco durante
três dias inteiros, esperando que a saúde volte. Não
é o exagero, mas o equilíbrio, a sistemática dessas
práticas o que traz saúde. Da mesma forma que o excesso
de um remédio, em vez de trazer a saúde, traz uma
doença - os famosos efeitos colaterais - da mesma forma
os excessos de alimento, de respiração, também trazem
desequilíbrio.
Alguns adeptos das disciplinas respiratórias dizem
que com a respiração podemos induzir estados emocionais
ou estados de consciência simplesmente regulando a
respiração de modo a reproduzir a que é utilizada
naturalmente nesses estados. Por exemplo, respirar com a
freqüência usual da respiração do sono nos faz ficar
com sono. Mas se eu respirar com a intensidade usual da
prática de um esforço físico eu vou me sentir
tonificado, como se estivesse pronto para o esforço
físico. Então há uma relação direta entre o nosso
estado físico e a maneira como nós adotamos essas
fontes de saúde (alimentos, respiração, terapias,
etc.).
Mas hábitos de comportamento vão além disso. Nós
temos às vezes hábitos que são relacionados não
propriamente ao que nós fazemos, mas ao que nós
pensamos. O que nos leva a acreditar que uma outra fonte
de saúde, ou da falta dela, são os pensamentos que nós
abrigamos. Pensar coisas ruins tira a saúde? Sim, tira a
saúde, com certeza. Se nós temos maus pensamentos,
estamos produzindo veneno psíquico dentro de nós. (...)
Podemos até acrescentar, por fim, que a saúde
também está relacionada a um intercâmbio, ou à
maneira como nós fazemos as trocas de informações, de
contatos, de relacionamento com os outros seres humanos.
É claro que se vocês perguntarem a um médico de que
forma que a nossa relação com as outras pessoas
interfere com a minha saúde ele pode responder que é
muito simples: vá até um lugar onde haja uma epidemia e
faça contato com as pessoas para ver o resultado na sua
saúde. É evidente que o contágio se faz pelo contato.
Por exemplo há alguns anos atrás houve um verdadeiro
desespero fomentado pela imprensa, que às vezes dá
muito destaque para as coisas ruins, pois houve um surto
de um vírus africano chamado ebola numa região da
África, e que matou umas centenas de pessoas por lá. O
local foi totalmente isolado até que foi eliminado o
foco e resolvido o problema. Aquilo provocou um tal pavor
nas pessoas que teve gente que se trancou em casa e não
saía mais (...) por medo do contágio. Tinham medo que o
contato com as pessoas os colocassem face a face com a
morte.
Lembrem-se de que estamos falando de conceitos
óbvios. É claro que quando alguma coisa afeta o nosso
pensamento, quando ficamos contrariados com alguma
ocorrência ou com nosso relacionamento com as pessoas,
ou quando morre um parente ou uma pessoa muito ligada a
nós, se produz um desequilíbrio emocional e o resultado
é falta de saúde. Tem gente que envelhece rapidamente
depois do falecimento de um parente, ou seja, a saúde
parece que vai embora.
Mas quase sempre nós relacionamos saúde ao corpo.
Falamos de saúde, falamos do corpo: "meu corpo
está saudável, eu tenho um corpo saudável". A
saúde parece ser um princípio inerente ao nosso corpo.
Ora, existe um princípio de equilíbrio dentro de nosso
corpo, mas nosso corpo não é ativo. Ele é passivo, uma
massa material. Eu vou pedir para o Dr. Carlos daqui a
pouco falar um pouquinho sobre essa questão dos corpos
nessa visão teosófica que nós temos dessa montagem dos
corpos. Da nossa relação do corpo material com os
corpos sutis que nós temos. Mas o corpo é muito
passivo, quase uma massa inerte, porque tudo o que ele
faz, faz movido por mecanismos sutis que nós temos. O
estímulo que move o nosso corpo tem sua origem lá no
mundo astral, no mundo mental, em outras regiões, em
outras estruturas da nossa própria existência como
seres humanos. E o corpo, no final das contas só faz é
"dar corpo", literalmente, ao que foi produzido
em algum outro lugar. Então por que nós achamos que a
saúde só tem a ver com nosso corpo, ou com nossa
relação com o corpo? Será que se eu perder esse corpo,
se eu deixá-lo de lado e pegar outro corpo - que é o
sonho de muita gente, transplantar o meu cérebro para um
outro corpo, bem saudável, mais forte, mais bonito,
então a saúde vai fazer parte da minha vida? Vou me
sentir mais saudável?
Não me lembro quem contou outro dia uma história bem
interessante sobre dois indivíduos que se sentiam
injustiçados. Um deles era um sujeito fisicamente muito
bonito, forte, bem apessoado mas que queria fazer poesia.
Mas as pessoas cobravam dele aquela beleza, cobravam a
presença dele nos esportes, em que ele se saía sempre
muito bem, e ele não encontrava tempo para as artes, a
poesia. O outro era um sujeito que dotado de uma
facilidade muito grande para desenhar, para escrever,
tinha uma habilidade muito grande para colocar as coisas
no papel. Mas o sonho dele era ser bonito era ser bonito,
ser forte, e ele queria ter, naturalmente, o corpo
daquele outro. E o outro queria ter as habilidades deste.
Então parece que toparam com uma criatura mágica que
disse, vamos fazer o seguinte: por meio de procedimentos
mágicos eu vou colocar a cabeça de um no corpo do
outro. E garanto que vocês vão sobreviver, e viver
muito bem depois disso. E vamos ver o que cada um de
vocês consegue tirar de bom dessa mudança. Isso feito
lá se vão os dois, alegres e felizes. Aquele que
escrevia muito bem agora tinha um corpo atlético e
bonito, enquanto que o habilidoso esportista ganhava um
corpo talhado pela facilidade da escrita e das artes
manuais. No primeiro momento ambos estavam felizes em
suas novas condições, mas, passados alguns meses, o
corpo frágil de escritor, que havia recebido a cabeça
do esportista já estava forte, saudável, pois tinha uma
facilidade enorme para a prática dos esportes, e até se
sentia mal se não fizesse alguns exercícios. E já não
conseguia fazer aquele corpo dar vazão a toda a
inspiração de artista e literato que ele achava que
tinha. Enquanto que o outro, que exibia orgulhoso seu
corpo atlético nos primeiros dias, logo foi buscar na
produção literária sua satisfação, e o corpo em
pouco tempo já estava magrinho, enfraquecido, como tinha
sido o que ele trocara com o atleta, e não servia mais
para outra coisa que não fosse o trabalho intelectual.
Essas histórias são ilustrativas desse fato, que
nós associamos o estado do nosso corpo a
características próprias do corpo. Mas não é bem
assim. Há algo ativo dentro de nós que dá saúde ou
tira saúde do corpo de acordo com a qualidade de nossa
relação com esse corpo. Não é bem o corpo que absorve
a saúde ou não, mas quem está dentro desse corpo, e a
maneira como está usando esse corpo, que faz a saúde
aparecer ou desaparecer dali.
Nós falamos em alimentação. Alimentar-se faz bem ao
corpo. Mas o que é alimentar-se? Alimentar-se do que?
Vocês sabem que há certas pessoas que são aficionadas
dos doces, sentem necessidade do açucar. Outras pessoas
adoram frutas, legumes, verduras, enquantos que alguns
outros não passam um dia sequer sem abocanhar um
pedação de carne. Cada um tem seus hábitos de
alimentação, mas qual é a maneira mais saudável de se
alimentar? Se nós vemos isso do ponto de vista puramente
corporal não existe uma maneira mais ou menos saudável
de se alimentar. Qualquer fonte de energia serve para o
corpo. Numa perspectiva puramente animal, somos
onívoros, uma classificação científica que significa
que podemos comer de tudo, temos o "estômago de
avestruz". E do ponto de vista do ser humano
espiritual que existe ali "dentro" desse corpo?
Há diferenças. É evidente que um estudante devotado ao
ocultismo sentirá a necessidade de uma alimentação
mais leve, mais relacionada às atividades do pensamento.
Os antigos faziam relações curiosas que nos ajudam
até a raciocinar melhor na modernidade. Eles diziam o
seguinte: a vida emocional era representada pelos
animais; a vida intelectual pelos vegetais; e a vida que
nós chamamos de vegetativa, pelos minerais.
Várias tradições antigas dizem o seguinte: a
alimentação básica do planeta são os minerais. É o
grau zero em termos de alimentação. Seria muito bom se
pudéssemos nos alimentar de minerais, porque nos
alimentaríamos direto da terra. Mas nós não nascemos
com estômago de minhoca, não fomos feitos para comer
terra. Mas nosso metabolismo se dá muito bem com o
segundo estágio, que seria o grau um da alimentação
para nós, que é o estágio vegetal. Os vegetais tiram a
terra do solo e a transformam em matéria orgânica. Mas
uma matéria orgânica primária, que nos serve de
alimento. Um cereal, uma erva, um fruto, são todos
transformações diretas da terra em alimento. Já os
animais formam um segundo estágio da transformação da
matéria em alimento. Eles se alimentam dos vegetais e
convertem essa fonte de energia em carne. Já é uma
segunda transformação da substância inicial, que é a
terra. Só que ela acrescentou a essa substância uma
complexidade maior, e se transformou numa carne, que é
um alimento mais pesado. Uma proteína mais pesada, que
exige mais do nosso corpo. O terceiro estágio é o dos
animais carnívoros, que é o animal que come o animal.
É a quarta transformação da matéria original, a
terra, que se transformou no vegetal, que se transformou
num animal, que comido pelo outro se converteu em outro
animal. Isso segue numa progressão, que é chamada de
cadeia alimentar, que termina lá na ponta com uma figura
insuspeita chamada abutre. O abutre é aquele que come
tudo, porque ele come o fim da linha. Todo mundo já
comeu todo mundo, os animais comeram os outros animais,
morreram, e o que sobrou, ele vai lá e come. Então ele
é o que tem a carne mais intoxicada da cadeia alimentar.
É o que tem o retrato mais fiel, como certa vez um
biólogo da Fundação Parque Zoológico me explicou, das
condições do meio ambiente. O que existir de veneno
numa certa região, vai acabar dentro do urubu. Tanto é
assim que alguém que se arrisque a comer um urubu, acaba
passando mal. É uma carne carregada de toxinas.
De um extremo que é o mineral, até o extremo oposto
que é o coitado do urubu, temos um espectro de fontes de
alimento para nós dentro do qual nós vamos sintonizar
de acordo com o grau de delicadeza de nossos princípios
sutis. Dentro da Sociedade Teosófica se propõe como
alimentação ideal a alimentação vegetariana, porque
é a mais próxima que nós temos da fonte original, a
menos transformada, não afetada pela natureza animal. O
que nós pretendemos é "desanimalizar"o nosso
corpo, tornar o nosso corpo mais espiritual.
Conseqüentemente nós fugimos dessas vibrações, desse
psiquismo próprio do animal, que está nesses alimentos.
Temos assim uma forma de melhorar a qualidade do alimento
que estamos ingerindo.
Com a respiração é a mesma coisa. Para qualquer um
que se pergunte: "você quer respirar que ar?"
a resposta quase sempre será o ar da floresta, porque é
o "ar primário". A floresta exala o oxigênio
de que nós precisamos para a nossa respiração. Os
oceanos produzem oxigênio e os vegetais também produzem
o oxigênio.
A atmosfera é essencialmente nitrogênio. Oitenta por
cento do ar que nós respiramos não serve para nada. É
puro nitrogênio. É como uma esponja invisível que
carrega os demais componentes do ar, como o oxigênio, o
gás carbônico e outros gases que se encontram na
atmosfera.
Se vocês chegam aqui ao centro da cidade na hora do
"rush", o oxigênio vocês vão achar muito
pouco no ar, mas vai haver muito monóxido de carbono,
dióxido de carbono, sais de enxofre e muitas toxinas. A
gente respira o veneno que está sendo produzido pela
cidade. E quando queremos respirar bem, é claro que não
vamos buscar um lugar próximo a um rio poluído. Vocês
já imaginaram o que é fazer exercícios respiratórios
às margens do rio Pinheiros? Um horror. Quando bate um
ventinho a favor a gente sente o que é uma água
poluída. É evidente que nós vamos procurar por um
lugar onde haja muita vegetação, onde exista um ar mais
respirável. Ou à beira do mar, onde a brisa marinha
traz o ar purificado pelas espumas da arrebentação.
<fim da face 1 da fita cassete>
...
O resultado é que muita gente morre da terapia, e
não da doença. E assim por diante. É evidente que nós
temos sempre uma gama enorme de atividades que tiram ou
acrescentam equilíbrio ao funcionamento de nosso
organismo.
Quanto àquela questão da palavra que você
[dirigindo-se a um membro da platéia] tinha perguntado,
a palavra "saúde, que vem do latim
"salutis", está associada à idéia de
equilíbrio. Há até uma analogia que era feita pelos
alquimistas, que relacionavam saúde a "sal",
"salis". O sal, que é o equilíbrio entre o
princípio alcalino, básico e o princípio ácido da
natureza. Quando o ácido e o básico se misturam, eles
formam água e sal. O sal era representado pelo mercúrio
filosófico e representava o equilíbrio entre os
princípios opostos da natureza. Quando se obtinha esse
equilíbrio era possível realizar o trabalho do
alquimista. E eles chamavam a ciência da alquimia de
medicina. Eles se consideravam, portanto, médicos da
matéria, praticantes de uma medicina divina.
Então nós falamos na busca de um equilíbrio, mas
não percebemos que o desequilíbrio é buscado
conscientemente por nós. (...) Há um fato, do qual não
temos como escapar, que é o fato de que estamos
permanentemente em relação com as coisas, com as
pessoas, com o mundo, com o ambiente ao nosso redor.
Travamos com eles dois tipos distintos de relacionamento:
um, subjetivo; e outro, objetivo. Vocês sabem que muitas
vezes nós estamos sorrindo para uma pessoa, mas por
dentro estamos desejando que ela morra. Porque isso? É
uma relação contraditória. Mas é uma relação real.
Uma parte subjetiva e uma parte objetiva que não se
combinam. Estão em conflito, uma com a outra.
Nós fazemos isso de muitas maneiras. E usamos, nessa
relação nossa com o mundo externo, os nossos órgãos
sensoriais. Nós tocamos o mundo, sentimos os aromas do
mundo, enxergamos o mundo, ouvimos e saboreamos o mundo.
Tudo o que nós fazemos aqui, fazemos com nossos órgãos
sensoriais.
Quando é que eu sinto que estou respirando um ar bom?
Quando ele produz um efeito agradável nos meus órgãos
sensoriais. Quando é que eu acho que estou ingerindo um
alimento bom? Quando ele produz uma sensação agradável
nos meus órgãos sensoriais. E quando é que eu acho que
tenho um comportamento bom? Quando o resultado disso me
toca de uma forma que me parece saudável.
Isso significa que nós estabelecemos na verdade uma
relação que não é com o mundo, mas com nossos
órgãos sensoriais, com o objetivo de buscar saúde. Os
gregos diziam "Tudo o que é belo é bom". Eles
faziam essa mistura porque associavam a visão da beleza
ao equilíbrio e à saúde da natureza.
Existem muitas tradições antigas que mostram essa
dependência em relação ao que nós sentimos e o estado
de equilíbrio que nós buscamos. Muitos curandeiros
antigos tentavam curar, por exemplo, com música. Nós
sabemos que a música produz um estado de paz e
tranqüilidade grande para a pessoa. Existe a
musicoterapia, existe a aromatoterapia, existe a
cromoterapia, que afeta os nossos olhos, existem dezenas
de terapias que buscam essa relação nossa com o mundo
através dos órgãos sensoriais.
Mas existe um desses órgãos sensoriais que é muito
rebelde a todo tipo de práticas terapêuticas. Vocês
conseguem adivinhar qual é? É essa janela da alma
chamada visão. Os olhos. Se diz que podemos enganar de
todas as maneiras, mas os olhos não mentem. Na verdade
se nós prestarmos bem atenção estamos falando
em saúde, doença, saúde integral os nossos
olhos são a via, o conduto pelo qual recebemos dentro de
nosso corpo, na forma de impacto, a maior parte do veneno
que nós realmente ingerimos.
Nós falamos de saúde pensando no corpo, mas o corpo
não recebe efeito nenhum, por sua própria natureza, de
agente ofensivo nenhum, externo. Nada neste mundo afeta o
nosso corpo, a menos que nós preparemos o nosso corpo
para receber esses efeitos negativos dos agentes
agressivos do mundo. Isso não é conjectura, isto é
constatação.
Como exemplo nós tivemos aqui em São Paulo, em 1929,
uma gripe muito forte. As pessoas morriam pelas ruas e
eram enterradas em valas comuns. Foi uma mortandade
violentíssima. É evidente que nossa geração não
viveu esse problema, mas quem estava vivo naquela época,
se sobreviveu certamente se considerou um afortunado. No
entanto havia médicos que, sem proteção nenhuma, sem
preocupação nenhuma com a assepsia, estavam lá
atendendo as pessoas, tentando salvar um, tentando curar
o outro. Estavam em contato direto com os pacientes. Uma
epidemia brutal como aquela teria matado esses médicos
todos, tal a exposição a que se submeteram. No entanto
eles não morreram. Não houve sequer um caso de médico
na Santa Casa de Misericórdia que tivesse contraído a
"gripe espanhola", como ficou conhecida, e que
tivesse morrido disso. Por que? Qual foi a razão desse
isolamento que eles conseguiram com relação ao agente
fortíssimo de contágio? O que foi que protegeu esse
indivíduo? Eu tive a oportunidade de conhecer o
motorista, agora já falecido, de um desses médicos. Ele
se considerava um afortunado, pois Deus o poupou naquela
tragédia, pois se ele não estivesse lá para levar o
médico para toda parte provavelmente não haveria quem o
fizesse. Ele também tinha contato com os doentes, mas se
livrou da gripe. Por que?
Há muitas pesquisas sobre as epidemias, sobre
doenças altamente contagiosas. Em vários casos, sem
explicação conclusiva nenhuma, há algumas pessoas que
não pegam de jeito nenhum a doença.
Se a doença fosse um fenômeno puramente corporal,
mecânico, muitos desses sobreviventes provavelmente
teriam contraído as doenças às quais se mostraram
imunes. Se a nossa relação com as doenças fosse apenas
do corpo, estaríamos todos mortos. Estamos mergulhados
numa atmosfera que além dos gases, está repleta de
microorganismos prontos para nos destruir. Mas há alguma
coisa em nosso corpo que impede a ação desses germes.
E não é só a mecânica natural do corpo que nos
protege. Os agentes defensivos do corpo estão a serviço
de uma força maior, uma força sutil. Trata-se de uma
vitalidade que dá ao nosso corpo saúde, vigor, e que
não é da natureza do corpo. É da natureza da alma.
São forças psíquicas. Alguns de nós as chamamos de
prana, um nome indiano para o princípio que nos empurra
para a frente. Como um "sopro" que nos faz
agir. Certas pessoas têm muita vitalidade, e não pegam
doenças. Mas não é que estejam com os melhores
hábitos, ou que tenham o melhor organismo, etc. Mas
existe alguma coisa nessa pessoa que lhe dá uma
vitalidade muito grande e que dá resistência à maior
parte das doenças.
Há certas características comuns a todas essas
pessoas, e que dão a elas um vigor muito grande. E a
principal dessas características se chama desapego. É
impressionante como o desapego nos torna saudáveis, e
como o apego nos torna suscetíveis às doenças. Nós
não nos damos conta disso. Ma se vocês repararem bem
e nós estávamos falando dos olhos como um
órgão sensorial rebelde quando estamos apegados
a alguma coisa os olhos são o agente que mais nos prende
a essa coisa, de todos aqueles que temos à nossa
disposição. O que mais nos prende aos objetos dos
nossos desejos são os olhos. Os olhos se grudam nos
objetos de nossos desejos e estabelecem uma relação
até mórbida com esses objetos. Cada vez que os nossos
olhos se encontram com o objeto de nosso desejo estamos
introduzindo veneno no nosso corpo. Sem perceber isso
não damos vazão a uma série de agentes que não
deveriam estar dentro do nosso organismo. Deveríamos
desenvolver determinados hábitos, determinadas
práticas, que eliminassem esses agentes nocivos do nosso
corpo.
Nós reclamamos do envelhecimento, do estado de
miséria em que nos põe a idade, ou a doença, ou a
perda da saúde, mas nós mesmos geramos as condições
para que isso aconteça. Por que certas pessoas vão até
o momento de sua morte com saúde, sentindo-se bem,
forte, produtivo, ativos, enquanto que outros durante
anos sofrem, ficam acamados, será o Karma? É só o
Karma? Não é só isso. Não podemos nos colocar em uma
postura passiva dentro dessa situação. Não é só
isso. Somos agentes ativos dessa condição. Nascemos
numa determinada vida com direito de usar essa vida
integralmente para a prática do bem. E se nós não
fazemos isso, se nós estamos jogando fora essa
oportunidade, é evidente que a natureza se encarrega de
acelerar esse processo e destruir o nosso instrumento de
prática do mal. Quando nos desapegamos e começamos a
liberar a nossa mente do apego, os nossos olhos já não
ficam mais procurando pelos objetos de desejo. Eles se
tornam, aí sim, ferramentas de nossa vontade e se voltam
para as coisas que realmente importam na nossa vida. E é
dessas coisas que nós tiramos a vitalidade, que nos dá
saúde. A saúde vem para dentro de nosso corpo, como se
realmente fosse um fluxo de substância sutil. Paracelso,
o grande precursor da medicina, falava em entidades
invisíveis que estão espalhadas pelo mundo e que nós
absorvemos, trazemos para dentro do nosso corpo. Ele
chamava de "ens", entes, "ens
astrorum", "ens veneni", etc. e que nos
trariam saúde ou doenças.
(alguém interrompe)
Pode falar.
- Como você diferencia o apego do vício?
O apego e o vício? Pode-se dizer o seguinte: O apego
é como se fosse uma mola que nos empurra sempre numa
determinada direção, que é um objeto do qual nos
gostamos de fruir, de desfrutar. O apego não representa
dependência material desse objeto. Nós podemos a
qualquer momento abandonar o apego sem com isso perceber
trauma nenhum, ou sentir qualquer tipo de constrangimento
físico no nosso organismo. [é de natureza subjetiva,
mental.]
Já o vício deixa, por assim dizer, um resíduo
material como efeito da sua existência.
Nós deveríamos distinguir... nós chamamos o apego a
determinados jogos de vício do jogo. No caso de um
verdadeiro vício do jogo a pessoa fica de tal forma
presa àquela dependência que ela sacrifica seu
sustento, sua subsistência, para dar satisfação
àquilo. Enquanto que um simples apego ao jogo nunca
passa por cima da sobrevivência. É diferente. O vício
sempre implica numa dependência material mesmo, seja de
consumo de substâncias, ou produzindo sensível
interferência no equilíbrio de nossa vida material.
Estávamos falando dessa vitalidade que absorvemos,
que trazemos para dentro de nós, mas onde é que nós
achamos a saúde? Nós a encontramos onde nossos
espírito vai buscar. Porque a saúde não é de natureza
material, ela é de natureza psíquica e espiritual. É
de natureza elevada. A saúde vem de agentes externos,
como mencionava Paracelso, que estão ao nosso redor, mas
nós só somos capazes de absorver esses agentes que nos
trazem saúde quando temos um estado psíquico adequado.
Quando colocamos nossos mecanismos psíquicos de uma
forma adequada. Quando nós estamos olhando o mundo com
os olhos do espírito, então somos como antenas captando
esses elementos, esses agentes de saúde para dentro de
nós.
Quando nós estamos desequilibrados, quando estamos
carregados de desejos, de envolvimento com o mundo
material, somos também como antenas ligadas para
absorver tudo o que nos desequilibra. Porque tudo isso
nos deixa mais próximos dos objetos de nossos desejos,
que são objetos de natureza material. O semelhante atrai
semelhante. Quando nós somos diferentes, o desejo de
aproximação faz com que nós arrumemos os elementos que
nos tornem semelhantes àquilo que nós desejamos. Então
às vezes o desejo da violência nos torna violentos,
embora sejamos pacíficos. E por que esse desejo haveria
de surgir dentro de mim? Por causa do apego. Nada no
mundo é capaz de me provocar um desequilíbrio tão
grande como o apego a alguma coisa. O apego a determinado
bem que me foi tirado, o apego a determinada pessoa que
foi violentamente assassinada, e eu busco a vingança, o
uso da violência como um remédio para aquela dor que eu
estou sentindo lá por dentro.
[nota na transcrição: eu tomo a força da fúria que
me domina pelo apego à violência como uma compensação
pela fraqueza que me produziu a perda do bem desejado]
E tudo isso me leva a um estado de desequilíbrio e a
uma falta de saúde.
É evidente então que embora pensemos empre na saúde
pelo lado da respiração, da alimentação, etc., e que
na falta da saúde vamos a um médico ou a um centro de
terapias, onde achamos a saúde de novo, a saúde
depende, na verdade de fatores subjetivos. São fatores
internos, decisões que temos que tomar em relação a
nossa vida, e que nos devolvem, ou nos tiram, as
condições para absorver esses agentes de saúde que
estão espalhados por aí ao redor. A cura está em toda
parte. Os elementos que nos devolvem a saúde ao
organismo, o elixir da longa vida, que nos deixa
eternamente jovens e saudáveis até o dia de nossa
morte, nós estamos mergulhados neles. Somos como um
peixe que, dentro da água, sentisse falta de água. O
que nos falta é simplesmente nos colocar em condições
de abrir as nossas portas para que esses elementos entrem
na nossa vida e nos tornem a vida mais fácil, mais
agradável.
Mas a saúde é um prêmio. É como um pagamento que
nós recebemos por estar usando adequadamente o nosso
corpo. Mas não existe prêmio sem mérito. Não podemos
exigir o pagamento por algo que nós não fizemos. Daí a
necessidade de estabelecermos um modo de vida que nos
torne merecedores de uma boa saúde.
E o ser humano se diferencia de todos os outros seres
da natureza por um fato fundamental: a missão primária
de todo ser humano é sair da condição de um mero corpo
produzido pela animalidade terrestre, mas ele precisa da
presença de outros seres humanos para se tornar
efetivamente humano. Nós insistimos muito nesse ponto em
nossas palestras, mas é porque se trata de um dado
fundamental para a compreensão da natureza de nossa
condição humana. O ser humano precisa dos outros,
necessariamente para se tornar melhor. Ninguém melhora
sozinho. Eremitério não é solução para ninguém.
Não é caminho espiritual para ninguém. O ser humano
melhora na medida em que é capaz de conviver melhor com
os outros seres humanos. Por isso a Sociedade Teosófica
adotou isso como primeiro objetivo, mas que seria o
primeiro objetivo da vida de qualquer ser humano, que é
desenvolver o espírito de fraternidade. É ser capaz de
olhar cada outro ser humano apenas com os olhos do bem, e
não com os olhos do desejo, da má intenção, da
inveja, da luxúria, ou de seja lá o que for, mas com os
olhos do espírito. Esse simples fato nos abre as portas
para uma vida saudável. Então quando nós falamos em
saúde integral, estamos falando em primeiro lugar de
fraternidade, porque onde existe fraternidade vocês
encontram pessoas saudáveis. Saudáveis em todos os
sentidos. Onde não existe fraternidade o que vocês
encontram é o sofrimento, doenças, sangue, suor e
lágrimas... ranger de dentes, como diriam os cristãos
do tempos do Império Romano.
Nós buscamos o princípio da saúde no princípio da
fraternidade. E depois, como a fraternidade precisa
também de um preenchimento, o estudo. Mas o estudo do
que realmente merece ser estudado. O estudo do que há de
melhor no ser humano, na produção intelectual do ser
humano. O estudo do que há de mais interessante em todas
essas forças que regem a natureza ao nosso redor. O
estudo do que nós temos de fato além de nosso aspecto
puramente animal. Vamos então descobrir as leis ocultas
da natureza, as leis que regem a nossa vida. As leis que
nos tronam especiais e que a qualquer momento põem à
mostra essas habilidades excepcionais que algumas pessoas
revelam e que para nós permanecem latentes. E estão
latentes porque elas são prêmios, e se não temos o
mérito elas vão permanecer latentes eternamente.
Antes que se esgote o nosso tempo, eu queria pedir ao
Dr. Carlos Vieira que falasse um pouquinho sobre essa
organização dos corpos humanos, como um lembrete mesmo
porque a gente fala por alto e se esquece de dar aquela
estrutura básica, não é?
Carlos Vieira Bom, eu diria que o corpo humano
e o ser humano, malgrado os progressos da ciência, é
muito mais complexo, muito mais complicado do que aquilo
que a ciência já atingiu de estudo, de percepção, de
conhecimento. Para a Teosofia, nós somos um conjunto de
corpos, tendo o corpo físico denso, o duplo etérico
envolvendo este corpo físico, ultrapassando um
pouquinho, o corpo astral embutido, interpenetrando este
corpo físico, isto quando estamos acordados.
Interpenetrando e ultrapassando um pouco, depois, o corpo
mental inferior, o corpo mental superior, no corpo
causal. E além disso ainda o corpo búdico, monádico e
divino, formando estes menos densos o espírito, e os
mais densos, a alma. A alma humana e o espírito que
está acima.
Quando nós falamos, quem está falando não é este
corpo físico. É o nosso espírito, através desses
corpos, chegando ao físico e, através do cérebro,
determinando quais movimentos devem ser feitos para que
sejam emitidos os sons que nós queremos, as palavras que
nós queremos. Portanto quem está falando não é este
corpo físico e sim o nosso espírito.
A complexidade de cada um desses corpos é imensa.
Para começar, vamos ainda ao corpo físico, onde nós
temos as células. Milhões, bilhões, trilhões de
células em nosso corpo, e cada uma tendo a vida, tendo o
nascimento, o crescimento, a decadência e a morte. Essas
células se renovam, e dizem os conhecimentos teosóficos
que em sete anos nós temos todas as células renovadas,
com exceção das nervosas.
Então a vida é como um rio caudaloso em que cada
gotinha de água passa, e todas reunidas formam aquele
rio. O rio Amazonas, por exemplo é aquele movimento,
aquela passagem daquelas águas, assim como a nossa vida
física, na parte material, é a passagem dessas
células. Cada uma, como nós outros, tendo o nascimento,
o crescimento, a decadência e a morte. Então é este
caudal de células que forma o nosso corpo físico.
Agora, muito mais complexo do que a ciência já
atingiu, por exemplo, o meu cérebro físico, que está
textualmente obedecendo o que meu espírito está
determinando que seja feito, que seja expresso em idéias
através das palavras, nós temos um outro dirigente do
corpo físico que não é o cérebro. É um elemental que
governa o corpo físico, independentemente de nós darmos
ordens a ele sobre o que deve ser feito. Porque se nós
fôssemos dar ordem sobre como deve ser feita a
digestão, como devem ser fabricados os elementos das
glândulas, sucos gástricos, etc., provavelmente nós
iríamos errar muito. Então existe um outro dirigente
para o corpo físico, esse elemental, que toma todas as
providências necessárias à saúde do corpo físico.
Assim como cada célula, somos também nós. Nós em
conjunto, que temos o nascimento, o crescimento, a
decadência e a morte. Mas para a Teosofia, isto é
apenas uma pequena parte dessa complexidade, porque nós
temos, além disso, além do corpo físico, o duplo
etérico, que envolve as partes do corpo físico. Temos o
corpo astral, com outro dirigente. Temos o corpo mental
inferior, o corpo mental superior, o corpo búdico, o
corpo espiritual e o divino. Todo esse complexo está
aqui, neste momento em que nós estamos falando a vocês,
nossos dedicados irmãos. Cada corpo tem o seu dirigente
e o conjunto desses corpos é o que constitui o homem.
E estamos numa encarnação, que é uma emanação de
uma parcela do nosso Ego para ter essa vivência na
Terra, para ter a consciência física. Isso depois, com
a morte vai tirar desse conjunto uma parcela o
corpo físico e o duplo etérico, permanecendo os demais
no conjunto. Permanecem integrados, então, o corpo
astral, o corpo mental inferior, o corpo mental superior,
intuicional, búdico e divino.
Mais tarde haverá outra morte. Com a morte do corpo
físico vamos ter consciência astral, e vamos ter uma
vida astral. (...)
Esta transcrição foi gentilmente cedida pela presidência da
Loja Teosófica Liberdade - São Paulo -
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