DO RECINTO EXTERNO
AO SANTUÁRIO INTERNO
ANNIE WOOD BESANT
I
PURIFICAÇAO
Se
nos fosse possível colocar-nos, em pensamento, num centro do espaço, do qual
pudéssemos ver o curso da evolução, e estudar a história da nossa cadeia de
mundos, tal como podem ser vistos pela imaginação mais do que pelo aspecto que
apresentam, poderíamos interpretar o todo num quadro. Vejo uma grande montanha
situada no espaço, com um caminho que vai girando em torno dela até atingir seu
ápice. As voltas que esse caminho dá até atingir seu ápice. As voltas que esse
caminho dá são sete, e em cada volta há sete estações onde os peregrinos ficam
durante algum tempo. Dentro dessas estações eles têm de subir, volta por volta.
Quando traçamos o caminho que sobe por aquela trilha em espiral, vemos que ele
termina no topo da montanha, e leva a um majestoso Templo, como que feito de
mármore, de uma brancura radiante, e que ali se ergue, cintilando contra o azul
etéreo.
Esse
Templo é a meta da peregrinação, e os que estão no seu interior terminaram o
seu percurso " no que se refere à montanha " e ali permanecem apenas para
auxiliar os que ainda estão subindo. Se observarmos o Templo mais atentamente,
constataremos, ao tentar ver a sua construção, que ele tem, ao centro, um Santo
dos santos. Em torno desse centro estão os quatro Pátios, circundando o Santo
dos Santos como círculos concêntricos. Todos estão dentro do Templo.
Uma
parede separa cada Pátio do que lhe é contíguo, e para passar de um Pátio para
o outro o caminhante deve atravessar uma porta, apenas uma em cada parede
circundante. Assim, todos os que alcançarem o centro terão de passar por
aquelas quatro portas, uma por uma. Fora do Templo ainda há outro recinto
fechado " o Pátio Externo " e esse Pátio acolhe muitos peregrinos, mais do que
os que estão dentro do Templo propriamente dito.
Olhando
para o Templo e para os Pátios, e para o caminho que sobe em espiral pela
montanha, vemos esse quadro da evolução humana e a trilha ao longo da qual a
raça está caminhando, bem como o Templo, que é a sua meta. Ao longo daquele
caminho que dá voltas à montanha, vasta massa de seres humanos vai de fato
subindo, mas subindo vagarosamente, passo por passo. Às vezes, tem-se a
impressão de que cada passo para a frente corresponde a um passo para trás, e
embora a tendência de toda aquela massa seja para subir, a ascensão é tão lenta
que os passos mal se fazem perceptíveis. Esta evolução eônia da raça, subindo
sempre, parece tão lenta, extenuante e dolorosa que nos perguntamos como podem
os peregrinos ter ânimo para subir durante tanto tempo. Dando voltas à
montanha, milhões de anos o peregrino segue. Enquanto ele caminha por ali
durante esses milhões de anos, uma infindável sucessão de vidas parece passar,
todas despendidas na subida. Cansamo-nos só de observar as imensas multidões
subindo tão lentamente, caminhando, volta por volta, na escalada daquela
estrada em espiral. Observando-as, indagamo-nos: "Por que sobem com tanto
vagar" Por que esses milhões de homens empreendem uma viagem tão longa" Por que
se esforçam por alcançar aquele Templo situado lá no ápice""
A
marcha se nos afigura muito lenta porque eles não vêem seu ponto de chegada, a
sua meta, e não percebem em que direção estão viajando. Observando alguns
caminhantes, vemos que estão sempre se desviando para os lados, atraídos para
cá e para lá, sem qualquer propósito em seu caminhar. Não andam diretamente
para a frente, atentos ao que fazem, mas perambulam, como crianças, correndo
atrás de uma flor ali, tentando apanhar uma borboleta acolá. Assim, temos a
impressão de que todo seu tempo é desperdiçado, e apenas um pequeno avanço
chega a ser conquistado quando a noite cai sobre eles e o dia de marcha
termina.
Não
parece sequer que o próprio progresso intelectual, lento como também é, torne o
passo mais rápido. Quando observamos aqueles cujo intelecto é escassamente
desenvolvido, eles dão a impressão de que, depois de cada dia vivido, mergulham
no sono e dormem quase que no mesmo lugar que ocuparam na noite anterior. E
quando voltamos os olhos para aqueles que se mostram mais altamente evoluídos,
no que se refere ao intelecto, também esses estão viajando devagar, muito
devagar, e a cada dia de vida parecem fazer pequeno progresso. Olhando assim
para eles, nosso coração sente-se fatigado com aquela subida, e ficamos a
pensar por que não erguem os olhos e entendem em que direção seu caminho os
está levando.
Agora,
o Pátio Externo, que alguns dos caminhantes da vanguarda estão alcançando,
aquele Pátio Externo do Templo, dá a impressão de que pode ser atingido não
apenas pelo caminho circulante, volta por volta, tão longo em torno da montanha,
mas também por caminhos mais curtos que não a circundam, mas que podem ser
escalados diretamente pelos flancos, se o coração do viajante for corajoso e suas
pernas se mostrarem resistentes. Ao tentar ver como os homens encontram um
caminho mais rápido para o Pátio Externo do que aquele que vem sendo trilhado
por seus companheiros de viagem, parece que percebemos que o primeiro passo é
dado para fora dessa longa espiral quando alguma Alma, que talvez por milênios
tenha estado viajando volta por volta, compreende, pela primeira vez, o
propósito da viagem, e vislumbra, por um momento, uma cintilação vinda do
Templo, lá do ápice. Porque aquele Templo branco envia raios de luz sobre os
flancos da montanha. De vez em quando um viajante levanta os olhos,
afastando-os das flores, das pedrinhas e das borboletas que estão pelo caminho,
e aquela cintilação atrai o seu olhar. Olha para cima, para o Templo, e, por um
momento, ele o vê.
Depois
desse momentâneo relancear de olhos, nunca mais aquele peregrino será o mesmo,
porque, embora apenas por um instante, compreendeu quais eram a meta e a
finalidade. Viu o ápice rumo ao qual está galgando, e viu também o caminho íngreme,
mas muito mais curto, que sobe diretamente do flanco da montanha até o lugar
onde o Templo resplandece. Compreende, naquele momento, que a estrada tem um
nome " "serviço" " e que os que enveredam pelo caminho mais curto devem entrar
através de uma porta, onde as palavras "Serviço do Homem" estão brilhando com
letras douradas. A Alma compreende que, antes de poder alcançar pelo menos o
Pátio Externo do Templo, deve passar através daquela porta e compreender que a
vida é feita para o serviço e não para a auto procura, que a única maneira de
subir mais rapidamente é fazê-lo por amor dos retardatários, a fim de que o
auxílio mais eficaz, vindo do Templo, possa ser enviado ao encontro dos que vêm
subindo, o que de outra forma não seria possível.
Essa
visão não passou de um vislumbre fugaz, foi apenas um rápido olhar ziguezagueante,
porque os olhos foram colhidos por um único do raios de luz dimanados do alto
da montanha. Há tantas coisas atraentes dispersas ao longo daquela estrada em
espiral, que o relancear dos olhos da Alma facilmente se deixa atrair para
elas. Mas, uma vez recebida aquela cintilação, existe a possibilidade de a alma
obtê-la de novo, com maior facilidade. Quando a meta procurada, o dever e o
poder do serviço lograram essa momentânea e imaginativa compreensão da Alma,
permanece ali o desejo de trilhar uma senda mais curta e encontrar o caminho
que leve diretamente, pelo flanco da montanha, ao Pátio Externos do Templo.
Após
aquela primeira visão, a alma é visitada amiúde pelos raios de luz, cujo brilho
vai se tornando cada vez mais intenso. Vemos que essas Almas, que apenas por um
momento reconheceram que há um escopo, um propósito na vida, começaram a subir
com maior resolução do que suas semelhantes. Embora ainda estejam dando voltas
em torno da montanha, observamos que começam a agir com maior firmeza no que se
refere às virtudes, e que se dedicam com maior persistência ao que reconhecemos
como religião, essa religião que se esforça por ensinar-lhes como podem subir,
e como o Templo pode finalmente ser alcançado.
Essas
são as Almas que se distinguem entre as suas semelhantes pela sua diligência e
vigilância. Elas caminham mais depressa, porque estão seguindo uma direção que
principiam a vislumbrar qual seja, e assim começam, ainda que de maneira
imperfeita, a tentar viver com um propósito definido. Apesar de ainda mal
identificarem a natureza desse propósito " porque têm dele mais uma vaga
intuição do que uma compreensão precisa " ainda assim já não estão perambulando
ao acaso, de um lado para outro, às vezes um pouco para cima, às vezes mais
para baixo. Estão, agora, subindo deliberadamente pelo caminho em espiral, e a
cada dia seguem um pouco mais depressa, até se destacarem nitidamente à frente
das multidões pela espiritualidade de sua vida, pela prática das virtudes e
pelo desejo crescente de serem úteis aos seus semelhantes. Começam a empreender
seu caminho para a vanguarda com maior celeridade, estão sempre buscando ajudar
os que as rodeiam e tentando impulsioná-los mais depressa ao longo do caminho.
Em
breve, com aqueles que, assim, estão amando e servindo, virá ao seu encontro
uma figura que é bela, embora à primeira vista seu aspecto seja severo. Essa
figura é o Conhecimento, e ele sussurra-lhes algo sobre as condições exigidas para
um progresso mais rápido. A Religião, que os tem ajudado na prática das
virtudes, é, por assim dizer, a irmã desse Conhecimento, como também o é o
Serviço do Homem. E os três, reunidos, começam a encarregar-se da Alma
Por
fim, uma alvorada mais brilhante se faz presente, e, com ela, a identificação
mais completa. E percebemos que a Alma começa a definir para si mesma a
finalidade da sua subida, não apenas sonhando com o futuro, mas tornando esse
sonho mais concreto em sua intenção. Veremos essa Alma identificando o Serviço
como lei da vida. Agora, deliberadamente, desprende-se suavemente dos seus
lábios a promessa de ajudar no progresso da raça. Esse voto é o primeiro que a
Alma faz, o de doar-se, às vezes, ao serviço da raça " um voto que ainda não contém
um propósito bem-definido, mas que já existe em embrião.
Lê-se,
numa Escritura Antiga, que um dos Grandes Seres subiu pelo caminho íngreme, e
tão rapidamente, que deixou para trás toda a sua raça, encontrando-se sozinho à
frente de todos, simbolizando a primeira oferenda da humanidade. Sobre ele, que
posteriormente foi conhecido como o Buda, afirma-se: "ele aperfeiçoou seu voto,
Kalpa(*) após Kalpa." A obra que iria coroar sua vida teve de iniciar-se com a
promessa de Serviço. Esse voto da Alma é que vai uni-la aos Grandes que já
partiram, e produz, por assim dizer, o vínculo que a leva ao caminho
probatório, o caminho que a conduzirá para dentro, e, através do Pátio Externo,
para cima, para a própria porta do Templo.
Por
fim, após muitas vidas de esforços, muitas vidas de trabalho, tornando-se mais
pura, mais nobre e mais sábia vida após vida, a Alma revela distintamente uma
vontade que agora se faz mais forte. Quando essa vontade se exprime como claro
e definido propósito, não mais o sussurro que aspira, mas a palavra que ordena,
então essa vontade resoluta baterá à porta que leva ao Pátio Externo do Templo,
com um toque que ninguém poderá recusar. Esse toque revela a força da Alma que
está determinada a vencer, e aprendeu bastante para ter noção da magnitude da
tarefa que vai empreender.
É
uma tarefa que não pretende menos do que isso: separar-se da sua raça, daquela
raça que vai subindo, volta por volta, durante milênios, passando ainda pelas
rondas de um globo a outro, aquilo que conhecemos como a cadeia em fatigante
sucessão. Essa Alma corajosa pretende subir a mesma montanha em apenas umas
poucas vidas humanas; pretende, passo a passo, enfrentar a colina em seu mais
íngreme ponto, o caminho que a conduzirá diretamente para cima, para o próprio
Santo dos Santos. Tarefa de tal grandeza que o cérebro, ao pretender
enfrentá-la, poderá até vacilar.
Seria
possível afirmar que a Alma que se propõe a tanto começou a compreender sua
própria divindade e a onipotência que está dentro dela própria como em um
relicário. Empreender em poucas vidas o que a raça, como um todo, vai
realizando, não só quanto às raças que estão à frente, mas quanto às rondas que
também estão no futuro " fazer isso é, certamente, tarefa digna de um Deus, e a
sua realização significa que o poder divino está se aperfeiçoando dentro de
uma forma humana.
Assim,
a Alma bate à porta, que se abre para dar-lhe passagem, e ela entra no Pátio
Externo. Atravessa-o, passo por passo, até alcançar a primeira das portas que
levam ao Templo. Cada uma daquelas quatro portas é uma das grandes iniciações.
Alma alguma pode caminhar para além da primeira se não tiver aceito o Eterno
para sempre, se não tiver renunciado ao interesse pelas coisas meramente
transitórias que a rodeiam. Porque uma vez que a Alma, através da porta do
Templo, tenha adentrado um dos Pátios Interiores que ficam para além dessa
porta e conduzem ao Santo dos Santos, nunca mais poderá sair dali. Aquela Alma
escolheu seu destino para todos os milênios vindouros, e está no lugar do qual
ninguém sai, uma vez nele entrado.
__(*)
Longo Período de tempo, composto de períodos menores chamados Manvantaras, que,
por sua vez, compreendem períodos mais curtos chamados Yuga. È palavra
sânscrita.. ( N T).
A primeira Grande Iniciação faz-se dentro do próprio
Templo. A Alma, cuja evolução estamos descrevendo, entretanto, ainda se
encontra em preparação naquele Pátio Externo do Templo, a fim de que em vidas
futuras tenha a possibilidade de galgar os sete degraus para a primeira porta,
e ali esperar permissão para atravessar o limiar do Templo propriamente dito.
Qual será, então, seu trabalho no Pátio Externo" Dali por diante, como levará
suas vidas, a fim de tornar-se digna de bater à porta do Templo" Esse é o
assunto que temos pela frente.
Ao
descrever esse Pátio Externo, talvez eu diga muita coisa que possa parecer
pouco atraente, até mesmo repelente. É bastante difícil encontrar o caminho
para o Pátio Esterno, é bastante difícil praticar a religião e todas as
virtudes que tornam a Alma humana preparada para, ao menos, bater à porta desse
estágio externo. Os que ingressam nesse Pátio fizeram grande progresso no
passado. Pode ser, e será, que para alguém que ainda não tenha compreendido de
maneira definitiva a finalidade da vida, a vida que ali se leva se lhe afigure
desagradável. Porque no Pátio Externo não há ninguém que não se tenha devotado
em definitivo ao serviço, que não tenha renunciado a tudo e que nada peça em
troca, senão o privilégio de servir. Reconheceram, de modo positivo, a natureza
transitória das coisas terrenas e aceitaram, da mesma forma, a tarefa que
desejam realizar. Haverá muita luta, naquele Pátio Externo, porque muito
precisará ser feito ali em curto espaço de tempo.
As
divisões que fiz desta tarefa são arbitrárias. Não se trata de passos, por
assim dizer, através do Pátio, porque todas elas devem ser alcançadas
simultaneamente. Trata-se de um treinamento simultâneo, não dividido em
estágios, como tive necessidade de dividir para clareza da explicação. Chamei essas
divisões de "Purificação", de "O Controle do Pensamento", de "
A Formação do Caráter", de "Alquimia Espiritual" e "No Limiar"
A Alma, no Pátio Externo, está ocupada com todo esse
trabalho, em todas as vidas que ali passa; essas tarefas devem, pelo menos
parcialmente, ser aprendidas antes que a Alma ouse enfrentar a porta do próprio
Templo. Precisamos compreender que não é a perfeita realização de qualquer
desses passos o que a Alma deve obter antes de alcançar a porta da primeira
Iniciação; o que ela precisa é esforçar-se, com algum sucesso, devendo
compreender seu trabalho e realizá-lo com diligência. Quando o trabalho estiver
perfeitamente realizado, a Alma estará no próprio Santo dos Santos.
A
Purificação, então, deve ser parte do seu trabalho, a autopurificação, a
purificação da natureza interior, até que cada parte dela vibre em perfeita
harmonia com a superior. Tudo que pertence à parte temporária do homem deve ser
puro para aquilo que chamamos personalidade, que não tem em si a individualidade
permanente, sendo apenas uma reunião de qualidade e características que o
indivíduo assimila, ao longo de muitas vidas. Esses são os invólucros com que a
Alma se cobre e leva consigo vida após vida; é tudo quanto a individualidade
permanente reúne quase sempre em torno de si durante a vida terrena, e disso
extrai a essência, a fim de transfundi-la para seu próprio Eu, crescente e
eterno.
A
posição da Alma, nesse momento, quando entrou deliberadamente no Pátio Externo
e viu o trabalho que a espera, está muito bem simbolizada na frase usada pelo
Sr. Sinenett: "Submissão ao Eu Superior." Isso significa deliberada decisão de
pôr à parte tudo o que é temporário e pertence à personalidade inferior. Cada
vida a ser vivida nesse mundo inferior deve ser devotada ao propósito único de
reunir material útil, que então poder ser entregue ao Superior, que vive e
cresce com aquilo que o Eu inferior reúne. O Eu inferior compreende que seu
único trabalho no mundo é servir de agente ativo e temporário, cujo papel é
acumular tudo ode que o Eu permanente necessita. A sua essência pode, assim,
construir a individualidade sempre crescente, que é superior á personalidade de
uma vida. A "submissão ao eu Superior" significa o reconhecimento, pelo Eu
inferior, do serviço que lhe cabe, o viver não mais para si mesmo, mas para o
fim do serviço que deve suportar. Toda a vida no Pátio Externo tem de ser essa
vida de positiva fidelidade ao Eu Superior, que agora é compreendido como o
verdadeiro E, que deve permanecer através dos tempos.
Os
leitores talvez se recordem de terem lido em um dos Upanishads(*) que se um
homem quiser encontrar a Alma, a primeira cois a fazer é "abandonar o mau
caminho", mas presumo que a Alma tenha feito isso ainda antes de entrar no
Pátio Externo, porque os que ali entram já não estão sujeitos às tentações
mais comuns d vida terrena, já as superaram. Quando chegar à encarnação que os
levará ao Pátio Externo, porque os que ali entram já não estão sujeitos às
tentações mais comuns da vida terrena, já as superaram. Quando chegam à
encarnação que os levará ao Pátio Externo, pelo menos terão se desviado do mau
caminho e deixado de trilhá-lo prazerosamente. Se forem encontrados em tal
caminho, é porque sofreram um súbito escorregão, imediatamente controlado,
nasceram com uma consciência que se recusa a deixá-los errar, quando o bem está
diante deles. Embora a consciência possa agir erradamente, às vezes, pouco
antes de entrar no Pátio Externo, e mesmo depois de ter ali entrado, ela ainda
desejará, de uma forma ardente, escolher o bem. As almas que ali entraram têm
o desejo deliberado de agir da melhor maneira possível.
Agora
terão de tratar, não com as grosseiras tentações do mundo exterior, mas com as
sutis e mais penetrantes tentações que chegam à alma, quando ela tem de viver
tão rapidamente através de suas vidas, quando tem de subir com tanta rapidez
pelo flanco da montanha. Não têm tempo a desperdiçar desviando-se de tentações,
formando as virtudes lentamente. Devem subir, para a frente e para cima,
sempre.
Essas
almas ver-se-ão envolvidas por dificuldades intelectuais " tentações de ambição
intelectual, de vaidade intelectual, tentações de se orgulhar pelo que
assimilaram, e de agarra-se firmemente, por amor de si própria, ao que
obtiveram. Não só irão sentir o forte apelo da ambição que mantém tudo para si
e constrói uma parede entre elas próprias e os que estão abaixo, mas também
serão acometidas pelo desejo do conhecimento, conhecimento para si mesmas,
conhecimento do que podem ganhar e manter, que dispõe mais contra o mundo do
que a favor dele.
Essa
tentação assume o disfarce de amor ao conhecimento em si mesmo, amor à verdade
por ela própria. Muitas vezes a Alma chega a descobrir, à medida que sua visão
se torna mais aguda e clara, que essa suposta aspiração ao amor é apenas o
desejo de estar separada de seus semelhantes, de possuir o que eles não podem
compartilhar, de gozar o que não se lhes dá. A separatividade é um dos grandes
perigos da Alma em crescimento, o orgulho da separatividade e o desejo de estar
separada, o desejo de crescer, aprender e obter um resultado, a fim de poder
possuir.
(*)
livros sagrados hindus do século VI a.C., posteriores aos Vedas. (N.T.)
Essa
é uma das tentações que irão acometê-la, mesmo depois de ela ter transposto a
porta do Pátio Externo.
Em
breve a Alma começará a compreender que, se quiser transpor o Pátio Externo e
alcançar a porta que está cintilando à frente, deve despojar-se da ambição e do
orgulho intelectual, e de tudo que a separa de seus semelhantes. Então,
começará a purificar sua natureza intelectual, a perscrutar os motivos que a
impelem ao esforço, a observar-se cuidadosamente à luz que irradia através das
janelas do Templo e que inunda o Pátio Externo com as ondas da sua vida
espiritual. Sob essa luz, toda sombra parece mais escura, e mesmo as coisas que
se apresentam brilhantes no mundo inferior são vistas como sendo, afinal,
sombras, e não raios de luz.
A
Alma compreende então que essa natureza-de-desejo, que se mescla com a
intelectual, deve ser purificada de qualquer contato com o eu pessoal. E ela
começará, de maneira deliberada, o trabalho de purificação. Consciente e
firmemente, dedicar-se-á ao trabalho de renunciar a tudo que procura obter para
a personalidade, tudo que tende, seja em que sentido for, separá-la dos que estão
abaixo, bem como dos que se acham acima. A Alma aprende " essa é uma das lições
do Pátio Externo " que há uma única maneira para que as portas que a separam do
Templo se abram: demolir as paredes que a separam dos seus semelhantes que
estão mais abaixo.
Então,
as paredes que separam a Alma dos que estão à frente desaparecem, absorvidas,
por assim dizer, pela sua ação, porque a porta que tem de ser transposta só se
abrirá quando a Alma derrubar as paredes de sua própria natureza e estiver
desejosa de partilhar com todos tudo aquilo que conseguir.
Assim,
ela toma em mãos o eu inferior, para expurgá-lo de tudo quanto seja pessoal.
Não deseja destruir, porque o que assimilou como experiência está construído em
faculdades e transmutado em poder, e agora ela precisa de todos os poderes que
esteve amealhando. Deseja levar consigo esses poderes, mas levá-los purificados
e não poluídos. Deve manter a essência de todas as qualidades, enquanto se
afasta de tudo quanto seja pessoal. Deve levar consigo a essência de cada
qualidade, porque isso é o resultado de toda a sua subida pela montanha, mas
deve levá-la como ouro puro ao altar, e não como impureza mesclada ao ouro.
Tomemos
uma ou duas dessas qualidades, a fim de vermos claramente o que significa a
purificação, porque se a compreendermos em relação a uma ou duas qualidades,
poderemos, então, trabalhá-la para as demais. Tomemos a qualidade situada num
estágio mais inferior, e que conhecemos como cólera, ira, como esse tremendo
poder que o homem desenvolve, com o qual ele luta em seu caminho através do
mundo, com o qual combate, e pelo qual, muitas vezes, domina toda oposição.
Essa é a tremenda energia da alma que irrompe da natureza inferior e destrói o
caminho do homem através de dificuldades, no estágio inicial do seu
crescimento, até que ele tenha aprendido a guiá-la e controlá-la. Essa energia
é indisciplinada; e é destrutiva, por ser indisciplinada; uma força tremenda,
valiosa porque é força, embora destrutiva em suas ações, como vemos no mundo
inferior
O
homem, antes mesmo de penetrar no pátio Externo, já modificou de alguma forma
essa energia da Alma. Transformou-a em virtude, uma virtude muito real, e por
muito tempo manteve essa virtude no mundo externo. Até então ela aparecia com o
nome de nobre indignação, de paixão conta a injustiça, de ódio contra tudo que
é injusto ou cruel. Esse homem prestou bons serviços no mundo exterior sob
muitas formas de energia destrutiva, porque, antes ainda de chegar ao Pátio Externo,
esteve trabalhando no mundo. Quando via a crueldade com que eram tratados os
fracos, sua cólera se insurgia conta isso; quando uma injustiça era perpetrada
por um tirano, levantava-se contra ela, indignado. Aprendera, enquanto
praticava essa virtude, a depurá-la de toda impureza. A cólera que sentira no
início da sua vida era cólera por si próprio. Irava-se quando sóbria uma
injúria, reagia no mesmo tom quando alguém o atingia. Mas de há muito dominara
a ira simplesmente bruta da sua natureza inferior, a ira que se defende de uma
afronta através da energia destrutiva, e retribui o mal com o mal e o ódio com
o ódio. Aprendera, até certo ponto, a transformar em si aquela energia
colérica, purificando-a muitíssimo em relação ao elemento pessoal, e aprendera
a indignar-se menos quando ele próprio era injuriado do que quando uma outra
pessoa sóbria essa injúria. Dessa forma, usara a cólera superior para dominar a
inferior, a paixão mais nobre para aniquilar a paixão animal da sua vida
inferior. Lembrem-se de que ele era um homem que de há muito reconhecera que o
serviço era um dever, e que uma das formas de serviço era um dever, e que uma
das formas de serviço era a de exterminar os opressores e afastar os que
estivessem infligindo sofrimento.
Porém,
na atmosfera mais calma do Pátio Externo, iluminada pelos raios da absoluta
compaixão, que chegam, cintilantes, do Santo dos Santos, não há lugar para
qualquer tipo de cólera, embora essa cólera seja depurada de antagonismo
pessoal. O aspirante, àquela altura, deve aprender que os que se comportam de
modo errôneo também são seus irmãos, e sofrem mais em suas ações injustas do
que seus semelhantes pelo mal que eles lhes possam fazer. Deve aprender que
aquela nobre indignação que sente, que aquela paixão conta a injustiça não é a
característica da Alma que se esforça em direção do Divino.
A
Vida Divina ama todos os filhos que envia a este mundo, seja qual for sua
posição, seja qual for o grau da sua evolução, por muito inferior que seja.
Porque o amor do Divino, de onde tudo emana, nada tem fora de si próprio. A
Vida Divina é o âmago de tudo o que existe, e Deus está presente tanto no
coração do malfeitor como no coração do santo. No Pátio Externo, o Divino deve
ser reconhecido, não importando quão espessos sejam os véus que o escondem.
Pois ali os olhos do Espírito abrir-se-ão e não haverá vus entre ele e o Eu dos
outros homens. Portanto, aquela nobre indignação tem de ser depurada de tudo
quanto seja cólera, e transformada numa energia que nada marginaliza do seu
âmbito auxiliador, amparando tanto o tirano como o escravo, e encerrando, no
mesmo abraço, tanto o opressor como o oprimido. Porque os Salvadores dos homens
não fazem acepção entre os que Eles devem servir " Seu Serviço não conhece
limitações. Os que são servidores de todos não odeiam ninguém no Universo. O
que antes era cólera tornou-se, pela purificação, proteção aos fracos, oposição
impessoal aos grandes males,, justiça perfeita para todos.
E
o que fez com a cólera deve fazer com o amor. O amor começa manifestar-se na
Alma sob seu aspecto mais pobre, sob seu aspecto inferior, quando ela começa a
progredir. Talvez sob o aspecto que só conhece a procura exterior do outro, e
que, em sua auto-satisfação, nem mesmo se preocupa com o que acontece àquela
que amou. Quando a Alma se faz mais elevada, o amor transforma seu aspecto,
faz-se mais nobre, menos egoísta, menos pessoa, até ligar-se aos elementos
superiores do bem-amado, em vez de ligar-se ao invólucro externo. O amor, que
era sensual, torna-se moralizado e purificado.
Esse
amor deve fazer-se ainda mais puro quando o candidato entrar no Pátio Externo
do Templo. O candidato deve levar consigo o amor que perdeu seu exclusivismo. É
o amor que deve manter seu fogo sempre ardendo, mais aquecido, mas esse calor
deve espalhar-se cada vez mais amplamente, e estar depurado de tudo quanto se
refere à natureza inferior. Isso significa que o amor, dirigindo-se a outros,
procurará constantemente saber quanto poderá dar aos outros, e não quanto
poderá receber deles. Esse é o amor que se irá tornando gradualmente Divino em
sua essência, espalhando-se na medida em que for necessário, mais do que na
riqueza da retribuição.
Enquanto
a Alma se esforça por se purificar, tem de passar por provas que lhe serão
aplicadas durante todo o processo que ela está vivendo. Quando trabalha usando
sua energia, a fim de realizar algum serviço, leva para esse serviço a espada
de Ithuriel,(*) a espada da ausência de personalismo e responde ao seu toque.
Quando sua energia se dirige para realizar alguma coisa que a Alma reconhece
como boa, se, ao testar essa ação e seu motivo para empreendê-la, descobre que
o "EU" está sutilmente mesclado com essa energia, que está buscando menos o
êxito do trabalho do que o sucesso de quem o faz, se lhe acontece que ao ver
esse mesmo trabalho realizado pr outro sente certo desapontamento mesclado ao
cálice de sua satisfação ao ver realizado o trabalho que pretendia fosse seu,
então sabe que o personalismo ainda está presente. Se ele fosse o que deveria
ser, a Alma só se preocuparia com o êxito do serviço, e não com o ter
contribuído pessoalmente para esse êxito. Se perceber que quando há fracasso
pessoal ainda sente a nota de desapontamento, algo que por um momento obscurece
sua paz e sua serenidade, então a Alma compreende que ainda há uma parte de
personalismo que precisa ser eliminada. E põe-se ao trabalho de livrar-se
daquela fraqueza, e de afastar aquela sombra dos olhos da Alma.
Pode
ser que ela descubra, ao medir e testar a natureza do seu amor, que ali existem
uma certa tibieza, um leve tom de desencanto, sempre que aqueles aos quais
serviu com nobreza, e amou grandemente, permanecem indiferentes ao que ela lhes
deu, que o fluxo externo do amor esteja inclinado a retrair-se, cessando seu
curso, porque aqueles a quem ama não retribuem com amor. Então, aquela Alma "
tão severa consigo mesma e tão compassiva para com todas as outras Almas " sabe
que ainda está trabalhando por alguma coisa para si própria, e não encontra sua
mais alta alegria na simples glória de servir. Então, dedica-se novamente ao
trabalho para purificar aquela parte de personalismo que ainda permanece ali,
até que o amor flua para o exterior, jamais desejando saber se há, ali, uma
resposta. Porque a Alma sabe que a necessidade de amor é mais premente onde não
há resposta ao amor, e sabe que as Almas mais necessitadas de receber amor são
as que não retribuem, de modo nenhum, ao amor que as auxilia
____
(*) Ithuriel: o anjo que, no Paraíso perdido, de Milton, era encarregado de
procurar Satã, que entrara no Paraíso. O anjo estava armado de uma espada, cujo
toque mais leve revelava o embusteiro. ( N.T.)
Dessa
forma, a Alma trabalha de maneira deliberada para evoluir. Deliberadamente,
trabalha para si mesma, purificando sempre sua natureza inferior com incansável
esforço e incessante exigência. Está sempre de olhos fitos naqueles que já
atingiram a meta, sem olhar para baixo, para os que ainda estão apenas subindo
par o Pátio Externo. Não pode repousar nem por um momento, não pode estar
jamais satisfeita, enquanto não se vir chegando cada vez mais perto da sua
meta, até que exista dentro de si menos oposição para dar passagem à luz que
vem dos Sagrados que se tornaram Divinos.
No
Pátio Externo as tentações dos homens dirigem-se às suas virtudes, não aos seus
vícios. Tentações sutis, que aparecem como anjos de luz, assaltam sua natureza,
vêm através do que é elevado, mais nobre neles, que já passaram pelo ponto em
que o vício poderia conspurcá-los ou tentá-los. E só através da máscara da
virtude é que a ilusão poderia induzi-los, extraviando-os. Por isso é que
aquelas Almas aprendem a ser tão severas consigo mesmas, por isso é que são tão
exigentes no que desejam de si próprias. Sabem muito bem " por suas próprias
faltas e pelas dos seus semelhantes " que as virtudes, cuja perfeição é difícil
de se obter no mundo inferior, são facílimas para os que já se encontram no
`pátio Externo. Elas são, por assim dizer, roubadas pelo inimigo, a fim de que
aquelas Almas recaiam em tentação. As Almas aprendem, assim que a única
segurança consiste em viverem iluminadas pela luz do Eu Superior. Por essa
razão, compreendem que não devem atrever-se a postar-se ante a Porta do Templo
até que a Luz brilhe, radiante, dentro delas. Por isso, elas se esforçam
continuamente por se tornarem inteiramente translúcidas.
Como
ousariam expor-se à luz que ofusca olhos impuros pela intensidade de seus
raios; que torna cheio de imperfeições o que chamamos virtude; para a qual a
beleza terrena é fealdade e vulgaridade" Como ousariam entrar no Templo, sob o
olhar vigilante do Mestre, com a Alma nua, em Sua presença/ Como se atreveriam
a permanecer ali, se no coração ainda há nódoa de imperfeição e, olhando dentro
desse coração, Ele encontraria máculas que ofendem a pureza do seu olhar"
Destarte,
acontece que no Pátio Externo as coisas que são dolorosas no mundo exterior se
transformam em alegrias, e o sofrimento que purifica é o amigo bem-recebido. O
modelo de todos os Iogues " Aquele que dizem ser Ele Próprio o Grande Iogue, o
Mestre e Patrono de todos " está sempre em terreno ardente, e as chamas cercam
sempre Sua presença, consumindo tudo o que tocam. Porque no coração daqueles
que estão no Pátio Externo ainda há lugares ocultos onde a luz não chegou, e a
purificação final, pouco antes que eles entrem no Templo, vem das chamas vivas
do próprio Senhor. Elas queimam tudo que se embosca e se oculta no mais
recôndito do coração daquele que vai ser um discípulo, que se entregou ao
Senhor e nada busca oculta. Naquele poderoso solo ardente, defronte à porta do
Templo, jazem as chamas através das quais todos devem passar antes que essa
Porta se lhes abra.
Além
do fogo, e no seu bojo, a figura do Grande Iogue é vista, e é dele que as
chamas se estendem, recebendo seu poder purificador da glória de Seus Pés. È
Dele, do Grande Guru, que vem a purificação final ao discípulo. Então, o
discípulo entra pela porta que o encerrará para sempre, separando-o de todos os
interesses do mundo inferior, menos o de servir; que o separará de todos os
desejos humanos, menos o de trabalhar pela redenção da humanidade. Nada
permanece ali que consiga atraí-lo, porque ele viu a Face do Senhor e, diante
dela, todas as luzes se obscurecem.
II
O CONTROLE DO PENSAMENTO
No
que se refere de modo especial à mente, o ponto de vista de um homem do mundo,
ponderado, bem-equilibrado e virtuoso será diferente do ponto de vista de um
Ocultista. A diferença virá de acordo com a posição que o pensador assumir
sobre o lugar que a mente ocupa em relação ao homem em sua natureza em desenvolvimento. Consideremos um homem bom e justo, nem descuidado nem frívolo, nem mundano,
no sentido comum da palavra; sóbrio em seus julgamentos, equilibrado em seus
pensamento. Como veria ele essa questão do autocontrole mental"
Um
homem que tenha colocado deliberadamente diante de si um ideal de virtude que
se esforça por cumprir, compreenderá aquilo que chamamos natureza inferior, e
que representa uma coisa a ser dominada. Quanto a isso não haverá dúvidas.
Nosso homem virtuoso dirá que certamente se devem dominar e restringir as
paixões e apetites do corpo, as emoções inferiores que impelem as pessoas
impetuosas, todo aquele lado da natureza do homem que é manipulado por agentes
exteriores, de forma a levá-lo a agir impensadamente. Dar-lhe-á o nome de
natureza inferior, e procurará fazê-la obediente à natureza superior. O que
entendemos em linguagem comum por pessoa controlada, ou antes, autocontrolada,
é o homem que exerce esse domínio mental sobre a natureza inferior, de forma
que a mente controle seus desejos.
Mais
do que isso: se o olharmos com mais atenção, veremos que possui uma vontade
forte " vontade que trabalha ao longo de certas linhas definidas de conduta, e
que, mesmo sob circunstâncias muito difíceis, ainda pode guiar a natureza, da
qual faz parte, por uma direção clara e definida.
Descobriremos
tratar-se de pessoa cuja mente se acha muito desenvolvida, de forma que, quando
se decide a agir e decidir sobre uma ação a empreender, ela não se deixa
determinar pelas várias atrações que possam influenciá-la do exterior, nem pela
resposta da natureza animal a essas atrações. Percebemos que essa pessoa está
sendo induzida por uma gama de experiência gravadas naquilo que se chama
memória. Recordações de eventos passados, comparação de resultados provenientes
desses fatos. A mente trabalhou sobre todos eles, arranjou-os, por assim dizer,
comparou uns com os outros, extraindo deles um resultado definido através de
esforço intelectual e lógico.
Esse
resultado permanece como regra de conduta, regra instalada em momento de calma,
quando a natureza-de-desejo não está trabalhando ativamente, quando não está
rodeada de tentações. Quando o homem se vê sob circunstâncias que dominariam
uma vontade fraca, e talvez extraviassem uma pessoa comum, esse homem mais
forte, cuja mente é mais desenvolvida, orienta a sua conduta pela regra assim
determinada. Ele não admite ser afastado do seu caminho pelas atrações ou pelos
impulsos do momento.
Tratando
com pessoa assim, com freqüência podemos prever o que ela irá fazer. Conhecemos
as linhas do pensamento que dominam sua mente, e nos sentimos bastante seguros
" observando seu caráter, que é definido e solidamente formado " de que, sejam
quais forem as tentações exteriores, aquele homem irá cumprir, em momentos de
luta, o ideal que concebeu em momentos de calma e reflexão.
É
isso o que geralmente queremos dizer quando falamos de um homem autocontrolado.
Trata-se de um homem que alcançou esse estágio de desenvolvimento que,
observaremos, não é de forma alguma um estágio inferior, no qual ele se pôs
deliberadamente a trabalhar, a fim de dominar, refrear e dirigir essa natureza
inferior. Quando ela for mais estimulada à ação por agentes exteriores, a Alma
terá condições de sustentar-se contra a tentação que pretende assolá-la. Esse
homem agirá de maneira nobre, sejam quais forem as tentações.
Há,
porém, um outro estágio ao qual esse homem pode chegar, porque pode vir a ter
contato com um grande filósofo da vida que lhe explique algo mais sobre os
trabalhos da mente. Pode ter contato, por exemplo, com os grandes ensinamentos
teosóficos, contidos em livros antigos ou modernos, oriundos da Índia, do
Egito, da Grécia, ou da moderna Europa. Nessa filosofia talvez ele adquira uma
nova visão do Universo, e isso pode modificar deveras sua própria posição.
Suponhamos
que tal homem ingresse na sociedade Teosófica e aceite suas doutrinas
fundamentais. Começará a compreender, muito antes de estudar as coisas sob o
ponto de vista teosófico, a enorme influência que têm os seus pensamentos.
Começará a compreender que quando sua mente está funcionando, ela exerce aquele
poder criativo que, provavelmente, é tão familiar para a maioria de vocês " que
a mente está cirando, de fato, existências ou entidades definidas.
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