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AVATARAS

Quatro Palestras Proferidas no 24° Encontro de Aniversário da Sociedade Teosófica em Adyar, Madras, em Dezembro de 1899.

Conteúdo

O QUE É UM AVATARA
A ORIGEM E NECESSIDADE DE UM AVATARA
ALGUNS AVATARAS ESPECIAIS
SHRI KRISHNA

PRIMEIRA PALESTRA

O QUE É UM AVATARA

Irmãos: Em todas as vezes que aqui nos reunimos para estudar as verdades fundamentais de todas as religiões, não posso senão sentir quão vasto é o assunto, quão pequeno é quem lhes fala, quão grandioso é o horizonte que se abre diante de nossos pensamentos, quão estreitas são as palavras que tentam esboçá-lo para seus olhos. Ano após ano nos encontramos, vez após vez tentamos sondar alguns dos grandes mistérios da vida, do Eu [Self, no original; esta tradução será usada ao longo de todo o texto - NT], que forma o único assunto realmente digno do mais profundo pensamento do homem. Tudo mais é passageiro; tudo mais é transiente, tudo mais é apenas o brinquedo de um momento. Fama e poder, riqueza e ciência - tudo o que está neste mundo inferior é como nada ao lado da grandeza do Eu Eterno no universo e no homem - uma entre todas as suas múltiplas manifestações - maravilhoso e belo em todas as formas que Ele produz. E neste ano, de todas as manifestações do Supremo, vamos tentar estudar a mais santa das mais santas, aquelas manifestações de Deus no mundo nas quais Ele mostra-Se divino, vindo para auxiliar o mundo que Ele criou, resplandecendo em Sua natureza essencial, sendo a forma só um tênue véu que mal esconde a Divindade de nossos olhos. Como então arriscaremos nos aproximar disto, como tentaremos estudá-lo, senão como a mais profunda reverência, com a mais profunda humildade; pois se é preciso paciência, reverência e humildade de coração para o estudo de Suas obras, como então O estudaremos, cujas obras apenas parcialmente O revelam, quando tentamos entender o que queremos dizer por um Avatara, qual é o significado, qual é o propósito de tal revelação?

Nossa Presidente disse com verdade que em todas as fés do mundo existe a crença nestas manifestações, e que é verdadeira a antiga máxima - a de que é como o sinete na prata atestando que o metal é puro - esta antiga máxima é válida aqui, que o que quer e onde quer que isto tenha sido acreditado, em qualquer tempo em que tenha sido acreditado, e por quem quer que seja, que é verdade, que é realidade.

As religiões altercam sobre muitos detalhes, os homens disputam sobre muitas proposições; mas onde o coração humano e a voz humana falam a mesma palavra, ali temos a marca da verdade, ali temos o sinal da realidade espiritual. Mas tratando com este assunto uma dificuldade se apresenta, a vocês como ouvintes, a mim como oradora. Em todas as religiões nos tempos modernos a verdade é privada de suas proporções completas; o intelecto sozinho não pode apreender os muitos aspectos da verdade única. Assim temos escola após escola, filosofia após filosofia, cada uma mostrando um aspecto da verdade, e ignorando, ou mesmo negando, os outros aspectos que igualmente são verdadeiros. E não é tudo; à medida em que a era em que estamos passa de século a século, de milênio a milênio, o conhecimento se torna mais vago, a visão espiritual se torna mais rara, aqueles que repetem em muito ultrapassam o número dos que sabem; e aqueles que falam com visão clara da verdade espiritual estão perdidos entre as multidões, que só mantêm tradições cujas origens falham em entender. O sacerdote e o profeta, para usarmos duas palavras bem conhecidas, nos últimos tempos têm sempre entrado em conflito entre si. O sacerdote transmite as tradições da antigüidade; com excessiva freqüência ele perdeu o conhecimento que as tornaria reais. O profeta - vindo de tempos em tempos com a palavra divina quente como fogo em seus lábios - proclama a antiga verdade e ilumina a tradição. Mas os que se fixam nas palavras da tradição estão sujeitos a serem cegados pela luz do fogo e de chamarem de "herético" aquele que fala a verdade que eles perderam. Portanto, em religião após religião, quando surgiu algum grande Instrutor, houve oposição, clamores, rejeição, porque a verdade que ele falava era poderosa demais para ser confinada dentro dos limites de homens meio cegos. E num assunto como este que estudamos hoje, foram feitos certos sulcos, como se fossem trilhos, nos quais a mente humana corre, e sei que apresentando diante de vocês a verdade oculta, necessariamente deverei entrar em conflito, em alguns pontos, com uma tradição que mais é repetida de memória do que entendida, ou do que são captadas as verdades por trás. Perdoem-me então, meus irmãos, se em uma palestra sobre este grande tópico algumas vezes eu deva borrar algumas das linhas divisórias entre as diferentes escolas do pensamento Hindu; não posso, nem pretendo, estreitar a verdade que aprendi para adequá-la às limitações que nasceram da ignorância das idades, nem fazer aquela que é a verdade espiritual conforme às tradições vazias que foram deixadas nas fés do mundo. Pelo dever imposto sobre mim pelo Mestre a Quem sirvo, pela verdade com que Ele espera que eu fale aos ouvidos de homens de todas as fés que há neste mundo moderno; por tudo isto eu lhes devo falar o que é verdadeiro, não importando se vocês concordem por ora; pois a verdade que é falada conquista a submissão depois, se não agora; e qualquer um que fale dos Rishis [santos - NT] da antigüidade deve falar das verdades que eles ensinaram em seus dias, e não repetir os meros lugares-comuns dos comentadores dos tempos atuais e as insignificantes ortodoxias que nos cerceiam de todos os lados e separam o homem do homem.

Proponho, a fim de simplificar este vasto assunto, dividi-lo em certas seções. Proponho primeiramente relembrar-lhes as duas grandes divisões reconhecidas por todos os que pensaram sobre este assunto; então tomar especialmente, para esta manhã, a questão "O que é um Avatara?". Amanhã apresentaremos e tentaremos responder, pelo menos em parte, à questão "Qual é a origem dos Avataras?". Então mais tarde abordaremos alguns Avataras especiais, tanto do cosmos quanto das raças humanas. Assim espero colocar-lhes uma sucessão de idéias clara e definida sobre este assunto, não lhes pedindo para acreditar nelas porque eu falo delas, não pedindo que as aceitem porque as profiro. Sua razão é o parâmetro ao qual toda verdade que é válida para vocês deve alinhar-se; e errarão profundamente, quase fatalmente, se deixarem a voz da autoridade impor-se onde vocês não concordarem com o que digo. Toda verdade só é verdade para vocês se assim lhes parecer, e se iluminar a mente; e por mais verdadeira que seja, a verdade não será verdade para vocês, a menos que seus corações se abram para recebê-la, como a flor se abre para receber os raios do sol matutino.

Primeiro, então, tomemos uma asserção que homens de todas as religiões aceitarão: manifestações Divinas de um tipo especial têm lugar de tempo em tempos à medida em que surge a necessidade de seu aparecimento; e estas manifestações especiais são distintas da manifestação universal de Deus em Seu cosmos; pois jamais esqueçamos que na menor das criaturas que povoa a Terra, assim como no mais excelso Deva, está presente Ishvara. Mas há certas manifestações especiais distintas desta auto-revelação geral no cosmos, e são estas manifestações especiais que são produzidas por necessidades especiais. Duas palavras têm sido especialmente usadas no Hinduísmo, fazendo alguma distinção na natureza da manifestação - uma, a palavra "Avatara", outra, a palavra "A'vesha". Só precisamos nos deter por um momento no sentido das palavras, importantes para nós na medida em que o significado literal das palavras aponta para diferenças fundamentais entre as duas. A palavra "Avatara", como sabem, tem como raiz "tri", passar por, e com o prefixo "ava" que é acrescentado, temos a idéia de descida, de alguém que desce. Este é o significado literal da palavra. A outra palavra tem como raiz "vish", permeando, penetrando, preenchendo, e aqui temos o pensamento de algo que é preenchido ou penetrado. De modo que enquanto no caso Avatara há o pensamento de uma descida do alto, de Ishvara ao homem ou animal; no outro há antes a idéia de uma entidade já existente sendo influenciada, permeada, preenchida pelo poder divino, como se fosse especialmente iluminada. E então temos uma espécie de estágio intermediário, se podemos dizer assim, entre a manifestação divina no Avatara e no cosmos e a manifestação divina parcial que é preenchida pela influência do Supremo, ou de algum outro ser que praticamente domina o indivíduo, o Ego que assim é permeado.

Mas quais são as ocasiões que conduzem a estas grandes manifestações? Ninguém pode falar com maior autoridade neste ponto do que Aquele que veio Ele mesmo como um Avatara logo antes do início de nossa era, o próprio Divino Senhor Shri Krishna. Consultemos aquele maravilhoso poema, o Bhagavad-Gita, ao quarto Adhyaya [capítulo - NT], Shlokas [versos - NT] 7 e 8; lá Ele nos conta o que o trouxe ao nascimento neste Seu mundo na forma manifesta do Supremo:

"Quando o Dharma - a justiça, a lei - decai, quando Adharma - injustiça, desordem - é exaltado, então Eu mesmo venho: para a proteção do bem, para a destruição do mal; para o firme estabelecimento do Dharma, Eu nasço de idade em idade". Isto é o que Ele nos diz sobre a vinda do Avatara. Isto é, a necessidade de Seu mundo O chama a manifestar-Se em Seu poder divino; e sabemos de outro de seus ditos que além destas, que tratam das necessidades humanas, há certas necessidades cósmicas que nas idades primevas da história do mundo requereram manifestações especiais. Quando na grande roda da evolução tem de ser dada uma outra volta, quando alguma forma nova, algum novo modelo de vida está surgindo, então o Supremo também Se revela, encarnando o tipo que Ele então inaugura em Seu cosmos, e deste modo, para dar uma volta naquela roda eterna é que Ele vem como Ishvara. É este, então, falando mui genericamente, o significado da palavra e o objetivo da vinda.

Daqui podemos convenientemente passar à questão mais específica "O que é um Avatara?". E é aqui que devo pedir-lhes sua maior atenção, antes, sua consideração paciente, onde pontos em certa medida não familiares a vocês lhes forem apresentados; pois como eu disse, é a visão oculta da verdade o que vou parcialmente lhes revelar, e os que não tiverem assim estudado a verdade precisam pensar cuidadosamente antes de rejeitar, precisam ponderar longamente antes de refutar. Veremos, à medida em que tentarmos responder à questão, o quanto as grandes autoridades nos ajudam a entender, e o quanto a falta de conhecimento ao lermos tais autoridades tem conduzido ao mal-entendido. Vocês podem lembrar que o falecido erudito T. Subba Row, nas palestras que deu sobre o Bhagavad-Gita, apresentou-lhes uma determinada visão sobre o Avatara, a de que seria uma descida de Ishvara - ou, como ele disse, usando o termo Teosófico, o Logos, que é somente o nome grego para Ishvara - uma descida de Ishvara unindo-Se com uma alma humana. Com todo o respeito pelo profundo conhecimento do lamentado pandit [sábio, brâmane erudito - NT], não posso senão pensar que esta é uma definição só parcial. Provavelmente na ocasião ele não desejou, mui possivelmente não teve tempo, de tratar caso por caso, tendo um campo tão vasto a cobrir no pequeno número de palestras que deu, e portanto selecionou uma só forma, diríamos, da auto-revelação, sem abordar as outras, que agora tratando propriamente do tema temos todo o tempo para estudar. Deixem-me então começar como se estivéssemos no início, e então citar-lhes algumas autoridades que podem tornar o panorama mais fácil de aceitar; deixem-me esclarecer, sem qualquer tentativa de velar ou tergiversar, o que realmente é um Avatara. Fundamentalmente Ele é o resultado da evolução. Em antiqüíssimos kalpas [período de duração de um universo - NT], em mundos outros que não este, melhor dizendo, em universos anteriores ao nosso, aqueles que viriam a ser Avataras subiram lentamente, passo a passo, a vasta escadaria da evolução, ascendendo do mineral à planta, da planta ao animal, do animal ao homem, do homem ao Jivanmukta [liberado, emancipado; o mesmo que Mahatma - NT], do Jivanmukta a cada vez mais alto, até a poderosa hierarquia que se estende para além d'Aqueles que Se libertaram dos limites da humanidade; até que finalmente, tendo assim subido, Eles descartaram não somente todos os limites do Ego separado, não apenas despedaçaram todas as limitações do Eu separado, mas penetraram no próprio Ishvara e Se expandiram na onisciência do Senhor, se tornando unos em conhecimento assim como sempre foram unos em essência com aquela Vida eterna de onde provieram originalmente, vivendo naquela vida, centros sem circunferência, centros vivos, unos com o Supremo. Lá, por trás de um tal Ser, se estende a longa cadeia de nascimentos sucessivos, de manifestações sucessivas. Durante o estágio no qual Ele era humano, durante a longa ascensão na escada da humanidade, houve duas características que distinguiram o futuro Avatara das fileiras humanas. Uma, sua absoluta bhakti, sua devoção ao Supremo; pois somente os que são bhaktas e uniram à sua bkakta o gnyana, ou conhecimento, podem atingir esta meta; pois pela devoção, diz Shri Krishna, um homem pode "entrar em Meu ser". E a necessidade de devoção para o futuro Avatara é esta: ele deve, mesmo na vida de Ishvara, manter o centro que ele construiu de modo que possa ser capaz de reunir a circunferência mais uma vez em torno daquele centro, a fim de poder vir como uma manifestação de Ishvara, uno dom Ele em conhecimento, uno com Ele em poder, o próprio Supremo em vida terrena; ele deve daí ter o poder de limitar-se à forma, pois nenhuma forma pode existir no universo exceto se existir um centro em torno do qual a forma é agregada. Ele deve ser devotado a ponto de querer permanecer a serviço do universo enquanto o próprio Ishvara habitá-lo, para compartilhar do contínuo sacrifício feito por Ele, o sacrifício por meio do qual o universo vive. Mas não só a devoção assinala este grande Ser que está subindo em seu caminho divino. Ele também deve ser, assim como Ishvara é, um amante da humanidade. A menos que nele arda a chama do amor pelos homens - não, digo homens? É pouco - a menos que nele arda o amor por tudo o que existe, móvel e imóvel, neste universo de Deus, ele não será capaz de vir como Supremo, cuja vida e amor estão em tudo o que Ele criou a partir de Sua vida eterna e inexaurível. "Não há nada", diz o Bem-amado, "movendo-se ou não, que possa existir sem Mim" (Bhagavad-Gita, X, 39), e a menos que o homem possa trabalhar isso em sua natureza, a menos que ele possa amar tudo o que existe, não só o belo como também o disforme, não só o bem mas também o mal, não só o atraente mas também o repulsivo, a menos que ele veja em toda a forma o Eu, ele não poderá subir a áspera vereda que o Avatara deve trilhar.

Estas são, portanto, as duas grandes características do homem que se há de tornar a manifestação especial de Deus - bhakti, amor Àquele em Quem deverá imergir, e amor àqueles cuja própria vida é a vida de Deus. Somente se isso se manifestar no homem ele estará na senda que conduz a ser - em universos futuros, em kalpas muito, muito distantes - um Avatara vindo como Deus para o homem.

Mas nesta visão sobre a natureza de um Avatara levantam-se, eu sei, dificuldades; mas são dificuldades que surgem de uma visão parcial, e então desta visão, tendo sido meramente aceita, como uma regra, sob a autoridade de algum grande nome, em vez de ter sido pensada e completamente entendida pelo homem que repete o shibboleth [espiga, em hebreu. Nos tempos antigos esta palavra, devido às suas características fonéticas, foi usada como senha para distinguir os Galaaditas dos Efrainitas, que não conseguiam pronunciá-la direito. Aqui é usado significando a cartilha ou preceitos específicos de cada escola - NT] de sua própria seita ou escola. Uma vez assumida uma visão, cada texto em Shruti [a revelação transmitida escrituralmente - NT] ou Smriti [a tradição transmitida oralmente - NT] que vai contra aquela visão tem seu significado natural distorcido, a fim de concordar com a idéia que já domina a mente. Esta é a dificuldade em todas as religiões; um homem adquire sua visão pela tradição, pelo hábito, pelo nascimento, pela opinião pública, pelo ambiente de sua própria época e momento. Ele encontra nas escrituras - que não pertencem a nenhum tempo, nenhuma época, nenhuma era, e a nenhum povo, mas são expressões do eterno Veda [revelação - NT] - ele encontra nelas muitos textos que não se enquadram na estreita moldura que ele criou; e porque excessivas vezes ele se preocupa mais com a moldura do que com a verdade, ele manipula o texto até que possa enquadrá-lo, de algum modo deslocado; e a ingenuidade do comentador excessivas vezes aparece numa feição de modo que ele pode fazer as palavras parecerem significar o que não significam em seu sentido gramatical e óbvio. Assim, os homens de todas as escolas, sob os grandiosos nomes dos que conheciam a verdade - mas que só podiam dar a parcela da verdade que os opiniáticos homens da época eram capazes de receber - usam seus nomes para avalizar interpretações errôneas, e assim continuamente são erguidos muros para bloquear a vida progressiva do homem.

Mas deixem-me tomar um exemplo de um dos maiores nomes, um que conhecia a verdade de que falava, mas que também, como todo instrutor, tinha que lembrar que enquanto era homem, falava para crianças que não poderiam compreender a verdade com entendimento adulto. Este grande instrutor, fundador de uma das três escolas de Vedanta, Shri Ramanujacharya, em seu comentário sobre o Bhagavad-Gita - uma obra inestimável que homens de todas as escolas poderiam ler com proveito - tratando da frase na qual Shri Krishna declara ter tido "bahuni janmani", muitos nascimentos, assinala quão vasta havia sido a variedade de tais nascimentos. Então, confinando-Se às Suas manifestações como Ishvara - isto é, depois de ter atingido o Supremo - Ele diz muito verdadeiramente que nasceu por Sua própria vontade; não porque o Karma O compelisse, não por qualquer força externa que O coagisse, mas que por Sua própria vontade veio como Ishvara e encarnou sob uma ou outra forma. Mas lá não é dito nada sobre os inumeráveis estágios atravessados pelo grande Ser antes de ter mergulhado no Supremo. Eles são deixados de lado, sem referência, despercebidos, porque o que o escritor tinha em vista era apresentar aos corações dos homens um grande Objeto para adoração, que poderia gradualmente elevá-los mais e mais para cima até que por sua vez o Eu pudesse desabrochar neles. Nenhuma palavra é dita sobre os kalpas anteriores, ou sobre os universos se estendendo para trás no passado ilimitável. Ele fala de Seu nascimento como Deva [nome dado aos anjos ou deuses, significa literalmente 'ser brilhante' ou 'ser que se move' - NT], como Naga [exotericamente significa serpente ou dragão, também o apelido esotérico dado aos ascetas iluminados - NT], como Gandharva [anjo da música ou do Verbo - NT], assim como as muitas formas que Ele assumiu por vontade própria. Como vocês sabem, ou podem verificar se consultarem o Shrimad-Bhagavata, há uma lista de manifestações muito mais longa do que as dez usualmente chamadas Avataras. São dadas uma após outra as formas que parecem estranhas ao leitor superficial quando associadas, no pensamento moderno, ao Supremo. Mas descobrimos uma luz sendo lançada sobre esta questão por algumas outras palavras do grande Senhor; e também encontramos em um afamado livro, cheio de sugestões ocultas - embora sem maiores explicações das sugestões dadas - o Yoga Vasishtha, uma asserção claramente definida de que as deidades, como Mahadeva, Vishnu e Brahma, todas ascenderam aos elevados postos que ocupam (Parte II, cap. II, 14-16). E bem pode ser assim mesmo, se pensarmos nisso; não há nada derrogatório a Eles neste pensamento; pois só existe uma Existência, a eterna fonte de tudo o que surge como separado, seja separado no universo como Ishvara, seja separado na cópia do universo que é o homem; só existe Um, sem um segundo; não há vida senão a Sua, nenhuma independência senão a Sua, nenhuma auto-existência senão a Sua, e nele Deuses e homens e todo o resto têm sua raiz e existem para sempre em e através de Sua vida eterna única. Diferentes estágios de manifestação, mas o Eu Único em todos os diferentes estágios, o Único vivente em tudo; e se for verdade, como de fato é, que o Eu no homem é "não-nascido, constante, eterno, antigo", o é porque o Eu no homem é uno com o Único Auto-existente, e o próprio Ishvara é somente a poderosa manifestação daquele Um que não conhece outro junto a Si. Diz um poeta Inglês:

"Ele está mais perto que a respiração, mais próximo que as mãos e os pés".

O Eu está em vocês e em mim, assim como o Eu está em Ishvara, aquele Um, eterno, imutável, incorruptível, onde cada existência manifesta é só um raio da glória. Assim, é verdade o que é ensinado no Yoga Vasishtha; verdade é que mesmo o maior, diante de quem nos ajoelhamos reverentes, em idades passadas ascendeu de toda esfera humana para tornar-se uno com o Supremo, e mesmo lá, manifestar-Se para o mundo como Deus.

Mas agora chegamos a uma distinção que encontramos já feita, e é uma distinção real. Lemos sobre um Purnavatara, um Avatara pleno, completo. Qual é o sentido do termo "pleno" aplicado a um Avatara? A denominação é dada, como sabemos, a Shri Krishna. Ele é especialmente distinguido com este nome. De fato o termo "purna" não pode ser atribuído ao Ilimitável, ao Infinito; Ele não pode ser representado sob nenhuma forma; o olho jamais O pode contemplar; somente o espírito que é Ele mesmo pode conhecer o Único. O que queremos dizer então é que a manifestação do sem forma aparece até onde é possível dentro dos limites da forma, até onde for possível ser expresso naquele grande Ser que vem para ajudar o mundo. Isto pode ajudá-los a captar a diferença. Onde a manifestação é a de um Purnavatara, então a qualquer momento do tempo, à Sua vontade, pelo Yoga ou de outra maneira, Ele pode transcender todos os limites da forma na qual habita por vontade própria, e brilhar como o Senhor do Universo, dentro de Quem todo o universo está contido. Pensem por um momento novamente em Shri Krishna, que nos ensina muito sobre isso. Consultem aquele grande repositório da sabedoria espiritual, o Mahabharata, o Ashvamedha Parva que contém o Anugita, e descobrirão que Arjuna, depois da grande batalha, esquecendo o ensinamento que lhe foi dado em Kurukshetra, pediu ao seu Instrutor para repetir aquele ensino mais uma vez. E Shri Krishna, censurando-o pela inconstância de sua mente e dizendo que desagradava-O muito que tal ensinamento fosse esquecido, por inconstância, proferiu estas palavras notáveis: "Não Me é possível dizê-lo completamente daquele modo. Eu te falei sobre o Brahman Supremo, tendo-Me concentrado em Yoga". E então prossegue, dando a essência daquele ensinamento, mas não da forma sublime como temos no Bhagavad-Gita. Esta é uma coisa que lhes demonstra o que significa um Purnavatara; numa condição de Yoga, na qual entra à vontade, Ele se reconhece como Senhor de tudo, como o Supremo em Quem o Universo é construído. Mais, três vezes pelo menos - não estou certa se pode ter havido mais casos, mas se for assim, no momento não posso lembrar - pelo menos três vezes durante Sua vida como Shri Krishna Ele Se mostra como Ishvara, o Supremo. Uma vez na corte de Dhritarashtra, quando o loucamente tolo Duryodana falou sobre aprisionar dentro das paredes de uma cela o Senhor universal a Quem o próprio universo não pode confinar; e para evidenciar selvagem estultice do príncipe arrogante, na corte, diante de todos os olhares, Ele se mostra como Senhor de tudo, preenchendo Terra e Céus com Sua glória, e todas as formas humanas e divinas, super-humanas e sub-humanas, foram vistas reunindo-se em torno d'Ele na vida de onde emergiam. Depois em Kurukshetra, para Arjuna, Seu amado discípulo, a quem Ele deu a visão divina para que ele pudesse contemplá-Lo em Sua forma Vaishnava, a forma de Vishnu, o Supremo Mantenedor do Universo. E mais tarde, em seu retorno para Dvaraka, encontrando com Utanka, Ele e o sábio acabaram por se desentender, e o sábio estava prestes a amaldiçoar o Senhor; para salvá-lo da loucura de proferir uma maldição contra o Supremo, como uma criança que atirasse um cascalho contra um rochedo de imemorial idade, Ele refulgiu diante dos olhos daquele que na verdade era Seu devoto, e mostrou-lhe a grande forma Vaishnava, a do Supremo. O que mostram estas manifestações? Que à Sua vontade Ele pode mostrar-Se como Senhor de tudo, deixando de lado os limites da forma humana na qual vivem os homens; deixando de lado a aparência tão familiar àqueles ao Seu redor, Ele pode revelar-Se como o poderoso Um, Ishvara, a vida de tudo. Este é o sinal do Purnavatara; sempre ao seu alcance está o poder de mostrar-Se como Ishvara.

Mas por que - o pensamento pode surgir em suas mentes - não são todos os Avataras deste tipo, uma vez que todos são do Senhor Supremo? A resposta é que por Sua vontade, por Sua própria Maya, Ele vela-Se dentro dos limites que servem às criaturas a quem veio ajudar. Ah, quão diferente é Ele, este Poderoso ser, de vocês e de mim! Quando falamos para alguém que sabe um pouco menos que nós, falamos tudo que sabemos para demonstrar nosso conhecimento, expandindo-nos ao máximo para espantarmos e maravilharmos aquele a quem falamos; isto porque somos tão pequenos que tememos que nossa grandeza não seja reconhecida a menos que nos façamos tão grandes a ponto de espantar, se possível, aterrorizar; mas quando Ele vem, quem é grande realmente, quem é mais poderoso do que qualquer coisa que Ele faça? Ele se faz pequeno a fim de auxiliar aqueles a quem ama. E vocês sabem, meus irmãos, que somente na medida em que Seu espírito penetra em nós é que podemos em nosso diminuto alcance nos tornar auxiliares no universo do qual Ele é a única vida; até que nós, em todos nossos atos e palavras, nos coloquemos dentro e não fora daquele a quem queremos ajudar, sentindo como ele sente, pensando como ele pensa, conhecendo por algum tempo como ele conhece, com todas as suas limitações, mesmo que possa haver maior conhecimento além, não poderemos ajudar realmente; esta é a condição para toda ajuda verdadeira dada de um homem para outro, assim como é a única condição da ajuda que é dada para o homem pelo próprio Deus.

E assim em outros Avataras, Ele limita-Se por amor dos homens. Vejam o grande rei, Shri Rama. O que ele veio mostrar? O kshattriya [guerreiro, nome de uma das castas da Índia - NT] ideal, em cada relação da vida kshattriya; como filho - perfeito como filho de um pai amoroso e de uma madrasta na época ciumenta e desagradável. Pois vocês podem lembrar que quando a esposa do pai que não era a sua mãe verdadeira expulsou-O para a floresta na própria véspera de Sua coroação como herdeiro, Sua amável resposta foi: "Mãe, eu vou". Perfeito como filho. Perfeito como marido; se Ele não tivesse Se limitado por vontade própria para demonstrar o que um esposo deveria ser para a esposa, como Ele poderia, na floresta, quando Sita havia sido raptada por Ravana, ter mostrado a dor, ter emitido os piedosos lamentos, que arrancaram lágrimas de milhares de olhos, quando ele apela para plantas e árvores, para animais e pássaros, para Deuses e homens, para que Lhe digam para onde tinha ido Sua esposa, Seu outro eu, a vida de Sua vida? Como Ele poderia ter ensinado os homens o que a esposa deveria ser para o coração do esposo, se não tivesse Se limitado? A Deidade conscientemente Onisciente não poderia buscar e procurar por Sua amada que tinha desaparecido. E depois como rei, um rei perfeito, como era um filho e esposo perfeitos. Quando o bem-estar de Seus súditos estava em jogo, quando devia pensar na segurança do reino, quando lembrava que Ele como rei representava Deus e devia ser perfeito aos olhos dos Seus súditos, de modo que eles pudessem prestar a obediência e lealdade que os homens só podem dar a alguém que reconheçam como maior que eles mesmos, então mesmo Sua esposa era posta de lado; então a prova do fogo para a imaculada e sofredora Sita; então Ela devia passar pelo teste para demonstrar que nenhum pecado ou mácula Lhe sobreviera com o toque enlouquecido de Ravana, o Rakshasa [na terminologia popular hindu, um demônio - NT]; então a demanda de que antes que o coração do esposo que havia se partido pudesse abraçar novamente a esposa Ela deveria mostrar-se pura como mulher; e tudo isto porque Ele era rei e esposo, e no trono que o povo honrava como divino só deveria haver pureza, imaculada como a neve que cai. Estas limitações foram necessárias a fim de que pudesse ser dado um exemplo perfeito aos homens, e os homens pudessem aprender a se elevar por imitação das virtudes, tornadas pequenas para que seus diminutos entendimentos pudessem compreendê-las.

Chegamos à segunda classe de manifestações, àquela a que aludi no início como estando reunidas sob o nome genérico de Avesha. Neste caso não sucede que um homem no passado tivesse ascendido e se tornado uno com Ishvara; mas que um homem subiu tanto e se tornou tão grande, tão perfeito em sua humanidade, e tão cheio de amor e devoção a Deus e ao homem, que Deus é capaz de penetrá-lo com um pouco de Sua própria influência, Seu próprio poder, Seu próprio conhecimento, e enviá-lo para o mundo como uma manifestação super-humana de Si mesmo. O Ego individual permanece; esta é a grande diferença. O homem está lá, embora o poder que esteja agindo é o Deus manifesto. Portanto a manifestação será colorida pelas características peculiares daquele sobre quem é feita esta ofuscação ['overshadowing', no original. Tem um sentido difícil de ser traduzido, significando literalmente ensombrecimento, obscuração; isto porém no que tange àquele Ego, pois na prática o efeito é o de uma inundação de luz superior que então ofusca ou suplanta a individualidade sobre a qual recai e através da qual brilha - NT]; e seremos capazes de perceber no pensamento deste instrutor inspirado, as características da raça, do indivíduo, da forma de conhecimento que pertence àquele homem na encarnação em que a grande ofuscação tem lugar. Esta é a diferença fundamental.

Mas aqui descobrimos de imediato que existem graus infinitos, variedades sem fim, e podemos seguir passo a passo para baixo na escadaria da evolução cada vez mais inferior, até chegarmos aos graus menores a que chamamos inspiração. Em um caso de Avesha isso geralmente continua por uma grande parte de sua vida, geralmente a porção final, e comparativamente só em raro é retirada. A inspiração, como geralmente é compreendida, é uma coisa mais parcial, mais temporária. O poder divino desce, ilumina e irradia o homem naquele momento, e ele fala enquanto isso com uma autoridade, com um conhecimento, que em estado normal ele seria provavelmente incapaz de manter. Estes são os profetas que têm iluminado o mundo idade após idade; estes foram, antigamente, os brâmanes [sacerdotes; a casta superior da Índia, responsável pela preservação da lei divina e das tradições e cultos - NT] que eram a boca de Deus. Assim de fato a distinção não é entre sacerdote e profeta como eu havia dito; ambos se unem na iluminação única, e o ensinamento do sacerdote e a pregação do profeta correm ao longo das mesmas linhas e apresentam as mesmas grandes verdades. Mas nos últimos tempos a distinção surgiu por falha do sacerdócio, quando o sacerdote se desvia por dinheiro, por fama, por poder, por todas as coisas que só as almas jovens deveriam se interessar - brinquedos humanos com que brincam os bebês humanos, e agem sabiamente fazendo assim, pois crescem com isso. Então os sacerdotes se tornaram formais, os profetas, mais e mais raros, até que o grande fato da inspiração foi deixado inteiramente no passado, como se Deus ou o homem se tivessem modificado, o homem já não divino em sua natureza, Deus já não querendo falar palavras para os ouvidos dos homens. Mas a inspiração é um fato em todas as etapas; e vai muito, muito mais longe do que alguns de vocês podem imaginar. A inspiração dos profetas, espiritualmente poderosa e convincente, é necessária, e eles vêm ao mundo para dar um novo impulso à verdade espiritual. Mas há uma inspiração geral que qualquer um pode compartilhar se tentar expressar a vida divina da qual nenhum homem está excluído, pois todo filho do homem é filho de Deus. Foram vocês alguma vez raptados durante um momento para os reinos superiores, mais pacíficos, quando encontraram com algo de beleza, de arte, das maravilhas da ciência, da grandiosidade da filosofia? Já perderam alguma vez de vista a pequenez da Terra, dos problemas triviais, das preocupações e aborrecimentos menores, e se sentiram erguidos para uma região mais calma, em uma luz que não é a luz da Terra comum? Já quedaram defronte de alguma pintura excepcional, onde a paleta do pintor imprimiu na tela todos os tons de formosas cores que a arte pode oferecer à visão humana? Ou já viram em alguma escultura primorosa as graciosas curvas vivas que o cinzel libertou da aspereza do mármore? Ou já ouviram quando o mais divinal encanto da música os elevou, passo a passo, até que lhes pareceu quase de ouvir cantar os Gandharvas e o som da divina flauta ser derramado ecoando nos mundos inferiores? Ou alguma vez já ficaram no alto de uma montanha com as neves ao redor, e sentiram a grandiosidade da natureza imóvel que revela Deus tanto quanto o espírito humano? Ah, se conheceram algum destes pacíficos lugares no deserto da vida, então sabem como a inspiração é onipresente; quão maravilhosamente a beleza e poder de Deus se espelham no homem e no mundo; então vocês sabem, se nunca souberam antes, da verdade daquela grande proclamação de Shri Krishna, o Bem-amado: "O que quer que seja régio, bom, belo, e grandioso, entendei que provém de Meu Esplendor" (Bhagavad-Gita, X, 41); tudo é o reflexo daquele tejas [esplendor, radiância - NE] que é Seu e só Seu. Pois não há nada no universo que seja privado de Seu amor e vida; assim não há beleza que não seja Sua beleza, que não seja um raio do esplendor ilimitado, um tênue fulgor da imorredoura fonte de vida.

SEGUNDA PALESTRA

A ORIGEM E NECESSIDADE DE AVATARAS

Irmãos: Vocês lembrarão que ontem, ao dividir o assunto em diferentes seções, eu coloquei certas questões de que trataríamos em ordem. Ontem tratamos da questão "O que é um Avatara?". A segunda questão que vamos tentar responder, "Qual é a origem dos Avataras?", é uma questão que nos conduz profundamente dentro dos mistérios do cosmos, e é preciso que pelo menos esbocemos o crescimento e evolução do cosmos a fim de darmos uma resposta inteligível. Espero hoje ser capaz também de tratar da questão seguinte, "Como surge a necessidade de Avataras?". Isto nos deixará para amanhã o tema dos Avataras especiais, e tentarei, se possível, durante o discurso de amanhã, abordar nove Avataras dos dez reconhecidos como distintos de todas as outras manifestações do Supremo. Então, se eu for capaz de cumprir esta promessa, teremos mais uma manhã livre, e esta eu proponho dedicar inteiramente ao estudo do maior de todos os Avataras, o próprio Senhor Shri Krishna, tentando, se possível, destacar as principais características de Sua vida e Sua obra, e, se puder, analisar e responder a algumas objeções dos ignorantes que, especialmente nos últimos tempos, têm sido levantadas contra Ele por aqueles que não entendem nada de Sua natureza, nada do trabalho grandioso que Ele veio completar no mundo.

Mas iniciamos hoje procurando uma resposta para a questão "Qual é a origem dos Avataras?", e é provável que eu tome uma linha de pensamento pouco familiar, como que levando-nos para fora das linhas costumeiras de nosso estudo que tratam mais da evolução do homem, da natureza espiritual nele. Ela nos leva para aqueles antiqüíssimos tempos, para nós quase incompreensíveis, quando nosso universo estava vindo à manifestação, como se fosse quando suas primeiras fundações estavam sendo lançadas. Ao respondermos à questão, contudo, a mera resposta é simples. Ela é reconhecida em todas as religiões que admitem encarnações divinas - e isso inclui as maiores religiões do mundo - e é a admissão de que a origem dos Avataras, a fonte das encarnações Divinas, é a segunda, ou intermediária, manifestação da Santíssima Trindade. Não importa se junto aos Hindus falemos da Trimurti, ou se com os Cristãos falemos da Trindade, a idéia fundamental é uma e a mesma. Tomando primeiro por um momento a simbologia Cristã, vê-se que todo Cristão nos diz que a única encarnação divina reconhecida no Cristianismo - pois no Cristianismo acredita-se em somente uma encarnação especial - é a da Segunda Pessoa da Trindade, conforme a nomenclatura Cristã para a encarnação divina ou Avatara. Nenhum Cristão lhes dirá que houve alguma vez uma encarnação de Deus Pai, a Fonte primeva da vida. Eles jamais lhes dirão que já houve uma encarnação da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo, o Espírito da Sabedoria, da Inteligência criativa, que construiu os materiais do mundo. Mas sempre dirão que foi a Segunda Pessoa, o Filho, que assumiu forma humana, que apareceu à semelhança da humanidade, que se manifestou como homem para auxiliar a salvação do mundo. E se analisarmos o que querem dizem com esta frase, o que, para a mente do Cristão, é veiculado pelo pensamento sobre a Segunda Pessoa da Trindade - pois lembrem, ao lidar com uma religião que não é a sua, deveriam procurar pensar não na forma, mas deveriam olhar para a idéia e não para o rótulo, pois os pensamentos são universais enquanto que a forma separa, as idéias são idênticas, enquanto que os rótulos são marcas de separação - se procurarem pelo pensamento subjacente, o encontrarão nisto: o sinal da Segunda Pessoa da Trindade é a dualidade; e ainda, Ela é a vida subjacente do mundo; por Seu poder os mundos são feitos, e são sustentados, mantidos, e protegidos. Verão que enquanto do Espírito da Sabedoria diz-se que instaura a ordem na desordem, traz o cosmos a partir do caos, que é pelo Verbo de Deus manifesto, ou Segunda Pessoa da Trindade, é por Ela que todas as formas são construídas neste mundo, e é especialmente à Sua imagem que o homem é feito. Então ainda quando nos voltamos para o que será mais familiar à vasta maioria de vocês, a simbologia do Hinduísmo, verão que todos os Avataras têm sua origem em Vishnu, n'Ele que penetra o universo, como implica o próprio nome de Vishnu, que significa Mantenedor, Protetor, a Vida imanente e onipenetrante pela qual o universo é mantido unido, e pela qual é sustentado. Tomando os nomes da Trimurti tão familiares a nós todos - não os nomes filosóficos Sat, Chit, Ananda, aqueles nomes que na filosofia demonstram os atributos do Brahman Supremo - tomando a idéia concreta, temos Mahadeva ou Shiva, Vishnu, e Brahma: três nomes, exatamente como nas outras religiões temos três nomes; mas ressalta o mesmo fato, de que é o intermediário ou central dos Três que é a fonte dos Avataras. Nunca houve um Avatara direto do próprio Mahadeva, ou Shiva. Aparições? Sim. Manifestações? Sim. Vindo à forma para um propósito especial servido por aquela forma? É claro. Vejam o Mahabharata, e O verão aparecendo sob a forma de caçador, o Kirata, e testando a intuição de Arjuna, e lutando com ele para testar sua força, sua coragem, e finalmente a sua devoção a Si mesmo. Mas esta é uma mera forma assumida com um propósito e deposta quando o propósito é cumprido; quase, diríamos, uma mera ilusão, produzida para servir a um propósito especial e então descartada ao completar-se o que foi planejado para que fizesse. Repetidas vezes se encontram tais aparições de Mahadeva. Vocês podem lembrar de uma belíssima história, na qual Ele aparece na forma de um Chandala [um pária, equivalente a um lixeiro - NE] no portão de Sua própria cidade de Kashi, quando um que foi especialmente ofuscado por uma manifestação de Si mesmo, Shri Shankaracharya, estava chegando com seus discípulos à cidade santa - pois para Ele todas as formas são o mesmo, as diferenças humanas não passam de grãos de areia que se desvanecem diante da majestade de Sua grandeza - Ele jogou-Se no pó diante do portão, de modo que o grande instrutor não pudesse atravessá-lo sem tocar n'Ele, e ele pediu ao Chandala para abrir caminho a fim de que o brâmane pudesse prosseguir sem poluir-se pelo toque do pária; então o Senhor, falando através da forma que escolhera, censurou aquele mesmo indivíduo que Seu poder ofuscara, fazendo-lhe perguntas que ele não pôde responder, esmagando seu orgulho e ensinando-lhe assim a humildade. Tais formas Ele realmente assumiu, mas não são o que chamamos Avataras; são meras formas passageiras, e não manifestações sobre a Terra onde é vivida uma vida e uma grande drama é encenado. Do mesmo modo com Brahma; também Ele apareceu de tempos em tempos, manifestou-Se para algum propósito especial; mas não há nenhum Avatara de Brahma, a quem pudéssemos aplicar este termo definido e bem compreendido.

Mas para este fato deve haver alguma razão. Por que é que não encontramos a origem dos Avataras igualmente em todas estas grandes manifestações divinas? Por que eles provêm só de um aspecto, o aspecto de Vishnu? Não preciso lhes lembrar que só existe um Eu, e que estes nomes que empregamos são os nomes dos aspectos que são manifestos pelo Supremo; não devemos separá-los tanto a ponto de perder de vista a unidade fundamental. Pois lembrem como, quando um adorador de Vishnu teve um sentimento em seu coração contra um adorador de Mahadeva, quando ele fez uma reverência diante da imagem de Hari, a face da imagem se dividiu em duas, e Shiva ou Hara apareceu em um lado e Vishnu ou Hari apareceu no outro, e as duas, sorrindo como uma só face para o adorador confundido, disseram-lhe que Mahadeva e Vishnu eram um só. Mas em Suas funções surge uma distinção; Elas se manifestam como se fosse ao longo de linhas diferentes, no cosmos e para o auxílio do homem; para Ele não, mas para nós, realmente surgem estas linhas de aparente separação.

Olhando assim, seremos capazes de encontrar a resposta para nossa questão, não somente quem é a origem dos Avataras, mas por que Vishnu é a origem. E é aqui que eu chego à parte não familiar, onde eu terei de lhes pedir sua especial atenção ao considerar a construção do universo. Agora estou usando a palavra "universo" no sentido de nosso sistema solar. Há muitos outros sistemas, cada qual completo em si mesmo e, portanto, corretamente chamado de um cosmos, um universo. Mas cada um destes sistemas por sua vez é parte de um sistema ainda mais grandioso, e nosso Sol, o centro de nosso sistema, embora seja em verdade o corpo físico manifesto do próprio Ishvara, não é o único sol. Se vocês olharem através dos vastos campos do espaço, lá estarão miríades de sóis, cada um o centro de seu próprio sistema, de seu próprio universo; e nosso Sol, supremo para nós, é como se não passasse de um planeta num sistema mais vasto, e sua órbita gira em torno de um sol maior que ele mesmo. Então aquele sol, por sua vez, em torno do qual nosso Sol está girando, é um planeta para um sol ainda mais grandioso, e cada conjunto de sistemas por sua vez circula em torno de um sol mais central, e assim por diante - não sabemos até onde pode se estender esta cadeia que para nós é ilimitável: pois quem é capaz de sondar as profundezas e altitudes do espaço, ou encontrar uma circunferência manifesta que abranja todos os universos! Antes podemos dizer que eles são infinitos em número, e que não há fim para as manifestações da Vida única.

Mas isso é verdadeiro fisicamente. Olhem para o universo físico com o olho do espírito, e verão nele uma imagem do universo espiritual. Uma grande instrução foi dada por um dos Mestres ou Rishis, a Quem nesta Sociedade honramos e cujos ensinos seguimos. Falando a um de Seus discípulos, ou pupilos, Ele censurou-o, em palavras inesquecíveis para aqueles que as leram: "Você sempre olha para as coisas do espírito com os olhos da carne. O que você deveria fazer é olhar para as coisas da carne com os olhos do espírito". Mas o que isto significa? Significa que em vez de tentarmos degradar o espiritual e limitá-lo dentro das estreitas amarras do físico, e falar que o espiritual não pode existir porque o cérebro humano não é capaz de captá-lo com clareza, nós deveríamos olhar o universo físico com uma penetração mais profunda e ver nele a imagem, a sombra, o reflexo do mundo espiritual, e aprender as verdades espirituais pelo estudo das imagens que existem dele no mundo físico ao nosso redor. O mundo físico é mais fácil de entender. Não pensem que o mundo espiritual é modelado a partir do físico; o físico é fundamentalmente modelado a partir do espiritual, e se olharem para o físico com o olho do espírito, então vocês descobrirão que ele é a imagem do superior, e então vocês serão capazes de compreender a verdade mais elevada pelo estudo dos pálidos reflexos que vêem no mundo em seu redor. Isto é o que lhes peço agora para fazer. Exatamente como se têm sol e sóis, muitos universos, cada um parte de um sistema maior que ele mesmo, também no universo espiritual há hierarquia após hierarquia de Inteligências espirituais que são como os sóis do mundo espiritual. Nosso sistema físico tem como seu centro a grande Inteligência espiritual manifesta como uma Trindade, o Ishvara do sistema. Então além d'Ele existe um Ishvara maior, em torno de Quem circulam Aqueles que estão no nível do Ishvara de nosso sistema, vendo-O como Sua vida central. E além d'Aquele há ainda outros e outros, até que os universos físicos passem para além de nosso entendimento, a hierarquia espiritual se estenda também além de nosso pensamento e, maravilhados e cegos pelo esplendor, caiamos de volta à Terra, assim como Arjuna, cego quando a forma Vaishnava resplandeceu para ele, e exclamamos: "Oh, mostra-nos novamente Tua forma mais limitada, para que possamos reconhecê-la e viver por ela. Ainda não estamos prontos para as manifestações mais grandiosas, estamos cegos, desvalidos, por fulgor tamanho de esplendor divino!".

E assim vemos que se formos aprender devemos nos limitar - melhor, devemos tentar nos expandir - até os limites de nosso próprio sistema. Por quê? Tenho encontrado pessoas que realmente não têm a menor idéia sequer deste pequeno mundo, deste grão de pó em que vivem, mas que não podem se contentar a não ser que você responda a questões sobre a Existência Única, o Para-Brahma, a Quem os sábios reverenciam em silêncio, sem tentar explicar nem com a mente iluminada que conhece a vida nirvânica e se expandiu até a consciência nirvânica. Quanto mais ignorante o homem, mais ele pensa que consegue entender. Quanto menos compreende, mais se ressente se lhe dizem que há certas coisas além do alcance do seu intelecto, existências tão grandiosas que ele não pode sequer sonhar com mesmo os menores dos atributos que as caracterizam. E de minha parte, eu que me reconheço ignorante, que sei que podem passar muitas eras antes que eu seja capaz de pensar em tratar destes problemas tão profundos, às vezes aquilato a ignorância do questionador pelas perguntas que ele me faz sobre as derradeiras existências, e quando ele quer saber sobre o que ele chama de origens primevas, sei que ele não compreendeu nem um milésimo da origem da qual ele mesmo veio. Portanto, digo-lhes francamente que estes Seres grandiosos a Quem reverenciamos são os Deuses de nosso sistema; além d'Eles existem Seres ainda mais grandiosos, a Quem, talvez, daqui a miríades de kalpas possamos começar a entender e reverenciar.

Confinemo-nos então ao nosso próprio sistema e fiquemos felizes se pudermos apanhar algum raio da glória que o ilumina. Vishnu tem Suas próprias funções, assim como as têm Brahma e Mahadeva. O primeiro trabalho neste sistema é feito pelo Terceiro dos Grandes Seres da Trimurti, Brahma, como sabem, pois vocês hão de ter lido que a Inteligência criativa surgiu como a Terceira das manifestações divinas. Não me importo com qual simbologia estejam tomando, talvez a do Vishnu Purana seja a mais familiar, onde o Vishnu não-manifesto está debaixo das águas, aparecendo como o Primeiro da Trimurti, então o Lótus como o Segundo, e o Lótus aberto representado Brahma, o Terceiro, a Mente criativa. Pode-se lembrar que a obra da criação começou com Sua atividade. Quando estudamos do ponto de vista oculto no que consistia esta atividade, descobrimos que consistia em impregnar a matéria do sistema solar com Sua própria vida; que Ele deu Sua própria vida para construir forma após forma de átomos, para fazer as grandes divisões no cosmos; que Ele formou, um após outro, os cinco tipos de matéria. Trabalhando através de Sua mente - às vezes Ele é chamado de Mahat, o grande Ser, a Inteligência - Ele formou Tattvas um após outro. Tattvas, vocês lembrarão do ano passado, são os fundamentos dos átomos, e há cinco deles manifestos no presente. Este é Seu trabalho específico. Então Ele medita, e as formas - como pensamentos - surgem. E assim se pode dizer que Seu trabalho manifesto termina, embora Ele mantenha sempre a vida do átomo. Até onde interessa ao trabalho ativo do cosmos, Ele abre caminho para a próxima das grandes forças que deve operar, a força de Vishnu. Seu trabalho é reunir aquela matéria que foi criada, modelada, preparada, vivificada, e construí-la sob formas definidas segundo as idéias criativas produzidas pela meditação de Brahma. Vishnu dá à matéria uma força coesiva; Ele lhe dá as energias que mantêm as formas íntegras. Nenhuma forma existe sem Ele, seja móvel ou imóvel. Quão freqüentemente Shri Krishna, falando como o Supremo Vishnu, enfatiza este fato de que Ele é a vida em cada forma; sem ela a forma não poderia existir, sem ela a forma retornaria aos seus elementos primitivos e já não se manteria como forma. Ele é a vida onipresente; "Sustentador do Universo" é um de Seus nomes. Mahadeva tem uma função diferente no universo; Ele é especificamente o grande Yogi; Ele é especificamente o grande Instrutor, o Mahaguru; Ele é chamado às vezes de Jagatguru, o Instrutor do Mundo. Repetidamente - tomando um exemplo comparativamente mais recente, como o Gurugita - encontramo-Lo como o Instrutor, a Quem Parvati solicita instrução sobre a natureza do Guru. Ele é Quem define o trabalho do Guru, Ele é Quem inspira o ensino do Guru. Cada Guru na Terra é um reflexo de Mahadeva, e é a Sua vida o que lhe é incumbido dar ao mundo. Yogi, imerso em contemplação, sempre assumindo a forma de asceta - isto caracteriza Suas funções. Pois os símbolos pelos quais os grandes Seres são representados nos ensinamentos não são destituídos de significado, mas estão repletos do mais profundo sentido. E quando O vemos representado como o eterno Yogi, com a corda em Sua mão, sentado em contemplação ascética, isto significa que Ele é o ideal supremo de vida ascética, e que os homens que estão especialmente sob Sua influência devem deixar casa, família e as linhas normais de evolução, e dedicar-se a uma vida de renúncia, para participarem, por mais fracamente que seja, naquele poderoso yoga pelo qual o universo é mantido vivo.

Ele então não Se manifesta como Avatara, mas tais manifestações provêm d'Ele que é o Deus, o Espírito, da evolução, Aquele que faz evoluírem as formas todas. Eis porquê de Vishnu provêm todos os Avataras. Pois é Ele que por Seu amor infinito reside em todas as formas que criou; com uma paciência que nada pode exaurir, com um amor que não pode cansar-se, com uma tranqüila e calma perseverança que nenhuma sandice humana pode perturbar de sua paz eterna. Ele vive em cada forma, modelando-a segundo o modelo, desenhando-a como ela se seguisse ao Seu impulso, atando-Se, limitando-Se a fim de que Seu universo possa crescer, Senhor da vida e beatitude eternas, morando em cada forma. Se compreenderem isto, não será difícil dizer o motivo por que só d'Ele vêm os Avataras. Quem mais assumiria uma forma senão Aquele que dá forma? Quem mais trabalharia com este interminável amor senão Ele, que enquanto dura o universo, une-Se a ele para que o universo possa viver e enfim participar de Sua liberdade? Ele está atado para que o universo possa libertar-se. Quem mais, então, apareceria quando surge uma necessidade especial?

E Ele é Quem dá os grandes protótipos. Deixem-me lembrá-los do Shrimad-Bhagavata, onde, num dos primeiros capítulos do Livro I, o capítulo 3, é dada uma longa lista das formas que Vishnu assumiu, não somente os grandes Avataras, mas também um grande número de outras. É dito que Ele apareceu como Nara e Narayana; é dito que Ele apareceu como Kapila; tomou também formas femininas, e assim por diante, sendo dada toda uma enorme lista das formas que assumiu. E, passando daí para uma iluminadora passagem no Mahabharata, O encontramos sob a forma de Shri Krishna, explicando uma verdade profunda a Arjuna.

Lá Ele dá a lei desta aparições: "Quando, oh filho de Pritha, Eu vivo nas hostes das deidades, então lá Eu ajo em todos os sentidos como uma deidade. Quando Eu vivo nas fileiras dos Gandharvas, então Eu ajo em todos os sentidos como um Gandharva. Quando Eu vivo na ordem dos Nagas, Eu ajo como um Naga. Quando Eu vivo nas classes dos Yakshas [um tipo de demônio - NT], ou nas dos Rakshasas, Eu atuo segundo a maneira daquelas classes. Nascido agora na ordem da humanidade, Eu devo agir como um ser humano". Uma verdade profunda que poucos nos tempos modernos reconhecem. Cada tipo de vida no universo, em seu próprio lugar, é bom; toda espécie no universo, em seu lugar próprio, é necessária. Não há vida exceto a Sua; como então poderia algum tipo vir à existência separado da vida universal, se separado nada pode existir?

Nós falamos em formas boas e más, e corretamente, a respeito de nossa própria evolução. Mas do ponto de vista mais amplo do cosmos, bom e mau são termos relativos, e tudo é muito bom na visão do Supremo que vive em cada uma. Como poderia um tipo vir à existência se Ele não viver nele? Como poderia qualquer coisa viver e se mover, se não tivesse seu ser n'Ele? Cada tipo tem sua função; cada tipo tem seu lugar; o tipo dos Rakshasas e o tipo dos Devas, dos Asuras e dos Suras. Deixem-me dar um curioso e simples exemplo, que não obstante tem certa força ilustrativa. Você tem uma vara que deseja mover, e a vara está num pino, como a montanha que surge no meio do oceano, uma vara com duas extremidades, que chamaremos positiva e negativa. O lado positivo, diríamos, é empurrado para o lado do rio [o rio que passa diante da sede da Sociedade Teosófica em Adyar - NE]. O lado negativo é empurrado para que lado? O oposto. E os que a empurram têm suas faces voltadas para a direção oposta. Um homem olha para o rio, o outro homem volta suas costas para ele, olhando para direções opostas. Mas a vara gira em uma direção, embora eles empurrem em direções opostas. Eles estão trabalhando em torno do mesmo círculo, e a vara gira mais rápido porque é empurrada em suas duas extremidades. Esta é uma imagem do nosso universo. A força positiva chamamos Deva ou Sura; sua face é voltada, parece, para Deus. A força negativa chamamos Rakshasa ou Asura; sua face, parece, está voltada para longe de Deus. Mas não! Deus está em todas as partes, em cada ponto do círculo sobre onde andam; e eles andam neste Seu círculo e cumprem Sua vontade e nada além disto; e tudo, enfim, encontra repouso n'Ele.

Portanto o próprio Shri Krishna pode encarnar-Se sob forma de Rakshasa, e enquanto naquela forma Ele agirá como Rakshasa e não como Deva, fazendo aquela parte da obra divina com a mesma perfeição com que faz a outra, a que os homens em sua limitação chamam de boa. Uma grande verdade difícil de captar. Logo deverei voltar a isto ao falar de Ravana, um dos mais poderosos tipos de Rakshasa, senão o maior deles. E veremos, se pudermos acompanhar, como a verdade profunda atua. Mas se nas mentes de alguns de vocês houver alguma hesitação em aceitar isto, lembrem-se, de que as palavras que leio não são minhas, mas são as do Senhor que falou de Sua própria encarnação; Ele deixou registrado, para sua instrução, que Ele encarnou-Se em forma de Rakshasa e agiu segundo a maneira daquela ordem.

Deixando isto de lado por enquanto, há um outro ponto que devo abordar, antes de falar da necessidade de Avataras, e é este: quando as grandes Deidades centrais já se manifestaram, então surgem d'Elas sete Deidades, poderíamos dizer, numa segunda ordem. Na Teosofia Elas são chamadas de os Logoi planetários, para distinguí-las do grande Logos solar, a Vida central. Cada uma d'Elas está associada com um dos sete planetas sagrados, e com a cadeia de mundos relacionada com aquele planeta. Nosso mundo é um dos elos nesta cadeia, e vocês e eu passamos por esta cadeia em encarnações sucessivas nas grandes etapas da vida. O mundo - nosso mundo atual - é o globo central de uma destas cadeia. Um Logos da ordem secundária preside sobre a evolução desta cadeia de mundos. Ele apresenta três aspectos, reflexos dos grandes Logoi que estão no centro do sistema. Talvez já tenham lido sobre o lótus de sete pétalas, o Saptaparnapadma; visto com a visão superior, contemplado com a visão aberta do vidente, este grandioso grupo de Seres criativos e dirigentes se parece como o lótus com suas sete pétalas, e os Grandes Seres são o coração do lótus. É como se pudéssemos ver uma grande flor estendida no espaço, as pontas das sete pétalas sendo as poderosas Inteligências que presidem à evolução das cadeias de mundos. Aquele símbolo do lótus não é mero símbolo, mas uma excelsa realidade, como vista naquele estupendo mundo de onde o símbolo foi tomado pelos sábios. E porque os grandes Rishis do passado viram com o olho aberto do conhecimento, viram a flor de lótus aberta no espaço, eles a tomaram como símbolo do cosmos, o lótus com suas sete pétalas, cada uma um poderoso Deva presidindo sobre uma linha distinta de evolução. Nós estamos primariamente interessados em nosso próprio Deva planetário e, através d'Ele, nos grandes Devas do sistema solar.

Porém a razão para eu mencionar isto é para elucidar uma palavra que tem confundido muitos estudantes. Mahavishnu, o grande Vishnu, por que este epíteto particular? O que significa quando é usado? Significa o grande Logos solar, Vishnu em sua natureza essencial: mas há um reflexo de Sua glória, um reflexo de Seu poder, de Seu amor, em conexão mais imediata conosco e com nosso próprio mundo. Ele é Seu representante, como um vice-rei pode representar o rei. Alguns dos Avataras encontraremos vindo de Mahavishnu através do Logos planetário, que está ligado à nossa evolução e a evolução do mundo. Mas o Purnavatara de que falei ontem vem diretamente de Mahavishnu, sem intermediário entre Ele mesmo e o mundo que Ele vem ajudar. Eis outra diferença entre o Purnavatara e aqueles mais limitados, que não pude mencionar ontem, porque as palavras então usadas teriam sido incompreensíveis. Veremos amanhã, quando tratarmos dos Avataras Matsya, Kurma, e outros, que estes Avataras específicos, ligados à evolução de certos protótipos no mundo, vêm de Mahavishnu indiretamente, e o fazem através da mediação de Seu poderoso representante para nossa cadeia, a magnificente Inteligência que veicula Seu amor e ministra Sua vontade, e é o canal de Seu poder onipenetrante e sustentador. Quando estudarmos Shri Krishna veremos que não há intermediário. Ele permanece como o próprio Supremo. E enquanto que nos outros casos existe a Presença que pode ser reconhecida como intermediária, Ela está ausente no caso do grande Senhor da Vida.

Deixando isso então para elaboração futura amanhã, tentemos responder à próxima questão, "Como surge a necessidade de Avataras?", porque nas mentes de alguns, mui naturalmente, a dificuldade surge de fato. A dificuldade que muitas pessoas inquiridoras sentem pode ser formulada assim: "Certamente todo o plano do mundo está na mente do Logos desde o início, e certamente não podemos supor que Ele trabalha como um operário humano, sem entender por inteiro aquilo a que Se dedica. Ele deve ser tanto o arquiteto quanto o construtor; Ele deve fazer o plano tanto quanto o executar. Ele não é como o pedreiro que põe uma pedra na parede onde lhe dizer para por, e nada sabe da arquitetura do edifício ao qual dá sua contribuição. Ele é o mestre-construtor, o grande arquiteto do universo, e tudo no plano deste universo deve estar em Sua mente antes mesmo que o universo comece. Mas sendo assim - e não podemos pensar de outra maneira - como é que surge a necessidade de uma intervenção especial? A circunstância de uma intervenção especial não implica o surgimento de alguma dificuldade não prevista? Se deve haver algum tipo de interferência na execução do plano, não pareceria que no plano original certas forças teriam sido desconsideradas, algumas dificuldades não teriam sido vistas, algo teria surgido cuja preparação não teria sido feita? E se não for assim, por que a necessidade de interferência, que parece ter sido realizada para enfrentar um acaso imprevisto?". Uma questão natural, razoável e perfeitamente legítima. Tentemos respondê-la. Não acredito em desviar diante de dificuldades; é melhor olhá-las de frente, e ver se é possível uma resposta.

E a resposta vem seguindo três linhas diferentes. Há três grandes classes de fatos, cada uma contribui para a necessidade, e cada uma, prevista pelo Logos, é definidamente preparada como necessitando de uma manifestação especial.

A primeira destas linhas surge do que eu talvez chamasse de a natureza das coisas. Eu salientei no início desta palestra o fato de que nosso universo, nosso sistema, é parte de um grande todo, não separado, não independente, não principal, em uma escala comparativamente baixa no universo, sendo nosso Sol um planeta em um sistema mais vasto. Mas no que isto implica? No que concerne à matéria, Prakriti, implica que nosso sistema é construído de matéria já existente, de matéria dotada de certas propriedades, de matéria espalhada por todo o espaço, e da qual cada Logos toma seus materiais, modificando-os de acordo com Seu próprio plano e de acordo com Sua própria vontade. Quando falamos de Mulaprakriti, a base da matéria, não queremos dizer que ela exista como a matéria que conhecemos. Nenhum filósofo, nenhum pensador sonharia em dizer que o que existe por todo o espaço é idêntico à matéria de nosso próprio sistema solar elementar. Ela é a raiz da matéria, aquilo de que todas as formas de matéria são meramente modificações. O que isto implica? Implica que nosso grande Senhor, que trouxe nosso sistema solar à existência, está tomando matéria que já tem certas propriedades conferidas a ela por um Ser ainda maior que Ele mesmo. Nesta matéria os três gunas [propriedades na matéria, a saber: Sattva, Rajas e Tamas, ou, grosseiramente falando, pureza e clareza, ímpeto e paixão, e inércia e tenebrosidade - NT] existem em equilíbrio, e é o alento do Logos que os tira do equilíbrio, suscita o impulso pelo qual nosso sistema é trazido à existência. Deve haver uma ruptura no equilíbrio, pois equilíbrio significa Pralaya, onde não há movimento, nem manifestação alguma de vida e forma. Quando aparecem a vida e a forma, o equilíbrio deve ter sido perturbado, e deve ser liberado um impulso pelo qual o mundo seja construído. Mas no momento em que se capta esta verdade vê-se que deve haver certas limitações em virtude do próprio material sobre o qual a Deidade está trabalhando para fazer o sistema. É verdade que quando fora do sistema, quando não condicionada e confinada e limitada por ele, como o é por Sua graciosíssima vontade, é verdade que Ela deve ser a Senhora desta matéria em virtude de Sua união com a Vida ainda maior por trás; mas quando para a construção do mundo Ela Se limita em Sua Maya, então Ela deve trabalhar dentro das condições dos materiais que limitam Sua atividade, como nos é dito repetidas vezes.

Mas quando, na contínua interação de Sattva, Rajas e Tamas, Tamas assume a predominância, auxiliado e como que trabalhado por Rajas, de modo que predominem sobre Sattva na evolução prevista, quando os dois combinados sobrepujam o terceiro, quando a força de Rajas e a inércia e apatia de Tamas se combinam, impedem a atuação, a harmonia, as qualidades que concedem prazer de Sattva, então surge uma das condições nas quais o Senhor vem para restaurar o que foi perturbado na interação equilibrada dos três gunas, e para restaurar o equilíbrio entre eles para possibilitar que a evolução prossiga suavemente e não seja impedida em seu progresso. Ele restabelece o equilíbrio de poder que dá movimento ordenado, tendo sido a ordem perturbada pela cooperação dos dois em oposição ao terceiro. Nestes atributos fundamentais da matéria, os três gunas ficam como a primeira razão para a necessidade de Avataras.

A segunda necessidade tem a ver com o próprio homem, e agora, na segunda e terceira, voltamos à questão do bem e do mal, da qual eu já falei. Ishvara, quando veio para tratar da evolução do homem - digo-o com toda reverência - teve uma tarefa mais árdua a desempenhar do que na evolução das formas inferiores de vida. Nelas a lei é imposta e elas devem obedecer aos seus impulsos. No mineral a lei é compulsória; todo mineral se move de acordo com a lei, sem interpor nenhum impulso próprio para atuar contra a vontade do Um. No mundo vegetal a lei é imposta, e todas as plantas crescem de modo ordenado de acordo com a lei interna, desenvolvendo-se sempre segundo a feição de seu tipo, não interpondo nenhum impulso próprio. E mais, no mundo animal - excetuando-se talvez seus membros mais evoluídos - a lei ainda é uma força que sobrepuja todo o resto, afastando tudo de seu caminho, abarcando todas as coisas vivas. Uma roda girando na estrada poderia carregar consigo em seu eixo uma mosca que acontecesse de pousar lá; ela não põe nenhum obstáculo ao giro da roda. Se a mosca passa para a circunferência da roda e se opõe ao seu movimento, é esmigalhada sem abalar sequer minimamente a roda que prossegue, e a forma desaparece da existência, e a vida assume outras formas.

Assim é a roda da lei nos três reinos inferiores. Mas com o homem não é assim. No homem Ishvara dispõe-Se a produzir uma imagem de Si mesmo, o que não é o caso dos reinos inferiores. Na evolução da vida apareceu força após força, e no homem começa a aparecer a vida central, pois é chegado o tempo da evolução do poder soberano da vontade, o movimento auto-iniciado que é parte da vida do Supremo. Não me entendam mal - pois o assunto é sutil; há somente uma vontade no universo, a vontade de Ishvara, e tudo deve conformar-se àquela vontade, tudo é condicionado por aquela vontade, tudo deve se mover de acordo com aquela vontade, e aquela vontade assinala a trilha estreita da evolução. Não pode haver desvio nem para a direita e nem para a esquerda. Só existe uma vontade que neste aspecto nos parece livre, pois não obstante que nossa vida seja a vida do próprio Ishvara, não obstante que haja só um Eu e este Eu seja de vocês e meu assim como é d'Ele - pois Ele nos deu Seu próprio Eu para ser nosso Eu e nossa vida - em algum estágio desta estupenda evolução deve evoluir aquele régio poder de vontade que é visto n'Ele. E do Atma em nós, que é Ele mesmo em nós, flui a vontade soberana dentro dos invólucros nos quais o Atma existe como se fosse contido. Mas o que ocorre é isto: a força passa pelas formas e lhes dá algo de sua própria natureza, e cada forma começa a apresentar um reflexo da vontade por sua própria conta, e encontramos o "eu" do corpo que quer seguir este caminho, e o "eu" da paixão ou emoção que quer seguir aquele caminho, e o "eu" da mente que quer ir por um terceiro caminho, e nenhum destes caminhos é o caminho do Atma, o Supremo. Estas são as vontades ilusórias do homem, e há um modo pelo qual se pode distinguí-las da vontade verdadeira. Cada uma delas é determinada em sua direção por atração externa; o corpo do homem quer se mover em um caminho especial porque algo o atrai, ou algo o repele: ele se move para o que lhe agrada, o que lhe é semelhante, ele move-se para longe do que lhe desagrada, daquilo de onde sente-se repelido. Mas este movimento do corpo é apenas movimento determinado como se fosse pelo Ishvara externo, antes do que pelo Ishvara interno, pelo cosmos de entorno e não pelo Eu interior, que não adquiriu sua maestria sobre o cosmos. Do mesmo modo a respeito das emoções ou paixões: elas são levadas para este ou aquele caminho pelos objetos dos sentidos, e "os sentidos se movem em função de seus objetos próprios"; não é o "Eu" que se move. E assim também com a mente. "A mente é inconstante e inquieta, oh Krishna, ela parece tão difícil de domar quanto o vento", e a mente faz com que os sentidos vão em busca de objetos como um cavalo que rebentou seus arreios abala carregando seu condutor inábil. Todas estas forças existem; e existe ainda uma coisa mais a ser lembrada. Aquelas forças fortalecem o guna rajásico e contribuem para produzir aquela predominância de que falei; todos estes desejos temerários que não estão de acordo com a vontade una são embora necessários a fim de que a vontade possa evoluir e a fim de treinar e desenvolver o homem.

Vocês dizem 'por quê'? Como aprenderíamos o certo se não conhecemos o errado? Como escolheríamos o bem se não conhecemos o mal? Como reconheceríamos a luz se não houvesse escuridão? Como nos moveríamos se não houvesse resistência? As forças que são chamadas tenebrosas, as forças dos Rakshasas, dos Asuras, de tudo o que parece estar trabalhando contra Ishvara - são estas forças que despertam a força interna do Eu no homem, lutando com elas as forças do Atma no homem são desenvolvidas, e sem elas ele permaneceria em pralaya para sempre. Onde não há movimento é um poço perfeitamente estagnado, e ali encontramos corrupção, e não vida. A evolução da força pode somente acontecer pela luta, pelo combate, pelo esforço, pelo exercício, e já que Ishvara está construindo homens e não bebês, Ele deve suscitar as forças humanas contrapondo-se a elas, fazendo-as combater a fim de que sejam conseguidas, e assim vivificando em manifestação externa a vida que doutro modo permaneceria encapsulada em si mesma. Na semente a vida está oculta, mas não crescerá se deixarmos a semente sozinha. Coloque-a aqui nesta mesa, e volte daqui a um século, e, se a encontrar, será ainda uma semente e nada mais. Assim é o Atma no homem antes que a evolução e a luta comecem. Plante sua semente no chão, de modo que as forças do solo atuem sobre ela, e os raios do sol vindos de fora imprimam vibrações que a influenciem, e a água da chuva passe através do solo até ela e a force a germinar - então a semente começa a crescer; mas assim que começa a crescer encontra a terra em volta. Como ele cresceria a não ser empurrando-a e assim manifestando as energias da vida que estão dentro de si? E contra a oposição do solo as raízes se estendem, e contra a oposição do solo a gema de crescimento se alevanta, e pela oposição do solo evoluem as forças que fazem a semente crescer, e a plantinha emerge do chão. Então o vento chega e sopra e tenta derrubá-la, e, a fim de poder viver e não perecer, ela lança suas raízes mais fundo e consegue sustentar-se melhor contra as forças destruidoras do vento, e assim a árvore cresce contra as forças que tentar derrubá-la. E se estas forças não existissem, não haveria nenhum crescimento da raiz. Do mesmo modo com a raiz de Ishvara, a vida em nós; onde tudo em nosso redor fosse suave e fácil, ficaríamos indolentes, letárgicos, indiferentes. É o chicote da dor, do sofrimento, do desapontamento, que nos conduz para diante e desperta as forças de nossa vida interna, que de outro modo não se desenvolveriam. Vocês querem que um homem cresça? Então não o joguem num sofá com almofadas de todos os lados, nem lhe tragam comida para dá-la em sua boca, de modo que ele não mova os membros nem exercite a mente. Lancem-no em um deserto, onde não há comida nem água para encontrar; deixem o sol arder sobre sua cabeça, o vento soprar contra ele; deixem sua mente descobrir como atender às necessidades do corpo, e o homem crescerá como um homem e não como um pedaço de lenha. Eis o porquê de existirem forças que chamamos de más. Neste universo não existe o mal; tudo o que nos vem de Ishvara é bom, mas às vezes vem disfarçado de mal para que, opondo-nos a ele, possamos desenvolver nossa força. Então começamos a entender que estas forças são necessárias, e que elas estão dentro do plano de Ishvara. Elas testam a evolução, elas fortalecem a evolução, de modo que ela não dê um passo adiante até que tenha foça suficiente para manter-se, firmando um pé pela oposição antes de adiantar o outro. Mas quando, pelas vontades conflitantes do homem, as forças que trabalham para o atraso, que seguram um homem atrás até que ele seja capaz de suplantá-las e prosseguir, quando elas ficam tão fortes com os desejos irrefreados do homem que elas como que começam a ameaçar seu progresso, então antes que este impasse se instale, há o fortalecimento do outro lado: a presença do Avatara das forças que ameaçam a evolução invoca a presença do Avatara que conduz ao progresso da humanidade.

Chegamos à terceira causa. O Avatara não vem sem um chamado. A Terra, diz-se, está muito pesada com a carga do mal, e os Devas vêm e gritam "Salva-nos, oh Senhor Supremo!". Em resposta a este grito o Senhor vem. Mas o que é aquilo que propositalmente chamei de um nome estranho para atrair sua atenção, dizendo um Avatara do mal? Pela vontade do Supremo Único, existe um ser encarnado sob uma forma que reúne as forças que atuam para o retardo, a fim de que, assim reunidas, possam ser destruídas pela força opositora do bem, e assim o equilíbrio possa ser restabelecido e a evolução proceda ao longo de seu caminho indicado. Os Devas trabalham pela alegria, a recompensa do Céu. Sua morada é Svarga, e eles servem o Supremo pelas alegrias que têm. Os Rakshasas também O servem, primeiro pelo poder na Terra, e o poder de obter e manter e fruir o que quiserem neste mundo inferior. Ambos os lados servem pela recompensa, e são movidos pelas coisas que lhes agradam.


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