O HOMEM
PERFEITO: UM ELO NA CORRENTE DA EVOLUÇÃO
Há uma
etapa, na evolução humana, imediatamente anterior à meta do esforço
humano, que, uma vez atravessada, o homem, enquanto homem, não tem mais nada
a realizar. Ele torna-se perfeito; sua carreira humana terminou. As grandes
religiões dão nomes diferentes a esse Homem Perfeito, mas, qualquer que seja
o nome, o conceito é o mesmo; Ele é Mitra, Osíris, Krishna, Buda ou Cristo,
mas sempre simboliza o Homem que se tornou perfeito. Ele não pertence a uma
única religião, nação ou família humana; não está limitado por um
único credo; em todo lugar ele é o mais nobre, o mais perfeito ideal. Todas
as religiões o proclamam; todos os credos têm nele sua justificação; ele
é o ideal pelo qual se esforçam todas as crenças, e cada religião cumpre
sua missão com maior ou menor eficiência, conforme a claridade com que
ilumina e a precisão com que ensina o caminho pelo qual ele pode ser
alcançado.
O nome de
Cristo, atribuído ao Homem Perfeito pelos Cristãos, designa mais um estado
do que o nome de um homem. "Cristo em você, a esperança da
glória", é o pensamento do mestre Cristão. Os homens, no longo
percurso da evolução, atingem o estado de Cristo, pois todos concluem com o
tempo a peregrinação secular, e aquele que especialmente no Ocidente está
conectado a esse nome é um dos "Filhos de Deus", que atingiram o
objetivo final da humanidade. A palavra sempre trouxe consigo a conotação de
um estado: "o sagrado". Todos devem atingir esse estado: "Olhai
dentro de ti; tu és Buda". "Até que o Cristo surja em ti".
Assim como
aquele que deseja tornar-se músico, deveria ouvir as obras-primas dessa arte
e mergulhar nas melodias dos grandes mestres da música, deveríamos nós,
filhos da humanidade, erguer nossos olhos e nossos corações, em
contemplação constantemente renovada, para as montanhas onde habitam os
Homens Perfeitos da nossa raça. O que nós- somos, eles já foram; o que eles
são, nós seremos. Todos os filhos dos homens podem fazer o que um Filho do
Homem já fez, e vemos neles a garantia do nosso próprio triunfo; o
desenvolvimento de semelhante divindade em nós é apenas uma questão de
evolução.
ORDENS
EXTERNAS E INTERNAS
Algumas
vezes tenho dividido a evolução interior em três estados: submoral, moral e
supermoral; submoral, onde não é percebida a diferença entre o certo e o
errado, e o homem atende aos seus desejos sem questionamentos, sem
escrúpulos; moral, onde o certo e o errado são percebidos, tornando-se cada
vez mais precisos e inclusivos, e esforça-se por obedecer às leis;
supermoral, onde a lei externa é transcendida, pois a natureza divina dita
suas próprias leis. No estado moral, a lei é reconhecida como uma barreira
legítima, uma restrição salutar; "Faça isto"; "Evite
aquilo"; o homem esforça-se por obedecer, havendo uma batalha constante
entre as naturezas superior e inferior. No estado supermoral, a vida divina
que há no homem encontra sua expressão natural sem orientação externa; ele
ama, não porque deva amar mas porque ele é amor. Citando as nobres palavras
de um Iniciado Cristão, ele age "não em obediência às leis mundanas,
mas pelo poder de uma vida eterna". A moralidade é transcendida quando
todos os poderes do homem voltam-se para o bem, assim como a agulha magnética
volta-se para o Norte; quando a divindade do homem procura sempre o melhor
para todos. Não há mais luta, pois a batalha está vencida; só após ter-se
tornado o Cristo triunfante, o Mestre da vida e da morte, o Cristo terá
atingido seu estado de perfeição.
A PRIMEIRA
INICIAÇÃO
Através da
primeira das grandes Iniciações penetra-se nesse estado de vida de Cristo,
vida de Buda; nela o Iniciado é a "criancinha", às vezes o
"bebê", às vezes a "criancinha de três anos". O homem
deve "recobrar o estado de criança que ele perdeu"; deve
"tornar-se uma criancinha" a fim de "penetrar no reinado
divino". Atravessando esse portal, ele nasce na vida de Cristo e,
trilhando o "caminho da Cruz", continua avançando pelas sucessivas
passagens ao longo do Caminho; finalmente, liberta-se, em definitivo, da vida
de limitações e da escravidão, morre para viver na eternidade, tomando
consciência de si mesmo como vida em vez de forma.
Não resta
dúvida de que, no Cristianismo primitivo, essa etapa da evolução era
definitivamente reconhecida como sendo uma etapa anterior a todos os
indivíduos cristãos. A ansiedade expressada por São Paulo ao afirmar que
Cristo poderia nascer em seus convertidos é prova suficiente desse fato,
deixando de lado outras passagens que poderiam ser citadas. Mesmo que essa
frase fosse a única, bastaria para demonstrar que, no ideal Cristão, o
estado-Cristo era considerado como uma condição interior, a fase final da
evolução de todo crente. Seria aconselhável que os Cristãos reconhecessem
isso e não considerassem a vida do discípulo, que culmina no Homem Perfeito,
como um espécime exótico cultivado no Ocidente e só considerado nativo das
distantes terras do Oriente. Esse ideal faz parte de todo Cristianismo
verdadeiro e espiritual, e o nascimento do Cristo em cada alma Cristã é o
objetivo da doutrina Cristã. A mera finalidade da religião é a de provocar
esse nascimento e, se por algum motivo, tal ensino místico fosse retirado do
Cristianismo, essa fé não mais poderia elevar à divindade aqueles que a
professam.
A primeira
das grandes Iniciações é o nascimento do Cristo, do Buda, na consciência
humana, a transcendência da consciência-do-eu, a queda das limitações.
fato conhecido por todos os estudantes a existência de quatro etapas de
desenvolvimento, entre o homem inteiramente bom e o Mestre triunfante, que
devem ser superadas para atingir-se o estado-Cristo. Principia-se cada uma
delas por uma Iniciação e, através dessas etapas da evolução, a
consciência deve expandir-se, crescer, atingindo os limites possíveis dentro
das restrições impostas pelo corpo humano. Na primeira etapa, a mudança
experimentada é o despertar da consciência no mundo espiritual, no qual ela
se identifica com a vida, deixando de fazê-lo com as formas em que a vida
possa estar, no momento, aprisionada. Esse despertar caracteriza-se por uma
sensação de súbita expansão e de estar ultrapassando os limites habituais
da vida, pelo reconhecimento de um Eu, divino e magnificente, que é vida e
não forma, alegria e não tristeza; a sensação de uma paz maravilhosa,
muito além de tudo aquilo que o mundo possa sonhar. Com a queda das
limitações surge uma intensificação da vida, como se esta fluísse por
todos os lados regozijando-se pelas barreiras removidas, uma sensação de
realidade tão intensa que toda vida corporificada chega a parecer-se com a
morte, e a luminosidade terrena, com a escuridão. É uma expansão tão
maravilhosa em sua essência, que a consciência sente-se como se nunca antes
tivesse conhecido a si mesma, pois tudo aquilo que observara conscientemente
parece, na presença dessa vida transbordante, ter sido inconscientemente. A
autoconsciência, que começou a germinar na infância, desenvolve-se, cresce
e expande-se sempre dentro dos limites da forma, imaginando a si mesma como
uma parte separada, sentindo sempre o "eu", falando sempre de
"mim" e do "meu". Essa autoconsciência, subitamente,
sente todos os eus como Eu e todas as formas como uma propriedade em comum.
Percebe que as limitações eram necessárias para poder-se construir um
núcleo de individualidade no qual a auto-identidade pudesse persistir, e, ao
mesmo tempo, sente que a forma é apenas um instrumento que ela, a
consciência viva, utiliza enquanto é uma só em meio a todas essas vidas.
Conhece o verdadeiro significado da frase, freqüentemente citada, a
"unidade da humanidade" e sente o que significa viver em todas essas
vidas e movimentos; e essa consciência vem acompanhada por uma imensa
alegria, a alegria da vida, que, mesmo em seus tímidos reflexos sobre a
terra, é um dos mais intensos êxtases experimentados pelo homem. A unidade
não é apenas percebida pelo intelecto, mas é sentida como satisfazendo o
anelo de unidade conhecido por aqueles que já amaram; é um sentimento de
unidade que vem de dentro, não podendo ser visto de fora. Não é uma
concepção, mas uma vida.
O
nascimento do Cristo no homem foi retratado em muitos escritos do passado,
sempre havendo harmonia entre eles. Todavia, embora todas as palavras se
moldem ao mundo das formas, mostram-se insuficientes quando sobrepostas ao
mundo da vida.
Porém, a
criança deve transformar-se no homem perfeito, e há muito a ser feito,
muitos aborrecimentos a serem enfrentados, muito sofrimento a ser suportado,
muitas batalhas a serem travadas e muitos obstáculos a serem vencidos, antes
que o Cristo nascido na fraqueza da infância atinja o estado de Homem
Perfeito. Terá que trabalhar entre seus irmãos, enfrentar o ridículo e a
suspeita, ouvir mensagens de desprezo; haverá a agonia do abandono, a paixão
da cruz e a escuridão da tumba. Tudo isto encontra-se diante dele no caminho
iniciado.
Através da
prática constante, o discípulo deve aprender a assimilar a consciência dos
outros e a centrar sua própria consciência na vida e não na forma, de modo
que possa passar além da "heresia da separação" que o faz
considerar os outros como diferentes dele próprio. Deve expandir sua
consciência, treinando diariamente, até que seu estado normal seja aquele
experimentado temporariamente durante sua primeira Iniciação. Para isso, ele
se empenhará diariamente em identificar sua consciência com a daqueles com
quem se relaciona no dia-a-dia; esforçar-se-á por sentir, pensar, alegrar-se
e sofrer como eles. Gradualmente, deverá desenvolver uma simpatia perfeita,
capaz de vibrar em harmonia com cada uma das cordas da lira humana.
Paulatinamente, deverá aprender a responder às sensações dos outros como
se fossem dele próprio, não importando qual a situação deles. Pouco a
pouco, através de constante treino, deverá identificar-se com os outros nas
mais variadas circunstâncias de suas diferentes vidas. Deverá aprender a
lição da alegria e a lição das lágrimas, e isto só será possível
quando tiver transcendido a divisão do eu, quando não mais precise pedir
nada para si mesmo, mas apenas compreenda que, dali em diante, deverá viver
na vida sozinho.
Sua
primeira grande batalha representa deixar de lado tudo aquilo que, até esse
momento, tenha sido para ele a vida, a consciência e a realidade, e ir
adiante sozinho, exposto, não mais identificando-se com nenhuma forma. Deve
aprender a lei da vida, somente pela qual a divindade interior pode
manifestar-se, a lei que é a antítese do seu passado. A lei da forma toma; a
lei da vida dá. A vida cresce quando transborda da forma, nutrida pela
inesgotável fonte de vida do centro do universo; quanto mais a vida
transborda, maior a afluência interior. No início, poderá sentir-se, o
jovem Cristo, como se toda sua vida o estivesse abandonando e como se suas
mãos ficassem vazias após terem feito dádivas a um mundo ingrato; a vida
eterna só poderá ser experimentada quando a natureza inferior tiver sido
definitivamente sacrificada, e, somente então, aquilo que parecera a morte do
ser será descoberto como o renascer numa vida mais plena.
A SEGUNDA
INICIAÇÃO
Desta
maneira, a consciência se desenvolve até completar a primeira etapa do
caminho, onde o discípulo vê diante de si o segundo Portal da Iniciação,
simbolizado nas Escrituras Cristãs pelo Batizado do Cristo. Assim, ao
penetrar nas águas dos sofrimentos do mundo, nas quais todo Salvador de
homens deve ser batizado, uma nova torrente de vida divina derrama-se sobre
ele; sua consciência o identifica como o Filho em quem a vida do Pai encontra
sua perfeita expressão. Sente a vida da Mônada, seu Pai Celeste, fluindo em
sua consciência e compreende que é um, não somente com os homens mas
_também com seu sagrado Pai, e que está na terra apenas para ser a
expressão da vontade do Pai, seu organismo manifestado. Daqui em diante
servir aos homens torna-se o objetivo de sua vida. Ele é o Filho a quem os
homens deverão ouvir porque dele flui a vida oculta; e ele tornou-se um
veículo através do qual essa vida oculta poderá alcançar o mundo exterior.
Ele é o sacerdote do Deus do Mistério, que ergue o véu interior e surge com
a glória a brilhar em seu rosto, reflexo da luz do santuário.
É nesse
momento que ele começa o trabalho de amor, simbolizado no sacerdócio externo
pelo seu desejo de curar e ajudar. As almas amontoam-se ao seu redor à
procura de luz e vida, atraídas por sua força interior e pela vida divina
manifestadas no reconhecido Filho do Pai. Almas famintas vêm a ele, e ele
lhes dá pão; almas perturbadas pelo pecado chegam, e ele as fortalece com
sua palavra de vida; almas cegadas pela ignorância procuram-no, e ele as
ilumina com a sabedoria. Um dos sinais que caracterizam um Cristo no seu
ministério é que os abandonados e os pobres, assim como os desesperados e os
degradados, aproximam-se dele sem a sensação de separação, sentindo uma
simpatia que os acolhe em lugar de rejeitá-los, pois sua pessoa irradia
benevolência e o amor compreensivo flui ao seu redor. Na verdade, eles não
sabem tratar-se de um Cristo em evolução, mas sentem um poder que eleva e
uma existência que vitaliza; nessa atmosfera, aspiram nova força e
esperança.
A TERCEIRA
INICIAÇAO
O terceiro
Portal encontra-se diante dele e começa uma nova etapa de sua evolução, com
um breve instante de paz, glória e iluminação, simbolizados nas Escrituras
Cristãs pela Transfiguração. E uma pausa em sua vida, uma breve
interrupção no exercício de sua função, uma viagem à Montanha sobre a
qual paira a paz celestial, e lá - lado a lado com alguns que lhe
reconheceram sua divindade evoluída - esta divindade resplandece, por um
instante, em sua beleza transcendente. Durante esta trégua, ele pode ver seu
futuro; uma seqüência de imagens desenrola-se diante de seus olhos
antevendo-lhe o sofrimento, a solidão no Getsêmani e a agonia do Calvário.
Desde então, seu rosto volta-se com determinação para Jerusalém e para a
escuridão em que deverá penetrar por amor aos homens. Ele compreende que
antes de atingir a perfeita realização da unidade, deverá experimentar a
quinta-essência da solidão. Até agora, embora consciente de sua vida em
desenvolvimento, ela parecia-lhe vir de fora; agora compreende que seu núcleo
está dentro dele, que na solidão da alma deve experimentar a verdadeira
unidade do Pai e do Filho, uma unidade interior e não exterior, e, em
seguida, a perda inclusive do Rosto do Pai; para isso, deve ser suspenso todo
contato externo com os homens e mesmo com Deus. Percebe que dentro do seu
próprio espírito poderá encontrar o Um.
A NOITE
ESCURA DA ALMA
Como o
momento de escuridão se aproxima, ele se sente cada vez mais angustiado pelo
malogro da simpatia humana, em que se habituara a confiar durante os últimos
anos de vida e trabalho, e quando, na hora crucial de sua agonia, olha ao
redor em busca de conforto, e vê seus amigos mostrarem-se indiferentes e
distantes, parece-lhe que todos os laços humanos foram cortados, que todo
amor humano é uma falsidade, toda a fé humana, uma traição; ele é atirado
totalmente a si mesmo e descobre que o único laço remanecente é aquele que
o une ao seu Pai Celestial e que toda ajuda corporificada é inútil. Diz-se
que, nesse momento de solidão, a alma enche-se de amargura e que raramente
uma alma atravessa sem um grito de angústia esse abismo de vacuidade; é
então que aflora o reproche agonizante: "Não podias ter ficado do meu
lado por um instante?" Mas, nesse desolado Getsêmani, nenhuma mão
humana pode afagar uma outra.
Uma vez
superada a escuridão do abandono humano, apesar do recuo da natureza humana
diante do cálice, sobrevém, então, a escuridão mais profunda do momento,
em que parece abrir-se um abismo entre o Pai e o Filho, entre a vida
corporificada e a vida eterna. O Pai, que já fora conhecido no Getsêmani,
quando todos os seus amigos humanos estavam dormindo, agora, na paixão da
Cruz, está oculto. É a mais amarga das provações do Iniciado, quando ele
perde até mesmo a consciência de sua vida enquanto Filho, e o tão desejado
triunfo transforma-se, nessa hora, na mais profunda ignomínia. Vê seus
inimigos exultantes ao seu redor, sente-se abandonado por seus amigos e por
aqueles que o amavam, sente o suporte divino despedaçar-se abaixo de seus
pés e bebe a última gota do cálice da solidão, do isolamento. Nenhum
contato com o homem ou com Deus preenche o vazio em que se encontra sua alma
desamparada. Então, do âmago de seu ser, que se sente abandonado até mesmo
pelo Pai, aflora a súplica: "Meu Deus! Meu Deus! Por quê me
desamparaste?" Por que esta prova final, por que esta última
experiência penosa, a mais cruel de todas as ilusões? Ilusão, sim, pois o
Cristo agonizante está mais perto do que nunca do Coração Divino.
Porque o
Filho deve conhecer-se a si mesmo para poder ser um com o Pai que procura,
deve encontrar Deus, não só dentro dele, mas como seu Eu mais íntimo; e só
ao compreender que o Eterno é ele mesmo e que ele é o Eterno, estará além
da possibilidade de sentir a separação. Só e somente então poderá ajudar
os seus com perfeição e se tornar uma parte consciente da energia em
desenvolvimento.
A GLORIA DA
PERFEIÇAO
O Cristo
triunfante, o Cristo da Ressurreição e da Ascensão, sentiu a amargura da
morte, conheceu todo o sofrimento humano e ergueu-se acima dele pelo poder da
sua própria divindade. Que é que pode agora perturbar a sua paz ou impedir
sua mão de estender-se oferecendo ajuda? Durante sua evolução aprendeu a
tornar-se receptivo aos problemas humanos e a convertê-los em paz e alegria.
Este era o seu trabalho naquela etapa, o de transformar as forças de
discórdia em forças de harmonia. Agora deve fazê-lo pelo mundo, pela
humanidade da qual floresceu. Assim, os Cristos e seus discípulos, cada um na
medida da sua evolução, protegem e ajudam o mundo e, não fosse pela sua
presença, cujas mãos sustentam "o pesado karma do mundo", muito
mais amargas seriam as lutas e mais violentos os combates da humanidade.
Mesmo
aqueles que se encontram na fase inicial do Caminho elevam-se durante a
evolução, assim como todos aqueles que trabalham desinteressadamente pelos
outros, embora estes o façam contínua e intencionalmente. Porém, o Cristo
triunfante faz perfeitamente o que os outros fazem nas diferentes etapas de
imperfeição e, por este motivo, é chamado de "Salvador", sendo
que esta qualidade é perfeita nele. Ele salva compartilhando sua vida conosco
e não colocando-se em nosso lugar. Ele é sábio e transmite sua sabedoria
aos homens, pois sua vida flui nas veias e palpita nos corações de todos os
homens. Não está preso a uma forma, mas também não está separado dela.
Ele é o Homem Ideal, o Homem Perfeito; cada ser humano é uma célula do seu
corpo e cada célula é nutrida por sua vida.
Certamente,
não teria valido a pena o sofrimento na Cruz e o Caminho trilhado até chegar
a ela, apenas para conseguir sua própria libertação um pouco antes, ou para
poder descansar um pouco mais cedo. O lucro teria sido muito pequeno para um
custo tão alto e a luta amarga demais para semelhante recompensa. Todavia, o
seu triunfo eleva a humanidade e o caminho percorrido por todos torna-se um
pouco mais curto. A evolução de toda a raça se acelera; a peregrinação de
cada um encurta-se mais ainda. Foi este o ideal que o inspirou durante a
violência da luta, que manteve sua força e que aliviou a angústia provocada
pelas perdas. Não há um só ser, não importa quão fraco, degradado,
ignorante ou pecaminoso ele seja, que não tenha chegado um pouco mais perto
da luz, quando o Filho do Supremo completou seu trajeto. Como se acelerará a
marcha da evolução à medida que, cada vez mais, estes Filhos surjam
triunfantes penetrando na eterna vida consciente! Quão velozmente
girará a roda que transporta o homem à divindade, no momento em que mais e
mais homens tornarem-se conscientemente divinos.
O IDEAL
INSPIRADOR
Nisso
repousa o estímulo para cada um de nós que já tenha sentido, nos momentos
mais nobres, a atração da vida que mana do amor aos homens. Pensemos nos
sofrimentos do mundo, que não sabe porque sofre; na angústia e no desespero
dos homens que não conhecem o porquê de suas vidas e de suas mortes;
naqueles que, dia após dia, ano após ano, sentem o sofrimento caindo sobre
eles mesmos e sobre os outros, sem poder compreender o motivo; naqueles que
lutam com temeridade ou que, irados, se revoltam contra situações que não
podem compreender ou justificar. Pensemos na agonia originada pela cegueira,
na escuridão em que tateiam, sem esperança, sem aspiração e sem
conhecimento da vida verdadeira e da beleza existentes do outro lado do véu.
Pensemos nos milhões de irmãos nossos que estão na escuridão, e depois
pensemos no engrandecimento de nossas energias, originado por nossos
sofrimentos, lutas e sacrifícios. Podemos aproximá-los um pouco da luz,
mitigar suas dores, reduzir sua ignorância, abreviar sua viagem com destino
ao conhecimento, que é luz e vida. Quem de nós que saiba pelo menos um
pouco, não haverá de dedicar-se a estes que não sabem nada?
Sabemos,
pela Lei imutável, pela Verdade inalterável e pela Vida e Deus eternos, que
a divindade está dentro de nós e que, embora esteja pouco evoluída no
momento, tudo nela é de uma infinita capacidade, disponível para o
enaltecimento do mundo. Sem dúvida, não haverá, então, ninguém capaz de
sentir a pulsação da Vida Divina, que não se sinta atraído pelo desejo de
ajudar e glorificar. E se esta vida for sentida, mesmo que debilmente ou por
um breve instante, é porque existe no coração a primeira vibração daquilo
que se revelará como a vida de Cristo, porque está chegando a hora do
nascimento do pequeno Cristo, porque a humanidade espera por ele para
florescer.
OS MESTRES
COMO FATOS E IDEAIS[1]
O
TESTEMUNHO DAS RELIGIÕES
"Os
Mestres como Fatos e Ideais". Coloquei este título duplo pois há quem
não Os reconhece como fatos, embora considere o ideal valioso, precioso e
inspirador. Nem todos os membros da Sociedade Teosófica acreditam na
existência de Mahatmas. Há muitos dentro da Sociedade que não possuem
conhecimento ou convicção sobre esse assunto. E norma em nossa Sociedade que
nenhuma declaração de fé será exigida àqueles que nela ingressam, salvo a
fé na fraternidade entre os homens, sem as diferenças superficialmente
estabelecidas. Por isso dentro da Sociedade podem encontrar-se tanto aqueles
que acreditam na existência, seja no presente ou no passado, destes grandes
Mestres, como aqueles que não acreditam. Todavia, eu, que acredito neles e
sei que existem, não estou falando aqui em nome da Sociedade, que não tem
credo, mas em meu nome e no daqueles que compartilham esta crença ou
conhecimento comigo, e vou expor-lhes o que considero uma prova racional,
digna de atenção, sobre a qual vocês poderão meditar nos momentos de lazer
e chegar à conclusão que desejarem. Falo, também, em nome do ideal, pois os
ideais da raça são preciosos e não podem ser levianamente ultrajados ou
negados. O ideal do Mahatma é grandioso, a despeito dos risos fúteis
provocados pelo nome que, simplesmente, significa Grande Espírito, em
sânscrito.
Não foi
uma única religião que despertou e elevou as mentes dos homens, não foi uma
única fé poderosa que conduziu milhões de pessoas ao conhecimento da vida
espiritual e das possibilidades do crescimento humano; tampouco houve alguma
que não tenha fundamentado essa crença num Homem Divino e que não se
recorde de pelo menos uma dessas Almas poderosas, que trouxeram ao mundo o
conhecimento da verdade espiritual, reconhecendo-a como seu Fundador. Seja
qual for a maneira pela qual se recordem do passado e seja qual for a crença
que adotarem, uma coisa é certa, todas elas estão baseadas nesse mesmo
ideal, e procuram o Mestre num Homem que, em vida, foi divino. Em volta desse
ideal reúnem-se todas as esperanças dos homens e o destino da humanidade.
Pois, se não fosse o homem um Ser espiritual, se não houvesse dentro dele a
possibilidade da expansão espiritual, se não houvesse provas disponíveis de
que outros homens se tornaram perfeitos e de que não se trata apenas de um
sonho do futuro, mas uma realidade que a raça humana já realizou; e se não
fosse verdade que, tanto para vocês como para mim, existem as mesmas grandes
possibilidades que, no passado, mostraram-se realizáveis por aqueles que as
concluíram com êxito, então as esperanças dos homens não teriam
fundamento, suas aspirações à perfeição não teriam a certeza de
concretizar-se e a humanidade nada seria além duma coisa do presente, em
lugar de ser a herdeira de uma imortalidade infinita. A crença de que o homem
pode tornar-se divino tem inspirado os maiores de nossa raça, encorajado os
atormentados em sua agonia e glorificado o futuro com a esperança. É por
tudo isto que eu defendo o ideal, pois quem é o Mahatma? Ele é o homem que
se tornou perfeito, o homem que alcançou a união com o Divino, o homem que,
lentamente, através dos diferentes estágios, desenvolveu as possibilidades
da natureza espiritual, e hoje mantém-se vitorioso na arena onde nos
encontramos em luta. Todas as religiões o testemunharam. Todas as religiões
do mundo lembram-se dum Mestre Divino. Poderão ouvir o nome Zoroastro na
Pérsia, Krishna na Índia e mais recentemente Buda, ou Cristo na Palestina,
cada um deles é o Homem Divino que trouxe a certeza da perfeição humana
àqueles que se encontram dentro do âmbito de Sua influência.
UMA TEORIA
Qual será
a linha de nossa evidência? Sugiro, em primeiro lugar, uma teoria provável,
baseada nas linhas da evolução natural. Em seguida, proponho voltar à prova
da existência, no passado, destes Homens Divinos que se tornaram perfeitos e,
a partir daí, chegar à prova de sua existência no presente; depois,
demonstrar que é possível aos homens tornar-se perfeitos (pois, sem esta
última parte, a dissertação seria impraticável para nós), resumindo, ao
menos, os métodos pelos quais o Homem Divino tornou-se tal.
Em primeiro
lugar, então, vamos à teoria de que a existência dos Mestres é por si
mesma provável e está de acordo com a analogia da natureza, assim como a
vemos à nossa volta ou como a reconhecemos no passado. Somente uma minoria,
provavelmente, contestará hoje a realidade da evolução. Poucos negarão que
a nossa raça progride e que, ciclo após ciclo, as nações avançam
atingindo um conhecimento cada vez maior, crescendo e desenvolvendo-se cada
vez mais. Considerando o extenso período decorrido desde que o homem colocou
os pés na terra pela primeira vez, as enormes diferenças que há entre
primitivos e superdesenvolvidos e o vasto espaço de tempo transcorrido
durante a evolução, não podemos, do ponto de vista teórico, julgar
impossível ou absurda a teoria que sustenta que a evolução tenha atingido,
no caso de certos indivíduos, um ponto muito acima daquele do homem
civilizado de nossos dias.
E isto não
é tudo. Não só temos enormes espaços de tempo atrás de nós mas, também,
há vestígios de civilizações poderosas que provam ter a raça" humana
atingido alto grau de conhecimento e de desenvolvimento filosófico,
científico e religioso, há milhares de anos. Ou, para ser mais precisa, há
centenas de milhares de anos. Olhando retrospectivamente podem-se ver
vestígios de civilizações poderosas que sugerem a presença de homens de
uma espécie altamente evoluída e, provavelmente, seja irracional supor que a
tão falada evolução não seja nada além dum simples progresso e declínio
que nada deixa como resultado, a não ser alguns períodos prósperos de
civilizações superiores e depois outros de absoluto barbarismo, e novamente
o recomeço da civilização, sem elos que preservem a continuidade do
conhecimento. Por isso, não é pelo menos impossível, e daqui a pouco
veremos indícios de que é provável, que alguns nesse poderoso passado,
tenham-se desenvolvido, elevando-se cada vez mais e aperfeiçoando a raça
humana individualmente, até que lentamente, um de cada vez, todos fossem
tornando-se perfeitos. Não é impossível, e nem ao menos improvável, se nos
lembrarmos de que o progresso é a lei da natureza e do vasto espaço de tempo
durante o qual a humanidade tem vivido.
EVIDÊNCIA
HISTÓRICA
Mas a
partir desta possibilidade, que eu apresento por considerar que é bom
excluir, desde o começo, a idéia de que a teoria é, em si mesma, .
impossível e absurda, tomemos agora a evidência histórica e vejamos se na
história não aparecem de vez em quando algumas grandiosas figuras humanas
que se destacam dos homens do seu tempo e do nível normal da humanidade;
vejamos se não há alguma evidência, que não possa ser negada, de que tais
Homens não são meros produtos da imaginação popular, nem apenas homens do
passado cujos feitos foram exagerados e engrandecidos pela tradição popular,
como aconteceu ao longo de séculos de confusão. Estou falando daqueles
Grandes Seres, a quem já me referi, que foram os Fundadores das grandes
religiões do mundo.