OS
SONHOS
O QUE SÃO E COMO SÃO CAUSADOS
~ C.W. Leadbeater ~
Tradução
de Ricardo A. Frantz
Primeira Edição em 1898
Terceira Edição revista
e ampliada em 1903
Quarta Edição em 1918
Capítulo
1
Introdução
Muitos dos assuntos com que entramos em contato em nossos estudos
Teosóficos são tão distantes das experiências e interesses da vida cotidiana,
que ao mesmo tempo em que nos sentimos inclinados para eles por uma atração que
cresce em progressão geométrica à medida que os conhecemos e entendemos melhor,
ainda somos conscientes, no fundo de nossas mentes, por assim dizer, de um vago
senso de irrealidade, ou pelo menos de impraticidade, quando tratamos deles.
Quando lemos sobre a formação do sistema solar, ou mesmo sobre os anéis e rondas
de nossa cadeia planetária, não podemos senão sentir que, por interessantes que
sejam como estudos abstratos, úteis por nos mostrarem como o homem tornou-se o
que vemos que é, não obstante se relacionam só indiretamente com a vida que
estamos vivendo aqui e agora.
Nenhuma objeção deste tipo, contudo, pode ser lançada contra nosso
assunto atual: todos os leitores destas linhas já sonharam - provavelmente
muitos deles têm o hábito de sonhar com freqüência; e podem portanto estar
interessados numa tentativa de elucidação do fenômeno onírico com da ajuda da
luz que lhes lançam as investigações ao longo de linhas Teosóficas.
O método mais conveniente pelo qual podemos ordenar as várias
ramificações de nosso assunto talvez seja o seguinte: primeiro, considerarmos
muito cuidadosamente o mecanismo - físico, etérico e astral - por meio do qual
impressões são transmitidas à nossa consciência; segundo, vermos como a
consciência por sua vez afeta e utiliza este mecanismo; terceiro, verificarmos a
condição tanto da consciência como de seu mecanismo durante o sono; e quarto,
pesquisar como os vários tipos de sonho que o homem experimenta são portanto
produzidos.
Como escrevo principalmente para estudantes de Teosofia, posso sentir-me
livre para usar, sem explicação detalhada, os termos Teosóficos usuais, com os
quais seguramente posso presumir que estejam familiarizados, uma vez que de
outra forma meu livreto excederia em muito seus limites planejados. Se este,
porventura, cair nas mãos de alguém para quem o uso ocasional destes termos
constitui uma dificuldade, só posso desculpar-me, e indicar-lhe para estas
explicações preliminares qualquer trabalho Teosófico básico, como The Ancient Wisdom (A Sabedoria Antiga), ou Man and his Bodies (O Homem e
seus Corpos), de A. Besant.
Capítulo
2
O Mecanismo
I -
Físico
Primeiro, então, tratemos da parte física do mecanismo. Temos em nossos
corpos um grande eixo de matéria nervosa [a medula espinhal - NT], terminando no cérebro, e,
deste, uma rede de feixes nervosos se irradia em todas as direções pelo corpo. É
pelas vibrações destes feixes nervosos, de acordo com a teoria da ciência
moderna, que se transmitem todas as impressões externas ao cérebro, e este, ao
receber estas impressões, as traduz em sensações ou percepções; de modo que se
eu colocar minha mão sobre algum objeto e eu percebê-lo quente, não é realmente
a minha mão que sente, mas sim meu cérebro, que está agindo em função de
informações transmitidas a ele pelas vibrações correndo ao longo de suas linhas
telegráficas, os feixes nervosos.
Também é importante ter em mente que todos os feixes nervosos do corpo
são iguais em constituição, e que o feixe especial que chamamos de nervo óptico
- que veicula ao cérebro impressões feitas sobre a retina ocular, e assim nos
possibilita ver - difere dos feixes nervosos da mão ou do pé somente pelo fato
de que longas eras de evolução o especializaram para receber e transmitir mais
prontamente um restrito conjunto de vibrações rápidas que nos são visíveis como
luz. A mesma observação serve para nossos outros órgãos sensoriais; os nervos
auditivo, olfativo ou o gustativo diferem um do outro e do restante só por esta
especialização: são essecialmente os mesmos, e todos fazem seu respectivo
trabalho exatamente da mesma forma, pela transmissão de vibrações ao
cérebro.
Já este nosso cérebro, que é portanto o grande centro de nosso sistema
nervoso, é muito prontamente afetado por leves variações em nossa saúde geral, e
mais especialmente por qualquer condição que envolva uma alteração na circulação
do sangue através dele. Quando o fluxo sangüíneo nos vasos da cabeça é normal e
regular, o cérebro (e, portanto, todo o sistema nervoso) fica livre para
funcionar de um modo ordenado e eficiente; mas qualquer alteração em sua
circulação normal, seja em quantidade, qualidade, ou velocidade, imediatamente
produz um efeito correspondente no cérebro, e através dele nos nervos de todo o
corpo.
Se, por exemplo, o cérebro for suprido de sangue em excesso, ocorre a
congestão dos vasos, e imediatamente se produz uma irregularidade em sua ação;
se houver escassez, o cérebro (e, por conseguinte, o sistema nervoso) se torna
primeiro irritável e então letárgico. A qualidade do sangue fornecido também é
de grande importância. Ao percorrer o corpo ele tem duas tarefas principais a
desempenhar - suprir de oxigênio e nutrição os diferentes órgãos do corpo; e se
ele for incapaz de desempenhar adequadamente qualquer uma destas funções, uma
certa desorganização se seguirá.
Se o suprimento de oxigênio ao cérebro for deficiente, ele se torna
sobregarregado de dióxido de carbono, e bem logo aparecem o embotamento e a
letargia. Um exemplo comum disto é a sensação de apatia e sonolência que
freqüentemente acomete quem se encontra em uma sala mal-ventilada e apinhada de
gente; devido ao esgotamento do oxigênio na sala pela respiração contínua de um
número tão grande de pessoas, o cérebro não recebe sua provisão devida, e
destarte se torna incapaz de trabalhar como deve.
Também a velocidade com que este sangue corre pelos vasos afeta a ação do
cérebro; se for acelerada, produz febre; se lenta demais, também provoca
letargia. É óbvio, portanto, que nosso cérebro (através do qual, lembremo-nos,
todas as impressões devem passar) pode ser mui facilmente perturbado e mais ou
menos estorvado no devido desempenho de suas funções por causas aparentemente
triviais - causas às quais provavelmente não daríamos nenhuma atenção sequer em
nossas horas de vigília - as quais nos passariam inteiramente despercebidas
durante o sono.
Antes que prossigamos, deve ser assinalada uma outra peculiaridade deste
mecanismo físico, qual seja, sua notável tendência de repetir automaticamente
vibrações às quais está costumado a responder. É a esta propriedade do cérebro
que devem ser atribuídas todas aquelas manias corporais e tiques que são
inteiramente independentes de nossa vontade, e amiúde tão difíceis de dominar;
e, como logo veremos, ela desempenha uma parte ainda mais importante durante o
sono do que durante a vida desperta.
II - Etérico
Não é só através do cérebro de que tratamos até agora, contudo, que
impressões podem ser recebidas pelo homem. Quase exatamente coextensivo a ele e
interpenetrando sua forma visível está o seu duplo-etérico (antigamente chamado
na literatura Teosófica de linga-sharira), e este
também possui um cérebro que não é menos físico que o outro, ainda que composto
de matéria em um estado mais rarefeito que o gasoso.
Se o examinarmos através das faculdades psíquicas o corpo de um
recém-nascido, o encontraremos permeado não só de matéria astral de todos os
graus de densidade, mas também de diferentes graus de matéria etérica; e se
tivermos o trabalho de rastrear estes corpos internos até sua origem, veremos
que é do astral que o duplo-etérico - o molde sobre o qual o corpo físico é
construído - é formado pelos agentes dos Senhores do Karma, enquanto a matéria
astral foi sendo reunida pelo Ego que desce - não conscientemente, é claro, mas
automaticamente - ao atravessar o plano astral, e é, de fato, meramente o
desenvolvimento naquele plano de tendências cujas sementes permaneceram latentes
em si durante suas experiências no mundo celestial, porque naquele nível era
impossível que pudessem germinar por falta do grau de matéria necessário à sua
expressão.
Já este duplo-etérico freqüentemente tem sido chamado de veículo do éter
vital ou força vital humana (chamado prana em Sânscrito), e
qualquer um que tenha desenvolvido as faculdades psíquicas pode ver exatamente
como isso se passa. Verá o princípio de vida solar quase incolor, ainda que
intensamente ativo e luminoso, que constantemente é derramado na atmosfera
terrestre pelo Sol; verá como a parte etérica de seu baço, no exercício de sua
maravilhosa função, absorve esta vida universal, e a especializa em prana, de modo que possa ser
mais prontamente assimilado por seu corpo; como ele então passa para todo o
corpo, percorrendo todos os feixes nervosos como diminutos glóbulos de adorável
luz rosada, fazendo com que a exuberância de vida e saúde e atividade penetre em
cada átomo do duplo-etérico; e como, quando as partículas rosadas foram
absorvidas, o éter vital excedente finalmente se irradia do corpo em todas as
direções como luz branco-azulada.
Se examinar mais detidamente a ação deste éter vital, logo terá razão
para crer que a transmissão de impressões ao cérebro depende antes de seu fluxo
regular ao longo da porção etérica dos feixes nervosos do que sobre a mera
vibração das partículas de sua porção mais densa e visível, como se supõe
costumeiramente. Tomaria muito de nosso espaço detalharmos todas as experiências
onde esta teoria se fundamenta, mas a indicação de uma ou duas dentre as mais
simples será suficiente para mostrar as linhas que seguem.
Quando o frio deixa um dedo inteiramente enregelado, este é incapaz de
sentir; e o mesmo fenômeno de insensibilidade pode prontamente ser produzido à
vontade por um mesmerizador, que por meio de uns poucos passes sobre o braço de
seu paciente o colocará num estado em que pode ser picado por uma agulha ou
queimado com a chama de uma vela sem experimentar a menor sensação de dor.
Agora, por que o paciente não sente nada em nenhum dos casos- Os feixes nervosos
ainda estão lá, e mesmo que no primeiro caso possamos argumentar que sua ação
foi paralisada pelo frio e pela ausência de sangue nos vasos, certamente esta
não pode ser a razão no segundo caso, onde o braço matém sua temperatura normal
e o sangue circula como sempre.
Se pedirmos ajuda a um clarividente, seremos capazes de obter algo mais
próximo de uma explicação real, pois ele nos diria que a razão pela qual o dedo
congelado parece morto, e o sangue é incapaz de circular pelos vasos, é que o
róseo éter vital já não está passando ao longo dos feixes nervosos; pois devemos
lembrar que mesmo que a matéria na condição etérica seja invisível à visão
ordinária, ainda assim é puramente física, e, portanto, pode ser afetada pela
ação do frio ou do calor.
No segundo caso ele nos diria que quando o mesmerizador faz os passes
pelos quais torna o braço do sujeito insensível, o que ele realmente faz é
inserir seu próprio éter nervoso (ou magnetismo, como freqüentemente é chamado)
no braço, deslocando temporariamente o do paciente. O braço ainda está quente e
vivo, porque ainda há éter vital passando por ele, mas uma vez que não é mais o
éter vital especializado do próprio paciente, e portanto não está em relação com
seu cérebro, ele não veicula nenhuma informação a este cérebro, e por
conseguinte não há sensação nenhuma no braço. Parece evidente a partir disto que
mesmo não sendo absolutamente o éter vital em si que faz o trabalho de veicular
impressões externas ao cérebro do homem, sua presença, porém especializado pelo
próprio homem, é certamente necessária à devida transmissão ao longo dos feixes
nervosos.
Agora exatamente como cada alteração na circulação sangüínea afeta a
receptividade da matéria cerebral mais densa, e assim modifica a confiabilidade
das impressões derivadas dele, também a condição da porção etérica do cérebro é
afetada por qualquer alteração no volume ou velocidade destas correntes de
vida.
Por exemplo, quando a quantidade de éter nervoso especializado pelo baço
por alguma razão cai para abaixo da média, são sentidas imediatamente debilidade
e fraqueza físicas, e se, sob estas circunstâncias, também acontecer de aumentar
a velocidade de sua circulação sangüínea, o homem se tornará hiper-sensível,
altamente irritável, nervoso, e talvez até mesmo histérico, enquanto que em tais
condições ele freqüentemente está mais sensível a impressões físicas do que
normalmente estaria, e assim amiúde ocorre que a pessoa padecendo de má saúde
veja aparições ou tenha visões que são imperceptíveis a seu vizinho mais
robusto. Se, de outra parte, o volume e a velocidade do éter vital forem ambos
reduzidos ao mesmo tempo, o homem experimenta um langor intenso, se torna menos
sensível a influências externas, e tem a sensação geral de estar fraco demais
para importar-se com o que quer que lhe aconteça.
Deve ser lembrado também que a matéria etérica de que falamos e a matéria
mais densa, ordinariamente reconhecida como pertencente ao cérebro, são ambas
realmente partes de um só e mesmo organismo físico, e que, portanto, nenhuma
pode ser afetada sem que imediatamente se produza alguma reação na
outra.
Conseqüentemente não poderá haver nenhuma certeza de que as impressões
transmitidas através deste mecanismo serão corretas a não ser que ambas suas
porções estejam funcionando de modo absolutamente normal; qualquer
irregularidade em qualquer das partes pode muito rápido embotar ou perturbar sua
receptividade de modo a produzir imagens borradas ou distorcidas do que quer que
se lhe apresente. Mais ainda, como logo explicaremos, é infinitamente mais fácil
ocorrer tais aberrações durante o sono do que na vigília.
III - Astral
Um outro mecanismo ainda que devemos levar em conta é o corpo astral,
freqüentemente chamado corpo de desejo. Como seu nome implica, este veículo é
composto exclusivamente de matéria astral, e é, de fato, a expressão do homem no
plano astral, assim como o seu corpo físico é sua expressão nos níveis
inferiores do plano físico.
Na verdade, poupará muitos problemas ao estudante de Teosofia se ele
aprender a considerar estes diferentes veículos simplesmente como a manifestação
real do Ego nos seus respectivos planos - se ele entender, por exemplo, que é o
corpo causal (às vezes chamado de ovo áurico) que é o veículo real do Ego
reencarnante, e é habitado por ele enquanto permanece no plano que é seu
domicílio verdadeiro, os níveis superiores do plano mental: mas que quando ele
desce aos níveis inferiores ele deve, a fim de ser capaz de atuar ali,
revestir-se de sua matéria, e aquela matéria que ele então atrai constitui seu
corpo mental. Similarmente, descendo ao plano astral, a partir de sua matéria
ele forma seu corpo astral ou de desejo, mantendo, é claro, os outros corpos; e
em uma descida ulterior até este plano o mais inferior de todos, o corpo físico
é formado no meio do ovo áurico, que assim engloba o homem inteiro.
Este veículo astral é ainda mais sensível a impressões externas do que os
corpos denso e etérico, pois ele mesmo é a sede de todos os desejos e emoções -
a única ponte pela qual o Ego pode recolher experiências da vida física. Ele é
peculiarmente suscetível à influência de correntes de pensamento que passem, e
quando a mente não o está controlando ativamente, está perpetuamente recebendo
estímulos de fora, e avidamente lhes respondendo.
Este mecanismo também, como os outros, é mais prontamente influenciável
durante o sono do corpo físico. Muitas observações evidenciam este fato, um bom
exemplo delas é o caso recentemente trazido ao escritor, no qual um homem que
havia sido um bêbado estava descrevendo as dificuldades no caminho de sua
recuperação. Ele declarou que após um longo período de total abstinência ele
havia conseguido destruir inteiramente o desejo físico por álcool, de modo que
quando acordado ele sentia viva repulsa por ele; mas afirmou que freqüentemente
sonhava que estava bebendo, e naquele estado de sonho ele sentia o antigo e
horrível prazer desta degradação.
Portanto, aparentemente durante o dia seu desejo era mantido sob controle
através da vontade, e formas-pensamento fortuitas ou elementais passageiros não
eram capazes de causar qualquer impressão sobre ele; mas quando o corpo astral
era liberado no sono, escapava, em alguma medida, do domínio do Ego, e sua
extrema suscetibilidade natural se reafirmava tanto que de novo respondia
prontamente a estas influências deletérias, e se imaginava experimentando mais
uma vez os desgraçados deleites da orgia.
Capítulo
3
O Ego
Todas estas diferentes partes do mecanismo são em verdade apenas
instrumentos do Ego, mesmo que seu controle sobre elas ainda seja muitas vezes
muito imperfeito; pois deve ser lembrado sempre que o próprio Ego é uma entidade
em evolução, e que no caso da maioria de nós ele dificilmente é mais que um
germe do que um dia há de ser.
Uma estância no Livro
de Dzyan nos diz: "Os que receberam apenas uma centelha permaneceram
destituídos de entendimento: a centelha ardia fracamente"; e Madame Blavatsky
explica que "aqueles que receberam apenas uma centelha constituem a média da
humanidade que deve adquirir sua intelectualidade durante a atual evolução
manvantárica." (A Doutrina
Secreta, II, 167). No caso da maioria
aquela centelha ainda está bruxuleante, e se passarão muitas eras antes que seu
moroso crescimento a leve ao estágio de chama firme e
brilhante.
Sem dúvida há algumas passagens na literatura Teosófica que parecem
implicar que nosso Eu Superior não necessita de evolução, já sendo perfeito e
divinal em seu próprio plano; mas onde quer que tais expressões sejam usadas,
qualquer que possa ser a terminologia empregada, devem ser consideradas como
aplicando-se exclusivamente ao Atma, o verdadeiro deus interior, que certamente
está muito além da necessidade de qualquer tipo de evolução de que possamos
saber algo.
O Ego reencarnante indubitavelmente evolui, e o processo de sua evolução
pode ser mui claramente observado por aqueles que desenvolveram a visão
clarividente ao ponto necessário para perceber o que existe nos níveis
superiores do plano mental. Como antes assinalamos, é da matéria daquele plano
(se podemos nos aventurar a dizer que aquilo ainda é matéria) que o
comparativamente perene corpo causal é composto, o qual carregamos de nascimento
para nascimento até o fim da etapa humana da evolução. Mas mesmo que cada ser
individualizado deva necessariamente ter um tal corpo - uma vez que é a sua
posse que caracteriza a individualização - sua aparência não é de modo algum
idêntica em todos os casos. De fato, no homem comum subdesenvolvido ele é quase
imperceptível, mesmo por aqueles que têm a visão que lhes desvenda os segredos
daquele plano, pois não passa então de uma simples película incolor - apenas
capaz, ao que parece, de manter-se unida e constituir uma individualidade
reencarnante, mas nada além disso. (Vide Man, Visible and Invisible [O Homem Visível e Invisível], deste
autor, pranchas V e VII).
Mas tão logo o homem comece a desenvolver-se em espiritualidade, ou mesmo
em intelecto superior, uma mudança acontece. O indivíduo real então começa a ter
um caráter próprio persistente, à parte daquele moldado em cada uma de suas
personalidades pelo treinamento e circunstâncias ambientais; e este caráter
mostra-se pelo tamanho, cor, luminosidade e definição do corpo causal,
exatamente como a personalidade se mostra no corpo mental, porém aquele veículo
superior naturalmente é mais sutil e mais formoso. (Vide ibid., prancha
XXI).
Num outro aspecto, ainda, felizmente difere dos corpos abaixo de si, pois
em quaisquer circunstâncias normais nenhum mal de nenhum tipo pode manifestar-se
nele. O pior dos homens comumente só pode manifestar-se naquele plano como uma
entidade inteiramente subdesenvolvida; seus vícios, mesmo que continuem vida
após vida, não podem poluir aquele veículo superior; podem apenas tornar mais e
mais difícil o desenvolvimento em si das virtudes opostas.
De outra parte, a perseverança ao longo de linhas corretas logo se
apresenta no corpo causal, e no caso de um discípulo que tenha feito algum
progresso na Senda da Santidade, constitui uma visão maravilhosa e adorável,
além de toda a concepção terrena. (Vide ibid., prancha XXVI); enquanto que o de
um Adepto é uma magnificente esfera de luz viva, cuja glória radiosa nenhuma
palavra pode jamais descrever. Quem ao menos uma vez tiver contemplado um
espetáculo sublime como este, e puder também ter visto ao redor de si indivíduos
em todos os estágios de desenvolvimento entre este e o de película incolor das
pessoas comuns, jamais pode ter alguma dúvida sobre a evolução do Ego
reencarnante.
A noção que o Ego tem de seus intrumentos, e, portanto, sua influência
sobre eles, naturalmente é pequena nos estágios iniciais. Nem sua mente nem suas
paixões estão completamente sob controle; de fato, o homem comum não faz quase o
menor esforço para controlá-las, mas permite-se ser arrastado de cá para lá sob
o império de seus desejos ou pensamentos mais inferiores. Conseqüentemente, no
sono as diferentes partes do mecanismo que mencionamos são muito inclinadas a
agir quase inteiramente por sua própria conta a despeito do homem real, e o
estágio de seu desenvolvimento espiritual é um dos fatores que devemos levar em
conta ao considerarmos a questão dos sonhos.
Também é importante que compreendamos a parte que o Ego desempenha na
formação de nossa concepção dos objetos externos. Devemos lembrar que o que as
vibrações dos feixes nervosos apresentam ao cérebro são só impressões, e é o
trabalho do Ego, agindo através da mente, classificar, combinar e
rearranjá-las.
Por exemplo, quando olho pela janela e vejo uma casa e uma árvore,
instantaneamente as reconheço pelo que são, ainda que a informação realmente
veiculada a mim pelos meus olhos fique muito aquém de tal reconhecimento. O que
realmente ocorre é que certos raios de luz - isto é, correntes de éter vibrando
em certas freqüências específicas - são refletidas pelos objetos e atingem a
retina de meu olho, e os feixes nervosos sensíveis devidamente levam estas
vibrações ao cérebro.
Mas qual é a história que eles têm para contar- Toda a informação que
eles realmente transmitem é que em certa direção há certos padrões de cores
variados definidos por contornos mais ou menos nítidos. É a mente que a partir
de suas experiências prévias é capaz de decidir que um dado objeto branco
retangular é uma casa, e outro verde arredondado é uma árvore, e que
provavelmente têm tal e tal tamanho, e estão a tal e tal distância de
mim.
Uma pessoa que, tendo nascido cega, obtém sua visão por meio de uma
cirurgia, por algum tempo não sabe o que são os objetos que vê, nem pode avaliar
a distância que está deles. O mesmo é verdadeiro com relação a um bebê, pois
muitas vezes ele pode ser visto tentando alcançar objetos interessantes (como a
Lua, por exemplo) que estão muito além de seu alcance; mas à medida que cresce,
aprende inconscientemente, por exeperiência repetida, a julgar instintivamente a
distância e tamanho prováveis da forma que vê. Mesmo pessoas adultas podem
prontamente enganar-se a respeito da distância e portanto do tamanho de um
objeto não-familiar, especialmente se visto sob luz fraca ou
inconstante.
Vemos, portanto, que a mera visão de modo nenhum é suficiente para a
percepção acurada, mas que a discriminação do Ego atuando através da mente deve
ser trazida a elaborar o que é visto; e mais ainda vemos que esta discriminação
não é um instinto mental inerente, perfeito desde o início, mas é o resultado da
comparação inconsciente de numerosas experiêmcias - pontos que devem ser
cuidadosamente mantidos em mente quando passarmos à próxima seção de nosso
assunto.
Capítulo
4
A Condição de Sono
A investigação clarividente dá abundantes testemunhos do fato de que
quando um homem cai em sono profundo os princípios superiores de seu veículo
astral quase invariavelmente se desprendem do corpo e pairam em sua vizinhança
imediata. De fato, este processo de desprendimento é o que usualmente chamamos
"dormir". Considerando o fenômeno dos sonhos, portanto, temos de guardar na
mente este rearranjo, e ver como isto afeta tanto o Ego como seus vários
mecanismos.
No caso que iremos analisar, então, presumimos que nosso paciente esteja
em sono profundo, o corpo físico (incluindo a porção mais fina dele que muitas
vezes é chamada de duplo-etérico) deitado tranqüilamente na cama, enquanto o
Ego, em seu corpo astral, flutua com a mesma tranqüilidade perto dele. Qual
seria, nestas circunstâncias, a condição e consciência destes diversos
princípios-
I - O Cérebro
Quando o Ego durante este tempo abre mão do controle de seu cérebro, não
se torna inteiramente inconsciente, como poderíamos esperar. É evidente a partir
de várias experiências que o corpo físico têm uma espécie de vaga consciência
própria, muito distinta da do Eu real, e distinta também do mero agregado de
consciência de suas células individuais.
Este escritor por diversas vezes observou um efeito desta consciência ao
acompanhar a extração de um dente com anestesia de gás. O corpo emitiu um grito
confuso, e ergueu as mãos em direção à boca, mostrando claramente que em alguma
extensão havia sentido a extração; mas quando o Ego reassumiu sua posição vinte
segundos depois, ele declarou que não havia sentido absolutamente nada da
operação. É claro que estou ciente de que tais movimentos são costumeiramente
atribuídos à "ação reflexa", e que as pessoas têm o hábito de aceitar esta
declaração como sendo uma explicação verdadeira - não vendo que do modo como é
empregada aqui constitui uma mera frase e não explica nada.
Esta consciência, então, tal como é, ainda está agindo no cérebro físico
enquanto o Ego flutua sobre ele, mas seu nível é muito inferior, é claro, do que
à do próprio homem, e conseqüetemente todas aquelas causas que mencionamos acima
como passíveis de afetar a ação do cérebro são agora capazes de influenciá-lo em
uma extensão muito maior. A mais leve alteração no suprimento sangüíneo agora
produz graves irregularidades de funcionamento, e é por isso que a indigestão,
já que afeta o fluxo de sangue, tão amiúde seja causa de sono agitado ou de
pesadelos. |