Panfletos de Adyar, no. 33
VEGETARIANISMO E
OCULTISMO
C.W.
Leadbeater
Novembro de 1913
Theosophical Publishing House
Adyar, Chennai (Madras),Índia
Traduçäo de Ricardo A. Frantz
Ao falarmos da relaçäo entre vegetarianismo e ocultismo, pode ser melhor
começarmos pela definiçäo de nossos termos. Todos sabemos o que significa
vegetarianismo; e mesmo que haja diversas variedades dele, näo será necessário
discutí-las. O vegetariano é alguém que se abstém de comer carne. Há alguns que
admitem produtos animais como os obtidos sem a destruiçäo da vida do animal,
como por exemplo, leite, manteiga e queijo. Há outros que se restringem a certas
variedades de vegetais " frutas e nozes, talvez; há outros que preferem comer só
a comida que pode ser ingerida crua; outros näo comeräo nada que cresça debaixo
do solo, como batatas, nabos, cenouras, etc. Näo precisamos nos preocupar com
estes tipos, mas simplesmente definir o vegetariano como alguém que se abstém de
qualquer comida obtida pela morte dos animais " é claro incluindo aves e
peixes.
Como definiríamos ocultismo" A palavra deriva do latim occultus, oculto; de modo que é o estudo das
leis ocultas da natureza. Já que todas as grandes leis da natureza estäo de fato
operando no mundo invisível muito mais do que no visível, o ocultismo envolve a
aceitaçäo de uma visäo da natureza muito mais ampla do que a que se tem
usualmente. O ocultista, entäo, é um homem que estuda todas as leis da natureza
a que pode ter acesso ou das quais pode ouvir falar, e como resultado de seus
estudos ele se identifica com estas leis e devota sua vida ao serviço da
evoluçäo.
Como o ocultismo encara o vegetarianismo" Muito favoravelmente, e por
muitas razöes. Estas razöes podem ser divididas em duas categorias " as que säo
comuns e físicas, e as que säo ocultas ou invisíveis. Há muitas razöes a favor
do vegetarianismo que pertencem ao plano físico, e säo patentes aos olhos de
qualquer um que se dê ao trabalho de analisar o assunto; e estas, para o
estudante do oculto, contaräo ainda mais fortemente do que para o homem comum.
Em acréscimo a estas e além delas, o estudante do oculto conhece outras razöes
que advêm do estudo daquelas leis ocultas que säo ainda täo pouco compreendidas
pela maioria da humanidade. Devemos portanto dividir nossa consideraçäo destas
razöes em duas partes, primeiro analisando as físicas e comuns.
Mesmo estas razöes comuns podem ser subdivididas em duas classes " a
primeira contendo as que säo físicas e de fundo egoísta, e em segundo as que
podem ser descritas como tendo bases morais e altruístas.
Primeiro, entäo, tomemos as razöes em favor do vegetarianismo que
interessam somente o próprio homem, e pertencem puramente ao plano físico. Por
enquanto colocaremos de lado a consideraçäo dos efeitos sobre os outros " o que
é infinitamente mais importante " e pensaremos somente nos resultados para o
próprio homem. É necessário fazê-lo, porque uma das objeçöes freqüentemente
levantadas contra o vegetarianismo é a de que ele é uma bela teoria, mas cuja
aplicaçäo é impossível, já que se supöe que um homem näo pode viver sem devorar
carne morta. Esta objeçäo é irracional, e é fundamentada na ignorância ou na
perversäo dos fatos. Eu mesmo sou um exemplo de sua falsidade, pois tenho vivido
sem a poluiçäo da alimentaçäo carnívora " nem gado, peixe ou ave " pelos últimos
trinta e oito anos, e näo só sobrevivi, mas tenho tido durante todo este tempo
uma saúde extraordinariamente boa. Nem sou de modo algum especial nisso, pois
conheço milhares de outros que têm feito a mesma coisa. Conheço alguns jovens
que têm sido felicíssimos de näo serem poluídos pelo comer carne durante todas
as suas vidas; e säo nítidamente mais livres de doenças do que aqueles que o
fazem. Seguramente há muitas razöes em favor do vegetarianismo do ponto de vista
puramente egoísta; e as apresentarei antes, porque sei que as consideraçöes
egoístas atrairäo mais fortemente a maioria das pessoas, ainda que eu espere que
no caso dos que estudam a Teosofia possamos imaginar que as consideraçöes morais
que mais tarde apresentarei teräo muito maior peso.
QUEREMOS O MELHOR
Presumo que sobre a alimentaçäo, assim como em todo o resto, todos nós
queremos o melhor que estiver ao nosso alcance. Gostaríamos de trazer nossas
vidas, e portanto nossa alimentaçäo diária como uma parte importante de nossas
vidas, em harmonia com nossas aspiraçöes, em harmonia com o mais elevado que
conhecemos. Ficaríamos felizes de ter o que realmente é o melhor, e se ainda näo
sabemos o bastante para sermos capazes de apreciar o que é melhor, entäo
ficaríamos felizes de aprendê-lo. Se pensarmos nisto, veríamos que este é o caso
ao longo de outras linhas, como por exemplo na música, arte ou literatura. Desde
a infäncia fomos ensinados que se queremos desenvolver nosso gosto musical ao
longo das melhores linhas devemos selecionar somente a melhor música, e se de
início näo a apreciamos ou entendemos completamente, devemos ser muito pacientes
em esperar e ouvir, até que enfim algo se sua suave beleza desponte em nossas
almas, e passemos a compreender que o que antes näo despertava resposta alguma
em nossos coraçöes. Se queremos apreciar o melhor na arte näo devemos encher
nossos olhos com as páginas policiais sensacionalistas, ou com as horríveis
abominaçöes chamadas enganosamente de caricaturas; mas devemos permanecer
olhando e aprendendo até que o mistério da obra de Turner comece a se abrir à
nossa paciente contemplaçäo, ou o grandioso vôo de Velásquez entre em nosso
poder de entendimento. O mesmo quanto à literatura. Tem sido a triste
experiência de muitos que a maior parte do que é melhor e mais belo esteja
perdida para aqueles cujo alimento mental consiste exclusivamente do jornal
sensacionalista ou do romance barato, ou daquela frívola massa de material
despejado como escória sobre o metal fundido da vida " novelas, seriados e
fragmentos de um tipo que nem ensina o ignorante, nem fortalece o fraco, nem
desenvolve o imaturo. Se queremos desenvolver a mente de nossas crianças näo os
devemos abandonar ao seus gostos näo cultivados em nenhuma destas coisas, mas
tentemos ajudá-los a treinar o gosto, seja na arte, na música ou na
literatura.
Seguramente entäo podemos procurar encontrar o melhor alimento tanto
físico quanto mental, e seguramente devemos encontrá-los näo só por mero
instinto cego, mas por aprender a pensar e analisar o assunto do mais alto ponto
de vista. Pode haver aqueles no mundo que näo têm desejo pelo melhor, que querem
permanecer nos níveis mais baixos e consciente e intencionalmente constróem em
si o que é bruto e degradante; mas seguramente há os que desejam ascender acima
disto, que feliz e avidamente tomariam o melhor se apenas soubessem o que é, ou
se sua atençäo fosse dirigida a ele. Há homens e mulheres que moralmente säo da
mais alta categoria, porém foram obrigados a comer junto das hienas e lobos da
vida, e foram ensinados que sua dieta necessária era o cadáver de um animal
assassinado. É preciso só um pouco de pensamento para mostrar-nos que este
horror näo pode ser o mais elevado e o mais puro, e que se desejamos sempre nos
elevar na escala da natureza, se desejamos sempre que nossos corpos sejam puros
e limpos como os templos do Mestre deveriam ser, devemos abandonar este
repugnante costume, e assumir nosso lugar entre as hostes principescas que se
esforçam pela evoluçäo da humanidade " se esforçam pelo mais elevado e mais puro
em tudo, para eles mesmos e para seus companheiros. Vejamos em detalhe por que
uma dieta vegetariana é enfaticamente a mais pura e melhor.
1. Mais Nutritiçäo
Primeiro: Porque os vegetais contém mais nutrientes do que uma igual
quantidade de carne morta. Isto soará como uma declaraçäo surpreendente e
incrível para muitas pessoas, porque elas foram levadas a acreditar que näo
podem viver a näo ser que se aviltem com carne, e esta ilusäo é täo largamente
disseminada que é difícil despertar o homem comum dela. Deve ser entendido
claramente que isto näo é uma questäo de hábito, ou de sentimento, ou de
preconceito; é simplesmente uma questäo de mero fato, e contra os fatos näo há e
nunca houve a menor objeçäo. Há quatro elementos necessários na alimentaçäo,
todos essenciais à reparaçäo e construçäo do corpo: (a) Proteínas ou alimentos
nitrogenados; (b) Carboidratos; (c) Lipídios ou gorduras; (d) Sais minerais.
Esta é a classificaçäo usualmente aceita pelos fisiologistas, ainda que
investigaçöes recentes tendam a modificá-la em certa extensäo.
Mas näo há nenhuma dúvida de que todos estes elementos existem em
quantidade maior nos vegetais do que na carne morta. Por exemplo, leite, nata,
queijo, nozes, ervilhas e feijöes contêm uma grande porcentagem de proteínas ou
matéria nitrogenada. Trigo, aveia, arroz e outros gräos, frutas e a maioria dos
vegetais (exceto talvez ervilhas, feijöes e lentilhas) consistem principalmente
de carboidratos " isto é, amido e açúcares. Os lipídios, ou gorduras, säo
encontrados em quase todos os alimentos proteínicos, e podem ainda ser ingeridos
sob forma de manteiga ou óleos. Os sais minerais säo encontrados praticamente em
todos os alimentos em maior ou menor grau. Säo da maior importância na
manutençäo dos tecidos corporais, e o que chamamos de depleçäo salina é a causa
de muitas doenças.
Algumas vezes se argumenta que a carne contém alguns destes nutrientes em
maior abundância do que os vegetais, e algumas tabelas säo elaboradas de modo a
sugerir isto; mas uma vez mais, isto é uma questäo de fatos, e deve ser encarada
deste ponto de vista. As únicas fontes de energia na carne morta säo a matéria
protêica que contém, e a gordura; e quanto à gordura dela, certamente näo tem
mais valor do que outras gorduras, sendo a proteína o único ponto a ser
considerado. Mas deve ser lembrado que as proteínas têm todas uma só origem; säo
elaboradas nas plantas e em nenhum outro lugar. Nozes, ervilhas, feijöes e
lentilhas säo muito mais ricos deste elemento do que qualquer tipo de carne, e
têm a enorme vantagem de serem puras, e portanto contêm toda a energia
originalmente armazenada nelas durante sua elaboraçäo. No corpo animal estas
proteínas, que o animal absorveu do reino vegetal durante sua vida, estäo
constantemente sendo decompostas, durante a qual a energia originalmente
armazenada nelas é liberada.
Conseqüentemente o que já foi usado por um animal näo pode ser utilizado
por outro. As proteínas säo avaliadas em algumas destas tabelas pela quantidade
de nitrogênio que contêm, mas na carne há muitos produtos de metabolismo
tecidual como uréia, ácido úrico e creatinina, todos contendo nitrogênio, e
portanto sendo incluídos junto das proteínas, embora näo possuam nenhum valor
nutritivo.
Tampouco o mal termina aqui; pois este metabolismo necessariamente é
acompanhado pela formaçäo de muitos venenos, que sempre säo encontrados em
qualquer tipo de carne; e em muitos casos a virulência destes venenos é muito
grande. Assim se você obtém alguma nutriçäo pelo consumo de carne morta, o faz
somente porque durante sua vida o animal consumiu matéria vegetal. Você obtém
menos nutriçäo do que deveria, porque o animal já a consumiu metade, e você
recebe junto várias substâncias indesejáveis, e mesmo alguns venenos ativos,
que, é óbvio, säo nitidamente deletérios. Eu sei que há muitos doutores que
prescreveräo a desagradável dieta de carne, a fim de fortalecer as pessoas, e
eles freqüentemente teräo alguma medida de sucesso; embora mesmo neste ponto
eles de modo algum concordem, pois o Dr. Milner Fothergill escreve: "Toda efusäo
de sangue causada pela disposiçäo belicosa de Napoleão näo é nada comparada à
perda de vida de miríades de pessoas que foram ao túmulo através de uma enganosa
confiança no suposto valor do bife". De qualquer modo, os resultados
fortalecedores podem ser obtidos do reino vegetal quando a ciência da dieta for
corretamente compreendida, e eles podem ser obtidos sem a horrível poluiçäo e
sem todos os outros fatores indesejáveis concomitantes do outro sistema.
Deixe-me mostrar-lhe que nisto tudo näo faço nenhuma afirmaçäo infundada;
deixe-me citar para você as opiniöes dos médicos, dos homens cujos nomes säo bem
conhecidos no mundo da medicina, para que você possa ver que eu tenho ampla
autoridade no que disse.
Encontramos Sir Henry Thompson, F.K.C.S., dizendo: "É um erro vulgar
considerar a carne sob qualquer forma como necessária à vida. Tudo o que é
necessário para o corpo humano pode ser suprido pelo reino vegetal... O
vegetariano pode extrair de sua alimentaçäo todos os princípios necessários para
o crescimento e manutençäo do corpo, assim como para a produçäo de calor e
força. Deve ser admitido como um fato além de qualquer dúvida que algumas
pessoas säo mais fortes e mais saudáveis quando tomam este alimento. Eu sei o
quanto esta dieta de carne predominante é näo só um luxo dispendioso, mas uma
fonte de sério mal ao consumidor". Eis uma afirmaçäo definitiva de um médico bem
conhecido.
Entäo podemos acompanhar as palavras de um membro da Royal Society, Sir
Benjamin Ward Richardson, M.D.; ele diz: "Deve ser admitido honestamente que
peso por peso, a substância vegetal, quando cuidadosamente selecionada, possui
as mais extraordinárias vantagens sobre a alimentaçäo animal, em termos de valor
nutritivo. Eu gostaria de ver um plano vegetariano e frugívoro posto em uso
geral, e acredito que será feito".
O bem conhecido médico Dr. William S. Playfair, C.B., disse mui
claramente: "A dieta animal näo é essencial ao homem"; e encontramos o Dr. F.J.
Sykes, B.Sc., oficial médico para S. Pancrácio, escrevendo: "A química näo é
contrária ao vegetarianismo, näo mais que a biologia o é. A alimentaçäo de carne
certamente näo é necessária para suprir os produtos nitrogenados requeridos para
a reparaçäo dos tecidos; portanto uma dieta bem escolhida derivada do reino
vegetal está perfeitamente correta, do ponto de vista químico, para a nutriçäo
dos homens".
O Dr. Francis Vacher, F.R.C.S., F.C.S., assinala: "Näo acredito que um
homem fique melhor física ou mentalmente pelo consumo de carne".
O Dr. Alexander Haig, F.E.C.P., o médico-chefe de um dos grandes
hospitais de Londres, escreveu: "Que é possível sustentar a vida com produtos do
reino vegetal näo precisa demonstraçäo para os médicos, mesmo se a maioria da
raça humana näo estivesse constantemente envolvida nesta demonstraçäo; e minhas
pesquisas mostram näo só que é possível, mas que é infinitamente preferível de
todos os modos, e produz poderes superiores, tanto de mente como de
corpo".
O Dr. M.F.Coomes, em The American
Practitioner and News, de julho de 1902, conclui um artigo científico assim:
"Deixe-me dizer antes que a carne de animais de sangue quente näo é essencial
como dieta para o propósito de manter o corpo humano em perfeita saúde". Ele
prossegue fazendo outras observaçöes que citaremos em nossa próxima
seçäo.
O Deäo da Faculdade do Jefferson Medical College, de Filadélfia, disse:
"É um fato bem conhecido que cereais como artigos de consumo diário têm uma alta
posiçäo na economia humana; contêm constituintes amplamente suficientes para
sustentar a vida em sua forma mais elevada. Se o valor alimentício dos cereais
fosse melhor conhecido seria uma boa coisa para a raça. Países inteiros vivem e
prosperam só com eles, e tem sido plenamente demonstrado que a carne näo é uma
necessidade".
Eis um número de claras afirmaçöes, e todas foram tomadas dos escritos de
homens bem conhecidos que fizeram estudos consideráveis sobre a química dos
alimentos. É impossível negar que o homem pode existir sem esta horrível dieta
carnívora, e mais ainda, que há mais nutrientes em vegetais do que em uma
quantidade igual de carne morta. Eu poderia citar muitas outras declaraçöes, mas
estas acima mencionadas säo suficientes, e säo bons exemplos das
outras.
2. Menos Doença
Segundo: Porque muitas doenças sérias advêm deste repugnante costume de
devorar corpos mortos. Novamente aqui eu poderia facilmente dar uma longa lista
de citaçöes, mas como antes ficarei satisfeito com poucas. O Dr. Josiah
Oldfield, M.E.C.S., L.R.C.P., escreve: "A carne näo é um alimento natural, e
portanto tende a criar perturbaçöes funcionais. Do modo como é consumida nas
modernas civilizaçöes, está infectada com terríveis doenças (prontamente
transmissíveis ao homem) como o câncer, consumpçäo, febre, verminoses, etc, em
uma extensäo enorme. Näo admira que a ingestäo de carne seja uma das mais sérias
causas das doenças desenvolvidas por 99% das pessoas que nascem".
Sir Edward Saunders nos diz: "Seria boa toda tentativa de ensinar a
humanidade que bife e cerveja näo säo necessários para a saúde e eficiência, e
devem levar à economia e felicidade; e à medida que isso se desenvolver acredito
que ouviremos falar menos em gota, mal de Bright, problemas de fígado e rins
quanto ao primeiro item, e menos brutalidade e espancamentos domésticos e
assassinatos quanto ao segundo. Acredito que a tendência é em direçäo à dieta
vegetariana, que será reconhecida como boa e adequada, e que näo está longe o
tempo em que a idéia de alimentaçäo animal será considerada revoltante para o
homem civilizado".
Sir Robert Christison, M.D., afirma positivamente que "a carne e a
secreçäo dos animais afetados com doenças carbunculares como o antraz säo täo
venenosas que os que comem seus derivados estäo sujeitos a sofrer severamente "
a doença assumindo a forma de inflamaçäo do tubo digestivo ou de erupçäo de um
ou mais carbúnculos".
A Drª. A. Kingsford, da Universidade de Paris, diz: "A carne animal pode
engendrar diretamente muitas doenças dolorosas e repulsivas. A própria
escrófula, esta fecunda fonte de sofrimento e morte, näo improvavelmente deve
sua origem a hábitos carnívoros. É um fato curioso de que a palavra escrófula
seja derivada de scrofa, porca. Dizer que
alguém tem escrófulas é dizer que sofre do mal suíno".
Em seu quinto relatório ao Conselho Privado da Inglaterra encontramos o
Prof. Gamgee assinalando que "um quinto do total de carne consumida é derivada
de animais mortos em um estado de doença maligna". Enquanto que o Prof. A.
Winter Blyth, F.R.C.S., escreve:
"Economicamente falando, a alimentaçäo de carne näo é necessária " e
carne seriamente doente pode ser preparada de modo a parecer muito boa. Muitos
animais com doenças avançadas no pulmäo ainda näo apresentam qualquer sinal na
carne que a olho nu difiram do normal".
O Dr. M.P. Coomes, no artigo citado antes, assinala: "Temos muitos
substitutos para a carne que säo livres dos efeitos deletérios da comida
dependente da economia animal " a saber: na produçäo de reumatismo, gota e todos
os outros tipos de doenças, sem falar na congestäo cerebral, que freqüentemente
termina em apoplexia e doenças circulatórias de um ou outro tipo, enxaqueca e
muitas outras formas de dor de cabeça, resultantes do uso excessivo de carne e
freqüentemente produzidas mesmo quando a carne näo é consumida em excesso". O
Dr. J.H. Kellogg declara: "É interessante notar que os homens de ciência em todo
o mundo estäo despertando para o fato de que a carne de animais como comida näo
é uma nutriçäo pura, mas é misturada com substâncias venenosas, excrementícias
em caráter, que säo o resultado natural da vida animal. Os vegetais armazenam
energia. É do mundo vegetal " carväo e madeira " que deriva a energia que
impulsiona nossos motores, empurra nossos trens, conduz nossos barcos e faz o
trabalho da civilizaçäo. É do mundo vegetal que todos os animais, direta ou
indiretamente, derivam a energia que é manifesta pela vida animal através do
trabalho muscular e mental. O vegetal constrói; o animal destrói. O vegetal
acumula energia; o animal a gasta. Vários produtos de excreçäo e venenosos
resultam da manifestaçäo da energia, seja da locomotiva seja do animal. Os
tecidos vivos do animal podem manter sua atividade só pelo fato de que säo
continuamente limpos pelo sangue, fluindo em uma incessante corrente através e
em torno deles, levando embora os produtos venenosos que resultam de seu
trabalho täo rapidamente quanto säo formados. O sangue venoso deve suas
características a estes venenos, que säo removidos pelos rins, pulmöes, pele e
intestinos. A carne de um animal morto contém uma grande quantidade destes
venenos, cuja eliminaçäo cessa no instante da morte, embora sua formaçäo
continue por algum tempo depois da morte. Um eminente cirurgiäo francês
recentemente assinalou que "o bife é uma verdadeira poçäo venenosa". Médicos
inteligentes em toda parte estäo passando a reconhecer estes fatos, e fazer
aplicaçäo prática deles".
Aqui novamente vemos que näo há falta de evidência; e muitas das citaçöes
a respeito da introduçäo de venenos no sistema através da alimentaçäo de carne
näo provêm de doutores vegetarianos, mas daqueles que ainda consideram certo
comer pedaços de cadáveres, mas estudaram a ciência do assunto em alguma
extensäo. Deve ser lembrado que a carne morta jamais pode estar em uma condiçäo
de perfeita saúde, porque a decomposiçäo inicia no momento em que a criatura é
morta. Todos os tipos de produtos säo formados neste processo de deterioraçäo [retrograde
change, no original " NT]; todos säo
inúteis, e muitos säo positivamente perigosos e venenosos. Nas antigas
escrituras dos hindus encontramos uma passagem muito notável, que se refere ao
fato de que mesmo na Índia algumas das castas inferiores naquele período
primitivo começaram a se alimentar de carne. A declaraçäo é de que em tempos
antigos existiam somente três doenças, uma das quais era a velhice; mas que
agora, desde que as pessoas tinham começado a comer carne, setenta e oito novas
doenças haviam surgido. Isto nos mostra que a idéia de que a doença poderia vir
do consumo de cadáveres já tem sido reconhecida há milhares de anos.
3. Mais Natural para o Homem
Terceiro: Porque o homem näo foi naturalmente feito para ser carnívoro, e
portanto esta comida horripilante näo lhe é adequada. Aqui novamente deixe-me
fazer algumas citaçöes para lhe mostrar quais autoridades se enfileiram ao nosso
lado neste assunto. O próprio Baräo Cuvier escreve: "O alimento natural do
homem, a julgar pela sua estrutura, consiste de frutas, raízes e vegetais"; e o
Prof. Eay nos diz: "Certamente o homem jamais foi feito para ser um animal
carnívoro". Sir Richard Owen, F.R.C.S., escreve: "Os antropóides e todos os
quadrúmanos derivam sua alimentaçäo de frutas, gräos e outras substâncias
vegetais suculentas, e a estrita analogia que existe entre a estrutura destes
animais e a do homem demonstra claramente sua natureza frugívora".
Um outro membro da Royal Society, Prof. William Lawrence, escreve: "Os
dentes do homem näo têm a menor semelhança com os dos animais carnívoros; e se
considerarmos os dentes, as mandíbulas ou órgäos digestivos, a estrutura humana
se assemelha notavelmente à dos animais frugívoros".
Mais uma vez o Dr. Spencer Thompson assinala: "Nenhum fisiologista
contestaria que o homem deveria viver de uma dieta vegetariana"; e o Dr.
Sylvester Graham escreve: "A anatomia comparada prova que o homem é naturalmente
uma animal frugívoro, formado para subsistir de frutas, sementes, e vegetais
farináceos".
É claro que a desejabilidade da dieta vegetariana näo precisará de nenhum
argumento para alguém que acredite na inspiraçäo das escrituras, pois será
lembrado que Deus, ao falar com Adäo no Jardim do Èden, disse: "Vê, Eu te dei
todas as ervas com semente que existem sobre a face de toda a Terra, e toda
árvore em cujo fruto houver semente; destas comerás". Foi somente depois da
queda do homem, quando a morte surgiu no mundo, que uma idéia mais degradada de
alimentaçäo também surgiu com ela; e se agora esperamos voltar de novo às
condiçöes edênicas devemos certamente começar por abolir assassínios
desnecessários executados a fim de suprir-nos de comida horrível e
degradante.
4. Mais Força
Quarto: Porque os homens ficam mais fortes e melhores com uma dieta
vegetariana. Sei que as pessoas dizem: "Você ficará fraco se näo comer carne".
Como fato isto näo é verdade. Näo sei se pode haver quaisquer pessoas que se
achem mais fracas com uma dieta de vegetais; mas eu sei sim que em muitas
competiçöes atléticas recentes os vegetarianos se provaram os mais fortes e
resistentes " como por exemplo nas recentes corridas de bicicleta na Alemanha,
onde todos os que conseguiram as melhores colocaçöes na corrida eram
vegetarianos. Têm havido muitas destas competiçöes, e elas mostram que, outros
fatores sendo igualados, o homem que ingere comida pura se sai melhor. Temos que
encarar os fatos, e neste caso os fatos se colocam todos do nosso lado, contra
os tolos preconceitos e o desejo repelente, no outro. A razäo foi claramente
dada pelo Dr. J.D. Craig, que escreve:
"O vigor corporal é freqüentemente ostentado por aqueles que comem carne,
particularmente se vivem na maior parte do tempo ao ar livre; mas há uma
peculiaridade sobre eles, é a de näo terem a resistência dos vegetarianos. A
razäo disto é que a carne já está se degradando, e como conseqüência sua
presença nos tecidos é de curta duraçäo. O impulso metabólico imprimido nela no
corpo do animal de onde é retirada é reforçado por um outro impulso no corpo do
homem, e por esta razäo a energia que ela contém logo se dissipa, e surge a
demanda urgente por mais. O comedor de carne, entäo, pode fazer muito trabalho
em um curto espaço de tempo, se for bem alimentado. Mas logo fica faminto, e
enfraquece. Por outro lado, os produtos vegetais säo de digestäo lenta; eles
contêm todo o estoque original de energia, e nenhum veneno; sua degradaçäo é
mais lenta do que a da carne, tendo recém começado, e portanto sua força é
liberada mais lentamente e com menos perda, e a pessoa que é nutrida por eles
pode trabalhar por um longo período sem comer, se necessário, e sem desconforto.
As pessoas na Europa que se abstêm de comer carne säo da classe mais elevada e
inteligente, e o assunto da resistência tem sido abordado e integralmente
investigado por elas. Na Alemanha e Inglaterra têm sido realizadas entre
comedores de carne e vegetarianos um número de notáveis competiçöes atléticas
que requerem resistência, com o resultado de que os vegetarianos invariavelmente
acabam vitoriosos". |