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Mensagem 216
De: "Osmar de Carvalho"
Data: Sáb Fev 3, 2001 10:29 am
Assunto: A obra do padre Antônio Vieira é lançada


Pe Antônio Vieira


Palavras que frutificam
A obra do padre Antônio Vieira é
lançada numa edição bem cuidada.
Já não era sem tempo

Carlos Graieb


Antônio Vieira: marxistas e liberais o interpretaram mal


Por várias décadas, só existiram dois caminhos para quem quisesse aprofundar-
se na belíssima obra do padre Antônio Vieira (1608-1697). Um deles era trazer
de Portugal a edição completa da Lello & Irmão, cara e em quinze tomos. O
outro era contentar-se com livrinhos brasileiros que, quando muito, reproduzem
meia dúzia das mais de 200 peças de oratória escritas pelo jesuíta. Entre esses
dois extremos, nada. Eis agora uma boa nova: a editora Hedra está lançando
uma coleção das obras de Vieira, em quatro volumes. O primeiro (663 páginas;
49 reais) já está circulando e traz 25 sermões importantes. O próximo terá mais
25 sermões e os dois seguintes conterão um material interessante e pouco
conhecido: amostras de suas cartas e de seus textos proféticos. A organização
ficou a cargo de Alcir Pécora, maior especialista brasileiro em Vieira, e a
edição
é caprichada. Traz páginas em fac-símile, cronologia da vida do autor, tradução
das citações em latim e localização das passagens bíblicas que ele menciona.
Se alguém por aí duvida que um lançamento como esse é precioso, vale citar
alguns fatos universalmente aceitos a respeito de Antônio Vieira. Ele foi um
personagem central tanto na cultura quanto na política do século XVII. Foi
eminência parda no reinado de dom João IV, montou missões no Brasil, serviu
como diplomata na Holanda, na França e em Roma, enfrentou os tribunais da
Inquisição, emprestou seu brilho à corte de Cristina da Suécia e chegou a
receber convite para ser o pregador do papa. Muitos o consideram o maior orador
de seu tempo – e ele de fato atraía enxames de pessoas às suas missas. Mas,
se isso não bastar para convencer os incrédulos, aqui vai uma opinião de peso,
do poeta Fernando Pessoa, a respeito de sua habilidade literária: "Vieira foi o
maior artista da língua portuguesa". O homem, em poucas palavras, foi uma das
glórias do período barroco.

O consenso em torno de Vieira, no entanto, acaba justamente na constatação
de sua grandeza. Depois disso, o que há é uma multidão de interpretações
conflitantes. A tal ponto que se torna divertido comparar a situação dos
críticos
contemporâneos com aquela dos pregadores a quem Vieira ataca em uma de
suas obras mais famosas, o Sermão da Sexagésima. O sermão foi proferido em
Lisboa, no ano de 1655. Ao seu autor interessava saber o motivo de a pregação
católica estar surtindo pouco efeito entre os cristãos. "Sendo a palavra de Deus

tão eficaz e tão poderosa", pergunta ele, "como vemos tão pouco fruto da palavra

de Deus?" Depois de muito arrazoar, Vieira conclui que a culpa é dos próprios
padres. "Eles pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus",
afirma. Dito de outra maneira, o jesuíta reclama daqueles que torcem o texto da
Bíblia para defender interesses mundanos. Sem tirar nem pôr, a mesma
repreensão poderia ser feita contra aqueles que "semeiam" os textos de Antônio
Vieira hoje em dia.
O padre parece adaptar-se a todos os gostos. Há um Vieira marxista, um Vieira
liberal e até um Vieira multiculturalista. Os marxistas gostam de citar sermões
como o de Santo Antônio (1642), no qual o jesuíta prega contra os privilégios da

nobreza, e afirmam que ele defendia a idéia de "justiça distributiva". Liberais
vêem no Sermão XIV, que fala sobre escravidão, um indício de que ele foi "o
primeiro abolicionista moderno". Finalmente, sermões sobre os índios ou a
tolerância com os judeus servem para pintar um Vieira "relativista", para quem
todas as culturas teriam igual direito à existência. Mas esses leitores se
esquecem das evidências contrárias às suas teses. Os marxistas não reparam
que Vieira subscrevia a "metafísica social" de sua época, na qual o nobre é
sempre nobre, o clero é sempre clero e o povo sempre povo. Não há lugar para
revoluções em seu pensamento. Já os que falam em abolicionismo não
mencionam que no mesmo Sermão XIV ele justifica o tráfico negreiro como
sendo uma "primeira transmigração", que tiraria os africanos do paganismo e os
aproximaria da salvação. Quanto aos multiculturalistas, esquecem-se de que
liberdade, para Vieira, era liberdade no interior da Igreja. Ai do índio que não
se
convertesse. Seu destino era o inferno. "As pessoas querem salvar Vieira de sua
própria época, isolando um ou outro aspecto de sua obra. É uma estratégia
desastrada", diz Alcir Pécora. O estudioso tem se esforçado para mostrar que
cada texto do jesuíta forma uma unidade "teológico-político-retórica" e é
difícil
não simpatizar com seu projeto.
Deve-se reconhecer, porém, que ler Vieira atentando para todas as nuances
teológicas e históricas pode causar mais suores do que uma sessão de
"aeróbica do Senhor" com o padre Marcelo Rossi. É tarefa para especialistas. O
que é para todos é o prazer de sua leitura. Nos estreitos limites que as regras
da
oratória lhe impunham, ele sabia manipular como ninguém as referências
bíblicas, trabalhar as imagens e argumentações e manter o ritmo musical das
frases. Vieira considerava os seus sermões "choupanas" em vez de "palácios".
E não gostava que fossem lidos de maneira puramente estética. Quanto ao
primeiro ponto, ele estava errado. Quanto ao segundo, não há pecado em se
deleitar com esses textos maravilhosos. Leia Vieira. Suas palavras sempre
frutificam.

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Fonte: Revista Veja
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Osmar de Carvalho
Coordenador da Loja Teosófica Virtual



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