AS ORIGENS DO RITUAL NA IGREJA E NA MAÇONARIA
Helena Petrovna Blavatsky
Parte VI
A teoria do "mito solar" aparece atualmente tão repisada "ad nauseum", que a ouvimos repetida dos quatro pontos cardeais do orientalismo e do simbolismo, e aplicada sem discernimento a todas as coisas e a toda religião, excetuando-se a igreja cristã e as religiões do Estado. Sem dúvida, o Sol foi na Antigüidade, e desde tempos imemoriais, o símbolo da divindade criadora, não somente entre os parsis, mas também em outras nações; o mesmo se dá nos cultos ritualistas; como o era antigamente, continua a sê-lo em nossos dias. Nossa estrela central é o Pai para os PRO-FANOS; para o EPOPTAE é o Filho da Divindade Incognoscível.
Ragon, o maçom já citado, nos diz: "o Sol era a mais sublime e natural das imagens do Grande Arquiteto; igualmente, a mais engenhosa de todas as alegorias pelas quais o homem moral e bom (o verdadeiro sábio) simbolizara a INTELIGÊNCIA infinita, sem limite".
Com exceção desta última afirmação, Ragon tem razão. Ele nos mostra o símbolo gradualmente se afastando do ideal, assim concebido e representado, terminando por se tornar no espírito de seus adoradores ignorantes, não mais um símbolo, mas o próprio Sol. O grande escritor maçônico prova em seguida que o Sol FÍSICO é que era considerado como o Pai e o Filho pelos primeiros cristãos. Diz ele: "Ó Irmãos Iniciados, podereis vos esquecer que nos templos da religião existente, uma grande LÂMPADA brilha noite e dia? Ela está suspensa diante do altar principal, lá onde está depositada a arca do Sol. Uma outra LÂMPADA brilhando diante da Virgem-Mãe, é o emblema da claridade da LUA. Clemente de Alexandria nos faz saber que os egípcios foram os primeiros a estabelecer o uso religioso das lâmpadas... Sabe-se que o mais sagrado e o mais terrível dos deveres era confiado às Vestais. Se os templos maçônicos são iluminados por três luzes astrais - o Sol, a Lua e a estrela geométrica - e por três luzes vitais – o hierofante e seus dois epíscopes (vigilantes) - é porque um dos pais da maçonaria, o sábio Pitágoras, habilmente sugeriu que não deveríamos falar das coisas divinas sem estarmos esclarecidos pela luz. Os pagãos celebravam a festa das lâmpadas, chamadas 'lampadofórias' em honra de Minerva, Prometeu e Vulcão. Mas, Lactâncio e alguns dos primeiros padres da nova fé se lamentavam amargamente da introdução pagã das lâmpadas nas igrejas. Lactâncio escreve: "SE ELES SE DIGNASSEM CONTEMPLAR ESSA LUZ QUE NÓS CHAMAMOS SOL, RECONHECERIAM DESDE LOGO QUE DEUS NÃO PRECISA DE SUAS 'LÂMPADAS'; e Vigilantus acrescenta: 'Sob o pretexto de religião, a Igreja estabeleceu o costume dos gentios de acender mesquinhas velas, enquanto o Sol está nos iluminando com mil luzes. Pode lá ser uma grande honra ao 'Cordeiro de Deus representar-se o Sol dessa maneira, quando, ocupando o MEIO DO TRONO (o Universo), ele o enche com o resplendor de sua Majestade?' Tais passagens nos provam que nesses dias a igreja primitiva adorava o Grande Arquiteto do Universo em sua imagem, o Sol Único, o único de sua espécie ("A Missa e seus Mistérios")".
Realmente, enquanto os candidatos cristãos devem pronunciar o juramento maçônico virados para Este, e seu "Venerável" permanece no lado oriental (porque os neófitos assim faziam nos Mistérios pagãos), conserva a Igreja, por sua vez, o mesmo rito. Durante a Grande Missa, o altar-mor (ARA MAXIMA) é ornado com o tabernáculo ou PYX (a caixa na qual o Santo-Sacramento é fechado) e com seis lâmpadas; o significado exotérico do tabernáculo e seu conteúdo, símbolo do "Cristo-Sol", é a representação do luminar resplandecente, e as seis velas representam os seis planetas (os primeiros cristãos não conheciam mais que esses), três à sua direita e três à sua esquerda Isso é uma cópia do candelabro de sete braços da Sinagoga, cujo significado é idêntico. SOL EST DOMINUS MEUS (o Sol é meu Senhor), diz David no Salmo XCV, e isso é traduzido muito engenhosamente na versão autorizada: "O Senhor é um grande Deus, um grande Rei, acima de todos os deuses!" (V. 3) ou na realidade, os dos planetas. Agostinho Chalis é mais sincero quando diz na sua PHILOSOPHIE DES RELIGIONS COMPARÉES: "Todos são DEV demônios) nesta terra, menos o Deus dos Videntes (Iniciados), e se em Cristo nada mais vedes que o Sol, vós adorais um DEV, um fantasma, tal como o são todos os Filhos da Noite".
Sendo o Este o ponto cardeal donde surge o astro do dia, o Grande Dispensador e sustentáculo da vida, criador de tudo que existe e respira neste globo, não é de se estranhar que todas as nações da terra tenham adorado nele o agente visível do Princípio e da Causa invisível, e que a missa seja dita em honra daquele que é o dispensador das MESSIS ou colheitas. Mas, entre a adoração do Ideal em si e adoração do símbolo, há um abismo. Para o egípcio douto, o Sol era o olho de Osíris, não o próprio Osíris; o mesmo se dava com os sábios adoradores de Zoroastro.
Para os primeiros cristãos, o Sol tornou-se a divindade IN TOTO e, pela força da casuística, do sofisma e dos dogmas que não devem ser discutidos, as Igrejas cristãs modernas acabaram por obrigar as pessoas cultas a aceitar essa opinião. As Igrejas hipnotizaram-nas numa crença de que seu Deus é a ÚNICA Divindade vivente, o criador do Sol, não o próprio Sol, demônio adorado pelos "pagãos". Mas que diferença há entre um demônio e um Deus antropomórfico, tal como é representado nos PROVÉRBIOS de Salomão? Esse "Deus, que ameaça com palavras como estas: 'Eu rirei de vossas calamidades, escarnecerei dos vossos temores' (Prov. I, 27), salvo se os pobres, os desesperados, os ignorantes clamarem por Ele, quando seus 'temores os assolam com uma calamidade' e quando a 'ruína lhes cai como um turbilhão". Comparemos esse Deus com o Grande Avatar, sobre o qual foi fundada a lenda cristã e vamos identificá-la com o Grande Iniciado que disse: "Benditos sejam os que choram, pois serão consolados". Qual o resultado dessa comparação? Eis aí como justificar a alegria diabólica de Tertuliano, que sorria e se regozijava com a idéia de seu parente próximo, "infiel", assando no fogo eterno, assim como o conselho dado por Hieronymus ao cristão convertido, de calcar aos pés o corpo de sua mãe pagã, se ela procurar impedir que ele a abandone para sempre, a fim de seguir a Cristo...
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