AS ORIGENS DO RITUAL NA IGREJA E NA MAÇONARIA
Helena Petrovna Blavatsky
Parte XI
Mas os enxertos maçônicos na árvore da religião cristã não se limitam a isso. Durante os Mistérios de Elêusis, o vinho representado BACO e o pão ou trigo, CERES (13). Ora, Ceres ou Demeter era o princípio produtor feminino da terra, a esposa do pai Aether ou Zeus; e Baco, o filho de Zeus-Júpiter, era seu pai manifestado. Noutros termos, Ceres e Baco eram as personificações da substância e do espírito, os dois princípios vivificantes em a natureza e sobre a terra. O Hierofante Iniciador apresentava simbolicamente aos candidatos, antes da revelação final dos mistérios, o vinho e o pão, que estes comiam e bebiam para testemunhar que o espírito devia vivificar a matéria, isto é, que a Divina Sabedoria do Eu Superior devia penetrar no Eu interior ou alma, tomar posse dele, auto-revelar-se.
Esse rito foi adotado pela Igreja cristã. O Hierofante, que então era chamado o "Pai", tornou-se agora - menos o conhecimento – o padre, o "pai" que administra a mesma comunhão. Jesus se chama a si mesmo a vinha, e a seu "Pai", o Vinhateiro; suas palavras na Última Ceia mostram seu perfeito conhecimento do significado simbólico do pão e do vinho, assim como sua identificação com os LOGOI dos antigos: "Aquele que comer minha carne e beber meu sangue, terá a vida eterna"... E acrescenta: "as palavras (RHEMATA, ou palavras secretas) que vos dou, são Espírito e Vida". Elas o são, porque "é o Espírito que vivifica". Essas RHEMATA de Jesus são, na verdade, as palavras secretas DE UM INICIADO.
Mas entre esse nobre rito, tão velho como o simbolismo, e sua última interpretação antropomórfica, conhecida agora como transubstanciação, há um abismo de sofisma eclesiástico. Quanta força há na exclamação: "Infelizes sois, Homens da Lei, pois REJEITASTES A CHAVE DO CONHECIMENTO" (e hoje nem sequer permitis que gnose seja dada aos outros), e eu, com decuplada força digo que essas palavras jamais foram de maior aplicação que em nossos dias.
Sim, essa GNOSE "vós não a deixais penetrar em vós mesmo, e os que quiseram e querem atingi-la, foram por vós impedidos", e ainda os impedis.
Os sacerdotes modernos não são os únicos que merecem essa censura. Os maçons, os descendentes ou, em todo caso, os sucessores dos "construtores do Templo Superior" da época dos Mistérios, e que deviam ter um melhor conhecimento, escarnecem e desprezam os seus irmãos que se lembram de sua verdadeira origem. Diversos grandes sábios e cabalistas modernos, que são maçons e que poderíamos citar, não recebem de seus irmãos senão um desdenhoso sacudir de ombros. É sempre a mesma velha história. Mesmo Ragon, o mais erudito dentre os maçons de nosso século, queixou-se nestes termos: "Todas as velhas narrações atestam que as iniciações na antiguidade continham um cerimonial imponente, tornado memorável para sempre pelas grandes verdades divulgadas e pelos conhecimentos que dele resultaram. Entretanto, ALGUNS MAÇONS MODERNOS DE MEIO-SABER se apressam em tratar de charlatães todos os que, felizmente, se lembram dessas antigas cerimônias e desejam aplicá-las" (Curso. Filos.)
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(13) Baco é certamente de origem hindu. Pausânias o mostra como sendo o primeiro que conduziu uma expedição contra a Índia e que construiu uma ponte sobre o Eufrates. "O cabo que servia para unir as duas margens opostas é mostrado hoje, diz um historiador, tecido de cepos de vinha e de ramos de hera restaira" XXXIV, 4). Arianus e Quinto Cúrcio explicavam a alegoria do nascimento de Baco, saído da coxa de Zeus, dizendo que ele havia nascido no monte Meru, e nós sabemos que Eratósthenes e Strabon acreditavam que o Baco hindu fora inventado pelos cortesãos de Alexandre, simplesmente para agradá-lo, pois que ele se comprazia em pensar que havia conquistado a Índia, tal qual se supunha havia feito Baco. Mas, por outro lado, Cícero menciona o
Deus como sendo filho de Thyne e de Nisus; Dionísios significa o Deus Dis, do monte Nys da Índia. Baco coroado de hera ou Kissos, não é senão Krishna, um de cujos nomes era Kissen. Dionísios era, antes de tudo, o Deus com o qual se contava para libertar as almas dos homens de suas prisões de carne: - Hades ou o Tártaro humano, num destes sentidos simbólicos. Cícero chama a Orfeu "um filho de Baco", e aqui encontramos uma tradição que, não somente representa Orfeu como vindo da Índia (diziam-no moreno de pele tisnada), mas também o identifica com Arjuna, o "chela" e filho adotivo de Krishna. (Ver Five Years of Theosophy).
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