A RESPEITO DOS VARIOS ESTADOS
POST-MORTEM
INTRODUÇÃO
(a) – O HOMEM FÍSICO E O HOMEM ESPIRITUAL
(b) – NOSSA RECOMPENSA E PUNIÇÕES ETERNAS;
E O NIRVANA
(c) – A RESPEITO DOS VÁRIOS PRINCÍPIOS EXISTENTES
NO HOMEM
Capítulo II
A RESPEITO DOS MISTÉRIOS DA
REENCARNAÇÃO
(a) – O QUE É MEMÓRIA DE ACORDO COM A
SOCIEDADE TEOSÓFICA
(b) – POR QUE NÃO NOS LEBRAMOS DE
NOSSAS VIDAS PASSADAS?
(c)
– A
RESPEITO DA INDIVIDUALIDADE E DA
PERSONALIDADE
(d) – A RESPEITO DA RECOMPENÇA E PUNIÇÃO DO EGO
Capitulo I
INTRODUÇÃO
Ao
tratarmos assuntos de difícil entendimento e de muita controvérsia pelas
filosofias reinantes, penso que seria necessário acrescentar alguns
esclarecimentos a respeito dos assuntos aqui tratados.
Buscamos no
Livro “Catecismo Budista” do Sr. Henry S. Olcott, ed. IBRASA, p. 53, um
esclarecimento:
Porque renascemos?
133. – Por que nós renascemos?
R. – Pelo desejo egoísta insaciado (Trishna, em
Pali Tanha) das coisas que fazem parte da existência pessoal no mundo matéria.Essa
sede inextinguível pela existência física (bhava) é uma força que tem,
por si mesma, um poder criador tão possante que reconduz o SER à vida
terrestre.
134. – A natureza de nossos desejos
não realizados exerce alguma influência sobre nossas reencarnações?
R. – Sim, assim como nosso mérito ou deméritos
pessoais.
135. – P. Nosso mérito ou demérito
exerce uma influencia sobre o estado, a condição, a forma de nossos
renascimentos?
R. – Sim, a regra, em geral, é que um excedente de mérito
nos assegura um próximo nascimento bom e feliz; um excesso de demérito, ao
contrario, fará miserável e dolorosa nossa existência futura.
Preliminarmente,
conhecemos a causa do renascimento tendo em vistas os efeitos que provocamos em
nossas vidas anteriores, geramos o acumulo de skandas (Grupo de atributos, provocados pela
ação no plano físico).
A cada renascimento no plano físico, nascemos em um veículo físico gerado por
dois seres um homem e uma mulher humanos, ou seja superior aos animais, tendo
em vista que esse corpo abriga uma Centelha Divina, que tem a faculdade de
discernimento, ao passo que os animais agem sob a influência do instinto de sua
alma grupo.
No Livro “Ilusão
Desejo e Nirvana” ed. Leia, página 38, trata-se da continuidade da vida; a
luz do Budismo:
“Nagasena, há formações que nascem
do nada?
Não; todas as formações que nascem
tinham já uma certa existência.
Dá-me uma comparação?
Esta casa em que estamos saiu do
nada?
Não; não há nada aqui que não tenha
existido precedentemente; a madeira estava na floresta, a argila na terra; a
casa é fruto do esforço dos homens e mulheres que transformaram esses
materiais. Da mesma maneira não há formações que saiam do nada.
Dá-me uma outra comparação.
Quando se planta na terra semente que
crescem, germinam, e se desenvolvem torna-se árvores que são flores e frutos,
essas árvores não saíram do nada, elas existiam antes (sob a forma de
sementes). O mesmo se dá com as formações.
Dá-me outra comparação.
Quando um oleiro extrai do solo a
argila com a qual ele fabrica os vasos não saíram do nada; eles existiam
anteriormente(sob a forma de argila). A mesma causa se dá com as formações.
Dá-me outra comparação.
Se não existisse em uma vina
(Na Índia, instrumento de cordas, do tipo da cítara.) nem cavalete, nem couro,
nem corpo, nem cavilha, nem cabo, nem corda. Nem esforço humano, o som
nasceria? Não. Se não existisse nem arani (pedaços de madeiras próprios para
produzir fogo pelo atrito), nem correia, nem isca, nem esforço humano, o fogo
nasceria? Não. Se não existisse nem lente, nem calor do sol, nem folha seca, o
fogo nasceria? Não. Se não existisse nem espelho, nem luz, nem rosto, a imagem
nasceria? Não. Da mesma maneira não há formação que nasçam do nada, elas
existiam anteriormente.
Milindapanha, L, II – cap. 29.
Este texto do ensinamento Budista de
mais ou menos 2.500 anos, revela a continuidade das coisas existentes na
Natureza, que renascem a cada novo Manvantara ou Grande Plano. Muitos séculos
depois, os ensinamentos Teosóficos também nos ensinam o mesmo princípio.
Vejamos o Livro “A Doutrina Secreta”, vol VI, p. 19, de HPB, ed.
Pensamento:
Diz o Comentário ao Livro de
Dzyan:
A Chama (ou Sopro) desce primeiro à
região como Senhor de Glória, e, depois de chamar à existência consciente a
mais elevada das Emanações deste plano especial, ascende de volta ao seu
primitivo assento, de onde vela e guia seus inumeráveis Raios (Mônadas).
Escolhe seus Avataras somente aqueles que possuíram as Sete Verdades em anteriores encarnações.Quanto aos
demais, Ela envolve e protege cada um deles com um de seus inumeráveis raios...
O próprio “Raio” é uma parcela do Senhor dos Senhores.
O princípio setenário do homem – que
só pode ser considerado dual no concernente à manifestação psíquica neste
grosseiro plano terrestre – era conhecido de toda a antiguidade, sendo
encontradiço nas velhas escrituras dos diversos paises. Conheceram-no os
egípcios, e o ensinaram nos seus templos; e a divisão adotada correspondia, em
todos os pontos, à dos ensinamentos secretos arianos. Foi assim exposta em Ísis
Sem Véu:
“Segundo as noções egípcias e as de
outros povos que tinham suas crenças baseadas na filosofia, o homem não era
meramente... a união de alma e corpo, mas uma trindade, com a adjunção do
espírito. E, além disso, acrescentava a doutrina que era constituído de Kha
(o corpo físico), Ka (a alma animal ou princípio vital), Akh (a
inteligência terrestre) e Ba (a alma superior). Havia ainda um sexto
princípio , Sab (ou múmia), cuja função começava depois da morte do
corpo físico”.
O sétimo princípio, ou princípio
superior, o espírito incriado, tinha a designação genérica de Osíris; e,
portanto, todo ser humano, depois da morte, era “osirificado”, isto é,
convertia-se em um Osíris.
Mas os ocultistas, reafirmando a
existência da eterna lei da reencarnação e do Karma (não de acordo com a
doutrina dos espíritas mas conforme a enuncia a Ciência mais antiga do mundo),
devem ensinar o renascimento cíclico e evulucionário, ou seja, aquela
misteriosa espécie de renascimento de que já nos ocupamos cautelosamente em Ísis
Sem Véu e que ainda permanece incompreensível para muita gente que ignora a
história do mundo. Um renascimento geral para os indivíduos, com intervalos no
Kâma-Loka e no Devachan, e uma reencarnação cíclica e consciente, com uma
grandiosa e divina finalidade, para muito poucos.
Essas magnas figuras, que se destacam
como gigantes na história da humanidade, e de que são exemplos Siddârtha BUDDHA
e JESUS, no reino espiritual, e Alexandre de Macedônia e Napoleão, no reino das
conquistas terrenas, são apenas imagens refletidas de tipos humanos que já
haviam existido – não dez mil anos antes, como prudentemente adiantamos em Ísis
Sem Véu, mas durante milhões de anos consecutivos, desde o começo do
Manvantara. Porque – com exceção dos verdadeiros Avataras, conforme já
explicamos acima – são os mesmos Raios (Mônadas), ininterruptos, cada um
procedente de seu próprio Pai ou Chama espiritual, chamados Devas, Dhyân-Chohans,
Dhyâni-Buddhas, Anjos Planetários, etc., que brilham na eviternidade como seus
protótipos. À sua imagem e semelhança nascem alguns homens, que por eles são
animados hipostaticamente quando há um objetivo específico em benefício da
humanidade; e a ocorrência se repete, uma vez que outra, graças às misteriosas
Potestades que guiam e governam os destinos do nosso mundo.
Como não poderíamos dizer mais na
época em que escrevemos Ísis Sem Véu, limitando a observar ali que:
“Não há nos anais da história,
sagrada ou profana, nenhuma figura eminente cujo protótipo se não possa
encontrar nas tradições semifabulosas e semi-reais das religiões e mitologias
do passado. Assim como a luz de uma estrela se reflete nas águas serenas de um
lago, apesar da imensa distância em que sobre as nossas cabaças cintila na
amplidão infinita, assim as imagens de homens que viveram em épocas
antediluvianas se refletem nos períodos históricos que poderíamos alcançar
retrospectivamente”.
No
Glossário Teosófico, encontramos uma referencia sobre os Princípios no homem,
ed. Ground, de HPB, p. 521:
... Nos ensinamentos semi-esotéricos,
estes quatro e três foram denominados de Sete Princípios fundamentais e são:
1ª) Âtman ou Jiva, “Vida Única” que impregna o Trio Monádico (Um
em três e três em Um); 2ª) Invólucro áureo, assim chamado porque o substratum da
aura que envolve o homem é o universalmente difundido Akâza primordial e
puro, a primeira película na iluminada extensão do Jiva, a imutável Raiz
de tudo; 3ª) Buddhi, porque este é um raio da alma espiritual Universal
(Alaya) e 4ª) Manas (o Ego superior), porque procede do Mahat,
“Grande Princípio” ou Inteligência cósmica, primeiro produto ou Emanação do Pradhâna
(Akâza – a Matéria Primordial original), que contém potencialmente todos
os gunas (atributos). Os três aspectos transitórios produzidos por estes
quatro Princípios fundamentais são: 1ª) Prâna, alento de vida. Com a
morte do ser vivo, o Prâna volta a ser Jiva. Este aspecto
corresponde ao Âtman. 2ª) Linga-sharira ou forma Astral, Emanação
transitória do Ovo ou Invólucro áureo. Esta forma precede a formação do
corpo vivo e, depois da morte, adere-se a este, dissipando-se apenas com o
desaparecimento do último átomo (exceção feita a esqueleto). Corresponde ao
Invólucro áureo. 3ª) Manas inferior ou Alma animal, reflexo ou sombra do
Buddhi-Manas, tendo a potencialidade de ambos, porém, geralmente
dominado por sua associação com os elementos do Kâma (Mau desejo,
lasciva, luxuria, concupiscência, volição; apego à existência.). Este aspecto
corresponde aos Princípios fundamentais Buddhi e Manas. Qualquer que
seja o homem inferior, o produto combinado dos dois aspectos – fisicamente, de
sua forma astral, e psicologicamente do Kâma-Manas – não é sequer
considerado como um aspecto, mas como uma ilusão. (Doutrina Secreta, III, 493,
494.) Os Sete Princípio humanos da constituição Setenária corresponde aos Sete
Princípios Cósmicos, a saber: Âtmâ corresponde ao Logos não manifestado; Buddhi,
à ideação universal latente; Kâma-rûpa, à Energia Cósmica (caótica); Linga-sharira,
à Ideação Astral, que reflete as coisas terrestres; Prâna, à essência ou
Energia vital e Sthûla-sharîra, à Terra. (Ibid., II, 631).
Na constituição setenária do homem,
não se deve considerar os diversos Princípios como entidades separadas entre
si, como invólucros concêntricos e sobrepostos como as diferentes cascas de uma
cebola, mas ao contrario, como pontos unidos, de certo modo entremeados, porém
independentes um do outro, cada um deles conservando em estado essencial e
vibratório distinto, sendo sempre cada Princípio inferior o veículo de seu
superior imediato, exceção feita ao corpo físico, que é o veículo (upâdhi) dos
outros seis. Finalmente, nesta mesma classificação, os Sete Princípios se
agregam em duas séries, que, por um lado, constituem a Tríada Superior, ou
seja, a Individualidade espiritual, perene, indestrutível, formada por Âtman,
Buddhi e Manas e, por outro lado, o Quaternário inferior, ou seja, a
Personalidade transitória e mortal, integrada pelos quatro Princípios
inferiores: o Kâma-rûpa, com a porção inferior ou animal de Manas; o Prâna, o
Linga-Sharira e o corpo físico. O homem real e verdadeiro é o MANAS SUPERIOR;
é a entidade que se reencarna, levando como rastro Kármico as potencialidades
boas e más de suas encarnações ou vidas anteriores. Quando o Manas se
difundiu no Âtmâ-Buddhi, o homem se converte num Deus.
Está
longa introdução é muito esclarecedora para entender o restante do estudo. Do
livro “A CHAVE PARA A TEOSOFIA”, Ed. Hemus, de H.P. Blavatsky:
Capítulo – VII
A RESPEITO DOS VARIOS ESTADOS
POST-MORTEM
(a) – O HOMEM FÍSICO E O HOMEM ESPIRITUAL
INQ.: Alegra-me
saber que vocês acreditam na imortalidade da Alma.
TEO.: Não da "Alma" mas do
Espírito divino; ou melhor, na imortalidade do Ego reencarnante.
INQ.: Qual é a diferença?
TEO.: Em nossa
filosofia a diferença é bastante grande, mas esta é uma
pergunta muito abstrusa e muito difícil de se responder. Teremos de analisar os
dois aspectos isoladamente e depois em conjunto. Podemos começar pelo
Espírito.
Dizemos que o Espírito (o "Pai
que está no oculto" de Jesus), ou Âtman,
não é propriedade de nenhum homem, mas a essência Divina que não possui corpo, nem forma, que é
imponderável, invisível e indivisível, que não existe e contudo é, como os Budistas dizem do
Nirvana. Ele apenas protege os mortais; aquilo que entra nele e penetra o corpo todo sendo apenas seus
raios onipresentes, ou luz, radiada através de Buddhi, seu veículo e emanação direta. Este é o significado secreto das asserções de
quase todos os antigos filósofos
quando dizem que "a parte racional da alma do homem"
nunca penetrou inteiramente no homem mas apenas o protege mais ou menos através
da Alma espiritual irracional ou Buddhi).
INQ.: Eu estava enganado, então,
quando pensava que apenas a "Alma Animal" era irracional, e não a
Divina.
TEO.: Você precisa
aprender a diferença entre aquilo que é negativa ou passivamente "irracional", porque
não-diferenciado, e aquilo que é irracional por ser muito ativo e
positivo. O homem é uma correlação de poderes espirituais, assim como uma
correlação de forças químicas e físicas que atuam em virtude do que chamamos "princípios".
INQ.: Li muito sobre
o assunto e parece-me que os conceitos dos filósofos mais antigos diferem muito
dos Kabalistas medievais embora concordem em alguns aspectos.
TEO.: A diferença
mais importante entre eles e nós é esta. Enquanto acreditamos, como os
Neoplatônicos e os ensinamentos orientais, que o espírito (Âtmâ) nunca desce hipostaticamente
no homem vivo, mas apenas despeja com maior ou menor intensidade seu brilho
sobre o homem interior (o composto psíquico e espiritual dos princípios astrais),
os Kabalistas afirmam que o Espírito humano, separando-se do oceano de luz
e do Espírito Universal, penetra a Alma do homem, onde permanece durante toda a
vida aprisionado na cápsula astral. Todos os Cristãos Kabalistas ainda afirmam
o mesmo por serem incapazes de se desprender de suas doutrinas antropomórficas
e Bíblicas.
INQ.: E vocês, o que
dizem?
TEO.: Dizemos que permitimos apenas a
presença do brilho do Espírito (ou Âtmâ) na cápsula astral e apenas quando é
necessário o brilho espiritual. Dizemos que
o homem e a Alma devem conquistar sua
imortalidade através da ascensão à unidade
com a qual, se vitoriosas,
unir-se-ão e na qual, finalmente, por assim dizer, serão absorvidas. A
individualização do homem após a morte depende do espírito e não de sua
alma e corpo. Embora a palavra "personalidade", no sentido em que
usualmente é entendido, é um absurdo se aplicado literalmente à nossa essência imortal, ainda é, como nosso Ego individual,
uma entidade distinta, imoral e eterna per se.
E. apenas no caso de magos negros ou de criminosos que já não mais podem ser
redimidos, os que têm sido criminosos durante uma longa série de vidas — que o fio brilhante que une
o espírito à alma pessoal
desde o momento do nascimento da criança
é violentamente rompido e a entidade desencarnada torna-se separada da
alma pessoal, sendo a última aniquilada sem deixar
a menor impressão de si mesma sobre a
primeira. Se esta união entre o Manas inferior ou pessoal e o Ego individual reencarnante não tiver sido atingida durante a vida, então o primeiro
sofre o destino dos animais inferiores até gradualmente
dissolver-se no éter e ter sua personalidade aniquilada. Mas mesmo então o Ego permanece como um ser distinto.
Ele (o Ego espiritual) perde apenas um estado Devachânico — após essa vida especial, e no caso de fato inútil — como aquela Personalidade
idealizada, e reencarna quase
imediatamente após desfrutar, durante bem pouco tempo, sua liberdade como
espírito planetário.
INQ.: Afirma-se em lsis Unveiled (Isis
Sem Véu) que esses Espíritos ou Anjos planetários, "os deuses dos Pagãos
ou os Arcanjos dos Cristãos" jamais serão homens em nosso planeta.
TEO.: Exatamente. Não "essas" mas algumas classes de Espíritos
Planetários superiores. Nunca serão homens neste planeta porque são Espíritos
liberados de um mundo prévio, anterior, e como tais não podem tornar-se
novamente homens neste. Contudo, todos eles viverão novamente no próximo e
muito mais elevado Mahamanvantara, após terminada esta "grande Idade"
e "Brahama pralaya" (um pequeno período de 16 dígitos mais ou
menos). Pois você deve ter ouvido falar naturalmente que a filosofia oriental
nos ensina que a humanidade consiste nesses "Espíritos" aprisionados
em corpos humanos, não? A diferença entre os animais e os homens é esta: os
primeiros são animados pelos "princípios" potencialmente e os últimos verdadeiramente.
Agora você compreende a diferença?
INQ.: Sim, mas esta especialização tem
sido, em todas as épocas, o obstáculo dos metafísicos.
TEO.: Sim. Todo o esoterismo da
filosofia Budista está baseado neste misterioso ensinamento, compreendido por
muito poucos, e totalmente mal interpretado por muitos dos mais modernos e
eruditos sábios. Até mesmo os metafísicos são muito inclinados a confundir o
efeito com a causa. Um Ego que conseguiu sua vida imortal como espírito permanecerá o
mesmo eu interior em todos os seus renascimentos na terra; mas isto não implica,
necessariamente, que ele deva permanecer sempre ou como o Sr. Smith ou como o Sr. Brown, ou perder sua
individualidade. Portanto, a alma astral e o corpo terreno do homem podem, na
escuridão que se segue, ser absorvidos no oceano cósmico de elementos
sublimados e deixar de sentir seu último Ego pessoal (se este não
merecer elevar-se mais ainda) e o Ego divino ainda permanece como
a mesma entidade imutável, embora esta experiência terrena de sua emanação
possa ter sido totalmente obliterada no instante de separação do veículo
indigno.
INQ.: Se o "Espírito" ou parte divina
da alma é preexistente como um ser distinto de toda eternidade, como Origens, Sinésio e
outros filósofos semi-Cristãos e semi-Platônicos pensaram, e se ele é o mesmo e
nada mais que a alma metafisicamente objetiva, como poderia ser outra coisa que
não eterna? E que importância tem nesse caso se um homem leva uma vida pura ou
animal se, fazendo o que quer que faça, nunca perderá sua individualidade?
TEO.: Esta doutrina, como você
afirmou, é exatamente tão perniciosa em suas conseqüências quanto a expiação vicarial. Se o último dogma,
juntamente com a falsa idéia de que todos nós somos imortais, tivesse sido
demonstrado ao mundo como realmente é, a humanidade teria progredido em vista
de sua propagação.
Deixe-me repetir-lhe algo
novamente. Pitágoras, Platão, Timeu e Locri, e a antiga Escola de Alexandria,
acreditavam que a Alma é apenas em sua essência última, não em sua forma
individual. Quando no último ponto de seu ciclo é absorvida em sua natureza primordial; e torna-se
espírito, quando perde seu nome de Entidade.
Sua imortalidade como
forma está limitada apenas a seu ciclo
do homem (ou seus "princípios" e
atributos superiores) derivava da Alma
Universal do Mundo, sendo esta, de acordo com seus ensinamentos, Aether
(Pater-Zeus). Portanto, nenhum desses "princípios" pode ser essência pura da Monas Pitagórica, ou
nosso Âtmâ-Buddhi, porque a Anima Mundi é apenas o efeito, a emanação, ou
melhor, radiação subjetiva da primeira. Tanto o Espírito humano (ou a
individualidade), o Ego Espiritual
reencarnante, e Buddhi, a alma
Espiritual, são preexistentes. Mas enquanto o primeiro existe como uma
entidade distinta, uma individualização, a alma existe como sopro preexistente,
uma parte não-ciente de um todo inteligente.
Ambos foram originalmente formados do Oceano Eterno de luz; mas assim como os Filósofos do Fogo e os
Teósofos medievais disseram, existe tanto um espírito visível quanto um
invisível no fogo. Eles diferenciam a
anima bruta da anima divina. Empédocles acreditava firmemente que todos os homens e animais
possuíam duas almas; e descobrimos que
Aristóteles chamava a uma de alma racional, e a outra de alma
animal. De acordo com esses filósofos, a
alma racional vem de dentro da
alma universal, e a outra de fora.
INQ.: Vocês chamariam a Alma,
i.é., a alma pensante humana ou o que chamam Ego — de matéria?
TEO.:
Não matéria, mas substância,
com toda a certeza; mas a palavra
"matéria", prefixada do adjetivo primordial,
não seria uma palavra a ser
evitada. Essa matéria, dizemos, é co-eterna com o Espírito e não é nossa
matéria visível, tangível e divisível mas sua sublimação extrema. O
Espírito puro está apenas a um grau do não-Espírito ou do todo absoluto. A menos que se admita que
o homem se expandiu dessa matéria-Espírito primordial, e representa uma escala
progressiva regular de "princípios" desde o meta-Espírito até a matéria mais grosseira, como poderemos
considerar o homem interior como imortal e ao mesmo tempo como uma
Entidade espiritual e um homem mortal?
INQ.: Então por que razão
vocês não acreditam em Deus como essa Entidade?
TEO.: Porque aquilo que é infinito e
não-condicionado não pode ter forma e não pode ser um ser, pelo menos em qualquer
filosofia oriental que seja digna do nome.
Uma "entidade" é imortal,
durante o ciclo de vida ou Mahamanvantara após o qual ela é idêntica ao
Espírito Universal e não mais uma Entidade separada. (Mahâmanvantara
(Sânsc.) – Literalmente, “o grande intervalo de tempo entre dois
Manus”. O período de atividade universal. Manvantara implica aqui,
simplesmente, um período de atividade, em contraposição ao Pralaya, ou
período de repouso, sem referencia alguma à longitude do ciclo. G.T, ed.
Ground, de HPB.
(HPB, a nosso ver, quer dizer que uma Individualidade
como SER separada da UNIDADE, persiste durante um Grande Ciclo ou Manvantara,
após, ela deixa de existir como Individualidade, e entra em Pralaya, -
um ciclo de repouso -, retornando a UNIDADE, onde aguarda até que seja chamada
a existir como Individualidade, em um futuro Manvantara.)
Quanto à Alma pessoal — pela qual
entendemos a centelha de consciência que preserva no Ego Espiritual a
idéia do "Eu" pessoal da última encarnação — esta dura, como uma
recordação distinta e separada, apenas durante o período Devachânico; após
este ela se junta à série de outras inumeráveis encarnações do Ego, como a
lembrança em nossa memória de uma série de dias ao final de um ano. Você
será capaz de restringir a infinitude que requisita para o seu Deus a
condições finitas? Somente o que está indissoluvelmente consolidado por Âtmâ
(i.e., Buddhi-Manas) é imortal. A Alma do homem (i.e., da personalidade) per se não é nem
imortal, nem eterna ou divina. Diz o Zohar (I, 65 c, 66 a)
"assim coma a alma, quando enviada a esta terra, veste uma roupa mundana
para preservar-se aqui, da mesma forma ela recebe lá no alto uma
vestimenta resplandecente para poder olhar sem se ferir no espelho cuja luz
procede do Senhor de Luz." Ademais, o Zohar ensina que a
alma não pode chegar à moradia da graça a menos que tenha recebido o
"beijo santo" ou a reunião da alma com a substância da qual emanou — o espírito. Todas as almas são duais e, enquanto
estas são um princípio feminino, o espírito é masculino. Enquanto preso ao
corpo, o homem é uma trindade, a menos que sua contaminação seja tanta que
provoque sua separação do espírito. "Pobre da alma que prefere a seu
esposo divino (o espírito) o matrimônio mundano com seu corpo terreno",
diz um texto do Livro das Chaves, uma obra Hermética. Pobres deles,
de fato, pois nada restará dessa personalidade para ser gravada nos
registros imperecíveis da memória do Ego.
INO.: Como pode aquilo que não pode
ser imortal, se não soprado por Deus no homem, ser entretanto, como você mesmo
confessa, de uma substância idêntica à do divino?
TEO.: Todo átomo e
partícula de matéria, e não apenas de substancia é imperceptível em sua
essência mas não em sua consciência individual. A imortalidade é
apenas a consciência inata de alguém, e a consciência pessoal dificilmente
poderia curar mais que a própria personalidade, não é? E essa consciência, como
já lhe disse, sobrevive apenas durante o Devachan, após o qual é reabsorvida
primeiramente na consciência individual e depois na consciência universal. Seria melhor
indagar a seus teólogos como eles driblaram tão dolorosamente as Escrituras
Judaicas. Leia a Bíblia, se você quiser ter uma boa prova de que os escritores do Pentateuco, e especialmente de Gênesis,
nunca consideraram o nephesh, aquilo que Deus soprou em Adão
(Gên., cap. II), como a alma imortal. Eis aqui alguns exemplos:
"E Deus criou... cada nephesh (vida) que se move" (Gên. I , 21) ,
referindo-se aos animais; e (Gên. I I, 7) está escrito: "E o homem tornou-se um
nephesh" (alma vivente), o que demonstra que a palavra nephesh foi
indiferentemente aplicada ao homem imortal e ao animal mortal. "E
certamente requererei o sangue de seus nepheshim (vidas); da
mão de todo animal o requererei e também da mão do homem" (Gên. IX,
5), "Escapa-te por nephesh" (escapa-te por tua vida, diz
a tradução) (Gên. XIX, 17). "Não o matemos", diz a versão
inglesa (Gên, XXXVII, 21). "Não matemos seu nephesh", diz
o texto hebraico. "Aquele que matar a qualquer homem certamente
morrerá" significa literalmente "Aquele que atingir o nephesh de
um homem" (Lev.
XXIV,
17); e o versículo 18 diz: "E aquele que matar um animal (nephesh) far-lhe-á
bem; animal por animal", ao passo que o texto original diz "nephesh por
nephesh". Como poderia o homem matar o que é imortal? E isto
explica também por que os Saduceus negavam a imortalidade da alma e fornece outra prova
de que muito provavelmente os Judeus Mosaicos — os não-iniciados de
qualquer forma — nunca acreditaram na sobrevivência da alma.
(b) - NOSSA RECOMPENSA E PUNIÇÃO
ETERNAS;
E O NIRVANA
INQ.: Acredito ser
desnecessário perguntar-lhe se acredita nos dogmas Cristãos a respeito do
Paraíso e do Inferno ou nas futuras recompensas e punições pregadas pelas
igrejas Ortodoxas.
TEO.: Refutamos totalmente o que se encontra
em seus catecismos; não poderíamos também aceitar sua eternidade. Mas
acreditamos firmemente no que chamamos de Lei de Retribuição e na absoluta
justiça e sabedoria que dirige esta Lei, ou Karma. Por isso recusamo-nos
positivamente a aceitar a crença cruel e não-filosófica da eterna recompensa ou
eterna punição. Dizemos como Horácio:
Que sejam fixadas regras para conterem nosso ódio,
E punirem faltas de forma adequada;
Mas
que não se esfole aquele que merece apenas Uma chicotada
pela falta que tenha cometido.
Esta regra serve para todos os homens e
é uma regra justa. Deveremos acreditar que Deus, de quem vocês fazem a
corporificação da sabedoria, amor e justiça, seja menos merecedor desses
atributos que o homem mortal?
INQ.: Vocês possuem outras razões para
não aceitarem este dogma?
TEO.: A razão principal pela qual não
acreditamos nele é a reencarnação. Como já foi dito antes, não aceitamos a
idéia de uma nova alma criada para cada bebê recém-nascido. Acreditamos que cada ser humano
é o portador, ou Veiculo, de um Ego coevo com todos os
outros Egos; porque todos os Egos têm a mesma essência e pertencem á
emanação primeva de um Ego universal infinito. Platão chama a este
último de Logos (ou de segundo Deus manifestado); e nós, de
princípio divino manifestado, que é um com a mente ou alma universal, e não o
Deus antropomórfico, extracósmico e pessoal no qual tantos Teístas
acreditam. Peço-lhe que não confunda as coisas.
INQ.: Mas onde está a dificuldade, já
que vocês aceitam um princípio manifestado, de acreditar que a alma de cada novo
mortal é criada por esse Principio, como todas as Almas antes dele foram
criadas?
TEO.: Porque aquilo é
impessoal dificilmente poderia criar, planejar e pensar segundo seu próprio
desejo e prazer. Sendo uma Lei universal, imutável em suas
manifestações periódicas, que irradiam e manifestam sua própria essência no
início de cada novo ciclo de vida, não se
pode imaginar que ELE tenha criado o homem apenas para arrepender-se de tê-lo
feito alguns anos depois. Se temos de acreditar num princípio divino
realmente, devemos acreditar em um que tenha tanta harmonia, lógica e justiça
absolutas quanto amor, sabedoria e imparcialidade absolutas; e um Deus que
criasse cada alma para o espaço de um breve período de vida, pondo de lado o fato de ter de
animar o corpo de um homem rico e feliz ou o de um
pobre, miserável e sofredor, infeliz desde o nascimento até a morte embora nada
tenha feito para merecer um destino tão cruel — seria mais um inimigo
desprovido de sentimentos que um Deus. (Vide infra, "A respeito da Punição do Ego"). Por que, mesmo os filósofos
judeus, que acreditavam na Bíblia Mosaica (esotericamente, é claro) nunca aceitaram essa idéia; e,
ademais, eles acreditavam, como nós,
na reencarnação.
INQ.: Seria possível
dar-me alguns exemplos para provar isso?
TEO.: Convicto. Philo
Judaeus diz (em De Somniis, I, é 22): "0 ar está cheio delas (de almas);
as que se encontram mais próximas à terra, descendo para ligar-se a corpos
mortais, voltam a outros corpos, desejando viver neles."No Zohar, faz-se com que a alma
peça sua liberdade diante de Deus: "Senhor do Universo! Estou feliz neste
mundo e não desejo partir para outro onde serei uma escrava e estarei exposta
a todas as espécies de contaminação."
A doutrina de necessidade fatal, a lei imutável e duradoura, é asseverada
na resposta da Deidade: "Contra teu desejo tornar-te-ás um embrião e contra
teu desejo nascerás." Não se
compreenderia a luz se não houvesse a escuridão para contrastá-la; o bem não
seria mais o bem se não houvesse o mal para mostrar a natureza sem preço do que
é bondoso; da mesma forma a virtude pessoal não poderia reivindicar qualquer espécie de
mérito sem antes passar pela fornalha da tentação. Nada é eterno e imutável exceto a
Deidade Oculta. Nada que é finito ´- seja porque teve um começo ou porque deva
ter um fim - pode permanecer estacionário. Devo progredir ou regredir; e uma
alma que busca uma reunião com seu espírito, o único que confere a ela a
imortalidade, deve purificar-se através de
transmigrações cíclicas em direção à única terra de graça e descanso eterno,
denominado no Zohar de "O Palácio de Amor"; na religião
hindu de "Moksha”; entre os gnósticos de "Pleroma de Luz
Eterna"; e pelos Budistas de "Nirvana". E todos esses
estados são temporários e não eternos.
INQ.: Contudo, ainda
não se falou em reencarnação.
TEO.: Uma alma que
pede permissão para permanecer onde está, deve ser preexistente, e não
ter sido criada na ocasião. No Zohar (III, 61 c), entretanto, existe uma prova ainda melhor.
Falando sobre Egos reencarnantes (as almas racionais), esses cuja
última personalidade deve desaparecer inteiramente, está escrito:
'Todas as almas que se alienaram do Um Santo — santificado seja o seu Nome — nos céus
devem atirar-se num abismo de suas próprias existências e antecipar a
hora em que devem voltar à terra uma vez mais." "O Um Santo"
significa aqui, esotericamente, a Âtman, ou Âtmâ-Buddhi.
INQ.: Ademais, é
muito estranho ouvir falar em Nirvana como sinônimo
de Reino dos Céus, ou Paraíso, uma vez que, de acordo com todos os
Orientalistas de boa reputação, Nirvana é sinônimo de aniquilação.
TEO.: Entendido literalmente, com
relação à personalidade e matéria diferenciada, não há dúvida. Essas idéias de
reencarnação e da trindade do homem foram pregadas por muitos dos primeiros Padres Cristãos. Foi a
confusão feita pelos tradutores do Novo Testamento e de antigos tratados
filosóficos sobre alma e espírito que ocasionou muitos mal-entendidos. E essa também uma
das muitas razões pelas quais Buda, Plotino e tantos outros Iniciados são
agora acusados de haverem desejado a total extinção de suas almas -
"absorção na Deidade" ou "reunião com a alma universal"
significa de acordo com idéias modernas, aniquilação. A alma pessoal deve,
naturalmente, ser desintegrada em suas partículas, antes de unir sua essência
mais pura ao espírito imortal para sempre. Mas os tradutores tanto de Atos como
das Epístolas, que fizeram os fundamentos do Reino dos Céus, e os
modernos comentaristas do Sutra Budista da Fundação do Reino da Retidão confundiram tanto o sentido do
grande apóstolo da Cristandade como o do grande reformador da Índia. Os primeiros sufocaram a palavra, de
tal forma que nenhum leitor imagina que ela tenha qualquer ligarão com a alma;
e com esta confusão de alma e espírito, os leitores da Bíblia adquirem
apenas um conhecimento deturpado de qualquer coisa sobre o assunto. Por outro
lado, os intérpretes de Buda não
conseguiram entender o significado e o objetivo dos quatro graus Budistas de
Dhyana. Indagam os Pitagóricos: "Pode esse espírito, que dá vida e movimento e participa da natureza
da luz, ser reduzido à não-entidade?" "Pode esse espírito sensível em
instintos animais que exercita a memória, uma das faculdades racionais, morrer
e transformar-se em nada?" observam os Ocultistas. Em filosofia Budista aniquilação
significa apenas uma dispersão de matéria, em qualquer forma ou semelhança
de forma passível, pois tudo o que possui forma é temporário e, portanto,
realmente uma Ilusão. Por que na eternidade os períodos mais longos de tempo
são como um piscar de olhos. O mesmo acontece com a forma. Antes de termos
tempo de nos apercebermos de que a tenhamos visto, ela teria desaparecido com
um súbito clarão de um relâmpago, e não mais retornará. Quando a entidade Espiritual
se libertar para sempre de cada partícula de matéria, substância ou forma e
tornar a ser novamente um sopro Espiritual, então, e só então, entrará no eterno e imutável Nirvana, que dura
tanto tempo quanto o ciclo de vida - verdadeiramente uma eternidade. E então
esse Sopro, existente no Espírito, não é nada porque é tudo; esta
completamente aniquilado como forma, aparência, imagem; como Espírito absoluto
ainda é, pois tornou-se o Ser em si. As próprias palavras usadas,
"absorvida na essência universal" quando relacionadas à
"Alma" como Espírito significam "união com". Jamais
poderiam significar aniquilações pois isso significaria também separação
eterna.
INQ.: Falando como falam vocês mesmos não
se expõem à acusação de pregar a aniquilação por suas próprias palavras? Você
acabou de falar que a Alma do homem volta a seus elementos primordiais.
TEO.: Mas você esquece que eu lhe expliquei as
diferenças entre os vários significados da palavra "Alma" e mostrei a
forma incorreta na qual o termo "Espírito" foi traduzido. Nós falamos
de uma Alma animal, uma Alma humana e uma Alma espiritual
e fazemos distinções entre elas. Platão, por exemplo, chama de "ALMA
racional" o que chamamos de Buddhi, acrescentando-lhe,
entretanto o adjetivo "espiritual"; mas o que chamamos de Ego reencarnante, Manas,
ele denomina Espírito, Nous, etc., ao passo que nós empregamos o termo Espírito quando
sozinho e sem nenhuma qualificação, isto é, apenas a Âtmâ. Pitágoras repete
nossa doutrina arcaica quando afirma que o Ego (Nous) é eterno com a Deidade; que a alma apenas
passou por vários estágios até atingir a excelência divina; enquanto thumos
(A alma astral, animal; o Kâma-Manas.) retornou à terra, e até mesmo a
phren, o Manas inferior, foi
eliminado. Novamente, Platão define Alma (Buddhi) como "o movimento
que é capaz de mover a si mesmo”. "A alma", acrescenta ele, "é a
mais antiga de todas as coisas, e o começo do movimento," chamando assim
Âtmâ-Buddhi de "Alma" e Manas de "Espírito", o que
não fazemos.
"A alma” foi gerada anteriormente ao corpo, e o
corpo é posterior e secundário, estando de acordo com a natureza, e sendo dirigido pela alma
dirigente". "A alma que administra todas as coisas que se movem em
todas as direções administra também os céus."
A alma, então, dirige tudo o que existe no céu, e na
terra, e no mar, através de seus movimentos - cujos nomes são, desejar, considerar,
cuidar, consultar, formar opiniões verdadeiras e falsas, estar em estado de
alegria, tristeza, confiança, medo, ódio, amor, assim como todos esses
movimentos primários estão aliados a estes
...Sendo ela mesma uma deusa, toma sempre como um Nous aliado, um deus, e
disciplina todas as coisas de forma correta e feliz; mas quando está com Anoia
- não com naus — age de maneira completamente contrária."
Nesta
linguagem, como nos textos Budistas, a negativa é tratada como existência
essencial. A aniquilação tem urna exegese similar. O estado
positivo é ser essencial, mas não uma manifestação como tal. Quando o espírito,
em linguagem Budista, entra em Nirvana, ele perde sua existência objetiva mas
retém o ser subjetivo. Para as mentes objetivas isto significa tornar-se
"nada"; às mentes subjetivas, NENHUMA-COISA, nada que possa ser
exibido. Assim, seu Nirvana significa a certeza da imortalidade individual em
Espírito, não em Alma, a qual, embora "a
mais antiga de todas as coisas" ainda é - juntamente com todos os outros Deuses - uma emanação finita em formas e individualidade, se não em
substância.
INQ.: Ainda não consegui entender
exatamente a idéia e ficar-lhe-ia grato se me pudesse explicar por meio de
algumas ilustrações.
TEO.: Não há dúvida de que é bastante
difícil compreender isso, especialmente se se foi educado nas idéias regulares
ortodoxas da Igreja Cristã. Ademais, devo dizer-lhe uma coisa: a menos que você
estude muito bem as funções separadas desempenhadas por todos os
"princípios" humanos e o estado de todos eles após a morte, dificilmente
compreenderá nossa filosofia oriental.
(c) - A RESPEITO DOS VÁRIOS PRINCÍPIOS EXISTENTES
NO HOMEM
INQ.: Tenho lido
bastante sobre a constituição do "homem interior", como vocês o
chamam, mas não sei "o que pensar a respeito" como diz Gabalis.
TEO.: Naturalmente, é
muitíssimo difícil e, como você diz, intrigante, entender corretamente e
aprender a distinguir os vários aspectos, chamados por nós de
"princípios", do EGO real. Tanto mais quando há uma notável diferença na
enumeração desses princípios por várias escolas orientais, embora no fundo, o
substrato do ensinamento seja o mesmo.
INQ.: Você se refere,
por exemplo, aos Vedantinos? Eles não dividem esses seus sete
"princípios" em apenas cinco?
TEO.: Sim; mas
embora eu não pretenda discutir com nenhum sábio Vedantino, possa afirmar, como
opinião pessoal, que eles têm uma razão óbvia para assim fazer. Para eles é
apenas o agregado espiritual composto constituído de vários aspectos mentais
que é chamada de Homem realmente, sendo o corpo físico, em sua opinião, algo que não merece consideração e e apenas
ilusão. Também não é apenas a filosofia Vedanta que raciocina
desta maneira. Leo-Tze, em seu Tao-te-King, menciona apenas cinco princípios porque ele, como os Vedantinos, não
inclui dois princípios, isto é, o espírito (Atura) e o corpo físico, denominado
este último de "cadáver". Há também a Escola Taraka Rafa Yoga.
Seu ensinamento reconhece apenas três
"princípios" de fato; mas na verdade, o que chamam de Sthuhopadhi, ou corpo
físico, em seu estado consciente de vigília; o que chamam de Sukshmopadhi, o mesmo corpo
em Svapna, ou estado onírico; e o que chamam de Karanopadhi ou "corpo
causal" ou o que passa de uma encarnação a outra, são todos duais em seus aspectos,
perfazendo, portanto, um total de seis. Acrescente-se Âtmâ, o principio
divino impessoal ou elemento imortal no Homem, não distinto do Espírito
Universal, e teremos os mesmos sete princípios novamente. Eles têm todo
o direito de ter suas divisões e nós a nossa.
INQ.: Parece então
quase a mesma divisão feita pelos Cristãos místicos: corpo, alma e espírito?
TEO.: Exatamente a
mesma. Poderíamos facilmente fazer do corpo o veículo do "Duplo
vital"; deste, o veículo da Vida ou Prâna; de Kâma-rûpa ou
alma (animal), o veículo da mente superior e inferior, e coroar estes
seis princípios com o espírito imortal una. Em Ocultismo cada mudança
qualificativa no estado de nossa consciência dá ao homem um novo aspecto, e se
este prevalece e se torna parte do Ego vivente e atuante, deve receber (e
recebe) um nome especial, para distinguir o homem naquele estado particular do
homem que ele é quando em outro estado.
INQ.: É exatamente isso que acho tão difícil de
compreender.
TEO.: A mim, pelo contrário, parece
bastante fácil, uma vez que se tenha entendido a idéia principal, i.e., a de que o homem age neste ou em outro plano de consciência, em rígida concordância com sua
condição mental e espiritual. Mas o materialismo da época é tanto que
quanto mais explicamos isto menos as pessoas parecem ser capazes de entender o que dizemos. Divida o
ser terreno chama do homem em
três aspectos principais, se quiser, e a menos que você o transforme
num puro animal, não conseguirá dividi-lo em um número menor de aspectos. Tome
seu corpo objetivo; o princípio pensante nele - o qual é apenas um pouco
superior ao elemento instintivo do animal - ou a alma consciente vital;
e aquilo que o coloca tão imensuravelmente além e superior a qualquer animal - i.e.,
sua alma racional ou "espírito". Bem, se tomarmos esses
três grupos ou entidades representativas e as subdividirmos de acordo com nosso
ensinamento oculto o que teremos?
Primeiramente,
o Espírito (no sentido de Absoluto, e portando, TUDO indivisível) ou Âtmâ. Como
este não pode ser localizada nem limitado em filosofia, sendo simplesmente
aquilo que É na Eternidade, e que não pode estar ausente mesmo
do mais ínfimo ponta geométrico ou matemática do universo de matéria ou
substância, não deveria ser chamado, na verdade, de princípio
"humano". Na melhor das hipóteses é em Metafísica que esse ponto no
espaço que a Mônada humana e seu veículo, o homem, ocupam pelo período de cada
vida. Ora, esse ponto é tão imaginário quanto o próprio homem e, na verdade, é
uma ilusão, mâyâ; mas para nós mesmos,
como para outros Egos pessoais, somos uma realidade durante esse tempo
de ilusão chamado vida, e temos de apercebermo-nos de nós mesmos, ainda que em nossa própria fantasia, se ninguém mais
o fizer. Com a finalidade de tornar isso mais concebível ao intelecto humano
que se decide a tentar estudar o Ocultismo pela primeira vez e para solucionar
o A B C do mistério do homem, o Ocultismo chama este sétimo princípio de
síntese do sexto e lhe dá por veículo a Alma Espiritual, Buddhi. Ora, este último oculta um mistério que nunca é dado a conhecer a
ninguém, com exceção dos chelas que estão
irrevogavelmente presas a um voto ou àqueles em quem, de qualquer forma, pode-se confiar plenamente. Naturalmente,
haveria menos confusão se esse mistério pudesse ser contado; mas, como ele está
relacionado diretamente com o poder de projetar o duplo conscientemente e por
desejo próprio, e como este dom, como o, "anel de Gyges",
seria fatal a qualquer homem de forma geral e ao possuidor de tal faculdade em
particular, ele é cuidadosamente guardada. Mas, prossigamos com os princípios.
Esta alma divina, ou Buddhi, então, é o veículo do Espírito. Em conjunto,
estes dois são um, impessoais e sem nenhum atributo (neste plano, naturalmente)
e são dois princípios espirituais. Se passarmos à Alma Humana, Manas ou mens, todos concordarão que a inteligência do homem é, pelo
menos, dual: e.g., o homem intelectualmente bem dotado dificilmente se tornará
mal dotado; o homem intelectual e espiritual está separado por um abismo do
homem obtuso, estúpido, e material, se não animal.
INQ.: Mas por que, então, o homem não
deveria ser representado por dois princípios ou dois aspectos?
TEO.: Todo homem possui em si esses dois
princípios, um mais ativo que o outro, e em raros casos, um deles tem seu
crescimento inteiramente impedido pelo outro, por assim dizer, ou paralisado
pela força ou predominância do outro aspecto, em qualquer que seja a direção. Estes, então, são o que nós
chamamos de dois princípios ou aspectos de Manas, o superior e o inferior; o primeiro, o Manas superior, ou Ego pensante,
consciente, gravita em direção à Alma espiritual (Buddhi)); e o última,
ou seu principio instintivo, é atraído por
Kâma, a sede dos desejos e
paixões animais no homem. Temos, portanto, quatro
princípios justificados; os últimos três são (1) o
"Duplo", que concordamos em chamar Protéico,
ou Alma Plástica; o veículo do (2)
principio de vida; e (3)
o corpo físico- Naturalmente nenhum fisiologista ou biólogo aceitará estes princípios nem os compreenderá. E é por
isso, talvez, que nenhum deles compreende até hoje as funções do baço, o
veiculo físico do Duplo Protéico, ou de um certo órgão localizado no lado
direito do homem, a sede dos desejos acima mencionados, nem sabe nada a respeito da glândula pineal, a
qual ele descreve como uma glândula
calosa com um pouco de areia em si; essa glândula é a própria sede da mais elevada e divina
consciência no homem, sua mente onisciente, espiritual e que tudo
abarca. E isto lhe mostra ainda mais claramente que nós nem inventamos esses
sete princípios nem eles são novos no mundo
da filosofia, como nós podemos facilmente provar.
INQ.; Mas, em sua opinião, o que é que
reencarna?
TEO.: O Ego Espiritual pensante,*o
princípio permanente existente no homem, ou aquilo que é a sede de Manas. Não é Âtmâ, nem Âtmâ-Buddhi,
considerado como a Mônada dual, que é o homem individual ou divino, mas Manas; pois
Âtmâ é o TODO Universal e torna-se o EU-SUPERIOR do homem apenas juntamente com
Buddhi, seu veículo, o
qual o liga à individualidade (ou homem divino). Pois é o Buddhi-Manas que é
chamado de corpo
Causal (o 5°. e 6º Princípios Unidos), e é a Consciência que o liga a cada personalidade que
habita a terra. Portanto, sendo Alma um termo genérico, há no homem três aspectos de Alma - a
terrena, ou animal, a Alma Humana; e a Alma Espiritual; estas, no sentido exato
da palavra, são uma Alma em seus três aspectos. Ora, do primeiro aspecto nada
resta após a morte; do segundo (naus ou Manas) sobrevive apenas sua essência divina se
imaculada, enquanto a terceira, por ser imortal, torna-se conscientemente divina, pela
assimilação do Manas superior. Mas para que fique claro, temos de dizer antes de mais nada,
algumas palavras sobre a Reencarnação.
INQ.: Acho que será muito bem uma vez que é contra
essa doutrina que seus inimigos lutam mais ferozmente.
TEO.: Refere-se aos Espiritualistas?
Eu sei; e muitas são objeções absurdas forjadas laboriosamente por eles com a
ajuda de coisas escritas nas páginas de Light. Alguns deles
são tão obtusos e maldosos que não chegarão a nada. Um deles descobriu
recentemente uma contradição, que discute seriamente numa carta àquele
periódico, em duas afirmações tiradas de conferências do Sr. Sinnett. Ele
descobre essa grave contradição nestas duas frases: "Retornos prematuros à
vida na terra nos casos em que ocorrem podem ser devidos a complicações
Kârmicas...”; e "não existe nenhum acidente no supremo ato de justiça divina que
dirige a evolução". Um pensador tão profundo veria, certamente,
como contradição da lei da gravidade o fato de um homem esticar sua mão
para fazer parar uma pedra que pudesse vir a esmagar a cabeça de uma criança.
Antes de
entramos no assunto da reencarnação, consultamos o livro “Catecismo
Budista”, do Sr Henry S. Olcott, ed. IBRASA, p. 81, sobre o assunto aqui
tratado:
229. P — 0 Budismo ensina
a imortalidade da alma?
R.— Ele considera a
palavra "alma", empregada pelos ignorantes, como expressão de uma
falsa idéia. Se todas as coisas são sujeitas à mudança, o homem também o é, e
todas as suas partes materiais mudam. O que é sujeito à transformação não é
permanente, e não pode haver sobrevivência imortal para um objeto passageio.
230. - P.- Por que essa objeção contra a palavra alma?
R.— A idéia expressa
por essa palavra implica que o homem pode ser uma entidade separada de todas as
outras entidades e da existência universal. Essa idéia desarrazoada de separação não pode ser
logicamente provada nem sustentada pela Ciência*. (* Diversos povos da
Antiguidade, notadamente os gregos, também não concebiam a dualidade
corpo-alma, como nos acostumamos a aceitar por herança da cultura
judaico-cristã). (N. do T.).
231. - P. — Não há, então, um
"eu"separado, e não podemos dizer "meu" isso ou aquilo?
R.— Exatamente. Não
há senão um Todo, do qual nós e todos os seres e todas as coisas somos apenas
partes.
232. - P. — Se a idéia de uma "alma"
humana separada deve ser rejeitada, o que é que dá ao homem a impressão de ter
uma personalidade permanente?
R. — Tanha,
ou o desejo insaciável de viver na terra. O ser que tenha merecido uma
recompensa ou castigo futuro, e que possua esse desejo, renascerá sob a
influencia do Karma.
233. - P. — O que é que renasce?
R.— Uma nova
agregação de Skandhas, ou personalidade que é produzida pelo último pensamento
gerador da pessoa que expira.
234. - P. — Quantos Skandhas há?
R. — Cinco.
235. - P. — Pode enunciá-los?
R.— Rûpa, Vedana,
Sanna, Samkara e Vinnana.
236. - P. — Pode explicar em breves palavras o
significado deles?
R.— Rûpa, as
qualidades materiais; Vedana, as sensações; Salina, as idéias
abstratas; Samkhara, as tendências do
espírito; Vinnana, os poderes da
mentalidade, ou consciência. Somos formados dessas diversas disposições;
por elas temos consciência da existência e nos comunicamos com o mundo que nos
cerca.
237. - P. - A quais causas podem-se atribuir as
diferenças na combinação dos Cinco Skandhas, e o que determina as
dessemelhanças entre cada indivíduo?
R.— Ao Karma do
indivíduo, amadurecido durante suas existências precedentes.
238. - P. — Qual é a força ou energia que entra
em ação sob a direção do Karma para produzir um novo ser?
R.— Tanha, a vontade de
viver.
CAPÍTULO II
A RESPEITO DA REENCARNAÇÃO OU
RENASCIMENTO
(a) - O QUE É A MEMÓRIA DE ACORDO COM A
SOCIEDADE TEOSÓFICA
INQ.: O mais difícil para você será explicar
e dar motivos razoáveis para essa crença.
Nenhum Teósofo jamais foi capaz de me mostrar uma única prova válida
capaz de abalar meu ceticismo. Antes de mais nada existe contra essa teoria da
reencarnação o fato de que ainda não se encontrou nenhum homem que lembrasse o
que já viveu, ou pelo menos quem foi, durante sua vida anterior.
TEO.: Vejo que sua argumentação tende
à mesma velha objeção: a
perda de memória em cada um de nós
relativamente à nossa encarnação anterior. Você acha que isso invalida
nossa doutrina? Minha resposta é que não, e
que, de qualquer forma, esse tipo de objeção não pode ser final.
INQ.: Gostaria de ouvir os seus argumentos.
TEO.: São pequenos e poucos. Entretanto,
quando se leva em consideração (a) a absoluta inabilidade dos melhores
psicólogos modernos em explicar ao mundo a natureza da mente e
(b) sua completa ignorância de suas potencialidades e estados
superiores, deve-se admitir que essa objeção está baseada numa conclusão a priori tirada de evidências prima facie e circunstanciais mais do que qualquer
outra coisa. Responda-me, por favor, o que é, em sua opinião, a
"memória"?
INQ.: A memória é, em minha opinião,
aquilo que geralmente se aceita: a faculdade em nossa mente capaz de lembrar e
reter o conhecimento de pensamentos, atos e acontecimentos anteriores.
TEO.: É favor
acrescentar-se a isto que há uma grande diferença entre as três formas aceitas
de memória. Além da memória em geral, existe a Lembrança, a Recordação e a Reminiscência, não é? Já
pensou na diferença? Lembre-se que memória é um termo genérico.
INQ.: Entretanto, todas essas
palavras são apenas sinônimos.
TEO.: Em verdade não são - pelo menos
não o são em filosofia. A memória é uma faculdade que depende inteiramente mais
ou menos saudável e normal de nosso cérebro físico e a lembrança e a recordação são atributos e
servas dessa memória. Mas a reminiscência é algo totalmente diferente. A reminiscência é
definida pelos modernos psicólogos como algo intermediário entre a lembrança e a recordação, ou "um
processo consciente de recordar acontecimentos passados, mas sem aquela referência completa e variada e coisas particulares
características da recordação."
Locke,
falando
sobre recordação e lembrança, diz o seguinte: "Quando uma idéia volta a ocorrer
sem a intervenção do objeto no plano sensorial externo, chamamo-la de lembrança; se a mente procurar
por ela, e com sofrimento e tentativas conseguir divisá-la novamente, ocorre a recordação." Mas mesmo Locke não define reminiscência
claramente,
porque ela não é nenhuma faculdade ou atributo de nossa memória tísica mas uma
percepção intuitiva separada e fora de nosso cérebro físico; uma percepção que,
abarcando como o faz (sendo chamada à ação pelo conhecimento sempre-presente
do nosso Ego espiritual) todas as visões no homem consideradas como anormais — das pinturas
sugeridas pelo gênio aos delírios de febre e mesmo de loucura - são classificadas pela
ciência como não tendo existência fora de nossa fantasia. O Ocultismo e a Teósofia,
contudo, consideram a
reminiscência de forma inteiramente diferente. Para nós, enquanto a memória é física e
evanescente e depende de condições fisiológicas do cérebro - proposição
fundamental entre todos os mestres de mnemônica, que têm, para ampará-los, as pesquisas de
modernos psicólogos cientistas - chamamos de reminiscência á memória da alma.
E é esta memória que dá a segurança a quase todo ser humana, compreenda-a ele ou
não, de ter vivido antes e de ter de viver novamente. De fato, como diz Wordsworth:
Our birth is but a sleep and a forgetting,
The soul that rises with us, our life's Star,
Math had elsewhere its setting,
And cometh from afar.
("Ode
on Intimations of immortality.')
Tradução
literal:
Nosso
nascimento é apenas um sonho e um esquecimento,
Uma alma que
desperta conosco, nossa Estrela de vida,
Que se põe em
algum outro lugar,
E vem de muito
longe,
INQ.: Se é nesse tipo
de memória - poesia e fantasias anormais, como você mesmo confessou - que vocês
baseiam sua doutrina, então receio que convencerão a muito poucos.
TEO.: Eu não "confessei" que era uma fantasia.
Disse simplesmente que os fisiologistas e cientistas em geral consideram tais
reminiscências como alucinações e fantasia, e permite-se-lhes que cheguem a essa sábia conclusão. Não
negamos que essas visões do passado e vislumbres de tempos passados como se
fossem corredores do tempo não são anormais, em contraste com nossa experiência
normal da vida diária e com nossa memória física. Mas afirmamos, juntamente com
o Professor W. Knight, que "a ausência de memória de qualquer ação
realizada num estado prévio não pode ser um argumento conclusivo contra o
fato de termos vivido durante o mesmo." E todo oponente
imparcial deve concordar com o que está em Lectures on the History of
Ancient Philosophy (Conferências sabre a História da
Filosofia Antiga) de Butler - "de que o sentimento de absoluta extravagância com
a qual ela (a preexistência) nos afeta, tem sua origem secreta em preconceitos
materialistas ou semimaterialistas." (pág. 442.) Além disso
afirmamos que a memória como Olimpiodoro a chamou, é simplesmente fantasia e a coisa menos
digna de confiança em nós. Ammonius Sacras asseverou que a única
faculdade no homem diretamente oposta à prognosticação, ou predição do futura,
é a memória. Além disso, lembre-se que a memória é uma coisa e que
mente ou pensamento é outra; a primeira é uma máquina de registros, uma
registradora que pode facilmente encrencar; a outra (os pensamentos) é eterna e
imperecível. Você se recusaria a acreditar na existência de certas coisas ou
homens simplesmente porque seus olhos físicos não os viram? O testemunho
coletivo de gerações passadas não seria o suficiente para garantir que Júlio
César viveu? Por que o mesmo testemunho dos sentidos psíquicos das massas não
deveria ser levado em consideração?
INQ.: Mas você não acha que essas são duas distinções
bastante delicadas para serem aceitas pela maioria dos mortais?
TEO.: Seria melhor dizer pela maioria dos materialistas.
E a eles dizemos, cuidado: mesmo no curto espaço de tempo de uma existência
comum a memória é fraca demais para registrar todos os acontecimentos de toda
uma vida. Quão freqüentemente até mesmo os mais importantes eventos jazem
dormentes em nossa memória até serem despertados por alguma associação de
idéias ou começam a funcionar e se tornam ativos por algum outro motivo, Isto
acontece especialmente no caso de pessoas de idade avançada, que sempre encontram
sofrimento por não conseguirem se recordar das coisas. Portanto, quando nos
lembramos que aquilo que sabemos sobre os princípios físicos e espirituais
existentes no homem, não é o fato de nossa memória não ter conseguido gravar
nossa vida e vidas precedentes que deveria nos surpreender, mas pelo contrário,
deveríamos nos surpreender se isso acontecesse.
(b) - POR QUE NÃO NOS LEMBRAMOS DE
NOSSAS VIDAS PASSADAS?
INQ.: Você me falou
alguma coisa sobre os sete princípios; ora, que papel representam eles na completa
perda de qualquer recordação do que tenhamos vivido antes?
TEO.: Isto é simples.
Uma vez que esses princípios a que chamamos físicos, nenhum dos quais é negado
pela ciência embora ela os denomine de outra forma,
são desintegrados após a morte com seus elementos constituintes, a memória juntamente com
seu cérebro, esta memória perdida de uma personalidade perdida não pode se
lembrar nem recordar coisa alguma na reencarnação subseqüente do EGO. Reencarnação
significa que este Ego receberá um novo corpo, um novo cérebro e uma nova memória.
Portanto, seria absurdo esperar que esta memória se lembrasse de
coisas que nunca gravou, assim como seria inútil examinar sob um microscópio uma
camisa jamais usada por um assassino e procurar nela manchas de sangue que só
poderiam ser encontradas nas roupas que ele usou. Não é a camisa limpa que
devemos questionar, mas as roupas usadas durante a perpetração do crime; e, se
estas tiverem sido queimadas e destruídas, como poderemos chegar até elas?
INQ.: Sim, como você
pode ter certeza absoluta de que o crime foi cometida, ou de que o "homem
da camisa limpa"viveu antes?
TEO.: Não por
processos físicos, certamente, também não por confiar no testemunho do que não
mais existe. Mas existe algo denominado evidência circunstancial, já que nossas
sábias leis a aceitam, mais, talvez, do que deveriam. Para
convencer-se do fato da reencarnação e de vidas passadas deve-se estar em harmonia com o Ego real permanente,
e não com a memória evanescente.
INQ: Mas como podem
as pessoas acreditar naquilo que não conhecem e que nunca viram e com a qual, muito
menos, podem estar em harmonia?
TEO.: Se as pessoas,
e as mais sábias, acreditam na Gravidade, no Éter, na Força, e em muita coisa
da ciência, abstrações, "e hipóteses prováveis", as quais nunca
viram, tocaram, cheiravam, ouviram nem degustaram - por que outras pessoas não
deveriam acreditar, baseadas no mesmo principio, em um Ego permanente, uma
"hipótese provável" muito mais lógica e importante que qualquer
outra?
INQ.: O que é,
finalmente, esse misterioso principio eterno? Seria possível explicar sua
natureza para que todos o compreendessem?
TEO.: O EGO que reencarna, -"Eu" individual e imortal - não o
pessoal; o veiculo, em suma, da MÔNADA Âtmâ-Buddhica, o qual é recompensado em
Devachan e punido na terra e ao qual, finalmente, o reflexo apenas dos Skandhas, ou atributos, de
cada encarnação se unem.
INQ.: O que são Skandhas?
TEO.: Exatamente o que eu disse: "atributos", junto dos quais está a memória; todos eles perecem como uma
flor, deixando atrás de si apenas um débil perfume. Eis aqui outro parágrafo de
The Buddhist Catechism (O Catecismo Budista) de H. S.
Olcott
que vai diretamente ao assunto. Ele se refere à questão da seguinte forma: "O homem idoso lembra os
incidentes de sua juventude, apesar de estar física e mentalmente mudado. Por
que, então, não nos é possível a recordação de vidas passadas de nosso primeiro
nascimento até o presente? Porque a memória está incluída entre os Skandhas, e,
tendo os Skandhas se modificado com a nova existência, uma outra memória, o
registro dessa existência em particular, se
desenvolve. Contudo, o registro ou reflexão de todas as vidas passadas deve sobreviver, pois quando o Príncipe
Sidarta tornou-se Buda, toda
a seqüência de seus nascimentos anteriores foi vista por ele.... e qualquer
um que chegar ao estado de Jhana (“Conhecimento esotericamente” –
Conhecimento supremo ou Divino.) poderá, assim, traçar retrospectivamente
a linha de suas vidas." Isto lhe prova que enquanto as qualidades
imperecíveis da personalidade — tais como o amor, a bondade, a caridade, etc. — se
ligam ao Ego imortal, fotografando nele, por assim dizer, uma imagem permanente do
aspecto divino do homem que era, seus Skandhas materiais (aqueles que geram a
maioria dos efeitos Karmicos marcados) são tão evanescentes quanto um clarão de
um relâmpago e não podem impressionar o novo cérebro da nova personalidade;
entretanto, o fato de não conseguir impressionar o novo cérebro não prejudica,
de forma alguma, a identidade do Ego reencarnante.
INQ.: Você quer
dizer, então, que o que sobrevive é apenas a memória-Alma, como você a
denomina, que a Alma ou Ego são um e o mesmo, e que nada da personalidade permanece?
TEO.: Não é bem
assim; alguma coisa de cada personalidade, a menos que esta tenha sido a de um
materialista absoluto em que não existisse sequer uma
pequenina brecha em sua natureza por onde pudesse passar um raio espiritual,
repito, alguma coisa de cada personalidade deve sobreviver, assim como ela
deixa sua impressão eterna no Eu encarnante permanente ou Ego Espiritual.
(Ver "A respeito da Consciência post mortem e post natal".) A
personalidade , com seus Skandhas, está sempre mudando a cada novo nascimento. Como já
foi dito antes, ela é
apenas a parte desempenhada pelo ator (o Ego verdadeiro) durante uma noite. E por
isso que não preservamos nenhuma memória
no plano físico de. nossas vidas passadas embora o Ego real as tenha vivido e as conheça.
INQ.: Então, como
explicar que o homem real ou Espiritual não imprima seu novo "Eu" pessoal com
esse conhecimento?
TEO.: Como explicar
que as empregadas numa pobre casa de fazenda pudessem falar hebraico e tocar
violino enquanto estavam em transe ou estado sonambúlico, se nada disso sabiam em
seu estado normal? Porque, como todo psicólogo da escola antiga, e não da
moderna, dir-lhe-ei que o Ego Espiritual só pode agir quando o Ego pessoal está
paralisado. O "Eu" Espiritual do homem é onisciente e tem todo o
conhecimento inato em si enquanto o eu pessoal é a criatura de seu meio
ambiente e escravo da memória física. Se o primeiro pudesse se manifestar
ininterruptamente e sem nenhum impedimento, não haveria mais homens sobre a
terra e todos nós seríamos deuses.
INQ.: Mesmo assim,
deve haver exceções e alguns devem se lembrar.
TEO.: E há. Mas quem
acredita neles? Esses sensitivos são geralmente considerados pelo moderno
materialismo como histéricos alucinados, entusiastas doidos ou impostores.
Seria bom que lessem, entretanto, trabalhos sobre este assunto, mais
especialmente Reincarnation,
a Study of Forgotten Truth (Reencarnação,
um Estudo da Verdade Esquecida) de E. D. Walker, F. T. S., e que vissem a quantidade de
provas que o autor apresenta sobre esta tão discutida questão. Fala-se ás
pessoas sobre Alma e algumas perguntam "O que é Alma?" "Já se
provou sua existência?" Naturalmente é inútil discutir com os
materialistas. Mas mesmo a eles eu gostaria de perguntar: "Vocês são
capazes de se lembrar do que eram ou do que fizeram quando bebês?
Guardaram, por menor que fosse, uma recordação de suas vidas, pensamentos ou
fatos ou o que viveram durante os primeiros dezoito meses ou dois anos de suas
existências? Então, por que não negam, baseados no mesmo princípio, que viveram
como bebês? " Quando a tudo isto acrescentamos que o Ego reencarnante,
ou individualidade, retém durante o período Devachânico apenas a
essência da experiência de sua vida ou personalidade terrena passada, toda a
experiência física que se envolve num estado de in potentia, ou em ser, por
assim dizer, traduzida em fórmulas espirituais; quando nos lembramos posteriormente
que se diz que o período entre dois renascimentos dura de dez a quinze séculos,
durante os quais a consciência física é total e absolutamente inativa, não possuindo
nenhum órgão através do qual possa agir, e não tendo portanto nenhuma existência, a razão para a
ausência de toda a lembrança na memória puramente física é aparente.
INQ: Você acabou de
dizer que o EGO ESPIRITUAL é onisciente. Onde está então essa tão falada onisciência
durante a vida Devachânica, como você a denominou?
TEO.: Durante esse
tempo ela é latente e potencial, porque, primeiramente, o Ego Espiritual (o
composto de Buddhi-Manas) não é o EU Superior, o qual, sendo um com a
Alma ou Mente Universal é por si só onisciente; e, em segundo lugar, porque
Devachan é a continuação idealizada da vida terrena que acabou de findar, um
período de ajustamento retributivo, e uma recompensa por erros e sofrimentos
não merecidos ocorridos nessa vida em especial. Ele é onisciente apenas potencialmente em Devachan e
de facto exclusivamente em Nirvana, quando o Ego é imerso na
Alma-Mente Universal. Entretanto, ele se torna novamente quase onisciente
durante as horas na terra em que certas condições anormais e mudanças
fisiológicas no corpo libertam o Ego dos liames da matéria. Assim os
exemplos dos sonâmbulos citados acima, uma pobre empregada falando hebraico e
outra tocando violino, podem lhe dar uma boa ilustração do que estou dizendo.
Isso não significa que as explicações desses dois fatos dadas a nós pela
ciência médica não sejam verdadeiras, pois uma das garotas havia, anos antes,
ouvido seu patrão, um clérigo, ler em voz alta algumas palavras em hebraico e a
outra havia ouvido um artista tocar piano na fazenda em que viviam. Mas
nenhuma das duas coisas poderia ter sido feita tão perfeitamente se elas não
tivessem sido estimuladas por AQUILO que, devido à igualdade de sua natureza
com a Mente Universal, é onisciente. Aqui, o princípio superior agiu sobre os
Skandhas e as movimentou; no outro caso, estando a personalidade paralisada, a
individualidade manifestou-se sozinha. Peço-lhe, por favor, que não confunda as
duas.
(c)
- A RESPEITO
DA INDIVIDUALIDADE E DA
PERSONALIDADE (*)
(*Mesmo no The Buddhist Catechism, Olcott forcado pela lógica da filosofia Esotérica, viu se obrigado a corrigir os erros
de outros Orientalistas que não
fizeram esse tipo de distinção e explica suas razões ao leitor. Ele diz o seguinte "Os aparecimentos sucessivos na terra,
ou "descendências na geração'', das partes tanhaicamente coerentes (Skandhas) de um certo ser, são uma sucessão de personalidades. Em cada nascimento a
PERSONALIDADE difere do nascimento
anterior ou posterior. Karma, o DEUS EX
MACHINA, mascara-se (ou devemos dizer
reflete-se?) ora na personalidade de um sábio ora na de artesão e
assim por diante durante todas os nascimentos. Mas embora as personalidades sempre mudem, a linha da
vida na qual estão presas, como contas,
não se rompe; é sempre aquela mesma linha, nunca outra. É portanto individual, uma ondulação individual
vital, que começou em Nirvana, ou no lado subjetivo da natureza, como a ondulação
de luz ou calor através da qual o
éter começou em seu princípio dinâmico vai movendo-se rapidamente no lado objetivo da natureza sob o
impulso de Karma e o guia criativo de Tanha (o
desejo insatisfeito de existência) e leva, através de muitas mudanças clíticas, de volta a Nirvana. O Sr.
Rhys-Davids chama a isso que passa de personalidade a personalidade ao longo da cadeia
individual de "cantar' ou
"atuação". Uma vez que "caráter" não é u'a mera abstração metafísica mas a soma das qualidades mentais e
propensões morais de alguém não adiantaria refutar o que o Sr. Rhys-Davids
chama de o expediente desesperado de um mistério' (Buddhism, pág. 101) se considerarmos a ondulação de vida como individualidade e cada uma de suas
séries de manifestações natais como
uma personalidade separada? O
indivíduo perfeito, falando Budisticamente, é um Buda: pois Buda é
apenas a rara flor da humanidade, sem a
menor mistura sobrenatural. E como são
necessárias incontáveis gerações
('quatro asan-kheyyas e uma centena de milhares de ciclos', BUDDHIST BIRTH STORIES, de Fausboll e Rhys-Davids, pág. 13) para
transformar um homem num Buda, e o desejo férreo de tornar-se um através de
todos os nascimentos
sucessivos - como chamaremos a
isso que deseja e persevera? Caráter?
Individualidade? Uma individualidade apenas parcialmente manifestada em qualquer dos nascimentos, mas construída dos
fragmentos de todos os nascimentos?"
(Bud. Cat., Apêndice A. 137).
INQ.: Mas qual é a
diferença entre as duas? Confesso que estou ainda confuso. De fato, é essa
diferença, então, que você não pode
explicar muito bem para nossas mentes.
TEO.: Eu tento, mas,
infelizmente, é mais difícil explicar para alguns do que fazê-los
sentir uma reverência por impossibilidades infantis, simplesmente porque elas
são ortodoxas e porque a ortodoxia é respeitável. Para entender bem a
idéia você deve, primeiramente, estudar os conjuntos duais de princípios: os espirituais,
ou aqueles que pertencem ao Ego imperecível; e os materiais, ou os
princípios que compreendem os corpos sempre mutáveis ou as séries de personalidades
daquele Ego. Vamos dar-lhes nomes permanentes e dizer que:
I.
Âtmâ, o "Eu Superior" não é nem o
seu Espírito nem o meu, mas assemelha-se à luz do Sol que brilha sobre tudo. E o
"principio divino" difuso universalmente e é inseparável de seu Meta-Espírito uno e
absoluto assim como o raio do sol é inseparável da luz solar.
II.
Buddhi (a alma espiritual) é apenas o
seu veículo. Nenhum deles separadamente, nem os dois coletivamente, são de
maior utilidade ao corpo do homem que a luz do sol e seus raios o são para
granito enterrado sob a terra, a menos que o Duo divino seja assimilado
por, e refletido em, a consciência. Nem Âtmâ nem Buddhi são jamais
alcançados pelo Karma, porque o primeiro é o mais elevado aspecto do Karma,
seu agente de Si MESMO em um aspecto, e o outro é inconsciente neste plano.
Esta consciência ou mente é,
III.
Manas, a derivação ou produto numa forma
refletida de Ahamkara, "a
concepção de Eu" ou EGO-IDADE. E, portanto, quando unido inseparavelmente
aos dois primeiros, chamado de EGO ESPIRITUAL e Taijasa (o radiante).
Esta é a real Individualidade ou a homem divino. E esse Ego que - tendo
encarnado originalmente na forma humana insensível animada por, mas consciente
(uma vez que não tinha consciência), da presença em si mesmo da mônada dual -
fez da forma humanóide um homem real E
esse Ego, esse "Corpo Causal" que obscurece todas as
personalidades em que o Karma o força a encarnar; e é esse Ego o responsável
por todos os pecados cometidos através de e durante cada nova corpo ou
personalidade - as máscaras evanescentes que escondem o Indivíduo verdadeiro
durante a longa série de renascimentos.
INQ.: Mas isso é
justo? Por que deveria esse EGO receber a punição resultante de fatos por ele já
esquecidos?
TEO.: Ele não os
esqueceu; ele conhece e se lembra de seus malfeitos tão bem quanto você se
lembra do que fez ontem. E porque a memória desse amontoado de compostos
físicos chamado "corpo" não se recorda do que seu predecessor (a
personalidade que
foi) fez que você imagina que o Ego real as tenha esquecido? Seria tão
injusto quanto dizer que os novos sapatos nos pés de um garoto, chicoteado por
roubar maçãs, devessem ser punidos por alguma coisa da qual nada soubessem.
INQ.: Mas não
existem modos de comunicação entre a consciência ou memória Espiritual e a
humana?
TEO.: É claro que há,
mas eles nunca foram reconhecidos par seus modernos psicólogos cientistas. A
que você atribui a intuição, a "voz da consciência", as premonições,
as vagas e indefinidas reminiscências, etc., etc., se não a essas comunicações?
Possuiria a maioria dos homens cultos, pelo menos, as finas percepções
espirituais de Coleridge, que demonstra toda a sua intuição em alguns de seus comentários?
Ouça o que ele diz em relação à probabilidade de que "todos os pensamentos
sejam em si mesmos imperecíveis". 'Se a faculdade inteligente (súbitos
"reavivamentos" de memória) pudesse se tornar mais compreensível,
seria necessário apenas uma organização diferente e apropriada, o corpo celeste ao invés do corpo terreno, para trazer diante de toda alma humana a experiência coletiva de toda a sua existência passada (ou melhor,
existências passadas)." E esse corpo celeste é nosso EGO Monásico.
(d) - A RESPEITO DA RECOMPENSA
E PUNIÇÃO DO EGO
INQ.: Ouvi-o dizer
que o Ego, qualquer que possa ter sido a vida da
pessoa na qual ele encarnou na Terra, nunca recebe a punição post mortem.
TEO.: Nunca, exceto
em casos muito raros e excepcionais dos quais não falaremos aqui, uma vez que a
natureza da "punição" não tem nenhuma relação com qualquer de suas
concepções teológicas a respeito da condenação.
INQ.: Mas se ele é punido nesta vida
pelos maus feitos cometidos numa existência anterior, então é esse Ego que também deveria ser recompensado,
seja aqui ou depois de desencarnado.
TEO.: E é assim que
acontece. Se não admitimos nenhuma espécie de punição fora desta terra é porque
o único estado que o Ego Espiritual conhece após este é o de pura felicidade.
INQ.: Como assim?
TEO.: O que quero dizer é o seguinte: os crimes e pecados cometidos num plano de objetividade
e num mundo de matéria não podem
receber punição num mundo de pura subjetividade. Não acreditamos em
inferno ou paraíso como locais; não acreditamos em fogos do inferno e vermes
que nunca morrem, nem em Jerusalém com ruas pavimentadas com safiras e
diamantes. Acreditamos num estado post-mortem ou condição mental, como a que conhecemos durante um sonho
vívido. Acreditamos numa lei de Amor, Justiça e Misericórdia absolutos. E,
acreditando nisso, dizemos: "Qualquer que seja o pecado e tristes
resultados da transgressão Kârmica original dos
Egos ora encarnados,
nenhum homem (ou a forma externa material e periódica da Entidade Espiritual)
pode ser julgado, qualquer que seja o aspecto de justiça, responsável pelas
conseqüências de seu nascimento. Ele não pede para nascer, nem pode escolher os
pais que lhe darão vida. Em todos os aspectos é uma vítima de seu meio
ambiente, a filho de circunstancia sobre as quais não pode exercer nenhuma
espécie de controle; e, se cada uma de suas transgressões fosse investigada
imparcialmente, encontrar-se-iam nove entre
dez casos em que ele mais foi vitima do seu pecado do que propriamente pecador.
A vida é, na melhor das hipóteses, uma peça cruel, um mar tormentoso de se
atravessar e uma carga pesada freqüentemente difícil demais para se
suportar. Os maiores filósofos tentaram em vão compreender e descobrir sua raison
d'être e todos eles falharam exceto os que possuíam a chave, isto é, os sábios
orientais. A vida é, como Shakespeare a descreve”:
“…but a walking shadow, a poor player
That struts and
frets his hour upon the stage
And then is heard no more: It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing..."
Tradução literal:
“...apenas uma sombra caminhante, um infeliz representante
Que suporta e se
inquieta durante o tempo em que está no palco
E depois disso
não mais é ouvido É uma lenda
Contada por um idiota, cheia de
impetuosidade e fúria, Que nada
significa..."
(Macbeth, Ato V. cena 5, linhas 24.28).
Ela não é nada em suas partes
separadas, entretanto, é da maior importância em sua coletividade ou séries de
vidas. De qualquer forma, quase toda vida individual é, em seu completo
desenvolvimento, uma tristeza. E devemos nós acreditar que um homem infeliz e
desamparado, depois de haver sido jogado de lá para cá como um pedaço de
madeira podre nos terríveis vagalhões da vida, deveria, se provar ter sido
fraco demais para resistir a eles, ser punido por uma condenação sempiterna ou mesmo uma punição
temporária? Nunca. Seja ele um pecador grande ou médio, bom ou mau, culpado ou
inocente, uma vez livre da carga física, o
Manu ("Ego pensante")
cansado e exausto tem o direito de um período de absoluto descanso e
felicidade. A mesma Lei infalivelmente sábia e mais justa que misericordiosa,
que inflinge sobre o Ego encarnado a
punição Kârmica por cada pecado cometido durante sua vida precedente na Terra, dá à Entidade ora desencarnada um
longo período de descanso mental, i.e., o completo esquecimento de todo mau
acontecimento, sim, até do menor pensamento doloroso que ocorreu em sua última
vida como personalidade deixando na memória-alma apenas a reminiscência daquilo
que foi alegria ou que levou felicidade. Plotino, o qual disse ser nosso corpo
o verdadeiro rio de Letes, porque as "almas que nele mergulhavam
esqueciam-se de tudo", queria dizer mais do que disse. Pois, assim como
nosso corpo terreno é como Letes, nosso corpo celeste é em Devachan, e
muito mais.
INQ.: Devo entender
então que o assassino, o transgressor da lei divina e humana em todas as suas
formas não recebe punição?
TEO.: Quem disse
isso? Nossa filosofia tem uma doutrina de punição tão severa quanto a mais
rígida doutrina Calvinista, apenas muito mais filosófica e plena de absoluta
justiça. Nenhum feito, nem mesmo um pensamento pecaminoso, ficará sem punição;
o pensamento será mais punido que o feito uma vez que este pode criar piores
resultados que o próprio feito. Acreditamos numa lei infalível de
Retribuição, chamada KARMA, que defende a si mesma numa concatenação natural de
causas e resultados inevitáveis.
INQ.: E como, ou
onde, ela age?
TEO.: Cada trabalhador
merece o salário que recebe, diz a Sabedoria no Evangelho; toda ação, boa ou
má, é um pai prolífico, diz a Sabedoria dos Antigos. Junte as duas coisas e você
encontrará o "por que". Após permitir que a Alma, saída das aflições da vida
pessoal, compensação centuplicada e suficiente, o Karma, com seu exército
de Skandhas, espera no limiar de Devachan onde o Ego re-emerge para assumir uma
nova encarnação. E nesse momento que o destino futuro do Ego, que
ora descansa, se agita nas escalas da justa Retribuição, uma vez que agora ele
cai novamente sob o controle da lei Kârmica ativa. E neste renascimento que está pronto para ele um
renascimento selecionado e preparado por esta misteriosa, inexorável mas, na
eqüidade e sabedoria de seus decretos, infalível LEI, que os pecados da vida
anterior do Ego são punidos. O que ocorre é que não é em nenhum
Inferno imaginário, com chamas teatrais e ridículos diabos com rabos e chifres
que o Ego será colocado, mas nesta mesma terra, no plano e região
de seus pecados, onde ele terá de expiar todos os seus maus feitos e
pensamentos. O que tiver semeado, colherá. A reencarnação juntará ao redor de
si todos aqueles outros Egos que sofreram, direta ou indiretamente, pelas mãos,
ou mesmo pela instrumentalidade inconsciente, da personalidade passada.
Eles serão atirados por Nemesis
no caminho do novo homem,
ocultando o velho, o eterno EGO
e ...
INQ.: Mas onde está a
eqüidade de que você falou, uma vez que essas novas personalidades não têm consciência
de haverem pecado ou de haverem sido prejudicadas por pecados?
TEO.: O casaco que cobria um homem que o
roubou e que foi feito em trapos pelo verdadeiro dono que o reconheceu, deve
ser considerado como maltratado? A nova personalidade não é mais que um novo
conjunto de roupas com suas características, cor, forma e qualidades
específicas; mas o homem real que o usa é tão culpado quanto o velho. E a individualidade
que sofre através da personalidade. E é esta, apenas esta, que pode
considerar terrível, ainda que apenas aparente, a injustiça na
distribuição de sorte na vida de um homem. Quando seus modernos filósofos
tiverem conseguido demonstrar-nos uma boa razão pela qual tantos homens
aparentemente inocentes e bons nascem apenas para sofrer durante toda a vida;
porque tantos nascem para morrer de fome nos corticos das grandes cidades,
abandonados pelo destino e pelos homens; porque, enquanto esses nascem na
sarjeta, outros abrem os olhos e já se encontram em palácios; enquanto um
nascimento e destino nobre parecem ser dados freqüentemente aos piores dos
homens e apenas raramente aos dignos; enquanto houver mendigos cujos seus interiores
igualam os mais nobres e elevados dos homens; quando isto, e muito mais,
for satisfatoriamente explicado, ou por seus filósofos ou por seus teólogos,
então, mas só então, vocês terão o direito de rejeitar a teoria da
reencarnação. Os elevados e maiores poetas aperceberam-se obscuramente desta
verdade das verdades. Shelley acreditou
nela, Shakespeare deve ter pensado
nela quando escreveu a respeito da inutilidade do Nascimento. Lembre-se
de suas palavras:
Why should my birth keep down my mounting spirit?
Are not all creatures subject unto time?
There's legions now of beggars on the earth,
That their original did spring from Kings,
And many monarchs now, whose fathers were
The rift-raff of their age…
Tradução literal:
Por que deveria meu nascimento
oprimir meu espírito que o sustam?
Não estilo
todas as criaturas sujeitas ao tempo?
Ha atualmente
legiões de mendigos sobre a terra,
Cujos ancestrais são provenientes de
Reis,
E muitos' monarcas de hoje cujos
pais eram
A ralé de sua época
Mude a palavra "fathers" (pais) para "Egos"
— e você terá a verdade.
Mario J.B.
Oliveira
MST – LSP.
mjboliveira@uol.com.br
Bibliografia:
Livro A Sabedoria Antiga “A Chave para a Teósofia, de HP Blavatsky, ed. Hemus;
Livro Catecismo Budista de Henry S. Olcott, ed. IBRASA; Glossário Teosófico de
HPB, ed. Ground.
Campinas,
13/10/2004.
Vide The Secret Doctrine (A Doutrina Secreta),
Vol. II, estrofes.
A palavra "alma aqui empregada, é
equivalente ao grego psychê. A
palavra "material" estende-se a outros estados de matéria, além do
corpo físico.
Foi sobre esta transgressão que foi
criado o dogma cruel e ilógico dos Anjos Caídos. Isso esta explicado no Volume
II de The Secret Doctrine. Todos
os nossas "Egos" são entidades pensantes
e racionais (Manasa-putras) que tinham vivido, seja ou não sob formas humanas, no ciclo
de vida precedente. (Manvantara), e cujo Karma devia encarnar
no homem neste ciclo. Ensina-se nos MISTERIOS que, tendo demorado para
cumprir esta lei ou tendo se recusado a criar" como o Hinduísmo diz dos Kumaras
e da lenda Cristã do Arcanjo Miguel), i.e., não tendo encarnado no tempo devido, os corpos a eles predestinados
foram violados (Vide Estrofes Vll l e IX em "Slokas of Dzyan'", VOL. II,
The Secret Doctrine, págs. 19 e 201, daí o pecado original das
formas insensíveis e a punição dos Egos.O que se quer dizer como fato
dos anjos
rebeldes serem atirados ao Inferno é simplesmente explicado por esses Espíritos ou Egos puros sendo
aprisionados nos corpos de matéria e carne impuras.
Nemesis (Gr.) - Entre os gregos primitivos, Nemesis não era propriamente uma
deusa, mas antes um sentimento moral, segundo
a expressão de Decharme; uma barreira contra o mal e a imoralidade; porém, com
o tempo, tal sentimento foi deificado e sua personificação tomou-se uma deusa
sempre fatal e castigadora. Assim é que, se pretendêssemos relacionar Karma com Nemesis, deveríamos fazê-lo em seu triplo caráter, como
Nemesis, Adrasteia e Themis, porque, assim como esta última é a deusa da
harmonia e da ordem universal, e que, como Nemesis, está encarregada de
reprimir todo excesso e manter o homem dentro dos limites da Natureza e da
justiça sob severas penas, Adrasteia, a "inevitável", representa
Nemesis como o efeito imutável de causas criadas pelo próprio homem. Nemesis a
deusa justa e imparcial, que reserva sua cólera apenas para aqueles cuja
inteligência encontra-se extraviada pelo orgulho, pelo egoísmo e pela
impiedade. Em uma palavra: assim como Nemesis é uma deusa mitológica,
esotérica, ou uma Potência personificada e antropomorfizada em seus diversos
aspectos, Karma é uma verdade altamente filosófica, uma expressão sumamente
divina e nobre da intuição primitiva do homem concernente à Divindade. (Doutrina Secreta, II,
319) (Ver Fatalismo, Karma e Karma-Nemesis.)
Compilação: Mário J.B.Oliveira