O BANQUETE DOS
DEUSES
Vi
em meu sonho uma grande mesa posta em uma grande montanha, cujos longínquos
topos estavam cobertos de neve, e brilhavam com uma intensa luz. Ao redor da
mesa estavam doze pessoas, seis homens e seis mulheres, alguns dos quais eu
reconheci imediatamente, outros apenas os reconheci mais tarde. Aqueles que
reconheci imediatamente eram Zeus, Hera, Palas Atena, Apolo e Ártemis.
Reconheci-os pelos símbolos que usavam. A mesa estava coberta por muitas
variedades de frutas, de grande tamanho, incluindo nozes, amêndoas e azeitonas,
com finas tortas de pão, e taças de ouro nas quais, antes de beber, cada
divindade colocava dois tipos de liquido, um dos quais era vinho, e o outro
água. Enquanto eu olhava de pé sobre um degrau baixo que conduzia até a mesa,
fui surpreendida ao ver que Hera me olhava fixamente e que dizia: "Que vê ali ao
final da mesa?" E respondi: "Vejo dois lugares vazios". Então ela me falou
novamente, dizendo: "Quando forem capazes de comer de nosso alimento e de beber
de nossa taça, também poderão sentar-se e comer em nossa companhia". Ela não
tinha terminado de dizer essas palavras quando Atena, que estava sentada em
frente a mim, acrescentou: "Quando forem capazes de comer de nosso alimento e
beber de nossa taça, então poderão saber como vocês são conhecidos".
Imediatamente Ártemis, a quem reconheci pela Lua sobre sua cabeça, continuou:
"Quando forem capazes de comer de nosso alimento e de beber de nossa taça, todas
as coisas se tornarão puras, e vocês se tornarão em
virgens".
Eu disse, então: "Oh imortais, qual é seu
alimento e qual é sua bebida, e como suas reflexões diferem das nossas, de modo
que se nós não comermos carne nem sangue, possamos ter lugar em suas
mesas?".
Então, um dos Deuses, que nessa ocasião eu não
conhecia, mas que logo depois reconheci como Hermes, levantou-se da mesa, e veio
a minha direção e colocou em minhas mãos um ramo de figueira com um fruto
maduro, e disse: "Se quiserem ser perfeitos, e para serem capazes de conhecer todas as coisas,
abandonem com rapidez a heresia. Deixem que o fogo lhes proteja, e os dêem
conforto externamente - isto é um presente dos céus. Mas não pervertam em seu
justo propósito, como o fez aquele traidor de sua raça, para encher as veias da
humanidade com seu contágio, e para consumir o seu interior com seu sopro. Todos
vocês são homens de barro, como era a imagem que foi feita como molde. Vocês se
alimentam com fogo roubado, e este os consome. De todas as boas utilizações dos bons
presentes do céu, nenhuma é tão má como o uso interno do fogo. Pois os
mantimentos e bebidas quentes têm lhes consumido e secado o poder magnético dos
seus nervos, selando seus sentidos, e cortando suas vidas. Vocês desse modo não
vêem nem ouvem, pois o fogo em seus órgãos consome seus sentidos. Vocês são
todos cegos e surdos, criaturas de barro.
Enviamos-lhes um livro para ser lido. Pratiquem as normas, e seus
sentidos se abrirão."
Então não reconhecendo naquela ocasião, eu disse:
"me diga seu nome, Senhor".
Nesse momento Ele riu e respondeu: "Andei contigo
desde o começo. Sou a nuvem branca ao meio-dia".
"Então", perguntei, "desejas que todo mundo
abandone o uso do fogo na preparação de mantimentos e
bebidas?"
Ao contrário de responder minha pergunta, Ele
disse: "Nós mostramos o melhor caminho. Dois lugares estão vazios nesta
mesa. Mostramos-lhes tudo o que
poderia ser mostrado no nível em que se encontram. Mas nossos presentes
perfeitos, os frutos da Árvore da Vida, estão além de vosso alcance neste
momento. Não podemos dar esses presentes a vocês até que estejam purificados e
tenham alcançado um nível superior. As condições são de Deus, a vontade é lá com
vocês."
Estas últimas palavras pareciam ser repetidas
vindas do céu em cima da cabeça, e também debaixo de meus pés. E naquele momento
caí de uma grande altura, como se tivesse sido alcançada por um meteoro, e com a
velocidade e o choque despertei.
- Hinton, setembro de 1877.
Anna Bonus
Kingsford
(Teósofa
Inglesa)
|