O Anel
"Mágico" de HPB
Marina Cesar Sisson
(Membro da Sociedade Teosófica no Brasil desde 1977)
(Artigo publicado originalmente no Informativo HPB n°02, out./99)
O Anel “Mágico” de HPB
Marina Cesar Sisson
(Membro da Sociedade Teosófica no Brasil desde 1977)
(Artigo publicado originalmente no Informativo HPB n° 02,
Out./99)
“Anéis mágicos - Estes anéis
têm existido como talismãs nas tradições e lendas
de todos os povos. Na Escandinávia, tais anéis estão
sempre relacionados com os duendes e os anões que, segundo se dizia,
eram possuidores de talismãs e os davam, algumas vezes, aos seres
humanos aos quais desejavam proteger.” (Glosario Teosofico, p. 40)
No final de sua vida HPB usou um anel de sinete, com o qual
marcava algumas de suas correspondências, do qual foram feitas algumas
réplicas. Posteriormente ele passou a ser conhecido como o anel
“mágico”, “oculto” ou “do Mestre”. A origem deste anel e com quem
ele está agora é uma questão controversa. Na verdade,
como veremos, HPB teve mais de um anel semelhante a este. Neste Informativo
HPB n° 2 examinaremos as histórias destes anéis.
O Anel que Francesca Arundale mandou fazer
C. Jinarajadasa, num artigo no The Theosophist, em
agosto de 1931, conta a história da origem do anel de HPB, como
lhe havia sido narrada por Francesca Arundale. HPB, em 1884, enquanto estava
morando em Londres com Francesca Arundale, mencionou que gostaria de ter
um anel de sinete. A Srta. Arundale ofereceu-se para mandar faze-lo:
“HPB concordou e lhe deu o desenho - o triângulo
duplo e abaixo dele a palavra sânscrita, Sat, Verdade. Então,
a Srta. Arundale perguntou a HPB se ela se importaria que ela (Srta. Arundale)
tivesse um anel semelhante para ela mesma. HPB não tinha objeção.
Duas pedras, ágatas de um verde muito escuro, quase preto, foram
cortadas com o mesmo desenho, ambas exatamente iguais. O sinete de HPB
foi fixado num pesado anel de ouro, sendo a pedra montada numa moldura
oval com uma dobradiça, de modo que fosse a tampa de um compartimento
muito raso. O da Srta. Arundale foi montado num anel mais leve. A Srta.
Arundale usou sempre seu anel e, por ocasião de sua morte, ele passou
para seu sobrinho, Bispo George S. Arundale, que posteriormente doou-o
para os Arquivos da EE.” (The Theosophist, 1931, p. 662)
Jinarajadasa relata ainda que HPB usou seu anel desde 1884
até o dia de sua morte, e que, algum tempo antes de seu falecimento,
ela teria deixado instruções ao Círculo Interno
de que o anel deveria ser dado para Annie Besant após a sua morte.
Como nesta ocasião, em 8 de maio de 1891, Besant estava nos EUA,
o anel só lhe foi entregue depois, na sua volta.
Este anel tem sempre sido passado pelos presidentes da
ST (Adyar) para seus sucessores, estando agora com Radha Burnier. Porém,
há uma outra versão defendida por aqueles que seguiram Judge
quando ocorreu a divergência entre ele e Besant - e a consequentemente
criação de outra ST, conhecida como de Point Loma, atualmente
com sede em Pasadena. De acordo com eles, o anel que pertenceu a HPB não
teria ficado com Besant, mas sim com Judge.
Judge ou Besant?
Assim como na ST de Adyar, Judge também manteve a
tradição de passar o anel de um presidente para outro. Assim,
o anel passou para Katherine Tingley, G. de Purucker, Conger, James Long
e Grace Knoch. Em 1951, Boris de Zirkoff escreveu a Jinarajadasa perguntando-lhe
sobre a origem do anel que estava em Adyar. Ele respondeu confirmando a
história de Francesca Arundale, e afirmando que este era “... o
anel usado por HPB e dado para Annie Besant após o passamento de
HPB...”. (Theosophy World n° 24)
Nesta carta para Boris de Zirkoff, Jinarajadasa alterou
um pouco o final da história que havia contado anteriormente, dizendo
que “... o anel duplicado usado pela Srta. F. Arundale, não está
nos Arquivos da Seção Esotérica, mas é propriedade
particular da Sra. Rukmini Arundale.” (Theosophy World n°
24)
Desde 1895 já havia uma discussão em torno
de com quem estaria o anel que HPB usou nos seus últimos anos de
vida, se com Judge ou com Besant. Segundo uma carta recebida por Annie
Besant, Judge teria afirmado, em um encontro de sua Escola, nos EUA, que
por meios não usuais, ele teria recebido o anel que pertenceu a
HPB, e que o anel que Besant tinha era um substituto. Devido a estes fatos,
em junho de 1895, Besant publicou em Lucifer a versão dela
sobre o anel. Ela cita que havia recebido uma carta de Judge, de janeiro
de 1895, onde ele lhe dizia que: “Como um amigo eu lhe aconselharia
a ser cuidadosa nas afirmações com relação
ao anel de HPB; você não o possui.” Besant, então,
escreve que:
“Os fatos com relação ao anel são
muito simples. HPB muitas vezes me disse que era para eu usá-lo
após sua morte, no lugar da cópia que ela havia me dado em
1889. Havia apenas dois anéis grandes, o que ela usava e a cópia
que ela havia feito para mim, e estes dois eram distinguíveis apenas
por algumas diferenças muito pequenas, somente perceptíveis
por meio de um exame cuidadoso. Eu estava ausente quando HPB deixou seu
corpo, mas ela disse para a Sra. Cooper-Oakley que o anel era para mim,
e após sua morte ele foi retirado de seu dedo e guardado até
que eu chegasse de volta, quando me foi dado, e eu tirei do dedo a cópia
e coloquei o dela. Desde então ele nunca se separou de mim, e o
usei continuamente até o verão de 1893 amarrado em meu dedo
por fitas de seda, porque ele era grande demais para mim. No verão
de 1893 eu comprei um anel de ouro para nele fixar o de HPB, e assim evitar
a necessidade de amarrá-lo. A cópia do anel que ela me deu
eu dei para o Sr. Judge, após ele ter chegado a Londres em 1891,
e esta é a cópia que ele está mostrando como o anel
de HPB. Estes são os fatos simples, os quais aparentemente estão
se transformando no Mito do Anel” (Lucifer, 1895)
A declaração de Besant só aumenta a
confusão, pois ainda acrescenta mais um anel, que lhe havia sido
dado, em 1889, por HPB, e que era quase indistingüível do anel
que a Madame usava. A questão nunca se resolveu, cada lado afirmando
possuir “o” anel de HPB.
Dois Anéis “Mágicos”?
Em 1927, James M. Pryse, que conheceu pessoalmente tanto
HPB quanto Judge, Besant e Mead, publicou um artigo chamado “Os Anéis
de HPB”, tentando esclarecer a confusão. Contudo, a meu ver, além
de não esclarece-la, ainda a aumentou, pois introduziu mais um anel
“mágico”, o qual teria sido anteriormente usado por Judge. Este
anel possuía um compartimento onde guardaria “uma amostra do
tabaco de M.”. Ele assim descreve os anéis:
“Três anéis, dois deles talismãs
e outro apenas um ornamento de dedo, têm sido objeto de controvérsia
entre mexeriqueiros teosóficos, que gostam de posar de importantes,
como possuidores de “informações internas” sobre eventos
na ST, embora não possam, de modo algum, conhecer nada de primeira
mão sobre estes eventos. (...)
“O primeiro anel “mágico” era usado por HPB, que
o chamava de “o anel do Mestre”. Uma tarde, durante uma conversa, HPB,
falando sobre este anel, o qual ela me mostrou, disse que ela tinha tido
um pouco antes um “carocinho” em sua pálpebra. “Mas”, disse ela,
“eu esfreguei-o com o anel do Mestre e ele foi embora.” Ela ilustrou
sua afirmação esfregando com o anel do Mestre sua pálpebra
de onde o quisto sebáceo havia sido removido. Este anel está
agora na posse de minha leal e querida velha amiga, a Sra. Annie Besant.
“O segundo anel “mágico” era usado pelo Sr. Judge.
Se dizia que ele continha (assim o Sr. Mead me informou) “uma amostra
do tabaco de M.”. Este anel está agora na posse de meu velho
amigo e colega, Sr. G.R.S. Mead.
“O terceiro anel era usado pela Sra. Besant. É
uma cópia do anel de HPB feita por um joalheiro, que a “Velha Senhora”
mandou fazer para “A.B” (...)
“O Sr. Mead me escreveu que após a morte de HPB
“havia tido uma troca de amuletos e anéis mágicos.
A.B. ficou com o de HPB, Judge ficou com o de A.B. e eu fiquei com o de
Judge.” Muito tempo depois, após a ruptura entre a Sra. Besant
e o Sr. Judge, e a posterior desavença entre o Sr. Mead e a Sra.
Besant, o Sr. Mead em vista dos muitos rumores e relatos absurdos e sem
fundamento que então eram, e ainda são, correntes entre os
partidários crédulos, espirituosamente espalhou a lenda de
que os anéis da Sra. Besant e do Sr. Judge haviam sido “ocultamente
trocados, de modo que o Sr. Judge possuía a peça verdadeira,
isto é, o potente anelzinho de poder mágico” e a Sra. Besant
“teve seu próprio amuleto sem importância de volta!” (The
Canadian Theosophist, 1927)
O Anel duplicado fenomenicamente por HPB em 1876
Como se não bastasse, a confusão ainda aumenta
mais, pois o próprio Olcott dá uma origem completamente diferente
ao anel que HPB usava! Ele escreve que numa noite, em 1876, quando HPB
e ele recebiam vários convidados, ela lhe pediu emprestado um grande
sinete entalhado que ele estava usando como anel de gravata. Então:
“Ela pegou-o entre suas mãos fechadas, sem dizer
nada a ninguém e sem atrair a atenção de qualquer
um exceto a minha, e esfregou as mãos por um minuto ou dois, quando
eu ouvi o tilintar de metal sobre metal. Ela sorriu chamando a minha atenção
e, abrindo suas mãos, mostrou-me outro anel junto com o meu, igualmente
grande, mas de um padrão diferente: a placa do sinete sendo de uma
jaspe sangüínea (“bloodstone”) verde escuro, enquanto
que a minha era uma cornalina vermelha. Aquele anel ela usou até
sua morte, e agora é usado pela Sra. Annie Besant, e é familiar
a milhares de pessoas. A pedra quebrou-se na nossa viagem para a Índia
e, se me lembro corretamente, o anel em questão foi esculpido e
engastado em Bombay.” (ODL, I, p. 347)
Ao que tudo indica, Olcott não se lembrava
corretamente. Pois, segundo Jinarajadasa e a própria Annie Besant,
o anel que ela passou a usar foi o que Francesca Arundale mandou fazer
em 1884! É de se supor que este anel duplicado por HPB fosse muito
parecido com o outro, o que teria causado a confusão de Olcott.
Na verdade, Olcott pode também não estar se recordando bem
da data do fenômeno, pois há uma foto, de setembro de 1875,
onde Madame aparece com um grande anel, bem arredondado, também
com uma pedra escura onde, contudo, só estava gravado o símbolo
dos dois triângulos entrelaçados. (Gomes, p. 83)
O Anel da Condessa de Wachtmeister
Infelizmente, a confusão ainda não para por
ai, pois ainda havia mais um anel idêntico ao da Madame. Este outro
anel pertencia à Condessa de Wachtmeister, que cuidou de HPB nos
últimos anos de sua vida, que lhe perguntou se poderia ter um anel
igual. HPB lhe deu um idêntico, inclusive no que diz respeito ao
compartimento, a não ser pelo tamanho, pois as mãos da Velha
Senhora eram muito roliças. Se HPB mandou fazer o anel no joalheiro,
ou se o duplicou magicamente para a Condessa, não se sabe. Este
anel acabou nas mãos da Sra. Harry Benjamin, que escreveu, em março
de 1979, uma carta de circulação privada sobre a controvérsia
dos anéis.
A Sra. Benjamin conta que o anel da Condessa, sendo idêntico
ao da Madame, também possuía um compartimento, mas tão
bem ajustado que facilmente passaria desapercebido. Quando Sri Ram era
o Presidente Internacional, Boris de Zirkoff esteve com ele em Wheaton
e perguntou-lhe se o anel que ele usava tinha um compartimento. Sri Ram
disse que não e, para ter certeza, ambos o examinaram cuidadosamente,
constatando que realmente não possuía um compartimento. A
Sra. Benjamin diz que este anel ficou com Besant após a morte de
HPB, “... reivindicando ser este “O” anel oculto; mas que Judge havia-lhe
dito que não era, mas sim um substituto, e que ele é que
tinha o anel oculto.” (Theosophy World n° 24)
Também conta a Sra. Benjamin que como havia uma
discussão em torno da pedra - que HPB afirmava ser uma jaspe sangüínea,
mas que muitas vezes é descrita como sendo uma ágata - ela
levou seu anel para a Sra. Christmas Humphreys, que era joalheira, examinar.
Esta prontamente confirmou ser uma jaspe sangüínea e não
uma ágata, explicando que a confusão ocorria porque as pessoas
geralmente pensavam, por causa do nome, que a jaspe sangüínea
era vermelha. Porém, apenas quando olhada contra a luz esta pedra
mostra um brilho avermelhado. Ela diz também que, de acordo com
a Enciclopédia Britânica, a jaspe sangüínea é
a pedra do martírio!
O Anel de Pasadena
Numa carta de setembro de 1951, da Sra. Helen Harris para
Boris de Zirkoff, há uma descrição do anel que foi
usado por K. Tingley e G. de Purucker, com os quais ela conviveu. Ela descreve
que o anel era de ouro, pesado; a pedra muito escura, fixada numa moldura
oval, com uma dobradiça e que a moldura tinha um compartimento muito
raso. E relata que certa ocasião havia visto K. Tingley abri-lo,
com alguma dificuldade, e que o mesmo se encontrava vazio. Diz também
que este anel havia sido dado por Judge para Tingley, e que, de acordo
com esta, HPB o havia dado a Judge. (Theosophy World n° 24)
Como já citamos, Jinarajadasa menciona que o anel
feito por Francesca Arundale para HPB possuía um compartimento.
Ora, se o anel usado pelos Presidentes em Adyar não tem este compartimento,
e aquele usado pelos Presidentes de Pasadena tem, me parece claro que,
de algum modo que não sabemos qual, nem quando, nem sob que circunstâncias
ocorreu, foi com Judge, e não com Besant, que ficou com o anel que
HPB usava, e que foi feito em 1884.
É verdade que, pelo fato da Madame ter usado o
anel desde 1884 até sua morte, ele foi magnetizado por ela e, deste
modo, tem a sua importância. Não obstante, é provável
que toda esta discussão em torno de quem está de posse do
verdadeiro anel “mágico” seja pouco relevante, pois talvez o verdadeiro
anel “do Mestre” não seja nenhum destes, mas sim um outro, que foi
usado por HPB anteriormente, naquele período obscuro de sua vida,
conhecido como “anos velados” - entre 1849 (após a separação
de Nikifor Blavatsky) e a época da fundação da ST.
Um período de grandes lutas com sua natureza, de batalhas e sacrifícios,
pois foi quando aprendeu a dominar suas capacidades psíquicas, e
tornar-se apta para suas futuras grandes missões a serviço
dos Mestres, quer como escritora, quer como baluarte do movimento teosófico
contemporâneo.
O Primeiro Anel de HPB
Examinando com cuidado as fotografias que existem da Madame,
veremos que há mais um anel: aquele que ela usa na fotografia de
sua primeira grande obra, Isis Sem Véu. Há quem diga
que esta foto é da época em que Isis foi escrita. No entanto,
isso não parece nem um pouco provável, pois ao examinarmos
a foto, vemos que HPB aparece com um rosto muito mais jovem, que está
muito mais magra e com cabelos mais escuros do que em outras fotos da mesma
época.
Ou seja, tudo indica se tratar de uma foto de uma época
anterior de sua vida e, pela aparência, diria que se refere a um
período ainda inicial de seu treinamento. Uma época em que
ela se dedicou a aprimorar seu contato com os Mestres, ao desenvolvimento
de suas capacidades em geral e ao treinamento de seus poderes psíquicos
em particular. Uma época em que, mais do que em qualquer outra,
ela precisou dos Mestres a seu lado, ajudando-a a vencer as enormes dificuldades
inerentes a esta capacitação, a qual, finalmente, a transformou
no extraordinário agente dos Mestres que conhecemos por HPB.
Olhando com cuidado, vemos que este anel é ligeiramente
diferente de todos os outros até aqui mencionados. Ele também
tem os dois triângulos entrelaçados, mas nele não
há as letras sânscritas da palavra “Sat”. Há
outros dois símbolos diferentes abaixo dos triângulos, sendo
que um deles, pela falta de nitidez da foto, está indecifrável,
enquanto que o outro se assemelha muito à 16ª letra do alfabeto
hebraico, “Hain”. Esta letra, de acordo com Papus, está relacionada
com Jehovah Sabaoth e com Gabriel (p. 83), e também com o “elo materializado”
(p. 113). É interessante notar que Gabriel é o Anjo da Anunciação;
e que segundo os gnósticos “... o “Espírito” ou Christos,
o “mensageiro de vida” e Gabriel, são uma única coisa.” (Glosario
Teosofico, p. 226)
Como vimos, muitos se preocuparam em discutir quem estava
de posse “do” anel de HPB. Porém, quase ninguém sequer mencionou
a existência deste primeiro anel. Qual a sua origem e qual foi o
seu destino? Como diria a própria Velha Senhora - “Quien sabe?”
“Este Símbolo estava com a Madame, no seu Anel”
Há uma carta de Damodar para Judge, em 1879, onde
ele relata que, em Benares, HPB, Olcott e ele haviam se encontrado com
Mâji, uma iogue que tinha poderes psíquicos e que dizia
que o Guru dela era o mesmo que o da Madame. Mâji também
revelou que havia sido com o Guru da Madame que Olcott havia contato, no
verão anterior, nas Cavernas Karli. Esta comunicação
se deu através de um faquir, que estava puxando uma vaca que possuía
uma pequena quinta perna. Mâji disse que o Guru estava tentando
transmitir uma lição a Olcott por meio deste símbolo.
Damodar escreve a Judge relatando os comentários de Mâji:
“Toda pessoa tem o direito de repetir o Mantra Gayatri,
que consiste de três “padas” (métricas), mas um Brahmachari
tem o direito de repetir uma “Pada” a mais, enquanto que um Iogue
poderia repetir tantas quantas ele quiser e, deste modo, realizar maravilhas.
Assim, um Iogue tem o direito de repetir um Mantra consistindo de cinco
“padas”, que é igual a “Om Tat Sat” e que, como a
palavra “Pada” também significa um pé ou uma perna,
ele trouxe de propósito uma vaca de cinco pernas para indicar este
significado. E mais, disse que este símbolo estava com a Madame,
no seu anel de sinete, embora nem ela (a Madame) nem ninguém de
nós tivesse insinuado a Mâji este fato. Você
verá, assim, como as instruções da Índia são
transmitidas por meio de símbolos e que quem puder decifrar os antigos
símbolos arianos encontrará um vasto campo para ser explorado.”
(Eek, p. 39)
Ora, Mâji estava dizendo que o símbolo
daquele que “pode repetir tantas (“padas”) quantas ele quiser e, deste
modo, realizar maravilhas”, isto é, de um Iogue, “estava
com a Madame, no seu anel de sinete” e lembremo-nos que ela se dizia
discípula do mesmo Guru e, portanto, provavelmente poderia reconhecer
os símbolos empregados pelo seu Mestre.
Também é importante enfatizarmos que Mâji
não estava se referindo ao anel que Francesca Arundale mandou fazer
em 1884, uma vez que o episódio da vaca de cinco pernas foi em 1879!
E nesta época só existiam dois anéis: o duplicado
fenomenicamente a partir do de Olcott, e o da foto de Isis. Portanto, era
a um deles que Mâji estava se referindo.
“O Anel do Mestre”
À luz de tudo que foi visto acima, podemos deduzir,
com grande probabilidade, que o verdadeiro “anel do Mestre” era o primeiro
anel de HPB, aquele que ela exibe explicitamente em Isis - que se saiba,
é a foto mais antiga onde ela aparece com um anel deste tipo.
Tal dedução se deve ao fato, da maior relevância,
de que este é o único anel cuja origem jamais foi revelada.
Como se sabe, aquilo que é realmente sagrado deve ser protegido
pelo segredo e pelo silêncio. Como disse Sri Ramakrishna: “A religião
do segredo e do silêncio é a única religião
verdadeira.” E, se existiu um anel que realmente teve sua origem diretamente
ligada ao Mestre de HPB, é de se esperar que ele fosse, deste modo,
protegido.
Além disso, a simbologia contida neste primeiro
anel, indiscutivelmente, é a mais misteriosa e, pelo pouco que dela
podemos inferir, é a mais especificamente relacionada com a missão
da Velha Senhora. Como vimos, a letra hebraica “Hain” tem uma simbologia
relacionada com Gabriel, o anjo da Anunciação, bem como com
o “elo materializado”.
Uma das missões de HPB foi anunciar, de forma mais
explícita e especialmente ao mundo Ocidental, a existência
dos Mestres e da Hierarquia. E, se ela teve forças e capacidades
para tanto, foi justamente por ter se tornado um “elo materializado” do
seu Mestre. Isto é, sua agente direta para o cumprimento de Seus
planos. Foi por ordens Dele que todo o trabalho da Velha Senhora foi realizado.
Como ela escreveu para Sinnett:
“Deixe o carma disso cair sobre meu Patrão (“Boss”)
- pois eu tenho sido única e exclusivamente sua arma e agente, que
não tem a responsabilidade de tudo isso. E suponho que Mahatma KH
atuou em primeiro plano e meu Patrão, em segundo, como de costume.
E como você diz, eu tenho apenas que obedecer.” (LBS, p. 72)
E, abaixo desta frase, o Mestre M. precipitou o seguinte
comentário: “Exatamente, pois esta é a melhor política.”
Cabe notar que, ao cumprir esta missão, ou seja, ao externalizar
a Hierarquia, ela tornou mais concreto, mais “materializado” o elo de ligação
entre os Mestres a humanidade como um todo.
Há uma lição a ser extraída
de toda esta controvérsia envolvendo os anéis de HPB, não
se tratando apenas de um fato pitoresco da vida da Velha Senhora. Esta
lição é que, com muita facilidade, no movimento teosófico,
os interesses e as atenções se voltam para questões
superficiais - questões de caráter intelecto-doutrinário
ou partidário-organizacional.
Existe uma clara analogia entre isto e o episódio
dos anéis. Tanta atenção foi dada a quem teria a posse
do “verdadeiro” anel, dando ênfase e aumentando diferenças
e divisões superficiais e deixando, em segundo plano, o que os uniria,
o verdadeiro caráter teosófico, o qual, pela sua própria
natureza, sempre e necessariamente será caracterizado por um relacionamento
vivo com a Sabedoria Divina e, portanto, com o Altruísmo. Como disse
HPB: “...a verdadeira Teosofia É ALTRUÍSMO, e não
podemos repeti-lo demasiadamente. É amor fraterno, auxílio
mútuo, devoção incansável à Verdade.
Se um dia os homens apenas compreenderem de fato que tão somente
nisto pode a verdadeira felicidade ser encontrada, e nunca na riqueza,
nas posses, ou em qualquer gratificação egoísta, então
as nuvens escuras se afastarão, e uma nova humanidade nascerá
sobre a terra.” (CW, vol. XI, p. 202)
Bibliografia
Benjamin, Mrs. H. Theosophy World n° 24, 1°/junho/1998.
theos-world@theosophy.com
Besant, A. “On the Watch Tower”, Lucifer, Vol
XVI, No. 94, June 1895
Blavatsky, H.P. Glosario Teosofico. Ed. Kier,
1977.
Blavatsky, H.P. H. P. Blavatsky Collected Writings,
vol XI. TPH, Wheaton, 1977.
Blavatsky, H.P. The Letters of H.P. Blavatsky to A.P.
Sinnett. TUP, Pasadena, 1973.
Blavatsky, H.P. The Voice of the Silence. TPH,
Adyar, 1975
Edge, H.T. The Universal Mystery-language and Its
Interpretations. The TUP Online, 1997
Eek, S. Damodar and the Pioneers of The Theosophical
Movement. TPH, Adyar, 1978.
Gomes, M. The Dawning of the Theosophical Movement
TPH, Wheaton, 1987.
Jinarajadasa, C. The Theosophist, Vol. LII, No.
11, August 1931
Olcott, H.S. Old Diary Leaves. TPH, Adyar, 1974.
Papus A Cabala. Martins Fontes, São Paulo,
1988.
O Informativo HPB tem por objetivo compartilhar o resultado de
estudos e pesquisas sobre HPB, realizados nos últimos anos.
Comentários, sugestões ou perguntas são bem-vindos
e devem ser encaminhados para a autora:
Marina Cesar Sisson
msisson@zaz.com.br
Caixa Postal 08.861
70.312-970 Brasília, DF - Brasil
|