A VIRTUDE ARQUETÍPICA

 

Por B. P. Wadia

 

[De "Assim Tenho Ouvido", páginas 283-85.]

 

Siga o conselho dos Sábios. Medita nas anomalias e misérias de nossa civilização. Descubra a raiz de suas mazelas. Achamos que a mente humana triunfou pelo negligenciar e desafiar das forças morais que estão em operação no universo. Isto não é geralmente percebido, e os homens e seus líderes são igualmente iludidos. Cada um presume que ele e sua nação ou classe está seguindo os princípios morais, enquanto eles são escravos das paixões, preconceitos e da ganância.

 

O homem, o pensador, não tem sido capaz de seguir os ensinos de uma longa série de Sábios que declaram: não permita que a força de vício conduza sua mente, mas sim eduque esta mente de forma a seguir o caminho da força da virtude. O Conhecimento tomou o lugar do amor, da compaixão, de caridade, da harmonia que floresce, e o pensamento-ação das massas abafam a voz de Espírito até mesmo nos bons indivíduos.

 

Os Sábios e Videntes advertiram contra o conhecimento, a razão e a mente que estorvam os princípios morais. Eles sempre ensinaram a superioridade das idéias morais sobre os pensamentos mentais. Eles indicaram a realidade das verdades de que Sabedoria é Compaixão, que Justiça é Misericórdia. Nossa Divindade não é formada por conhecimentos mas formada pela virtude,  e nossos vícios nos tornam demoníacos. Existiria uma melhor descrição do bem sucedido homem moderno em nossa ordem social do que a encontrada no 16º aforismo do ~Bhagavad Gita ~?

 

Mentes iluminadas, como Gautama Buddha, ou o grande Shankara, apontaram para princípios morais como pontos de partida para uma vida de paz, benevolência e sabedoria. Jesus, os profetas judeus antes dele e aqueles que seguiram o seu conselho e instrução, tem enfatizado a vida moral como necessária para obter o verdadeiro conhecimento. São Paulo afirmou a superioridade da Fé, Esperança e Caridade sobre todo o conhecimento e mostrando "um caminho melhor" ele nos exortou a "desejar honestamente os melhores dons".

 

A cristandade reconhece a Fé, a Esperança e a Caridade como virtudes teológicas e que há quatro virtudes naturais --perfazendo ao todo as sete Virtudes Cardinais, que se contrapõem aos Sete Pecados Mortais. Foi provavelmente Agostinho que tentou Cristianizar as quatro Virtudes Cardinais nos ensinos de Sócrates e Platão. Elas são a Sabedoria Superior, Coragem, Temperança e Justiça. Os Neoplatônicos as descrevem como "purificadoras do contágio inferior".

 

No antigo ~Rig-Veda~, à virtude é dada o primeiro lugar. No famoso hino (X, 129) é dito que Kama-amor-Eros é o primeiro movimento que surgiu no Uno depois que adentrou à existência pelo poder da fervorosa-abstração. No ~Atharva-Veda~ nós achamos: "Kama-Deva nasceu primeiramente. A Ele nem Devas, Pitris, nem os homens têm se igualado. Tu és superior a estes e eternamente grande". O conceito de Kama-Deva foi degradado no curso dos séculos, como o Eros de Hesíodo. Com os Videntes dos Vedas, Kama-Deva personifica, diz H.P. Blavatsky, "o primeiro e consciente desejo todo-abarcante pelo bem universal, amor, por tudo aquilo que vive e sente, que precisa de ajuda e generosidade, o primeiro sentimento de infinita e tenra compaixão e clemência que surgiu na consciência da Força Una criativa, assim que ingressou na existência como sendo um raio do Absoluto. Não há idéia de amor ´sexual´ em sua concepção. Kama é pre-eminentemente o desejo divino de criar a felicidade e o amor".

 

Kama-Deva, Eros, em seu sentido original e prístino, personifica a Virtude arquetípica. Os Sábios não rejeitam a idéia de que as virtudes-vícios do homem-animal são relativas. Mas aqueles Sábios ensinam que a relatividade da moralidade convencional entorpece a mente e mantém o homem amarrado ao reino do homem-animal. Para se tornar verdadeiramente humano é necessário tomar conhecimento do importante princípio filosófico de que as Virtudes e a Virtude são como categorias definidas da metafísica do Espírito, Matéria, Mente; Luz, Escuridão, Visão; Espaço, Força, Movimento, etc. O homem-animal torna-se humano descartando tendências malignas e vícios; e progride rumo à divindade cultivando modos virtuosos que se tornam seus vibhutis --excelências-- fixando sua sempre flamejante e esplendorosa Compaixão. Esta Compaixão é A Virtude Arquetípal que se manifesta como um Trindade do Bom, Verdadeiro e Belo: deste primeiro provêm os fatores morais, do segundo os intelectuais, e sua ação em conjunta é a Beleza regenerativa que é Alegria e Bem-aventurança.

 

A Sabedoria-compaixão é a Alma de todas as Virtudes --sejam as Cardinais, segundo cristãos e gregos, ou as virtudes do homem divino do ~Gita~ ou as seis e dez Paramitas da filosofia budista. Na tradição Mahayana do ~Livro dos Preceitos de Ouro~ esta Virtude Arquetípica é assim descrita:

 

 Compaixão não é nenhum atributo.
 É a Lei das Leis
 --Harmonia eterna, O Ser de Alaya, 
 Uma essência universal sem fronteiras, 
A Luz do perpétuo direito,
E se aplica a todas as coisas,
Uma Lei de Eterno Amor.

 

Tradução: Osmar de Carvalho

 

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Osmar de Carvalho
Coordenador da Loja Teosófica Virtual
http://www.geocities.com/loja-virtual
osmar@levir.com.br

 

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